✧ Um Ato de Desespero ✧
(Lucas)
A visão dele se desfazendo sob meu toque, o calor úmido que se espalhou por suas calças… tudo deveria ter sido o ápice da minha vitória, o troféu de humilhação que Malakor exigia. Mas algo dentro de mim se partiu no exato momento em que ele se quebrou. O gemido que rasgou sua garganta não era apenas de dor ou vergonha; havia uma ressonância de algo mais profundo, um eco de prazer agonizante que vibrou em um canto esquecido e empoeirado da minha alma.
O veneno do Necromante sibilou em minhas veias, uma serpente faminta exigindo mais crueldade, mas meus músculos vacilaram, recusando o comando. O olhar desceu para o outro mamilo, ainda intocado, uma jóia pálida e tensa contra a pele trêmula. Minha mão se moveu com uma vontade própria, o polegar e o indicador circulando-o, não com a brutalidade de antes, mas com uma possessividade sombria e inquisitiva. Eu estava testando a textura de sua carne, sentindo o pulso frenético martelando sob a pele fina como um pássaro preso. Eu não estava mais apenas punindo; eu estava explorando, mapeando o território da sua ruína com uma curiosidade profana que era inteiramente minha.
(Tiago)
A vergonha me cauterizava por dentro, um fogo mais quente e doloroso do que qualquer chama que eu pudesse conjurar. Meu corpo havia me traído de forma absoluta, respondendo a uma violação com uma liberação involuntária que sujou minha alma de uma forma que sangue jamais poderia.
Quando a mão dele se moveu para o meu outro peito, preparei-me para a mesma dor lancinante, a mesma agressão fria. Em vez disso, o toque foi… diferente. Ainda era dominador, inegavelmente cruel em sua intenção, mas havia uma estranha e meticulosa delicadeza em sua exploração. Cada movimento lento enviava espirais de uma sensação caótica através de mim, uma mistura terrível de medo e uma excitação doentia que me fez odiar cada nervo do meu corpo. A fúria de Malakor ainda fluía pelo Vínculo, uma maré de ódio puro, mas por baixo dela, senti um tremor. Uma dissonância. Era a confusão de Lucas, uma fissura na muralha de escuridão. E nesse pequeno vislumbre de humanidade, nesse caos de sensações contraditórias, eu me agarrei. Parei de lutar. Meu corpo amoleceu, não em derrota, mas em uma rendição estranha e desesperada, uma aposta de que o homem que eu conhecia ainda lutava contra a besta que o vestia como uma pele.
(Lucas)
Ele parou de tremer. Sua respiração, antes entrecortada por soluços de pânico, se aprofundou em um ritmo resignado. Ele se entregou. A percepção me atingiu não como um soco, mas como o silêncio gelado após uma explosão. Isso não era o que Malakor queria. O Necromante desejava um receptáculo quebrado, gritando, lutando até o fim. Não um que se rendia com uma quietude que parecia quase uma absolvição.
Os sussurros em minha mente se tornaram um uivo furioso, ordenando que eu o rasgasse, que o marcasse com meus dentes, que o profanasse sem hesitação. Mas eu estava hipnotizado pela mudança. Seus olhos, que antes estavam cerrados com força, se abriram e encontraram os meus. Não havia desafio neles, nem súplica. Havia apenas… Tiago. Vulnerável, arruinado e, de alguma forma, terrivelmente presente por trás da dor. O ódio que me impulsionava começou a se desfazer como fumaça, a conexão com Malakor vacilando diante daquela entrega silenciosa e incompreensível.
(Tiago)
Olhando para cima, através de um véu turvo de lágrimas, eu vi a guerra travada em seu rosto. A escuridão ainda estava lá, um parasita contorcendo suas feições, mas por baixo dela, vi o lampejo de seus verdadeiros olhos azuis, a cor do céu límpido após uma tempestade violenta. Ele estava ali, em algum lugar, se afogando. Eu precisava alcançá-lo. Precisava arrastá-lo de volta do abismo.
Com a pouca força que me restava, levantei uma das mãos, ignorando a dor aguda nos pulsos apertados. Meus dedos, trêmulos, tocaram sua bochecha. Ele estremeceu com o contato, um arrepio percorrendo seu corpo tenso. Puxei sua cabeça para baixo, um ato desesperado de fé e desafio. E então, eu o beijei. Foi um beijo desajeitado, salgado de lágrimas e suor, o beijo de um homem quebrado para o homem que o quebrou, uma prece silenciosa oferecida no meio do inferno.
(Lucas)
O contato de seus lábios foi como um ferro em brasa de pura luz contra a minha escuridão. Não era sedutor, não era apaixonado; era um exorcismo. A sensação, a suavidade, a pura e inegável humanidade daquele gesto foi um antídoto instantâneo para o veneno de Malakor. A conexão entre nós através do Vínculo explodiu, não com ódio, mas com a torrente avassaladora das emoções de Tiago: seu medo, sua dor lancinante, sua vergonha corrosiva e, por baixo de tudo, uma centelha de esperança tão brilhante e dolorosa que me cegou.
A voz em minha cabeça gritou uma última vez, um som de vidro se estilhaçando, e se desintegrou em nada. A névoa negra se dissipou de meus olhos. Eu me afastei dele como se tivesse sido queimado, e o horror do que eu tinha feito desabou sobre mim com o peso de uma montanha. Olhei para Tiago — encolhido, seminu, manchado e humilhado por minhas próprias mãos — e meu mundo inteiro se fragmentou.
(Tiago)
No instante em que nossos lábios se tocaram, senti a mudança. O Vínculo se purificou com a violência de uma enchente, a pressão odiosa desaparecendo e deixando um vazio vertiginoso para trás.
Lucas se afastou de mim, seu rosto uma máscara de horror e autoaversão tão profunda que me assustou. A malícia havia sumido, substituída por algo infinitamente pior: a agonia lúcida da compreensão. Ele tropeçou para trás, seus olhos fixos em mim, arregalados de pânico. O monstro se foi, mas o homem que ele deixou para trás estava se quebrando em mil pedaços diante de mim. Ele levou as mãos à cabeça, puxando os próprios cabelos, e um som gutural de angústia pura rasgou sua garganta. A visão de sua dor era, de uma maneira perversa, quase tão aterrorizante quanto sua violência tinha sido.
(Lucas)
“Não… não, não, não…” O sussurro saiu rouco, enquanto eu recuava até minhas costas baterem na parede de madeira fria.
Deslizei até o chão, as pernas incapazes de me sustentar. As imagens do que eu acabara de fazer voltaram em vislumbres nauseantes: o gosto salgado de sua pele, o som agudo de seu grito, a sensação de seus músculos se rendendo sob meu toque. O Necromante não tinha apenas me controlado; ele me fez seu cúmplice. Ele não quebrou a minha vontade, ele a seduziu, usando a escuridão que já existia dentro de mim e alimentando-a até que se tornasse um monstro. Eu era uma arma apontada para o coração da única pessoa que eu jurei proteger. O Vínculo era uma maldição. Tiago era a isca, e eu, a armadilha.
“Eu vou matá-lo”, eu disse, a voz quebrada, mas com um núcleo de aço frio. “Vou matar aquele desgraçado. Sozinho. Você… fique longe de mim.”
Com um esforço tremendo que fez meus músculos gritarem, me levantei, pegando minha mochila e minha espada. Eu não podia mais respirar o mesmo ar que ele. Eu era veneno.
(Tiago)
Vê-lo pegar suas coisas, pronto para fugir para uma morte certa, acendeu um pânico de um tipo diferente dentro de mim. Não era o medo por mim mesmo, mas por ele. Ele estava marchando para o abate, movido pela culpa e pelo ódio. Rapidamente, ajeitei minhas calças, a humilhação do momento anterior varrida por uma urgência maior. Corri e me coloquei entre ele e a porta, meu corpo dolorido protestando.
“Não ”, eu disse, minha voz surpreendentemente firme, forjada na adrenalina. “Você não vai a lugar nenhum. Não assim.”
Ele me olhou com olhos que eram poços de desespero.
“Saia da minha frente, Tiago. Eu machuquei você. Eu quase… Eu sou um perigo para você.”
(Lucas)
“Você não entende?”, gritei, a frustração e a vergonha transbordando como bile. “Ele não me forçou, ele me convenceu! Ele usou meus pensamentos, minhas frustrações, o ressentimento que eu sentia por você… pelo seu poder que sempre pareceu tão fácil! Ele me mostrou como seria bom quebrar você, e uma parte doente de mim… uma parte de mim gostou, Tiago.”
A confissão saiu como um vômito ácido, deixando-me exposto, eviscerado e vazio. Eu não conseguia olhá-lo nos olhos.
“Eu não posso proteger você se não consigo nem me proteger da minha própria mente. Me deixar ir é a única maneira de te manter seguro.”
Tentei contorná-lo, mas ele se moveu, um obstáculo obstinado.
(Tiago)
Eu estendi a mão, desta vez não para puxá-lo ou beijá-lo, mas para pousá-la suavemente em seu braço. Senti o músculo se encolher sob meu toque, mas ele não se afastou.
“Eu sei, Lucas. Eu senti. Pelo Vínculo, eu senti o veneno dele, mas também senti você. Eu senti você lutando contra ele, mesmo no pior momento. Ele usou você porque sabe que a nossa maior força é estarmos juntos. O que ele fez hoje… o que ele nos forçou a passar… foi um ato de desespero. Ele está com medo de nós.”
Olhei em seus olhos, tentando injetar cada grama de convicção que eu sentia em meu olhar.
“Se você for sozinho, ele vence. Se nos separarmos por causa da sua culpa, ele vence. Eu não vou deixar ele vencer.” Fiz uma pausa, minha mão apertando seu braço com um pouco mais de força. “Nós não vamos.”
Continua…