Um ano se passou desde aquela noite à beira-mar.
A casa já não era apenas o refúgio de Edgar — agora era também o lar de Elijah. O jardim, antes maltratado pelo vento e pelo sal, florescia sob os cuidados atentos do rapaz. Conchas enfeitavam os cantos do muro baixo, e Elijah insistia em plantar novas flores, como se quisesse dar cor a cada detalhe do lugar.
Elijah também havia mudado. Já não se encolhia diante dos olhares ou das palavras. Caminhava pela casa com passos mais firmes, sorria com mais facilidade e até arriscava provocações tímidas que deixavam Edgar rindo sozinho depois. Mas, apesar da segurança crescente, ainda guardava aquele jeitinho inocente e doce que tanto o encantava.
Naquela manhã, Edgar o observava da varanda. Elijah estava no quintal, agachado perto das flores recém-plantadas, o cabelo bagunçado pelo vento. Vestia apenas uma camiseta larga de Edgar que mal cobria as coxas.
— Você sabe que essa camiseta é minha, não sabe? — a voz grave interrompeu o silêncio.
Elijah ergueu os olhos, corando, mas sem recuar como faria no passado. — Eu sei… mas agora ela é minha também. — E voltou a mexer na terra, com um sorrisinho escondido.
Edgar desceu os degraus devagar, até parar atrás dele. Ajoelhou-se, passou os braços fortes pela cintura magra e colou o rosto na curva do pescoço de Elijah. — Faz um ano… — murmurou. — Um ano que eu tenho você só pra mim.
Elijah largou a pequena pá e segurou as mãos dele contra sua barriga. Ficou em silêncio por um momento, como se estivesse guardando aquelas palavras dentro de si, saboreando-as. Depois, com a voz baixa e tímida, disse:
— E eu… finalmente tenho um lar.
Edgar fechou os olhos, o peito apertado. Ainda se perguntava como alguém tão jovem, marcado por tantas dores, conseguia dar tanto amor sem pedir nada em troca. E, cada vez mais, se via completamente rendido a essa simplicidade.
Ele virou o rosto de Elijah com delicadeza e o beijou ali mesmo, no jardim, sem se importar com nada além de sentir aquele gosto doce que agora era parte inseparável da sua vida.
A noite, Edgar parecia inquieto. Passou o dia observando Elijah com um olhar diferente, como se estivesse escondendo algo. O jantar foi preparado com cuidado — velas, vinho, e o prato favorito de Elijah. O jovem, ingênuo como sempre, apenas sorria, sem desconfiar de nada.
Quando terminaram de comer, Edgar se levantou, caminhou até o aparador e voltou trazendo uma pequena caixa de veludo azul. Elijah arregalou os olhos, o coração disparando.
— Ed… o que é isso? — perguntou, quase num sussurro.
Edgar se ajoelhou diante dele, o rosto sério mas com um brilho intenso nos olhos. — Elijah, faz um ano que você entrou na minha vida. Eu achava que já tinha visto de tudo, vivido de tudo… mas você me mostrou que eu não sabia nada sobre amor. Você me devolveu algo que eu nem sabia que tinha perdido: um lar, um coração.
Elijah levou as mãos à boca, tremendo, os olhos marejados.
Edgar abriu a caixinha, revelando duas alianças simples, de prata polida. — Eu não quero passar mais um dia sem ter certeza de que você é meu para sempre. Quer se casar comigo?
As lágrimas escorreram pelo rosto de Elijah antes mesmo que ele conseguisse responder. Ele pulou nos braços de Edgar, rindo e chorando ao mesmo tempo. — Sim! Sim, eu quero!
Edgar riu, apertando-o forte contra si, antes de escorregar a aliança no dedo dele. Elijah fez o mesmo, com as mãos trêmulas, mas o sorriso iluminava seu rosto inteiro.
Eles se olharam, ainda ajoelhados no chão da sala iluminada por velas.
— Eu te prometo, Elijah — disse Edgar, a voz baixa e firme — que vou cuidar de você todos os dias da minha vida. Vou te proteger, te amar e ser seu porto seguro, até o fim.
Elijah respirou fundo, tentando conter o choro, e respondeu:
— Eu te prometo, Edgar, que vou ser sua luz nos dias escuros, seu riso quando o mundo pesar… e que vou te amar com tudo que sou. Porque você foi o primeiro a me mostrar o que é ser amado de verdade.
Eles selaram os votos com um beijo longo, apaixonado, as velas tremulando ao redor. Naquele momento, não existia passado, não existia dor. Apenas o futuro que construiriam lado a lado, para sempre.
O mar continuava o mesmo — azul, vasto, eterno. Mas na varanda da casa à beira-mar, agora um pouco desgastada pelo tempo e pelo vento salgado, estavam dois homens que haviam atravessado vinte anos de vida lado a lado.
Edgar tinha fios grisalhos marcando o cabelo escuro, as linhas de expressão no rosto denunciando a idade, mas também o rastro de muitos sorrisos. Elijah, agora mais maduro, ainda tinha o mesmo brilho nos olhos de quando era jovem, embora suavizado pela experiência e pela serenidade que o amor lhe dera.
Sentavam-se lado a lado, mãos entrelaçadas sobre a mesa de madeira, enquanto o sol se punha, tingindo o horizonte de laranja e dourado.
— Vinte anos… — murmurou Elijah, olhando o mar. — Parece que foi ontem que você me levou ao aquário pela primeira vez. Eu não conseguia parar de olhar os peixes… e você só olhava para mim.
Edgar riu baixo, a voz rouca pelo tempo, mas ainda firme. — Eu não tinha olhos para mais nada mesmo. O agente calculista, durão, caiu rendido por um garoto que falava com flores no jardim.
Elijah sorriu tímido, como se ainda fosse aquele rapaz inocente. — Eu era tão assustado… tão perdido. Você me deu um lar, Ed. Me deu… tudo.
Edgar apertou a mão dele com força, os olhos marejados. — E você me deu um coração de volta. Nunca pensei que um homem como eu… que tinha visto tanta coisa, vivido tanta escuridão… pudesse ter direito a uma vida assim. Mas você me mostrou que podia.
O silêncio se instalou por alguns instantes, só o som das ondas preenchendo o espaço. Elijah encostou a cabeça no ombro de Edgar, respirando fundo.
— Sabe o que mais me lembro? — disse ele, com a voz baixa, quase um sussurro. — Do jeito que você me chamou de namorado, lá no restaurante, naquela primeira vez. Uma palavra tão simples… mas foi o mundo inteiro para mim.
Edgar sorriu, beijando a testa dele. — E ainda é, Lijah. Você é meu mundo. Sempre foi.
Os dois ficaram ali, abraçados, o pôr do sol diante deles, lembrando de onde vieram e celebrando tudo que construíram. Vinte anos haviam passado, mas o amor permanecia tão vivo quanto no primeiro beijo, no primeiro olhar, no primeiro “sim”.
E naquela varanda, sob o céu pintado pelo fim do dia, Edgar e Elijah sabiam: não importava quanto tempo passasse, ainda seriam, um do outro, para sempre.
Fim