Eu não percebi meu egoísmo ao decidir fazer o teste antes da Fernanda chegar. Não achei que ela ficaria tão mal com aquilo. Mas quando a vi destruída no chão do banheiro, percebi que o que fiz foi muito pior do que pensei. No início, achei que ela apenas estava chateada comigo, mas não era só isso; ela realmente ficou muito mal. Nunca vi ela chorar daquele jeito. Quando entrei no quarto, já pude ouvir seu choro. Aquilo partiu meu coração.
Graças a Deus, ela aceitou meu pedido de desculpas rapidamente e ainda se desculpou pelo que disse na sala. Mas, na verdade, ela não estava errada. Eu estava agindo sem pensar no que ela sentia, e isso era totalmente errado. Era nosso filho que eu estava esperando. Nunca, em nenhum momento, pensei ao contrário, mas agi como se só eu fosse a futura mãe daquela criança. Porém, ali, abraçada com ela, prometi a mim mesma que iria mudar isso. Sempre decidimos tudo juntas, e não queria que isso mudasse.
Acabei tomando um banho junto com ela. Procurei ser o mais carinhosa possível, e mesmo antes de sairmos do banho, já vi um pequeno sorriso em seu rosto. Conversamos bastante durante aquela noite; fiz questão de me desculpar novamente, e ela disse para eu esquecer aquilo, que já era passado. Prometi a ela que faria o possível para que ela não perdesse mais nada da nossa gravidez. Ela disse que era quase impossível, já que os horários dela eram complicados e, no momento, não poderia faltar ou sair mais cedo do trabalho. Infelizmente, isso era verdade. Eu não tinha pensado nisso antes e não planejei direito as coisas, e agora ela estava pagando o preço da minha insistência em ter um filho logo.
Bom, eu não podia voltar atrás; o jeito era tentar passar por aquilo da melhor forma possível. No dia seguinte, assim que ela saiu para trabalhar, mandei uma mensagem para a Ingrid, pedindo que ela me ligasse ou viesse ao apartamento assim que pudesse. Logo, ela respondeu dizendo que sairia às oito do plantão e viria me ver, antes de ir para casa. Eu precisava de alguns conselhos, e minha melhor amiga era perfeita para isso.
Assim que Ingrid chegou, comecei a despejar tudo que tinha acontecido e minhas preocupações. Como sempre, ela foi um amor comigo. Disse que poderia continuar me acompanhando quando Fernanda não pudesse ir comigo às consultas e que eu poderia pedir ao obstetra da clínica para arrumar alguns horários mais flexíveis ou eu poderia procurar um obstetra particular que pudesse me atender. Ela disse que, se o da clínica não pudesse ajudar, conhecia uma ótima obstetra que trabalhava com ela. Eu disse a ela que iria conversar com Fernanda para tomar essas decisões.
Conversei com Fernanda, que deixou claro que queria ir comigo a todas as consultas, mas que, se não fosse possível, entenderia. Disse que eu podia tomar essas decisões sobre horários ou procurar um obstetra particular. Combinamos assim, e já marquei uma consulta na clínica para o dia seguinte. Iria fazer os exames para confirmar a gravidez e resolver o assunto dos horários, mas, no fundo, já tinha me interessado bastante pela obstetra que Ingrid indicou. Eu realmente me sentiria mais confortável sendo acompanhada por uma mulher durante minha gravidez.
Fiz os exames e eu realmente estava grávida. O diretor da clínica disse que não poderia me atender fora do horário comercial, mas não havia problema em eu ser acompanhada por uma obstetra particular, desde que eu assinasse um termo de responsabilidade. Eu concordei e disse que entendia, que a última coisa que queria era causar qualquer tipo de problema para a clínica, e que essa decisão era pessoal, não era um problema com o tratamento que recebi ali. No final, tudo deu certo. Ao voltar para casa, mandei uma mensagem para Ingrid pedindo o contato da obstetra que ela havia indicado.
Marquei um horário com a obstetra e adorei a nossa conversa. Ela me passou muita confiança só pela forma como falava. Disse que não teria problema em me atender em horários que fossem convenientes para mim, desde que fossem pré-agendados e não depois das 21 horas nem aos domingos. Para mim, isso era perfeito. Combinamos seus honorários e já marcamos uma consulta para a próxima semana. Ela disse que conhecia muito bem a clínica onde eu tinha feito o tratamento e tinha uma ótima relação com o diretor, que iria pegar todo meu histórico médico lá e que eu poderia ficar tranquila, pois ela cuidaria de mim e da criança muito bem.
Quando contei tudo a Fernanda, ela adorou. Agora, poderia me acompanhar em todo o processo restante, até mesmo no pré-natal. Isso melhorou o clima entre nós, principalmente o humor da Fernanda, que agora sorria mais. Eu estava empolgada; tudo estava correndo bem na minha gravidez. Fernanda ia a todas as consultas, e nosso relacionamento sobreviveu sem rachaduras. Estávamos na mesma página, e isso era tudo que eu queria.
No início do terceiro mês, voltei a frequentar a academia. Já me sentia disposta a me exercitar, algo que sempre amei fazer. Porém, segui à risca todas as indicações da minha obstetra sobre quais exercícios fazer, por quanto tempo e quais eu devia evitar. Continuei a trabalhar todos os fins de semana e, aos domingos, curtia meu amor o dia todo. Não mudei quase nada na minha rotina, apenas algumas coisas na dieta e não tomava mais bebida alcoólica.
Tudo estava indo muito bem até o fim do sexto mês. Comecei a notar que as mudanças no meu corpo não me agradavam nem um pouco. Minha barriga já estava se destacando bastante, os seios estavam inchados, meu rosto estava mais cheio e eu estava engordando. Isso me incomodava muito. Sempre fui uma mulher que se orgulhava do corpo que tinha, e sempre recebi elogios pela minha beleza, principalmente pelo meu corpo, que eu sabia ser realmente bonito. Mas, agora, olhando no espelho, eu me sentia feia, e isso foi me incomodando cada dia mais.
Tentei focar nos exercícios e controlar a alimentação, mas não adiantou muito. A cada dia, parecia que estava mais gorda e feia. Eu e Fernanda mantivemos nossas atividades sexuais. No início da gravidez, até aumentamos a frequência, acho que mais por minha causa, pois meu libido aumentou. Mas, depois que comecei a me sentir gorda, comecei a evitar Fernanda, e claro, ela notou e perguntou o que estava acontecendo, se eu estava bem. Eu deveria ter sido sincera com ela, mas, por vergonha, não fui. Disse que andava meio indisposta, mas estava bem. Ela, claro, não se chateou, apenas ficou preocupada, mas falei que já tinha conversado com minha obstetra e ela disse que era normal.
Às vezes, tomamos decisões bobas que se tornam algo enorme, capaz de destruir o que pensamos ser eterno. Decidi mentir por vergonha e jurei que Fernanda tinha aceitado minhas desculpas, mas ela não aceitou. Isso trouxe uma sequência de acontecimentos que levou a desmoronar tudo, mas tudo mesmo.
Continuei evitando Fernanda e, cada dia mais, me sentia a mulher mais feia do mundo. O problema é que isso me desanimou; acabei parando de fazer exercícios, comecei a comer demais e a passar a maior parte do tempo na cama. No final do oitavo mês, não tinha mais condições de ir para a boate. Pedi, na verdade, implorei para Fernanda me ajudar, já que não confiava em mais ninguém para assumir meu lugar. Diego resolvia todos os problemas, mas nas duas noites que a boate abria, ele precisava de ajuda. Fernanda, com toda a boa vontade, aceitou ficar no meu lugar. Ela também cuidava de todos os pagamentos e tratava diretamente com alguns fornecedores.
Nessa época, Fernanda já tinha um horário mais flexível, já que se saiu muito bem na empresa e foi efetivada como vice-presidente, tornando-se o braço direito do meu irmão no comando da empresa. Ela ficou muito feliz com isso, principalmente por causa do novo salário. Uma das primeiras coisas que disse foi que agora poderia retribuir aos pais tudo que fizeram por ela. Achei isso muito legal da parte dela, mas também notei que isso a deixou um pouco mais estressada. Um dia, ela chegou da boate numa quinta-feira com uma expressão de raiva que me assustou. Perguntei o que havia acontecido, e ela disse que um representante de um dos fornecedores fez algumas brincadeiras sem noção, que deve que chamar a atenção dele, e que ligou para a empresa depois para fazer uma reclamação. Perguntei que tipo de brincadeiras eram, e ela disse que eram cantadas baratas disfarçadas. Mas que estava tudo bem, que já tinha resolvido. Achei melhor deixar pra lá, já que ela tinha resolvido.
O tempo foi passando. Eu não tomava banho perto de Fernanda, evitava ao máximo que ela visse meu corpo, e ela até parecia entender, porque não me procurou mais depois da última vez. Não tentava entrar no banho comigo, como se, mesmo sem querer, estivesse me ajudando a evitar. Mas um dia sugeriu que talvez seria legal eu ter uma acompanhamento psicológico durante os últimos dias da gravidez, eu disse a ela que não tinha necessidade, que eu estava bem e até recusei isso quando a obstetra sugeriu o mesmo. Ela disse que era uma decisão minha e não tocou mais no assunto. Eu realmente não precisava, eu estava bem mentalmente, meu problema era físico.
Tirando esse problema, que achava que passaria após a gravidez, quando recuperasse meu corpo, tudo ia bem com minha gravidez. Finalmente, chegou o dia do nosso filho nascer, ou filha. Não quisemos saber o sexo da criança; foi uma decisão em conjunto, como todas as outras que tomamos depois que fiz o teste sozinha. Meu parto foi normal, e achei que iria morrer de dor, mas não morri. Quando ouvi o choro da minha filha, senti que tudo valeu a pena. Eu tinha dado à luz a uma menina linda e saudável. A pedido meu, ela foi entregue primeiro aos braços de Fernanda, que, em prantos, a colocou nos meus braços pela primeira vez. Era a realização do meu sonho e, com certeza, o momento mais feliz da minha vida.
Não demorei muito no hospital e logo já estava de alta, com meus amores em casa. Fernanda tirou 15 dias de folga para ficar comigo e com nossa pequena Sophia. Minha mãe e a mãe da Fernanda praticamente se mudaram para nossa casa. Isso me ajudou muito; minha mãe passou a me ajudar a tomar banho e me levava até o banheiro nos primeiros dias. Ela praticamente cuidou de mim em tudo. Minha sogra e Fernanda focaram em Sophia, e tudo estava indo perfeitamente bem.
Minha casa ficou cheia de visitas durante a semana toda: nossas amigas, família e, claro, nossos pais sempre nos visitando. Fernanda cuidou de todos os trâmites legais, e nossa filha foi registrada no nosso nome, como sempre sonhamos. Foram dias felizes, e eu nunca vou esquecer disso em toda a minha vida. Cada sorriso das pessoas que estavam ali eu guardei, principalmente os da Fernanda e os primeiros da nossa filha.
O tempo foi passando, e Fernanda voltou ao trabalho. Ela também continuava a ajudar na boate. Decidimos contratar uma babá para me ajudar durante o dia, já que nossas mães não podiam morar ali para sempre. Minha sogra ficou um mês e minha mãe, dois. Ela só se foi quando terminei o resguardo. A babá foi uma indicação da Marina, era a mesma que havia sido babá do meu sobrinho mais novo. Eu até já conhecia ela de vista. Não cheguei a conversar com ela, mas a vi algumas vezes na casa do meu irmão. Contratamos ela por um ano e só durante o dia; à noite, eu já podia cuidar da minha filha. E, exceto nas noites de sábado e domingo, Fernanda me ajudava em tudo, pelo menos no pouco tempo que ela estava em casa. O dia em que ela podia aproveitar mais era aos domingos, mas, infelizmente, ela dormia quase o dia todo.
Já tinha passado 90 dias desde que Sophia nasceu, e eu ainda não gostava do que via quando me olhava no espelho. Continuava me sentindo gorda, estava pensando em voltar a me exercitar aos poucos para recuperar meu corpo. Eu precisava fazer isso para recuperar minha autoestima e meu casamento, do jeito que era antes. Mas, antes de começar a malhar, em uma noite, eu e Fernanda estávamos deitadas. Fernanda foi se aproximando aos poucos, começou a fazer carinho no meu rosto e me deu um beijo mais intenso. Eu retribuí, mas, quando ela levou uma das mãos na minha coxa por debaixo da camisola, eu segurei sua mão, impedindo-a de continuar. Vi ela afastar o rosto e notei um olhar triste em seus olhos.
Sabrina— Desculpe, amor, estou cansada. A Sophia tem dado mais trabalho.
Fernanda— Tudo bem, não precisa se desculpar. Eu te entendo, amor. Mas, sei lá, você já pensou em ir a um psicólogo como te falei antes? Talvez ajude, mesmo agora que Sophia já nasceu.
Sabrina— De novo isso? Para que eu iria a um psicólogo? Eu só estou cansada fisicamente, não tenho nenhum problema psicológico!
Fernanda— Desculpe, era só uma ideia. Se você acha que não tem, tudo bem. Só não acho que seja normal algumas coisas. Mas esquece o que falei. Vou tomar uma água.
Ela disse isso e se levantou devagar. Eu poderia ter dito algo, mas não disse. Também não achava necessário ir a um psicólogo. Logo, teria meu corpo de volta e tudo voltaria ao normal. Eu só não queria que ela me visse gorda e feia como eu estava. Naquela noite, não vi a hora em que ela voltou para a cama, nem quando saiu para trabalhar, mas ela não tocou mais no assunto comigo quando chegou à tarde, nem nos dias seguintes, mas eu conseguia ver a tristeza em seu olhar. Foi então que decidi focar em recuperar meu corpo.
Comecei a ir à academia todos os dias. Comecei aos poucos, mas logo peguei o ritmo antigo e fui aumentando os exercícios. Comecei a me dedicar à musculação; precisava queimar calorias, e nada melhor do que puxar ferro até o corpo aguentar. Acordava cedo e ficava com minha filha pela manhã. Depois do almoço, assim que a amamentava e ela dormia, ia para a academia, deixando-a com a babá. Só voltava no final da tarde, morta, mas satisfeita, pois, aos poucos, meu corpo estava voltando ao normal. Infelizmente, não tinha como fazer milagres, mas, com muito suor e esforço, eu iria conseguir.
Estava me esforçando para voltar a ser a esposa que Fernanda tinha antes, mas não sabia que não precisava ter feito nada disso. Era só ter sido sincera com ela desde o início, ter escutado os conselhos dela e da obstetra. Porém, fiz o que não devia, dei valor ao que não tinha valor algum e, no fim, joguei fora o que eu tinha de mais precioso: minha família.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper