A Noite que Não Era Minha.

Um conto erótico de PEDRO ESCRITOR
Categoria: Heterossexual
Contém 15613 palavras
Data: 26/09/2025 22:08:04

Nota do autor:

Esse conto acabou ficando bem mais longo do que eu havia planejado. A ideia inicial era publicá-lo em uma série de posts, mas diante do desafio, decidi lançar tudo de uma vez só. Peço desculpas pelo tamanho, mas garanto: cada detalhe faz valer a leitura.

Sabe quando você sente que cresceu com um pé em dois mundos diferentes? Acho que foi assim comigo. Minha infância foi tranquila, até confortável demais às vezes. Meus pais sempre se preocuparam com educação, oportunidades, o que você faz da vida, sabe? Eu era filha única e acho que por isso tinha liberdade demais para observar, escutar e absorver tudo à minha volta. Brincava sozinha, inventava histórias, mas sempre de olho nas pessoas, no jeito como falavam, como se moviam. Aprendi cedo que cada gesto, cada olhar, tinha mais a dizer do que mil palavras.

Meu pai era daqueles que não perdia uma reunião, um jantar de negócios, mas sempre encontrava tempo para mostrar como era importante manter postura, cuidado com a aparência, confiança em cada palavra. Minha mãe, ao contrário, vivia nos detalhes sutis: como se vestir de maneira discreta, mas elegante, como andar sem parecer que se estava se exibindo. Talvez por isso eu tenha desenvolvido aquela atenção para o mundo à minha volta, a observação detalhada do comportamento alheio. Sempre quis me encaixar, mas ao mesmo tempo olhava de fora com curiosidade.

Na escola, nunca fui a garota mais popular, mas tinha facilidade em me conectar com quem chamava atenção, geralmente pessoas confiantes, aquelas que sabiam exatamente quem eram e o que queriam. Me atraía o jeito que algumas meninas se impunham, mesmo que fosse de forma simples. Talvez tenha sido isso que me levou a admirar mulheres fortes, determinadas, que não precisavam se provar, mas que, de algum jeito, sempre chamavam atenção.

A faculdade de economia foi quase uma consequência natural. Sempre fui boa com números, lógica, organização. Mas no fundo existia aquela curiosidade por mundos que não eram o meu: lugares luxuosos, pessoas audaciosas, comportamentos que eu só podia observar à distância. Eu estudava, me formava, e sempre me mantinha no meio do esperado: consultoria financeira. Comecei jovem, estagiando em escritórios onde aprender não era só sobre dinheiro, mas também sobre poder, postura e como negociar com pessoas que pareciam ter o mundo na mão.

Meu primeiro contrato relevante foi memorável. Um cliente enorme, negócios internacionais, reuniões que começavam cedo e terminavam tarde. Aprendi rapidamente que não bastava ser boa no que fazia; precisava parecer boa no que fazia, vestir o papel, sorrir na hora certa, medir cada gesto. Era exaustivo, mas ao mesmo tempo fascinante. Comecei a viajar, acompanhando clientes a resorts, hotéis, encontros de luxo. Sempre com aquela sensação estranha de estar ali, cercada de riqueza, beleza e ostentação, mas não pertencer totalmente àquele mundo. Sempre havia aquele contraste entre o que eu vivia e o que observava.

A vida me deu conforto, oportunidades, reconhecimento profissional, mas também aquela curiosidade que você não consegue explicar. Curiosidade por situações fora da rotina, pelo risco, pelo inesperado. Sempre gostei de mulheres confiantes, charmosas, que sabiam usar sua presença sem esforço, e talvez por isso, ao longo da vida, tenha aprendido a admirar e até desejar o mundo que parecia tão distante da minha própria realidade.

Não sou de me deixar levar facilmente, mas tinha algo em mim, talvez escondido por trás de cautela e racionalidade, que se acendia quando encontrava pessoas dominantes, charmosas, seguras de si. Era como se uma parte de mim quisesse explorar aquilo que não poderia, ou que ainda não tinha coragem de explorar.

E foi assim, com essa mistura de curiosidade e cautela, que cheguei aos 27 anos: consultora financeira respeitada no meu meio, viajando pelo Brasil a trabalho, observando, absorvendo, mas sempre mantendo aquela linha invisível entre o que era esperado de mim e o que meu corpo e mente queriam descobrir.

Eu sempre achei estranho me olhar no espelho. Não de forma narcisista, mas tentando entender quem eu realmente era. Tenho 1,60, corpo proporcional, peitos médios, coxas torneadas de academia sem exagero, bunda redondinha e empinada, aquela combinação que parece natural, mas que chama atenção sem esforço. Meus cabelos são ondulados, escuros, e caem do jeito que acordam, sem precisar de muito cuidado, mas sempre com brilho natural. Meus olhos castanhos e os óculos que uso dão uma impressão de seriedade, equilibrando a suavidade da boca rosinha e do nariz fino.

Não sou exibida, nunca fui. Mas também não me escondo. Aprendi a andar no mundo sem precisar chamar atenção, a ocupar meu espaço de forma discreta, e ainda assim sentir que posso ser percebida. Há momentos em que isso me dá uma estranha sensação de poder, uma mistura de curiosidade e timidez, algo que poucas pessoas percebem.

Sempre fui curiosa sobre o que não conheço, sobre mundos diferentes do meu cotidiano. Meu corpo, minha postura, minha maneira de olhar o mundo… tudo isso, de algum modo, se torna uma lente para observar pessoas, gestos, comportamentos. É como se eu me preparasse sem perceber para experiências que ainda não vivi, para situações que poderiam surgir e me tirar do controle.

E talvez seja por isso que eu sempre me senti meio dividida: racional e organizada no trabalho, cautelosa e medida na vida, mas com uma parte de mim curiosa, pronta para se surpreender, pronta para se deixar levar por algo inesperado, mesmo que só no pensamento.

Cheguei ao resort numa sexta-feira, com aquela sensação estranha de estar em um mundo que parecia ao mesmo tempo familiar e distante. O fim de semana seria intenso: compromissos profissionais, reuniões e visitas a clientes de alto nível. Mas hoje, ainda era só o meu tempo para me organizar, me aclimatar e, se desse, aproveitar um pouco do lugar antes de mergulhar no trabalho.

Observava cada detalhe, sem pressa, como sempre faço: a recepção ampla, as pessoas passando com sorrisos ensaiados, funcionários impecáveis que pareciam saber exatamente como cada hóspede queria ser tratado. Eu me sentia pequena diante daquela perfeição, mas ao mesmo tempo curiosa, tentando entender o que tornava aquele lugar tão diferente do meu dia a dia corporativo.

Carregava minha mala com cuidado, ajustando a postura, como se isso pudesse me proteger do impacto do ambiente. Sempre gostei de observar antes de me envolver, e ali não era diferente. Cada gesto, cada movimento, cada conversa ao redor era analisado, absorvido, registrado. Eu sabia que estava no meio de um mundo de luxo e poder, e isso me deixava ao mesmo tempo cautelosa e curiosa.

Meu quarto tinha vista para o mar. Abrir a janela foi quase um choque: água azul cristalina, ondas suaves batendo na areia, coqueiros balançando com a brisa morna. O cheiro salgado do oceano misturava-se com flores do jardim do resort, e por um instante, eu quase esqueci da correria que me aguardava amanhã. Me joguei na cama por alguns segundos, fechando os olhos, sentindo o corpo relaxar e a mente trabalhar. Hoje eu podia me dar ao luxo de observar e sentir. Amanhã seria outro ritmo, corrido, cheio de decisões e negociações importantes.

Enquanto desfazia a mala e arrumava minhas roupas, percebi o contraste entre meu mundo racional, controlado e organizado, e aquele espaço onde tudo parecia planejado para encantar, seduzir e envolver. Eu sabia que, nos próximos dias, cada momento podia ser diferente do que eu esperava, e algo dentro de mim sentiu uma mistura de excitação e nervosismo.

Depois de me instalar no quarto, decidi dar uma volta pelo resort. Nada muito longo, só o suficiente para sentir o ritmo do lugar e me acostumar com os detalhes que passariam despercebidos para quem não observa. Caminhei pelos jardins bem cuidados, sentindo o cheiro do mar que vinha da praia próxima e o som das ondas misturado com a música baixa de alguns lounges. Cada passo me lembrava que eu não estava em casa, mas em um mundo cuidadosamente planejado para encantar.

Olhei para as espreguiçadeiras alinhadas, algumas ocupadas por pessoas lendo, outras conversando com risadas contidas. Observei a piscina azul, cristalina, refletindo o sol da tarde, e percebi como tudo parecia calculado para passar a sensação de harmonia e luxo sem esforço. Eu me sentia ao mesmo tempo fora do lugar e curiosamente atraída por tudo aquilo.

Enquanto caminhava, notei pequenos detalhes que normalmente não repararia: a postura confiante de algumas mulheres, os gestos sutis de elegância, a maneira como certas pessoas caminhavam como se o mundo inteiro girasse ao redor delas. Sempre admirei isso, mesmo sem perceber, e sentia um tipo de fascínio que me deixava inquieta.

Foi então que a vi. Ela passou perto de mim, andando com uma naturalidade que chamava atenção sem esforço. Cada passo parecia medido, mas sem parecer calculado. Não era apenas a beleza física, embora fosse evidente, era a segurança, a presença, o jeito de ocupar o espaço como se fosse dela por direito. Meu olhar não conseguiu desviar.

Ela se dirigia para o spa. Por algum motivo, meu corpo reagiu quase instintivamente; algo dentro de mim quis acompanhar, entender o que fazia aquela mulher se destacar tanto, descobrir o que havia naquele mundo que eu só podia observar de longe. Uma curiosidade silenciosa me empurrou na direção do mesmo corredor, e logo me vi seguindo para o spa, como se algo invisível guiasse meus passos.

Não sabia ainda o que me aguardava, mas uma mistura de nervosismo e excitação percorria meu corpo. Algo naquele simples cruzamento de trajetórias havia despertado uma faísca que eu não podia ignorar.

O spa era uma extensão do resort, mas com uma atmosfera ainda mais envolvente. Luzes suaves, quase douradas, refletiam nas paredes de madeira clara. Aromas delicados de óleos e flores misturavam-se com o cheiro sutil do mar que ainda chegava pela janela aberta. Havia uma música lenta e suave, algo que acalmava, mas ao mesmo tempo despertava sentidos adormecidos. Cada detalhe parecia projetado para relaxar o corpo e aguçar a atenção.

Entrei devagar, absorvendo o ambiente. Havia poucas pessoas, todas em silêncio ou sussurrando discretamente. Observei os sofás estofados, toalhas enroladas perfeitamente em cestos, e a recepção delicada onde funcionárias atendiam com sorrisos contidos. O ambiente ali era diferente: luzes suaves, cheiro de óleos e flores, música baixa. Me sentei em uma das poltronas da recepção, fingindo folhear o cardápio de massagens, mas a verdade é que meus olhos buscavam a presença dela

Foi nesse momento que a vi novamente. Ela estava sentada a alguns metros, com postura ereta e natural, cabelos caindo sobre os ombros de forma leve, pele bem cuidada, roupas simples mas que enfatizavam sua presença sem esforço.

E quando a encontrei, já acomodada em outra poltrona, cruzando as pernas com uma calma irritante, senti aquela estranha mistura de admiração e vontade de me aproximar.

Sentei-me de modo a observá-la melhor, sem parecer intencional, mas permitindo que meu olhar registrasse cada gesto. Notei a maneira como ela mexia nos cabelos, olhava ao redor, interagia com o ambiente. Havia algo ali que não era apenas visual; era uma energia, uma confiança que parecia pulsar ao redor dela, algo que eu não conseguia definir, mas que me deixava curiosa.

Fiquei com o cardápio de massagens aberto no colo, tentando parecer interessada, mas a cada vez que levantava os olhos ela já estava lá, como se tivesse plena consciência de que atraía olhares. Havia uma calma desconcertante em cada gesto dela, e aquilo me deixava ainda mais curiosa.

Ela percebeu que eu olhava, e ao invés de desviar, sustentou o contato com um sorriso discreto. Não o sorriso de simpatia educada, mas um que parecia dizer que ela sabia exatamente o que estava fazendo. Antes que eu me sentisse ridícula, ela puxou assunto.

— Difícil escolher, né? Parece que cada massagem aqui promete resolver a vida inteira.

Ri meio sem jeito, tentando entrar no jogo.

— Pois é… estou na dúvida se quero relaxar de verdade ou se prefiro só fazer de conta.

Ela inclinou levemente a cabeça, como se estivesse avaliando a resposta, e em seguida sorriu de novo.

— Fazer de conta às vezes é mais interessante do que relaxar.

A frase ficou no ar. Eu a senti mais do que entendi. Não era só sobre massagens, e ela sabia disso.

— Você vem sempre aqui? — arrisquei, tentando soar casual, mesmo sabendo que minha curiosidade já estava óbvia.

— Não exatamente. Mas lugares como esse acabam virando quase uma segunda casa. Cada viagem, um resort, cada semana, uma cidade diferente.

O jeito como ela falava era natural, mas carregado de algo que escapava do comum. Eu viajava a trabalho, conhecia hotéis e salas de reunião, mas o que ela descrevia era outro tipo de mundo. Um que misturava luxo, liberdade e mistério.

— Deve ser cansativo — comentei.

Ela riu baixo, inclinando o corpo para frente.

— Só quando se esquece de aproveitar.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, observando o jeito como ela cruzava as pernas de novo, como se cada detalhe tivesse sido coreografado. E percebi que aquela conversa, por mais banal que parecesse, já estava me puxando para fora do meu próprio eixo.

Sentei perto dela tentando parecer natural, mas por dentro eu estava tomada por aquela sensação estranha de querer ficar e, ao mesmo tempo, de não saber como começar. Então arrisquei.

— Oi... está esperando algum procedimento também?

Ela levantou os olhos da revista, um sorriso discreto.

— Estou, sim. Uma massagem relaxante. E você?

— Na verdade, não. Eu só vim olhar um pouco. Nunca estive em um spa desses.

— É a sua primeira vez num resort?

— Sim... primeira vez. E para ser sincera, eu me sinto meio deslocada. Parece que todo mundo já sabe como aproveitar, menos eu.

Ela riu baixinho, um riso leve, nada debochado.

— Eu entendo. Muita gente vem com essa sensação. Mas não tem regra, sabia? É só... se deixar levar.

— O problema é justamente esse. Eu não sei relaxar de verdade. Sempre acho que preciso estar fazendo algo útil, ou trabalhando. Até aqui. — suspirei, um pouco sem graça de admitir.

— Isso parece mais comum do que você imagina — respondeu ela, fechando a revista de vez e me olhando direto. — Eu já fui assim. Queria controlar cada minuto. Até que percebi que descansar também é um tipo de trabalho, só que para a gente mesma.

Aquela frase ficou martelando na minha cabeça.

— Descansar como um trabalho... nunca tinha pensado assim.

— Você devia tentar. Por exemplo, aqui. O spa é um convite para isso. Que tal escolher um procedimento?

Balancei a cabeça, meio defensiva.

— Ah, eu não saberia nem por onde começar.

— Então deixa que eu ajudo. — o sorriso dela tinha uma segurança tranquila. — Você prefere algo mais suave, tipo um banho aromático, ou algo que mexa de verdade com o corpo, como uma massagem mais firme?

Pensei por alguns segundos.

— Acho que... banho aromático. Parece menos assustador.

Ela sorriu mais ainda.

— Ótima escolha. E olha só, você já deu o primeiro passo.

Eu ri, percebendo que estava me deixando levar.

— Parece que você é boa nisso, em convencer as pessoas.

— Talvez porque eu mesma precise me convencer disso todo dia — respondeu. — Trabalho com moda, viajo, vivo rodeada de luxo... mas, no fundo, também preciso de alguém que me lembre de respirar.

Havia uma sinceridade inesperada ali, como se ela tivesse aberto uma porta pequena só para que eu visse. Isso me deixou à vontade para abrir outra minha.

— Acho que eu nunca aprendi a me desligar. Sempre tive que dar conta de tudo, sabe? Família, trabalho, expectativas... Quando eu chego num lugar como esse, parece errado simplesmente parar.

Isadora inclinou a cabeça, os olhos atentos em mim.

— Errado pra quem?

Não consegui responder de imediato. Dei de ombros, rindo sem graça.

— Boa pergunta.

Ela encostou-se mais no assento, ainda sem desviar os olhos.

— Então vamos fazer o seguinte. Hoje, você me deixa ser a sua guia aqui. Eu te mostro que aproveitar não precisa ser complicado.

Aquilo soou quase como um desafio, mas dito com uma doçura que me desarmou.

— E se eu não conseguir?

— Aí você tenta de novo amanhã.

O riso dela foi contagiante, e percebi que já me sentia mais leve só por estar naquela conversa.

Ela se levantou primeiro, como se fosse a coisa mais natural do mundo que eu a acompanhasse. E, de fato, eu levantei também. Senti aquele friozinho no estômago, como se estivesse me metendo em algo novo demais, mas havia uma confiança estranha em deixar que ela conduzisse.

Seguimos por um corredor iluminado de forma suave, aquele cheiro de óleos essenciais se intensificando a cada passo. Isa andava com uma calma que parecia medida, como se cada gesto dela dissesse "não há pressa aqui". Eu, por outro lado, me sentia deslocada e observando tudo com os olhos grandes, como uma criança entrando em um parque de diversões pela primeira vez.

— Aqui é a sala de banhos — ela disse, abrindo uma porta de vidro. O vapor escapou como se fosse um segredo bem guardado. Dentro, uma pequena piscina de água morna, pétalas boiando na superfície. — É simples, mas funciona. Só de ficar ali dentro, o corpo entende que pode descansar.

— Parece coisa de filme — respondi, quase num sussurro.

Ela sorriu.

— E você é a protagonista.

A frase ficou reverberando, meio boba, meio séria. Tirei a sandália e toquei a água com os dedos do pé. A temperatura era perfeita, mas hesitei em entrar. Isa percebeu e, sem pressão, acrescentou:

— Só coloca os pés, se quiser. O resto vem depois.

Obedeci. O calor subindo pelas pernas me arrancou um suspiro involuntário, e Isa apenas me olhou como quem sabe que venceu um pequeno desafio.

— Viu? Você já está deixando o corpo falar.

Fiquei ali alguns minutos, observando as pétalas se moverem, e senti o peso dos últimos dias se dissolvendo de forma quase imperceptível.

Depois, ela me conduziu a outra sala, desta vez com macas alinhadas, lençóis brancos impecáveis e um aroma de lavanda no ar.

— Essa é a parte da massagem. É aqui que você vai precisar confiar de verdade.

Arqueei a sobrancelha, desconfiada.

— Confiar em quem?

— Em você mesma, primeiro. E, depois, em quem estiver cuidando de você.

Sorri de canto, nervosa.

— Você fala como se fosse uma especialista.

— Talvez eu seja — respondeu, com um piscar de olhos que não soube decifrar se era brincadeira ou provocação.

Deitei-me na maca ainda meio dura, os ombros enrijecidos. Isa percebeu.

— Respira. Fecha os olhos. É só um exercício. Você não precisa provar nada pra ninguém aqui.

Fechei. E por alguns instantes me permiti apenas ouvir a música ambiente, sentir o cheiro das essências e a calma que parecia brotar dela ao meu lado. Era como se Isa não estivesse apenas me mostrando um spa, mas uma forma diferente de existir ali.

E, pela primeira vez, pensei que talvez eu pudesse mesmo aprender a relaxar.

Deitei na maca com aquela sensação de que estava fazendo algo errado, como se tivesse abandonado um compromisso para estar ali. Ainda me sentia culpada por estar gastando o tempo do trabalho em algo tão… fútil. Mas bastou a massoterapeuta encostar os dedos nos meus ombros para eu entender que talvez aquilo fosse necessário.

A pressão começou leve, deslizando pelos músculos que eu mesma não percebia o quanto estavam duros. Um suspiro escapou sem que eu conseguisse segurar. O óleo aquecido espalhava um cheiro doce, misturado com lavanda, e a cada movimento eu sentia como se uma camada de tensão se desfizesse.

Abri os olhos por um instante e vi Isa encostada na parede, de braços cruzados, me observando com aquele ar de quem sabia exatamente o que estava acontecendo comigo. O olhar dela não era invasivo, mas curioso, quase orgulhoso de ter me convencido a estar ali.

Quando fechei os olhos de novo, a massagem desceu pelas costas, firme, quase dolorida em alguns pontos, mas era um desconforto bom, como se dissesse: aqui está o nó, e agora ele vai embora. Senti a pele aquecer, o corpo ceder, e percebi que, aos poucos, não estava mais pensando em trabalho, cliente ou planilhas. Eu estava simplesmente ali, entregue àquele instante.

A cada deslizar de mãos pelo meu corpo, era como se eu me reconectasse com uma parte minha esquecida. Meu quadril relaxou, minhas pernas perderam a rigidez, e pela primeira vez em muito tempo eu não estava tentando controlar nada. Só sentia.

Em algum momento, Isa se aproximou e falou baixo, quase como se fosse um segredo só nosso:

— Eu te disse que você precisava disso.

Sorri de olhos fechados.

— Você tinha razão.

A massoterapeuta subiu pelas minhas pernas até os músculos das coxas, e ali quase gemi. Não de dor, mas de alívio. Era como se finalmente meu corpo gritasse por atenção, por toque, por cuidado. E eu me perguntava quantas vezes havia ignorado esses sinais, sufocando tudo em nome da disciplina e da cobrança.

O tempo passou sem que eu tivesse ideia de quanto. Podiam ser minutos ou horas, não importava. Quando terminou, eu estava mole, flutuando. Me sentei devagar, ainda meio tonta, e percebi Isa sorrindo para mim.

— E então? — perguntou.

Passei a mão pelo cabelo, como se ainda estivesse processando.

— Eu nunca pensei que pudesse ser tão… transformador.

Isa se aproximou um pouco mais, apoiando a mão no encosto da maca.

— É o que acontece quando você se permite. E isso, Laura, é só o começo.

Aquela frase ficou na minha cabeça como uma provocação, não apenas sobre o spa, mas sobre algo maior, que eu ainda não conseguia entender.

Quando saímos do spa, o ar estava fresco e suave, o cheiro de lavanda ainda pairando na minha pele. Isa sugeriu que tomássemos algo leve antes de irmos embora, e eu aceitei sem pensar. Um suco de frutas frescas para mim, uma taça de vinho branco para ela. Sentadas numa área externa do spa, a luz do fim de tarde desenhando reflexos no chão, a conversa começou de forma leve, mas logo ganhou um tom mais pessoal.

— Você é modelo? — perguntei, quase sem acreditar no que estava saindo da minha boca.

Ela sorriu, inclinando a cabeça de leve.

— Não exatamente. Já fiz alguns trabalhos, mas nada de passarela. Meu corpo é meu cartão de visita, digamos assim. Mas eu nunca me senti apenas um rosto bonito.

— Interessante… — respondi, sentindo meu rosto esquentar. — Eu vivo no mundo corporativo, então meu corpo… é mais uma ferramenta do que outra coisa. Não que eu me queixe, mas você sabe, sempre precisa passar a impressão certa.

— Eu entendo. — Ela deu um gole no vinho, apoiando a mão no vidro de forma elegante. — Mas eu gosto de mulheres que se olham e percebem isso. Que têm consciência do próprio corpo e ainda assim se surpreendem consigo mesmas.

Fiquei olhando para ela, fascinada. Não era só beleza física, era toda uma confiança que eu nunca tinha visto de tão perto. Cada gesto, cada pausa no discurso, parecia medido, mas natural demais para ser calculado.

— E você, então, se diverte nesse mundo? — perguntei, tentando entender aquela mistura de liberdade e sofisticação.

— Mais do que você imagina. — Ela sorriu, me fazendo sentir que de alguma forma eu já estava dentro desse mundo, só por estar ali. — Mas não é só sobre dinheiro ou luxo. É sobre controle, sobre entender o que quer e quem você é, e não se deixar aprisionar pelo que os outros pensam.

Suspirei, sentindo que estava me abrindo mais do que gostaria.

— Deve ser… incrível. Eu mal consigo aproveitar esse fim de tarde sem pensar em trabalho.

— Então aprende comigo. — Ela estendeu a mão, e eu toquei de leve os dedos dela, como um ritual silencioso. — O resto vem com prática.

Alguns minutos depois, acabamos na piscina do resort. Isa entrou na água primeiro, leve, natural, e eu fiquei parada por um instante, admirando a forma como seu corpo se movia. Braços longos, curvas suaves, cintura fina e quadris delicados, tudo em harmonia. Meu olhar percorria cada detalhe sem vergonha — um reflexo da curiosidade que me consumia desde que a tinha visto pela primeira vez.

Ela notou, claro. Sorriu, inclinando-se um pouco na borda da piscina.

— Você não precisa apenas admirar. Olha só, cada corpo é lindo à sua maneira.

Meu coração disparou, mas ao mesmo tempo senti um calor gostoso. Ela não estava apenas comentando sobre o corpo dela; era um reconhecimento do meu próprio. A confiança que Isa exalava me fazia perceber nuances que eu nunca tinha visto em mim mesma.

— Você tem razão… — murmurei, quase surpresa comigo mesma. — Nunca tinha me olhado assim.

Ela riu, um riso leve que parecia brincar com algo invisível entre nós.

Fiquei ali por mais alguns minutos, flutuando perto dela, até que a consciência bateu como um lembrete incômodo. Suspirei, ajeitando os cabelos molhados para trás.

— Isa, eu preciso te agradecer — falei, encarando-a com sinceridade. — Eu cheguei aqui cheia de tensão, só pensando no que teria que fazer amanhã, e você… bem, você me fez lembrar que eu também posso respirar.

Ela sorriu de lado, como se tivesse certeza de que conseguiria arrancar isso de mim desde o início.

— Às vezes, é só isso que a gente precisa.

— É — concordei, olhando para a borda da piscina, já calculando mentalmente. — Mas acho que vou subir para dar uma adiantada no trabalho. Assim… amanhã posso curtir a praia sem sentir culpa de ter largado tudo de lado.

Ela apoiou o queixo nos braços, ainda relaxada na água, e me olhou de um jeito que me fez hesitar.

— Responsável, disciplinada, mas curiosa. Interessante essa mistura.

Ri, sem jeito.

— Digamos que eu ainda não aprendi a equilibrar direito.

— Está aprendendo — respondeu com naturalidade. — E não precisa ter pressa.

Houve um breve silêncio entre nós, mas não foi desconfortável. Era como se eu tivesse dado uma desculpa lógica para sair dali, e ao mesmo tempo uma parte de mim quisesse ficar.

Saí da piscina, sentindo o peso do corpo diferente, como se estivesse mais leve e mais consciente de cada movimento. Me virei para Isa, ainda dentro d’água, e sorri.

— Obrigada mesmo.

— Vai lá — ela disse, erguendo a mão em um gesto leve de despedida. — Te espero por aqui.

Caminhei até meu quarto, e durante o trajeto percebi que estava sorrindo sozinha. Não era só o relaxamento do spa ou a água da piscina. Era o encontro com Isa que tinha mexido comigo. Aquela mulher misteriosa, tão segura de si, tinha deixado uma marca em mim que eu ainda não sabia explicar.

Voltei para o quarto ainda com aquela sensação leve do spa. Tomei um banho demorado, deixei a água escorrer pelo corpo como se fosse uma extensão do toque que tinha acabado de receber. Depois sentei diante do notebook e mergulhei no trabalho, querendo garantir que as pendências ficassem em dia. Foi a forma que encontrei de não sentir culpa por aproveitar o resto da viagem.

No dia seguinte, acordei cedo, antes mesmo do despertador. Às cinco e meia já estava caminhando até a praia. O sol, ainda baixo, já queimava com força, e senti o calor abraçar minha pele desde os primeiros passos na areia. Estendi a canga, deitei e fiquei ali até as sete, aproveitando cada raio, deixando o bronze marcar meu corpo. Era uma liberdade quase infantil, como se eu tivesse ganhado horas extras no meu dia só por ter organizado tudo antes.

Corri de volta para o resort, ansiosa por um café da manhã reforçado. Confesso que procurei por Isa, meus olhos varreram o salão algumas vezes, mas não a encontrei. Sem ter contato, nem ideia de onde ela estava hospedada, deixei o desejo de vê-la guardado comigo. Então me concentrei em comer tranquila, respirei fundo e aceitei que teria que seguir o ritmo.

O restante do dia foi mais denso. Trabalhei até a chegada do cliente às duas da tarde. Passei a tarde ao lado dele, revisando pontos da apresentação e ouvindo suas expectativas. Quando finalmente entramos na reunião às sete da noite, eu já estava cansada, mas também satisfeita por ter feito tudo render. Ainda assim, em algum momento, pensei se Isa estaria por perto, ou se o mistério dela incluía desaparecer quando eu mais queria encontrá-la.

O sábado parecia que ia render. Eu tinha acordado cedo, ido à praia, sentido aquele sol queimando minha pele como se fosse uma recarga de energia para o dia. Trabalhei pela manhã ajeitando detalhes da apresentação e, quando meu cliente chegou às duas, achei que tudo estava sob controle.

Mas a verdade é que, no fundo, eu já sentia o peso da expectativa.

A reunião foi marcada para as sete da noite, num salão de convenções do próprio resort. Eu estava de macacão preto, justo na cintura, que valorizava minhas curvas sem ser vulgar, o tecido caía mais solto nas pernas, criando um balanço elegante quando eu andava. Tinha colocado um blazer por cima para dar aquele ar corporativo, mas que já começava a me sufocar depois de tantas horas. O cinto branco afinava ainda mais minha silhueta. O cliente entrou com aquele ar seguro, mas assim que os sócios dele começaram a ocupar a mesa, percebi que o clima seria outro. Eles eram três, cada um com uma expressão mais fechada que o outro.

Apresentei meu plano, mostrei projeções, cenários, prazos, riscos e ganhos. Tudo no ponto. O cliente balançava a cabeça positivamente, mas os sócios começaram a disparar perguntas afiadas, como se quisessem encontrar falhas a qualquer custo. Um deles cortou minha fala no meio, outro ironizou os números projetados, e o terceiro perguntou se eu não achava “ingênuo” sugerir aquilo no mercado atual.

Eu mantive a postura, respondi com firmeza, tentei conduzir, mas cada resposta parecia ser recebida com mais desconfiança. O que mais me doía era ver o olhar do meu cliente mudando, ficando cada vez mais impaciente, como se a responsabilidade fosse toda minha.

No fim, eles não aprovaram nada. Pediu-se uma revisão completa da estratégia, praticamente jogar fora semanas de estudo e recomeçar. E foi exatamente isso que o cliente me disse, com uma calma irritante, como quem passa a mão no ombro só para depois largar o peso em cima de você.

Saí daquela sala sentindo um gosto amargo de derrota, mesmo sabendo que o problema não era exatamente meu. Eu tinha feito bem, mas ninguém gosta de ter o esforço inteiro descartado como se fosse pouco. Saí fingindo calma, mas por dentro estava uma bagunça. Eu não queria ir direto pro quarto, porque sabia que ia acabar rolando na cama, remoendo cada palavra dita naquela reunião. Então virei para o bar do resort. Precisava de um drink, qualquer coisa que queimasse a garganta mais do que aquele olhar de reprovação do meu cliente.

Ao me ver refletida nos espelhos enquanto caminhava, pensei no quanto aquela roupa dizia sobre mim. Eu sempre equilibrando: nem sexy demais, nem apagada demais, sempre a medida exata para ser levada a sério no meio de homens engravatados que adoravam me subestimar.

No entanto, percebi uma contradição. Eu parecia pronta para uma festa chique, mas por dentro estava destruída. Talvez fosse isso que eu queria: me esconder atrás da imagem impecável, porque se eu mostrasse a fragilidade, alguém poderia aproveitar.

Respirei fundo, ajeitei os óculos e entrei no bar.

Sentei ao balcão e, sem cerimônia, pedi uma dose forte. Queria que algo queimasse mais do que a garganta — queria que queimasse o resto do dia preso no meu corpo. A voz saiu curta, quase rude, e eu nem me importei com o estranhamento do barman.

Enquanto esperava o copo, um perfume doce me invadiu por trás, acompanhado do som agudo dos saltos finos no piso. Virei a cabeça e a vi: Isadora, numa versão festa. Vestido dourado, tomara que caia, curto o suficiente para mostrar as pernas longas, saltos finos e uma bolsinha branca que mal cabia um celular. Maquiagem impecável, sorriso fácil. Parecia ter saído de um evento e decidido que precisava passar pelo bar antes de desaparecer de novo.

Ela navegou até o banco ao meu lado como se aquilo fosse o lugar certo. Sentou, virou-se pra mim e falou com a intimidade de quem encontra alguém conhecido.

— Amiga, que cara é essa? Hoje cedo você tava com cara de viva no spa. Por que esse olhar de morta agora?

Ri meio sem querer, pensando no quanto aquela pergunta soava brutalmente certa.

— Tive uma reunião terrível — respondi, sem rodeios. — Os sócios não gostaram do plano. Jogaram a responsabilidade pra mim no final e agora me sentiram como culpada.

Ela fez um gesto de compreensão, pedindo um gole de vinho e virando-se para mim com uma expressão que misturava pena e curiosidade.

— Conta — disse ela, suave. — Me fala tudo.

Falei. Falei das projeções, dos cortes, das perguntas cortantes, do cliente que ficou entre nós e os sócios e, no fim, da sensação de ter semanas de trabalho descartadas. Falei do gosto amargo de fracasso mesmo sabendo que tinha feito o melhor. Enquanto eu falava, senti que o copo trazia um conforto pequeno e seguro.

Isa acompanhou cada frase, olhos atentos, sem interromper. Quando falei do cliente passando a frustração pra mim, ela estalou a língua suavemente.

— Cruel — disse ela. — Não é justo. Mas é comum.

A conversa deslizou para algo mais pessoal. Eu me abri sobre a pressão constante, sobre nunca me permitir falhar. Ela respondeu com histórias curtas, esboços de vidas que soavam vagamente glamourosas. E então, com a naturalidade de quem fala de um trabalho qualquer, ela deixou cair uma frase que me fez prender a respiração.

— Eu também tenho meus problemas de trabalho — disse ela, como se falasse do tempo. — Só que o meu é diferente.

— Diferente como? — arrisquei, curiosidade afiada.

Ela sorriu, brincando com a alça da bolsa. Havia um misto de mistério e sinceridade no rosto dela.

— Trabalho com gente que tem dinheiro e pouca paciência. Acompanho, faço companhia, sei ouvir, sei levar pessoas pra lugares onde elas relaxam de verdade.

Fiquei quieta por um segundo, tentando encaixar as peças. A palavra ficou clara na minha cabeça antes que eu percebesse que tinha ouvido exatamente aquilo.

— Você quer dizer... acompanhante? — perguntei, com a voz um pouco mais baixa, meio chocada, meio fascinada.

Ela assentiu, sem rodeios, como se aquilo fosse tão natural quanto pedir um vinho.

— Sim. Acompanhante de luxo. Não é pornografia, nem prostituição burra como pintam. É serviço, negociação: eu componho uma noite, uma conversa, às vezes uma viagem. Tem regras, contratos invisíveis, limites. E tem dinheiro — muito dinheiro — que te dá liberdade.

Quis um resumo e ela me deu. Falou de jantares onde a conversa vale tanto quanto um investimento, de hotéis onde a privacidade é a moeda, de clientes que procuram companhia e tato, e de como ela aprendeu a transformar desejo em autonomia. Falou também das partes duras, sem glamour: o julgamento das pessoas, a solidão em quartos de hotel, a necessidade constante de controlar tudo para manter a segurança.

— É um trabalho com benefícios claros — disse ela — liberdade, boa grana, viagens. Mas não é despreocupado. Você precisa saber estabelecer regras, excluir quem tenta te tomar demais, e ainda aguentar o peso moral que vem de fora. Nem todos entendem que eu faço a escolha. Acham que a gente é vítima ou vilã. A verdade é que eu escolhi — e a escolha tem custo e ganho.

Enquanto ela falava, senti algo novo dentro de mim: surpresa, claro, mas também uma espécie de alívio estranho. Ver alguém tão dona de si assumindo aquilo me tirou a aura de pecado que eu tinha em torno do tema. Houve honestidade ali que parecia reconfortante.

— E… como é? — perguntei, porque não resisti. — Como é a parte boa, e como você lida com o resto?

Ela sorriu com fama de quem já contou aquilo mil vezes. Foi direta e descritiva, mas sem erotizar com palavras pesadas: falou de jantares longos que terminavam em conversas ao amanhecer, de beijos que eram trocados com permissão e combinação, de trocas econômicas que permitiam a ela independência. Falou de noites em que o toque era só carinho e de outras em que o corpo era central — mas sempre dentro das regras que ela impunha. Falou da sensação de ser desejada e, ao mesmo tempo, no controle absoluto.

— A melhor parte — disse ela — é o controle. Eu escolho quando vou embora, escolho quem me toca, escolho o que aceitarei. E isso, Laura, empodera. Você se torna responsável pela sua própria segurança financeira e emocional. O lado ruim é que tem gente que tenta derrubar teu nome, ou se aproxima só pra checar até onde pode ir. Aí a gente precisa ser fria, e isso cansa.

Meu copo já estava no fim. Senti a mistura de vinho, sal do mar no ar e atração crescente por alguém que parecia ter todas as respostas que eu não tinha. A curiosidade me apertou.

— Não parece um emprego fácil — disse eu. — E você nunca quis sair disso?

— Já quis — respondeu ela. — Mas é como uma língua que eu aprendi a falar. E me paga em liberdade, o que para mim vale muito. Fora que a vida me trouxe até aqui de um jeito que não faria sentido voltar.

Silenciamos por um instante. Havia entre nós uma intimidade rápida, uma sensação de que já nos conhecíamos há mais tempo do que permitia a lógica. Ela me olhou de um jeito que misturava convite e avaliação.

— Quer saber tudo? — perguntou, baixando o tom. — Posso te contar cenas, clientes, as melhores e as piores. Posso até te mostrar como se negocia um limite. Mas antes me diz: o que você quer saber?

A pergunta era direta, quase um teste. Eu percebi que podia escolher uma curiosidade profissional, neutra, ou galgar para algo mais íntimo. Minha própria frustração se misturou com um desejo de entender mais daquele poder calmo que ela exalava.

— Quero entender como você segura tudo isso — respondi. — Como você mantém o controle e não deixa que te reduzam.

Ela riu, satisfeita, e começou a descrever com detalhes práticos: contratos verbais, sinais para negar, regras claras desde o primeiro jantar, como ela escolhia os hotéis, como fazia check-ins diferentes, como contava com uma rede de segurança. Falou de prazer e de precaução na mesma respiração. Eu perguntava e ela respondia, sempre com aquele tom de quem fala com uma amiga de longa data.

No fundo, eu sentia que estava entrando num mundo que, até então, era apenas fascínio distante. E enquanto ela falava, algo se abriu em mim, não necessariamente uma vontade imediata, mas um reconhecimento de que havia modos de viver que eu desconhecia, e que talvez, se quisesse, eu pudesse aprender a não me esmagar pelas expectativas alheias.

A conversa seguiu, passo a passo, cada pergunta abrindo outra, cada resposta deixando um pouco mais claro o que era esse trabalho que fascinava e perturbava ao mesmo tempo. E eu, que tinha ido ao bar para afogar um fracasso, saía dali com a cabeça girando por razões muito diferentes.

O vinho começou a subir devagar, e Isa parecia mais leve a cada gole. Eu sentia meu corpo relaxar também só de vê-la se soltar daquele jeito, a postura impecável dando lugar a movimentos mais espontâneos, risadas mais livres, gestos que revelavam tudo que ela normalmente escondia.

Ela me contou de viagens, de clientes que pediam companhia em jantares de luxo, de noites que começavam com conversas formais e terminavam em cumplicidade física, de como era preciso aprender a negociar limites com sorrisos e segurança. Falava de encontros em que o toque podia ser só carícia, ou algo mais intenso, e cada palavra dela parecia pintar um quadro da vida que eu jamais imaginaria.

Eu ficava ali, no balcão, com os olhos grudados nela, absorvendo cada detalhe, sentindo a curiosidade crescer e uma pontinha de desejo que não sabia que tinha até aquele momento. O jeito que ela mexia nos cabelos, a inclinação do corpo quando ria, o aroma doce que deixava no ar e tudo me deixava alerta, hipnotizada.

— Às vezes é ótimo — ela disse, inclinando-se mais perto, rindo de algo que me escapou — sentir que alguém realmente te escuta, entende que não é só um corpo ou uma noite, sabe? Eu passo tanto tempo sendo desejada e não ouvida que quando encontro alguém que me escuta de verdade, fico… assim.

Ela gesticulou, riu de novo, e senti o tom da voz mudar, arrastado, levemente descompassado, um efeito do álcool que já subia. Meus olhos não desgrudavam dela, e eu percebi que não era só curiosidade pelo trabalho dela. Era algo mais íntimo, mais próximo de um desejo que eu mal sabia que tinha.

— E, claro — continuou, inclinando-se para apoiar o cotovelo no balcão — tem dias que é só trabalho, regras, contratos invisíveis… mas tem dias que você encontra alguém que te deixa ser você, sem máscaras. E esses dias… ah, esses dias fazem tudo valer a pena.

Ela estalou a língua, riu e tomou mais um gole de vinho, sem perceber que já estava deixando a taça meio de lado, mexendo distraída. Sua risada agora vinha acompanhada de pequenas pausas, tropeços nas palavras, um charme bêbado que parecia natural. Eu observava, fascinada, e sentia a vontade de entender cada detalhe da vida dela, de como ela lidava com clientes, limites, prazeres, mas também medos e solidão.

— Às vezes eu brinco — disse ela, quase sussurrando, com o olhar fixo em mim — que quem me contrata pensa que está levando uma companhia, mas eu levo a noite inteira. O corpo, a mente, a conversa… tudo. É preciso saber escolher, porque senão… bem, você se perde.

Eu balancei a cabeça, engolindo seco, sentindo meu coração acelerar. Cada palavra era uma provocação disfarçada de confidência. Queria perguntar tudo, saber cada detalhe, e ao mesmo tempo estava presa à imagem dela bêbada, vulnerável e empoderada ao mesmo tempo.

— E você nunca… nunca teve medo? — perguntei, quase sem respirar, sem conseguir desviar o olhar.

Ela deu uma risada curta, arrastada pelo álcool, e inclinou-se ainda mais perto.

— Medo? Claro que sim. Mas medo faz parte. Medo e desejo caminham juntos. Aprendi a controlar o que posso, a rir do resto, e a deixar certas coisas simplesmente acontecerem. — Ela piscou para mim, como se me incluísse nesse segredo.

Enquanto ela falava, eu sentia algo crescer dentro de mim. Curiosidade, desejo, vontade de entender aquele mundo, de ver como seria sentir o que ela descrevia. Cada palavra dela parecia tocar partes de mim que eu nunca tinha ousado explorar.

Ela se recostou no banco, apoiando os braços no balcão, e uma leve vertigem parecia percorrer seu corpo. Seus olhos estavam brilhando, a fala já arrastada em alguns momentos, mas ainda fascinante, cheia de energia e vida. Eu percebia que ela estava entregando mais do que queria, que o álcool estava quebrando barreiras, e que aquele era o momento em que a verdadeira Isa aparecia: poderosa, vulnerável e completamente humana.

Enquanto Isa continuava a beber e contar histórias, com a fala já arrastada e o riso saindo sem controle, ela me olhou com um brilho de cumplicidade.

— Amiga, você vai querer continuar essa conversa amanhã também? — disse ela, arrumando a alça da bolsa e rindo. — Ou quer que eu te leve pra ver algumas cenas de trabalho de verdade?

Engoli seco, sentindo o peito acelerar. A ideia me fascinava, mas meu cérebro tentava me manter na linha.

— Não… acho melhor não — murmurei, com um misto de medo e fascínio. — Só queria… ouvir hoje.

Ela riu, arrastado pelo álcool, e deu um tapa leve no balcão.

— Tá, tá, você é certinha demais — disse. — Mas tudo bem, amiga. Eu entendo. —

E então ela se inclinou para frente, com aquela confiança distraída de quem já bebeu demais:

— Só que… preciso de um tempo, tô apertada, sério mesmo. Preciso ir ao banheiro urgente. Fica aqui, tá? Espera por mim um minuto.

Ela se levantou, ainda rindo e tropeçando levemente nos saltos finos, e saiu em direção ao banheiro, jogando para mim um último sorriso cúmplice, sem perceber o que acabara de criar.

Fiquei ali, sozinha no balcão, ainda sentindo o perfume doce de Isa no ar. O barulho dos copos, as conversas baixas e a música ambiente se misturavam à minha própria respiração acelerada. Peguei o celular, talvez para me distrair, talvez para parecer ocupada, mas a verdade é que eu estava tentando controlar o turbilhão na minha cabeça.

Eu devia estar no quarto, descansando para organizar a apresentação do dia seguinte, mas em vez disso estava ali, com a mente cheia das histórias de Isa, da forma como ela falava da própria vida com tanta naturalidade, da coragem que eu jamais teria. Me peguei imaginando como seria sentir um pouco daquela liberdade, daquele poder.

Senti uma mão firme no meu ombro. Nem precisei levantar os olhos do celular para perceber que não era Isa voltando do banheiro, mas outra presença. Levantei a cabeça devagar e encontrei aqueles olhos claros, duros, o tipo de olhar que atravessa.

— Isa? — ele disse, com naturalidade.

Abri a boca para corrigir, mas antes que pudesse articular qualquer coisa ele sorriu torto, avaliando cada detalhe de mim.

— Achava que você fosse loira. Mas tudo bem, continua bonita com esse jeitinho nerd de finanças.

Por dentro, minha cabeça gritou. Nerd de finanças. Como ele podia saber? Era como se tivesse me despido em segundos. Talvez fosse só coincidência, talvez ele nem imaginasse.

Fiquei ali, engolindo em seco, prestes a dizer não sou Isa. Mas ele não me deu tempo.

— Vamos, não quero perder a noite.

A voz era firme, impaciente, sem espaço para hesitações.

Olhei para o corredor do banheiro, esperando Isa aparecer, rindo da confusão. Mas nada. Só o eco do salto dela que não voltava nunca. E eu, com o coração descompassado, presa entre duas escolhas: levantar e dizer que ele se enganou, que não era eu. Ou… deixar acontecer. Entrar no papel que, ironicamente, parecia estar me esperando desde a hora em que sentei naquele balcão.

A bebida ainda queimava na minha boca, e a curiosidade latejava mais alto do que a razão. Era loucura, era perigoso, mas algo dentro de mim sussurrava: e se eu for até o fim?

Dei um gole rápido no resto de bebida que tinha, sentindo o calor escorrer queimando pela garganta. As pernas pesavam como chumbo a cada passo que eu dava, lenta, olhando para a entrada do banheiro, esperando que Isa voltasse. Mas não voltou.

Antes que eu tivesse tempo de pensar, senti aquelas mãos grandes e firmes me segurarem pela cintura. Ele não pediu, simplesmente tomou posse, conduzindo meu corpo como se já fosse dele. Meu coração disparou, e por um instante tive a sensação de que estava flutuando, sendo arrastada num ritmo que não era meu.

Atravessei o saguão ao lado dele, os saltos batendo contra o piso de mármore, cada eco me lembrando que ainda havia chance de virar e dizer: “não sou ela”. Mas a cada passo essa chance parecia escapar.

O elevador chegou rápido, quase como se tivesse sido chamado para mim, e antes que eu pudesse reagir, ele já tinha apertado o último andar. O silêncio do elevador foi sufocante. Só o perfume dele preenchendo o espaço, amadeirado, envolvente, diferente de qualquer coisa que eu já tinha sentido.

— Você parece mais nervosa do que eu esperava — ele disse, com aquele meio sorriso. — É charme novo ou joguinho de início?

Não respondi. Apenas senti minhas pernas tremerem por dentro, e respirei fundo.

Quando a porta da suíte se abriu, vi um ambiente que parecia saído de revista: cama enorme, lençóis brancos impecáveis, champagne esperando no balde de gelo, cortinas abertas revelando o mar refletindo as luzes da lua.

E eu, de repente, no meio de um cenário que não era meu, sem Isa, sem escapatória. Só a certeza de que, dali em diante, não haveria espaço para me esconder.

Por alguns segundos fiquei parada no meio da suíte, como se tivesse sido largada ali de propósito. Meu corpo dizia uma coisa, minha cabeça outra. O coração disparava, pedindo que eu corresse de volta para o elevador, que gritasse que não era ela. Mas meus pés não se moviam. Era como se o peso das escolhas me pregasse ao chão.

E se ele descobre?

E se Isa volta e me encontra aqui?

E se eu simplesmente deixar?

Meus pensamentos rodavam como uma roleta sem freio até sentir o calor da mão dele pousar nas minhas costas, deslizando devagar até a curva da minha cintura. Foi como um corte seco no turbilhão da minha mente. Respirei fundo, quase arquejando, e quando pensei em virar para falar, ele já estava atrás de mim, o corpo grande tomando espaço, a respiração quente próxima ao meu pescoço.

A outra mão veio mais ousada, contornando o braço, passando de leve pelo quadril, até parar sobre minha barriga. Segurei o ar. Queria recusar, mas meus músculos não obedeciam.

— Você tem um corpo melhor do que imaginei… — ele murmurou baixo, a voz grave ecoando na minha pele. — Não sabia que as finanças cuidavam tão bem assim de si mesmas.

Fechei os olhos, tentando me esconder dentro da minha própria cabeça, mas a cada toque, um pensamento era calado. Ele não estava me dando espaço para raciocinar, apenas ocupando. Minhas mãos ainda estavam soltas ao lado do corpo, mas os dedos tremiam, como se buscassem uma saída que não existia.

E tudo o que restava era o calor, o perfume dele, e essa sensação estranha de estar caindo num jogo que não tinha começado por mim… mas que eu já não sabia se queria parar.

Ele me beijou forte, daqueles beijos que não pedem licença, só tomam. Minha cabeça girava entre a surpresa e o sabor dele, e no meio daquilo percebi que não tinha mais volta. Ainda assim, precisei de ar, de tempo, de um respiro para me recompor.

— Eu… preciso ir ao banheiro — murmurei, sem saber se ele realmente tinha me ouvido.

As pernas pesavam, o coração martelava no peito. Fechei a porta e me apoiei na pia, tentando recuperar o controle. Meu reflexo no espelho parecia zombar de mim: bochechas vermelhas, olhos úmidos e um sorriso meio torto, meio culpado. Passei batom devagar, redesenhando a boca que ainda latejava do beijo. Retirei o excesso com a ponta do dedo, soltei um pouco o cabelo, ajeitei o macacão. Era como se eu me preparasse para um papel que não era meu e que mesmo assim eu queria interpretar.

Quando voltei, ele estava lá, encostado, me esperando. Foi então que o vi de verdade.

Moreno, pele bronzeada que parecia guardar o sol das viagens caras. O cabelo curto, bem aparado, com alguns fios grisalhos que só acentuavam a seriedade do rosto. A barba rente desenhava um maxilar firme, marcado, que pedia respeito. Os olhos… castanhos, mas de um castanho quente, profundo, daqueles que não se desviam quando encontram os nossos.

Vestia uma camisa branca de linho, levemente amassada, aberta no colarinho, revelando um peito largo e peludo. As mangas dobradas deixavam os antebraços à mostra, fortes, com veias saltadas e um relógio de aço pesado que cintilava sob a luz. A calça de alfaiataria, azul-escura, caía perfeitamente, moldando o corpo de quem sabia se impor em qualquer lugar. Nos pés, sapatos italianos impecáveis, que denunciavam tanto dinheiro quanto gosto refinado.

E o perfume… amadeirado, envolvente, quase narcótico. Ele não precisava me tocar para que eu o sentisse entrando em mim.

Ali, parada diante dele, percebi que não era só atração. Era domínio. Ele era maior que a sala, maior que o bar, maior que eu. E tudo em mim dizia que eu não devia… mas minhas pernas continuavam avançando.

Ele me fitou de cima a baixo quando saí do banheiro, e não esperou que eu dissesse nada. Suas mãos grandes me agarraram pela cintura como se eu fosse leve demais para resistir, e puxou meu corpo contra o dele. A dureza da sua ereção já estava evidente contra meu abdômen, e a pressão me fez prender a respiração.

— Agora sim, Isa… — murmurou com desdém, o canto da boca curvando num meio sorriso que não tinha nada de doce. — Mais arrumadinha.

Eu abri a boca para corrigir, para dizer que não era ela, mas ele não me deu tempo. Segurou meu queixo com firmeza, os dedos apertando minhas bochechas até doer, e me beijou de novo, forte, invasivo, como se estivesse me testando. Eu sentia o gosto do vinho misturado ao dele, a língua pesada avançando sem cerimônia, como quem marca território.

Quando recuei, ofegante, ele me virou de costas num movimento rápido e me empurrou contra a parede do corredor. O frio do mármore bateu nas minhas costas, e um arrepio atravessou minha pele inteira.

— Tá nervosa? — perguntou rente ao meu ouvido, a respiração quente me molhando o pescoço. — Não precisa fingir, eu gosto assim.

Sua mão escorregou pela lateral do meu corpo, apertando minha cintura, depois a curva do quadril, até alcançar minha bunda. Apertou forte, bruto, como se estivesse avaliando mercadoria. Eu arfei, surpresa com a intensidade, e ele riu baixo, satisfeito.

— Isso. Gemendo baixinho… é assim que eu gosto.

Seus dedos deslizaram para a frente, afundando na junção das minhas pernas por cima do tecido do macacão. Não havia delicadeza, só a pressão firme que fazia meu corpo reagir apesar do choque. Minhas mãos subiram instintivamente para afastá-lo, mas ele agarrou meus pulsos e os prendeu contra a parede acima da minha cabeça.

— Esqueceu o combinado, hein? — disse, os olhos queimando sobre mim. — Você tá aqui pra obedecer.

Meu coração batia tão forte que parecia que ia romper meu peito. Eu sabia que podia gritar, que podia dizer a verdade… mas não disse. Não consegui.

Ele não tirava os olhos de mim, como se cada gesto fosse um teste. Segurava meus pulsos contra a parede e, quando finalmente me soltou, não foi para me dar liberdade. Foi para deslizar a mão pela minha garganta, apertando de leve, só o suficiente para me lembrar que ele controlava tudo.

O beijo voltou ainda mais forte, quase dolorido, sua boca sugando a minha, a língua invadindo com urgência. Minha cabeça batia de leve contra a parede a cada investida dele, e eu não sabia se queria empurrar ou me perder naquilo. O cheiro dele amadeirado, misturado a álcool e suor que me deixava tonta.

Suas mãos não paravam. Uma desceu pelo meu peito, apertando por cima do tecido, amassando sem se importar com delicadeza. A outra desceu pelas minhas costas, pressionando minha lombar até me colar inteira nele. Senti seu pau rígido me cutucando, e o gemido que escapou da minha garganta só serviu para deixá-lo mais intenso.

— É isso… — murmurou rente ao meu ouvido, mordendo minha orelha em seguida. — Quero você entregue.

De repente me virou de frente, me fazendo tropeçar meio desequilibrada, e me empurrou de novo contra a parede, dessa vez com o corpo dele esmagando o meu. O peso dele me prendia, suas mãos firmes subindo e descendo, marcando minha pele com a força dos dedos. Eu sentia o calor queimando por baixo do macacão, como se minha roupa já não fizesse sentido.

Foi aí que ele segurou minha cintura com uma das mãos e, com a outra, alcançou minhas costas. O som seco do zíper descendo encheu o corredor silencioso. Meu coração disparou. O ar frio entrou pelo vão que se abria, arrepiando cada centímetro da minha pele exposta.

Tentei virar o rosto para espiar sua reação, mas ele me manteve de frente, os lábios colados no meu pescoço, mordendo a pele sensível ali.

— Hm… você se arrumou direitinho.

Começou a abrir meu macacão, que caindo lentamente, revelando a lingerie que eu havia escolhido sem pensar em nada além de conforto: um conjunto preto de renda leve, elegante, nada exagerado. O sutiã moldava meus seios de forma discreta, mas insinuava mais do que escondia.

A calcinha, embora não fosse o fio-dental provocativo que Isa usaria, se ajustava perfeitamente ao meu corpo, realçando minhas curvas sem chamar atenção excessiva. Mas a ironia é que o bronzeado daquela manhã gritava no contraste, a marquinha fina do biquíni se escondendo entre as curvas da minha bunda, como se denunciasse uma intimidade que eu não queria mostrar.

Ele afastou o tecido com brutalidade, deixando meu corpo ainda mais exposto, e riu baixo, satisfeito.

— Melhor do que eu imaginava.

O macacão já mal se sustentava nos meus ombros, preso apenas pelas mangas caídas. Ele não me deu tempo para ajeitar nada. Suas mãos fortes me viraram de novo, me colando contra a parede, meu peito quase esmagado contra o concreto frio.

Ele percorreu a linha da minha espinha com a ponta dos dedos, até chegar na barra da calcinha. Em vez de puxá-la para baixo, agarrou o elástico e o arrastou para cima, fazendo o tecido se enfiar ainda mais entre minhas nádegas. O choque do gesto me arrancou um gemido contido, e o roçar firme da renda contra a pele quente me fez tremer.

— Assim — ele murmurou rente ao meu ouvido, pressionando a palma da mão contra a curva da minha bunda. — Desse jeito fica ainda melhor.

Senti sua respiração atrás de mim, quente, descompassada, e logo sua mão subiu firme, batendo um tapa seco que ecoou no silêncio do corredor. Meu corpo se arqueou, mas ele apenas riu baixo, satisfeito com a reação.

Me puxou então pela cintura, afastando meu corpo da parede. O macacão escorreu até o chão, abandonado, e fiquei apenas de lingerie e salto alto diante dele. Seu olhar me devorou inteira, fixando-se nas marcas recentes de sol que destacavam minhas curvas.

Segurou meu queixo com firmeza, obrigando-me a encará-lo. — Agora você vem comigo.

Não foi um convite. Ele simplesmente agarrou minha mão e me conduziu, passos largos e decididos, até a porta da suíte. Eu tropeçava nos saltos, mas seguia, o coração disparado, a boca seca. Quando a porta se fechou atrás de nós, senti que o mundo lá fora desaparecia.

Me empurrou até a cama king size, me fazendo cair sentada. O colchão afundou sob o peso dele logo em seguida. A sensação era de estar presa numa armadilha, e ao mesmo tempo fascinada pelo perigo.

Ele se inclinou, a mão novamente em meu pescoço, agora me deitando devagar, mas com firmeza. Seus olhos me percorriam como se catalogassem cada detalhe, cada curva. A palma aberta desceu da minha barriga até entre minhas pernas, pressionando por cima da calcinha. O toque firme me arrancou um gemido involuntário, abafado.

— É assim que eu quero você — disse, mordendo meu lábio inferior, me prendendo sob seu corpo. — Quietinha, entregue… e minha.

O peso dele me dominava por completo. Eu tentava controlar a respiração, mas a sensação de estar imobilizada, de ser explorada sem que pudesse impedir, me incendiava por dentro. Ele sabia disso. O sorriso cínico nos lábios denunciava o prazer que sentia em perceber minha entrega, mesmo quando eu fingia resistência.

E ali, naquela cama imensa, começou um novo jogo um em que cada gesto dele reforçava que, naquela noite, eu não era Laura. Eu era Isa.

Ele se afastou um pouco, respirando fundo, e então começou a se livrar da camisa. Cada botão desabotoado parecia aumentar o peso no meu peito, e o tecido caindo no chão deixou à mostra o peito largo e bronzeado, os músculos marcados, e a pele quente que ainda carregava o perfume amadeirado.

Os sapatos vieram em seguida, retirados com pressa e firmeza. Ele agora estava descalço, imponente, e os olhos dele não saíam de mim. A calça e a cueca ainda estavam no lugar, mas algo em mim mudou. Eu me senti mais ousada, mais solta, como se pudesse finalmente interpretar Isa de verdade.

Respirei fundo, deixando que a adrenalina me guiasse, e me aproximei dele da forma mais sensual que consegui. Cada passo era calculado, cada gesto pensado para provocar, para mostrar que estava assumindo o papel. Ajoelhei-me entre suas pernas, sentindo o calor do corpo dele, o perfume intenso misturado à minha excitação crescente.

Comecei a mexer na calça dele, desabotoando o cinto, puxando o zíper com dedos ligeiros, quase trêmulos de expectativa. Mas antes de deixar a calça cair, meus dedos tocaram seu membro por cima da roupa. Um choque percorreu meu corpo, os olhos arregalados, o coração disparado. Era imenso muito maior do que qualquer coisa que eu imaginasse e senti um misto de medo, fascínio e excitação.

Ele se aproximou mais, observando cada reação minha, os olhos fixos nos meus, o sorriso cínico de quem sabe exatamente o efeito que causa. Meu corpo reagiu sozinho, tremendo, minhas mãos começando a explorar com mais firmeza. O calor subiu, a sensação de perigo se misturava com o desejo, e eu percebi que estava cada vez mais entregue, interpretando Isa de forma natural, sem hesitar.

Quando finalmente a calça dele caiu, revelando apenas a cueca, não hesitei. Inclinei-me e comecei a beijar por cima do tecido, sentindo cada contorno, cada pulso firme, e a excitação só cresceu. Meu corpo se soltava, minhas mãos não paravam de explorar, e a persona de Isa parecia assumir totalmente cada gesto, cada respiração, cada toque.

O jogo estava apenas começando, e eu já sentia a mistura de medo, poder e desejo queimando por dentro, completamente entregue à experiência, ao controle dele, e à minha própria curiosidade de até onde eu poderia ir.

Minhas mãos tremeram por um instante, mas a adrenalina e a curiosidade me fizeram avançar. Segurei a barra da cueca dele e puxei devagar, sentindo o tecido escorregar por suas coxas firmes. A cada centímetro que revelava, meu coração disparava mais, e meu corpo se excitava sem conseguir controlar.

E então eu vi. Por completo. Imenso. A primeira reação foi a incredulidade, misturada com um frio na barriga. Eu nunca tinha visto algo assim tão grande, tão grosso, tão... impossível de ignorar. Veias saltavam pela superfície, delineando o membro como se cada linha fosse um cordão firme, e a cabeça era pontuda, mas poderosa, parecendo um pequeno capacete no topo daquele monstro.

Não consegui evitar o comentário involuntário, meio nervoso, meio excitada, mas com ironia nas palavras: “Tomara que a Laura tenha cobrado muito caro para isso”.

O peso da situação, a força dele, e a visão daquele pau colossal me deixaram sem fôlego. Minhas mãos tremeram ao redor, explorando cada contorno, cada veia, sentindo a pulsação que vibrava sob meus dedos. Era imponente, dominador, e eu sabia que teria que enfrentar aquilo, literalmente, se quisesse continuar no papel de Isa.

Me inclinei, inclinando meu corpo entre suas pernas, e comecei a explorar, beijando por cima, sentindo a dureza, a textura, cada curva do membro dele. A sensação era intensa, quase esmagadora. Meu corpo reagia sozinho, os pensamentos se misturando: medo, admiração, excitação e uma dose de perversidade ao perceber o quanto aquilo me atraía e me dominava.

Ele me observava o tempo todo, cada reação minha, cada gemido contido, cada tremor das minhas mãos. O sorriso cínico dele me lembrava que todo aquele poder era dele e que eu estava completamente à mercê de sua vontade.

Eu respirei fundo, tentando me concentrar, e comecei a percorrer toda a extremidade dele com as mãos, explorando cada veia, cada contorno. Segurava firme, sentindo a textura sob meus dedos, observando a dureza, o calor, e até experimentando o cheiro e o sabor que emanava dele. Cada pulsar fazia meu corpo tremer, cada batida contra meus dedos me lembrava do poder que ele exercia sem precisar de palavras.

Minha mente girava em mil pensamentos. Eu queria manter o controle, ainda que só por alguns instantes, tentando me impor como Isa faria, como uma prostituta experiente, elegante e confiante. Então, com cuidado, levei-o à boca. Um choque percorreu minha espinha: o tamanho era impressionante, quase impossível de engolir de primeira. Mas eu me recusei a recuar. Inspirei fundo e tentei, ajustando a posição, lambendo com cuidado, provando cada centímetro, aprendendo cada curva. Meu corpo se curvava instintivamente, e eu buscava ritmo, cadência, a perfeição na entrega.

Por alguns segundos, senti-me no controle, dominando a situação, conduzindo o prazer dele com delicadeza e atenção. Meus olhos se fechavam, minha boca se moldava, e em minha mente passava: “Se é para fazer, que seja direito. Como uma verdadeira profissional.”

Mas o poder que eu imaginava ter durou pouco. Ele não quis mais esperar. Com um impulso, tomou minhas mãos, pressionando-as contra o colchão. Sua respiração se misturou à minha, pesada, impaciente. Um toque forte, brusco, empurrou-me para baixo, e meu corpo inteiro se arqueou ao ser comandada sem aviso.

— Quer me controlar? — rosnou, a voz baixa, áspera, suja. — Aqui não é você que manda. Aqui é tudo meu.

Meus olhos se abriram, lacrimejando com o esforço de respirar e resistir à força dele, mas cada gesto dele me dominava mais. Meus lábios ainda tocavam a pele dele, mas agora ele decidia cada movimento, cada pressão, cada tempo. Ele queria poder, e eu estava aprendendo rápido o preço de tentar conduzir algo que não podia.

O calor do corpo dele contra o meu, a força das mãos, o toque impiedoso que me fazia tremer… tudo me deixava em êxtase. Eu percebia cada detalhe, cada veia, cada reação dele, enquanto ele ria baixo, satisfeito com o efeito que causava. Cada tentativa de Laura de manter a cadência, a sutileza, a suavidade era brutalmente subvertida por ele, e ainda assim, me sentia viva como nunca.

O jogo de poder estava apenas começando, e eu já sabia que o que viria depois não teria piedade.

Ele apertou minhas mãos contra o colchão, firme, e não me deu tempo para respirar direito. Meu corpo se curvou automaticamente, minha boca ainda envolvia o membro dele, mas agora cada pressão, cada empurrão era ditado por ele. Eu tentava me adaptar, seguir o ritmo que ele impunha, mas era bruto, acelerado, impiedoso.

Cada gemido que escapava da minha garganta parecia apenas instigar mais seu controle. Ele empurrava meu rosto para baixo, pressionando meu queixo, segurando minha cabeça. Eu engolia saliva, meu coração disparado, mas não podia recuar. A boca de Isa estava em ação, mesmo que Laura estivesse tremendo por dentro, perdida entre medo, excitação e submissão.

Enquanto minhas mãos ainda percorriam o corpo dele por cima da cueca, ele explorava meu cabelo, minha nuca, mordendo e sugando, deixando marcas. Meu corpo se arqueava sem que eu percebesse, tentando me ajustar, tentando agradar, tentando sobreviver à intensidade dele.

Eu percebia cada detalhe, a dureza sob meus lábios, o calor, as veias saltadas, a pulsação que se refletia em cada toque. O poder dele era absoluto, e eu já não tentava mais controlar nada. Só seguia, mordendo, lambendo, tentando absorver cada sensação, cada comando.

Ele rosnava baixo, impaciente e sujo, gostando do meu esforço e do meu desconforto. Eu sentia os olhos dele me devorando, e o prazer de estar completamente dominada me fazia perder a noção do que era real. Cada toque, cada empurrão, cada respiração acelerada me deixava mais entregue.

— Isso, continua… não para — ele ordenava, impiedoso, e eu obedecia, mordendo, chupando, sentindo o calor e a pressão dele. Meu corpo inteiro respondia sem resistência, e mesmo assim, tentava colocar minha sensualidade, minha interpretação de Isa, naquele ato.

O jogo estava intenso, brutal, e ainda assim incrivelmente excitante. Eu me sentia dominada, vulnerável, mas viva como nunca, aprendendo cada instante que aquele poder sobre mim era absoluto, e que o oral seria só o começo do que ele tinha planejado para aquela noite.

Ele não me deu tempo de me recuperar. Com um impulso firme, empurrou mais de si na minha boca, profundo, me fazendo engasgar, meus olhos se lacrimejarem. Meu corpo inteiro se curvou, mãos tentando se apoiar no chão, tentando encontrar equilíbrio, tentando respirar. Cada golpe de seu membro contra minha garganta era um comando silencioso, e eu obedecia, totalmente submissa, mesmo com o pânico e a excitação queimando dentro de mim.

Quando finalmente me retirou, caí ofegante no chão, o peito subindo e descendo rapidamente, a cabeça ainda girando pelo choque e pelo prazer misturado à tensão. Meu coração disparado tentava acompanhar a adrenalina que corria pelo corpo.

Ele se afastou um instante, indo até o armário, e voltou com algumas camisinhas, deixando-as cuidadosamente sobre a mesa, sem usá-las ainda. Meu olhar seguia cada gesto, cada movimento dele, absorvendo o poder absoluto que emanava.

Sem aviso, me pegou no chão e me lançou sobre a cama, abrindo minhas pernas com firmeza. A sensação de vulnerabilidade e exposição me deixou gelada por dentro, mas ao mesmo tempo estranhamente excitada.

— Não curto fazer isso com putas — ele murmurou, com a voz baixa e rouca, olhando diretamente para mim — mas você parece uma puta muito bem cuidada.

As palavras penetraram minha mente como um soco, mas de alguma forma, despertaram algo novo. Pensei firme no que ele dizia, cada sílaba, cada entonação carregada de poder. Eu nunca tinha enfrentado um pau daquele tamanho, nunca tinha sido tratada como uma profissional daquelas formas, nunca tinha me sentido tão excitada e entregue.

Então ele começou. O toque de sua boca em mim era diferente de tudo que eu conhecia: firme, preciso, explorador, ao mesmo tempo brutal e delicado. Cada lambida, cada sucção, cada deslizar de língua explorava cada centímetro, arrancando gemidos que eu não sabia que podia emitir. Eu me debatia levemente, mas ao mesmo tempo me rendia totalmente, sentindo meu corpo inteiro tremer com cada gesto, cada pressão, cada instante que ele dedicava exclusivamente ao meu prazer.

Meu corpo reagia sozinho, cada curva, cada ponto sensível, cada nervo em alerta. Eu me sentia dominada, exposta, vulnerável, mas completamente entregue àquele jogo de poder e prazer. Nunca ninguém tinha me feito sentir assim. Nunca tinha sentido meu corpo responder tão rápido, tão intensamente, como se cada toque dele estivesse gravado em mim, comandando meus gemidos, minha respiração, minha entrega.

A língua dele trabalhava em mim como se quisesse me desmontar por dentro. Ele começava lento, explorando, brincando com cada dobra, cada ponto sensível, e de repente acelerava, sugava, pressionava, me fazendo arquear as costas e agarrar os lençóis como se estivesse à beira de cair num abismo. Eu não tinha controle algum sobre meu corpo, sobre os sons que escapavam da minha garganta, gemidos roucos, altos, quase gritos que eu tentava conter mas não conseguia.

— Olha só você… — ele murmurou entre um movimento e outro, a respiração quente batendo contra mim —… gemendo como se nunca tivesse sido tocada.

Eu queria negar, queria responder com firmeza, mas o único som que saiu foi um gemido agudo, quase implorando por mais. Ele riu baixo, satisfeito, e voltou a me devorar com mais força, como se quisesse provar que eu não passava de uma presa rendida.

Meu quadril se movia sozinho, buscando mais, querendo mais, e cada vez que ele percebia essa ânsia, aumentava o ritmo, me castigava com a língua, alternava com mordidas rápidas, sugadas fortes que me faziam ver estrelas. A pressão era tanta que em alguns momentos eu não sabia se implorava para que ele parasse ou para que continuasse até me quebrar inteira.

Senti um calor subir pelo meu corpo, um arrepio intenso que percorria minhas pernas abertas, o abdômen contraído, o coração disparado. Eu estava me perdendo, sendo consumida ali, com as mãos dele me segurando firme, me impedindo de fugir, me obrigando a aguentar até o último segundo.

Quando finalmente ele se afastou, minha respiração era um caos. O corpo inteiro tremia, a pele arrepiada, como se eu tivesse corrido quilômetros sem fôlego. Eu me apoiei nos cotovelos, tentando me recompor, e só então percebi.

Ainda estava de lingerie. O macacão tinha ficado para trás, largado no chão, mas o conjunto preto continuava firme no meu corpo. A calcinha colada à pele, marcada pelo calor e pela umidade que escorria, e o sutiã sustentando meus seios que subiam e desciam com a respiração acelerada.

Era estranho, quase enlouquecedor: eu tinha sido levada ao limite, explorada como nunca, e ainda estava vestida, como se ele quisesse prolongar o jogo, me lembrar a cada segundo que o pior ou o melhor ainda estava por vir.

Eu ainda estava deitada, pernas abertas, o corpo em choque entre prazer e exaustão, quando ouvi o som do plástico sendo rasgado. Virei a cabeça para o lado e vi. Ele estava de pé, imenso, a calça jogada num canto qualquer, o membro duro, latejante, e uma camisinha deslizando lentamente por toda aquela extensão monstruosa. A visão me fez engolir seco.

Meu coração batia tão alto que parecia que o quarto inteiro podia ouvir. Eu respirei fundo, tentando me agarrar a algum fio de raciocínio. Eu não sou Isa. Eu não sou prostituta. Eu deveria levantar e ir embora. Mas a cada lembrança da língua dele em mim, a cada sensação que ainda pulsava entre minhas pernas, eu me perguntava: Será que consigo? Será que eu quero?

Fechei os olhos por um instante. Vi flashes da reunião fracassada, do cliente me tratando como se eu fosse incompetente. Vi a Isa rindo, livre, leve, contando sua vida como se não devesse explicação a ninguém. E vi a mim mesma ali, de calcinha e sutiã, entregue, sendo chamada de puta… e gostando mais do que deveria.

— Você está bem? — a voz dele veio firme, prática, quase impaciente, enquanto ajustava a camisinha com as mãos grandes. — Não vai amarelar agora, vai?

Meu corpo respondeu antes da minha boca. Minhas pernas se moveram, se dobraram mais, abrindo espaço para ele. Eu sabia o que estava fazendo. E sabia que dali em diante, não havia volta.

Ele sorriu, satisfeito, subiu de volta sobre mim, seu peso esmagando meu corpo contra o colchão. Senti o calor da pele dele, a respiração forte, o cheiro de homem misturado ao álcool suave da bebida que ele havia tomado.

Naquele instante, entre o medo e a excitação, entre ser Laura e ser Isa, eu percebi: eu estava prestes a cruzar uma linha da qual não teria como retornar.

Ele se inclinou sobre mim, uma mão firme na minha coxa, a outra segurando meu quadril como se fosse dele. Senti o volume latejante roçar minha calcinha encharcada e quase chorei de antecipação. Era enorme, grosso, e só a ideia de tê-lo dentro de mim me fez prender a respiração.

Ele riu baixo, quase debochado, e sussurrou no meu ouvido:

— Você é apertadinha… vai sofrer um pouco. Mas eu quero sentir você se abrindo toda pra mim.

Meu corpo estremeceu. Era como se as palavras dele fossem chicotes, me marcando por dentro. Eu queria responder, mas minha voz falhou. Tudo que consegui foi morder o lábio e fechar os olhos, tentando preparar minha mente para o inevitável.

Ele não teve pressa. Segurou a base do pau com a mão, encostou a cabeça latejante na minha entrada ainda coberta pela calcinha, esfregando devagar, sentindo o tecido molhado colar no meu sexo. Eu gemi baixo, humilhada e excitada ao mesmo tempo, porque cada movimento parecia me lembrar o tamanho do desafio que estava prestes a enfrentar.

Com um puxão firme, ele afastou a calcinha para o lado, sem se dar ao trabalho de tirá-la. O ar frio da suíte bateu contra minha pele quente, e então veio o toque dele, grosso, quente, deslizando pela minha abertura.

Eu arfei. Meu corpo inteiro se contraiu, instintivamente recusando aquela invasão. Mas ele não parou. Empurrou só a ponta, bem devagar, e mesmo assim parecia demais. Eu cravei as unhas nos lençóis, o coração disparado, a respiração falhando.

— Tá sentindo? — ele disse, voz rouca, satisfeito com meu desespero. — Isso é só o começo.

Uma mistura de dor e prazer começou a subir pelo meu corpo. Era desconforto, era estiramento, era um calor que me queimava por dentro. Mas junto vinha a excitação de saber que eu estava sendo aberta por algo que parecia impossível.

— Vai doer, mas você vai adorar — ele completou, empurrando um pouco mais.

Meu corpo cedeu milímetro por milímetro, a cada investida dele. O ar faltava, meus olhos lacrimejavam, mas por trás de tudo havia uma chama crescente que me fazia não querer que ele parasse. Eu estava assustada, sim. Mas também estava viciada na sensação de ser tomada, de não ter mais escolha.

E ele sabia. Podia ver nos meus olhos, podia ouvir nos meus gemidos, podia sentir na forma como eu me agarrava ao lençol como se fosse despencar.

Ele começou devagar, como se me torturasse de propósito. A ponta grossa forçando minha entrada, escorregando para dentro e depois saindo, só metade, só um pouco. Eu gemia alto, me contorcia, e cada vez que achava que ia me dar um segundo de alívio, ele empurrava de novo, mais fundo, me fazendo sentir cada centímetro daquele monstro.

— Olha só como você agarra — ele murmurou, voz grave, apertando minha cintura com força. — Apertadinha mesmo. Vai me rasgar todo.

Meu corpo ardia, minha mente oscilava entre querer que acabasse e desejar mais. Eu não sabia se chorava de dor ou de prazer, mas cada vez que ele me preenchia, algo em mim se incendiava ainda mais.

Então ele não teve mais paciência. Enterrou de uma vez. Todo o ar do meu peito foi arrancado num gemido rouco, quase um grito. Senti o choque do corpo dele batendo contra o meu, senti minha carne se esticando ao limite, e por um instante pensei que não fosse suportar.

— Isso… — ele rosnou no meu ouvido, colando-se às minhas costas. — Agora sim.

Ele ficou parado dentro de mim por alguns segundos, me deixando sentir o peso, a brutalidade daquela invasão. E então começou a se mover. Primeiro lento, fundo, cada estocada arrancando de mim um gemido diferente. Depois mais rápido, mais forte, até que os estalos do nosso corpo se chocando enchessem o quarto.

Minha boca se abria sem controle, meu corpo já não reagia por vontade, mas por instinto. Eu me agarrava ao lençol, arqueava as costas, deixava escapar sons que eu nunca imaginei fazer.

Ele segurava minhas ancas e me usava, me puxava contra ele, me preenchia inteira. O ritmo foi aumentando, cada vez mais brutal, e eu só conseguia me perder entre o desespero e o prazer intenso.

Cada estocada era como um choque, uma descarga elétrica que me percorria dos pés à cabeça. O quarto girava, o suor escorria pela minha pele, e a única coisa real era aquele homem me tomando como se eu fosse dele, como se não houvesse mundo fora daquela cama.

Eu queria segurar. Queria manter o controle, mostrar que aguentava, que aquilo não me abalava. Mas o corpo não mente. Cada investida dele me desmontava, cada vez mais fundo, mais forte, mais rápido.

Minhas unhas rasgavam o lençol, meu rosto enterrado no colchão, tentando esconder os gemidos que escapavam sem permissão. Ele não me dava folga. Quando eu achava que ia aliviar, ele mudava o ângulo, me pegava mais fundo, arrancava de mim sons que não eram meus… ou que eu nunca tinha ouvido sair da minha própria boca.

— Tá se abrindo toda pra mim… — ele sussurrou, a voz áspera contra minha orelha. — Tá gozando como uma puta carente.

Essas palavras me atravessaram como um estalo. Eu queria negar, queria gritar que não. Mas foi nesse instante que senti meu corpo se contorcer, o calor explodir entre minhas pernas. O primeiro orgasmo veio com força, me rasgando de dentro pra fora, sacudindo meu corpo sem piedade.

Gritei abafado, mordendo o travesseiro, mas não consegui esconder. Minhas pernas tremiam, minha barriga se contraía, e eu senti o gozo me tomar inteira, uma onda que não parava, que me deixava sem ar.

Ele não parou. Continuou me fodendo, atravessando meu corpo como se quisesse me lembrar de quem estava no comando. Cada estocada durante o orgasmo era um tormento delicioso, me deixando ainda mais frágil, mais entregue.

Eu só conseguia pensar que nunca tinha sentido aquilo. Nunca daquele jeito. Um prazer que beirava o insuportável, que queimava, que me fazia perder a noção de tempo, espaço e até de quem eu era.

Quando a onda finalmente baixou, eu estava em pedaços, suada, com os cabelos grudados no rosto. Mas ele… ele ainda não tinha acabado.

Quando senti ele me sair de dentro, um vazio absurdo tomou conta de mim. Arregalei os olhos, levei a mão entre as pernas e senti minha buceta latejando, aberta, molhada, escorrendo.

— Caralho… — gemi sem pensar, ofegante. — Olha o estrago que você fez em mim… me arrombou, porra…

Ele riu, aquele riso debochado que me fazia tremer ainda mais.

— Gostou, nerdzinha? Isso foi só o começo.

Mordi os lábios, olhando pro pau dele todo lambuzado, brilhando de gozo e saliva. Era imenso, monstruoso, quase assustador, mas eu já estava completamente rendida.

— Me fudeu inteira… — falei, mordendo os lábios e gemendo baixo. — E eu quero mais. Quero sentir de novo, mais fundo.

Ele puxou meu cabelo, me erguendo o rosto.

— De quatro agora. Quero ver essa marquinha de sol enquanto eu te arrebento.

Senti meu corpo obedecer antes da cabeça processar. Apoiei as mãos no colchão, virei de costas, empinei a bunda, a calcinha ainda colada no corpo, molhada e puxada no meio da carne. Olhei por cima do ombro, a respiração acelerada.

— Assim? — provoquei, rebolando só de leve, nervosa e excitada. — Quer me comer assim, grandão?

Ele agarrou minha cintura com força, e sem aviso, enfiou de novo, rasgando minha entrada que já estava aberta, mas ainda parecia pequena demais pra ele. Gritei, sem disfarçar a dor.

— Ah, caralho! Porra, tá me arrombando de novo… — xinguei alto, a cara afundada no colchão.

Ele meteu mais fundo, gemendo, o corpo dele batendo contra minha bunda.

— Isso, fala mais, vadia. Quero ouvir.

Eu tremia inteira, mas cada estocada me deixava mais molhada, mais puta.

— Vai, enfia essa rola grossa… mais fundo, porra! Me fode até eu não aguentar mais! — gritei, entre dor e tesão. — Me deixa larga de vez, quero sentir essa pica me abrindo inteira!

Ele riu outra vez, estocando ainda mais forte, as bolas batendo contra mim.

— Vai ter que pedir muito mais que isso, nerdzinha.

— Eu peço, caralho! — soltei, sem vergonha. — Me arromba, mete até o fim, até o pau sumir dentro de mim…

Cada palavra que eu dizia parecia deixá-lo ainda mais bruto, mais dono de mim.

Senti cada estocada dele atravessando minha carne, e meu corpo tremia com a força que ele aplicava. O pau dele parecia não ter fim, me rasgando por dentro, e eu só conseguia gritar e gemer:

— Caralho, tá me arrombando de novo! Mais fundo, porra, me arrebenta!

Ele não diminuiu o ritmo. Pelo contrário, parecia rir do meu desespero, da minha entrega total. Cada puxada de cabelo, cada aperto na cintura, cada estocada brutal me fazia perder mais controle, e eu não podia nem pensar, só sentir.

— Fala, vadia, quer mais? — ele rosnou, quase sujo, me dominando.

— Quero! — soltei, arfando, rebolando como podia. — Quero sentir cada centímetro, mais fundo, mais rápido!

Ele então acelerou, empurrando meu corpo contra o colchão, fazendo minha bunda bater na cama a cada golpe. A dor inicial se misturava com o tesão, e eu me pegava pedindo ainda mais:

— Vai, porra, não para! Me fode, me arrebenta inteira! — meu gemido ecoava, misturando dor e prazer.

Senti ele mudar a força, puxando meu cabelo com violência, me deixando ainda mais exposta, e cada estocada parecia querer me marcar como dele, me transformando completamente em Isa naquele momento.

— Vai gozar assim, puta! — gritou, e meu corpo reagiu imediatamente, tremendo, arrepiado, aberto, entregando tudo.

O orgasmo veio em ondas brutais, meu corpo tremendo, gemidos desesperados saindo sem controle, e mesmo assim ele não parou. Cada estocada me rasgava um pouco mais, me levando a um lugar que eu nunca imaginei existir.

— Vai, ainda não acabou, puta! — ele ordenou, e eu, ainda trêmula, suja de prazer, não consegui responder, só me entregar, pedindo mais fundo, mais forte, até não sobrar nada dentro de mim.

Ele acelerou ainda mais, meu corpo batendo na cama a cada golpe, e eu não conseguia parar de gemer, morder os lábios, soltar palavrões, falando cada sensação como se fosse uma instrução:

— Caralho, seu pau é enorme… apertadinho demais… vai, mete tudo dentro! — gritei, sentindo cada músculo meu vibrar com o impacto dele.

E então senti o calor subir, um orgasmo intenso me rasgando, mas ele não parou. Cada estocada nova me deixava ainda mais molhada, cada puxada de cabelo me prendia na posição, e meu corpo tremia com prazer e dor misturados.

Ele ainda com a camisinha, gemeu fundo, pesado, dominador, e pude sentir a tensão acumulada nele. Quando finalmente se retirou, senti o vazio, mas ainda assim estava completamente entregue, respirando ofegante, tremendo.

Então ele retirou a camisinha e, sem avisar, liberou o gozo sobre minhas costas e bunda, quente, pegajoso, espalhando sobre minha pele e a lingerie que ainda marcava cada curva. Um arrepio percorreu meu corpo, e mesmo assim, eu não pude deixar de gemer, excitada e humilhada, percebendo que tinha sido totalmente dominada, mas também transformada naquele instante.

Ainda de lingerie, molhada, marcada e suja do jeito que ele queria, percebi como aquele homem tinha deixado seu rastro em mim, e como eu mesma tinha me perdido e me entregado completamente naquele jogo de poder, prazer e submissão.

Quando finalmente caímos na cama, meu corpo ainda tremendo e molhado, me joguei de bruços, sentindo o colchão frio contra a pele quente e marcada. Cada músculo doía, cada parte do meu corpo latejava de prazer e ainda de tensão. Ele se atirou ao meu lado, respirando pesado, ofegante, o peito subindo e descendo rápido, a energia dele ainda dominando todo o espaço.

Fiquei ali, de bruços, tentando me recompor, mas sem vontade de me mover. Foi então que senti as mãos dele explorarem de novo meu corpo, mas dessa vez de forma mais provocativa. Seus dedos foram brincar com meu anel, tocando meu cu com firmeza e provocação.

— Aposto que seria bem mais caro me comer aqui, não é? — perguntou, com aquela voz rouca e suja, provocando um arrepio que percorreu toda minha espinha.

— Eu não teria condições de pagar um pau como o seu — respondi, ofegante, mordendo os lábios e tentando disfarçar o tesão que subia novamente.

Ele riu, gostando do que ouviu, mas não insistiu. Apenas me deixou ali, ainda explorando meu corpo, respirando fundo e observando o estrago que tinha feito.

— Quer passar o resto da noite comigo? — ele perguntou, provocativo, enquanto seu olhar queimava meu corpo inteiro.

Um arrepio percorreu meu corpo. A ideia de continuar naquela intensidade, ser completamente dominada e ainda poder me entregar mais, me fez arfar.

— Sim… — sussurrei, sem pensar duas vezes, já sentindo o corpo pulsar de novo. — Quero…

Ele sorriu, satisfeito, e eu pude sentir que aquela seria uma nova rodada, um novo jogo de poder, prazer e submissão. Me virei devagar, ainda de lingerie, sentindo cada marca, cada bronzeado, cada traço dele em mim, pronta para o que viesse a seguir.

A segunda rodada foi loucura pura. Ele me fez tirar a lingerie quase de imediato, deixando meu corpo ainda mais exposto e vulnerável. Fizemos de tudo de novo, mas com um ritmo mais selvagem: orais demorados, ele me provocando e me dominando, cada toque queimando a pele, cada estocada arrancando gemidos desesperados.

Mudamos de posições sem parar: de quatro, de bruços, ele por cima, eu explorando também, tentando seguir os movimentos dele, mas sempre sendo guiada pela força e pela brutalidade que ele impunha. O corpo dele era pesado sobre o meu, marcando cada curva, e o meu tremia, arfava e gritava a cada avanço.

Ele não poupou nem um segundo: sexo intenso, rápido, demorado, duro, apertado, explorando cada parte de mim, me levando a limites que eu nem sabia que existiam. Eu falava, gritava, xingava, pedindo mais, mais fundo, mais selvagem, me tornando a perfeita Isa que ele queria naquele momento.

Quando finalmente nos esgotamos, ainda ofegantes e suados, eu percebi que tínhamos passado a noite inteira nesse ritmo insano. Meu corpo estava marcado, dolorido e completamente entregue, mas também mais excitado do que jamais imaginei. Cada centímetro meu lembrava do que tinha acontecido, e o prazer ainda pulsava em ondas contínuas.

Aquela noite não foi só sexo: foi um jogo de poder, entrega, dor e prazer sem fim, onde eu, Laura, tinha experimentado algo completamente fora da minha realidade, mas que, de alguma forma, me transformou por completo.

O sol começava a invadir o quarto, tímido, dourado, iluminando meu corpo nu espalhado sobre a cama. Eu respirava ainda ofegante, cada músculo dolorido, cada marca do que ele tinha feito em mim pulsando na pele. Meus pensamentos giravam, confusos e acelerados.

Nua, de bruços, com a respiração pesada ainda ecoando no quarto. A primeira coisa que senti foi o lençol frio grudando no suor do meu corpo. Demorei alguns segundos até ter coragem de levantar. Quando o fiz, fiquei em pé, olhando ao redor... O caos da madrugada espalhado pelo quarto. Roupas jogadas, taças esquecidas, a camisinha usada em cima do criado-mudo. Um cenário de guerra erótica que me fez soltar um riso curto e sem graça.

Caminhei até o banheiro. Acendi a luz e encarei meu reflexo. Primeiro nos olhos, como se quisesse me reconhecer. Depois, no corpo. Cada marca vermelha na pele, cada arranhão, cada hematoma leve era uma lembrança do que ele tinha feito comigo. Passei as mãos lentamente por cima, descendo pelos seios, pelo ventre, pelas coxas. Senti meu sexo pulsar ainda dolorido, e então os flashes começaram a vir, a boca dele me sufocando, o peso do corpo dele me prendendo, minhas próprias palavras sujas escapando sem filtro.

Entrei debaixo do chuveiro. A água quente caiu forte sobre mim, mas não apagava nada. Fechei os olhos, deixei os dedos percorrerem as curvas, esfregando devagar, como se estivesse catalogando as memórias na pele. Toquei onde ele mais havia sido bruto, onde ele arrancou meus gemidos mais desesperados, e senti um arrepio subir pela espinha. O banho foi lento, quase ritualístico.

Quando saí, enrolada na toalha, encontrei-o sentado na cama. Estava com o celular na mão, meio distraído, e ao lado dele um pacote de papel pardo. Quando me viu, sorriu daquele jeito de dono, e disse:

— Você foi ótima… a noite foi incrível. Daria pra te contratar outras vezes. Se não fosse coisa de job, até faria de você minha mulher.

Sorri de volta, mas o comentário bateu como uma facada. Por um instante, todo o dinheiro que viria no pacote não conseguiu encobrir a sensação que me atravessava: eu tinha sido só um objeto, nada além disso.

Respirei fundo e comecei a procurar minhas roupas. O macacão estava jogado perto da poltrona, a calcinha encharcada de gozo dele, inútil, o sutiã arrebentado, sem condições de uso. Só o blazer ainda servia para esconder o que o tecido do macacão deixava exposto sem a peça íntima. Vesti tudo em silêncio, me recompondo com pressa, mas tentando parecer calma.

Ele se levantou, entrou no banheiro sem dizer muito mais. Antes de fechar a porta, lançou apenas um “até logo” como se fosse certo que eu entenderia.

Fiquei parada no meio do quarto, com o pacote pesado nas mãos e a mente ainda mais pesada, tentando entender em que ponto eu tinha deixado de ser Laura para me tornar só mais uma naquela cama.

Saí pelo corredor do hotel com o corpo ainda dolorido e a alma ainda mais. Cada passo ecoava como se fosse um anúncio, e eu sentia todos os olhares sobre mim. Não havia ninguém olhando de fato, mas dentro da minha cabeça eu ouvia as vozes: “Olha lá a garota que vendeu o corpo”. “A menina que roubou o trabalho da outra”. A cada passo, o medo apertava mais forte o estômago. O medo de cruzar com Isa, de ter que encarar os olhos dela, de ser desmascarada.

No quarto, o caos ainda me cercava. A calcinha melada largada no chão. O sutiã rasgado inutilizado. O macacão e o blazer amassados, testemunhas mudas da noite. Olhei em volta e me senti pequena, esmagada pela lembrança de tudo que tinha feito. Escolhi roupas que escondiam as marcas, calça leve, blusa de manga comprida, óculos escuros para esconder o cansaço. Fiz as malas devagar, como se dobrar tecido fosse dobrar também a culpa.

Antes de sair, vi o pacote em cima da cama. Por segundos pensei em ignorar, mas minhas mãos se moveram sozinhas. Notas de cinquenta e cem, organizadas. Cinco mil reais. E um cartão de visitas. Só então percebi que havia me entregado inteira a um homem sem nem saber seu nome. Li devagar: Anderson.

Mais tarde, descobriria no aeroporto. Casado. Político. Um homem de fachada respeitável, que jamais seria visto comigo na luz do dia.

Segui para o restaurante do resort para o último café da manhã. O salão estava cheio, mas me sentei sozinha. Meu corpo pedia comida, energia, qualquer coisa que me fizesse esquecer o vazio. Enchi o prato sem pudor: frutas, pães, ovos, suco. Cada garfada era um esforço para acreditar que eu estava bem, que era só mais uma hóspede prestes a voltar para casa.

Foi então que ouvi os saltos. Um som metálico e firme que se aproximava. Cada batida no piso ressoava dentro do meu peito. Eu sabia quem era antes mesmo de olhar. E quando finalmente ergui os olhos, lá estava ela. Isa.

Linda. Impecável. Segura de si como sempre. Uma mulher que exalava poder. A mulher de quem eu tinha roubado a noite.

Ela não sorriu. Não hesitou. Simplesmente puxou a cadeira ao meu lado e se sentou. O perfume dela invadiu meus pulmões, e a voz firme cortou o ar como uma lâmina:

— Então, mocinha, precisamos conversar.

O garfo escorregou dos meus dedos e caiu sobre o prato, fazendo um barulho seco. Minha respiração parou por um segundo. E naquele instante, percebi que o peso da madrugada não era nada perto do que estava prestes a acontecer.

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Comentários

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Perfeito, merece uma continuação.

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J67
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