O idiota
Murilo chamou tio Renato de idiota, ele gastava muita grana com obras sociais e isso dá desconto no imposto de renda, mas ele não faz isso. Pesquisou sobre Fernando e o pai e sobre Renato, o beijou e disse que esse era um cara quase tão incrível quanto Joel e eu. Ele sai da sala e volta instantes depois, diz que suas irmãs não o detestavam como os pais, mas os tios o culpam pela morte dos pais, um monte de gente detestável, preferiu não causar no sepultamento da mãe. Ele se ajoelha e diz que uma das irmãs é juíza e se ajoelha diante de Joel e pede para eu me aproximar.
“Eu poderia ficar a vida inteira ao seu lado sem me importar com quantos você se deita, havia umas horas na semana que você estava comigo, e me ligava, e ser um coitado era o único jeito de ter você na minha vida, eu tentei muito parar de te amar, mas você é perfeito e eu te amo mais tanto mais eu tente não gostar de você, eu aceitei ter você no meu altar, sem poder nunca te alcançar, mas você se apaixonou por ele e eu… eu quase morri, e você é um incompetente para cuidar desse idiota sozinho, e para evitar que você o perdesse… um de nós dois pode ser infeliz, dois não, nunca uma tristeza pra você. Procurei Caio, disse que eu ia tomar conta de você desse cabeça oca que jura que é malandro, um mané, um idiota assim como você. Aposto que se eu tivesse dito que queria ficar com Mateus, só por um tempo”, “Eu morreria de alegria, pelo menos ia aprender a se ligar e ser esperto e não precisar de Galvão e eu todo o tempo. Mas eu amo demais esses dois, Murilo é perfeito pra vocês e…”
“Correndo o risco de perder meus dentes e a vida, cala a boca, tio Caio.”, a primeira vez que vi meu tio envergonhado, a gente rindo, “Eu não posso viver sem você, meu amor, e você me ensinou em alguns dias que valeu a pena esses anos de devoção a você, e você tem um idiota tão perfeito e lindo ao seu lado, e você o ama, eu posso aceitar isso de não ser o único, depois de brincar de gostar de Mateus… eu te amo seu idiota, muito. Minha irmã é juíza, eu não quero parte na herança, só uma ajudinha com a oficina de tio Caio, eu quero dar essa força a ele como ele vem fazendo por baixo dos planos, me ajudando sem Joel saber para não o envergonhar de não dar conta de tomar conta de mim sozinho, eu pedi a minha irmã para nos casar, trisal, sem cerimônia, uma foto e o registro lavrado em cartório e ela disse não, disse que nos casa sem problemas, mas eu vou ter de ser rico novamente, eu não quero, eu quero essa casa e trocar aquela coisa horrorosa de papel de parede dos quartos em seis vezes no cartão de crédito, eu sei consertar motos, a minha tem treze anos e é quase boa, mas ainda vai ficar incrível, e eu quero nós seis economizando e sendo feliz com banco imobiliário, ser rico com dinheiro de brinquedo, exceto tio Renato que vai pagar a carteira de motorista de meu futuro marido, eu quero estar nesse relacionamento em pé de igualdade, eu quero que alguém diga sim e me mande calar a boca. Parece que vocês estão dando um tempo para montar uma desculpa.”
“Você me chamou de idiota uma dezena de vezes, levanta e fala comigo de pé, o porco não levanta a cabeça e o cavalo não rasteja, isso Murilo, nunca mais diga que está pensando num gordinho de olhos verdes, eu quase trago ele para dentro de casa para… eu pensei que você queria ficar com ele para não-ficção entre Joel e eu [Joel se levanta agitado só na menção de perder Murilo], depois eu pensei que quem devia sair da frente era eu, não me pede em casamento, o seu jeito é chegar aqui e dizer, ‘mudei de ideia e vocês me obedecem, vamos casar a três’, é assim que você fala, né?”
A gente se beija e enquanto a gente se beija, o interfone toca, era um morador do sexto andar perguntando se podia dar uma palavrinha. Estranho, tio Renato fica agitado, diz que é melhor voltar depois e se levanta pra sair. Era tio Nelson, ou melhor, tio Nelsinho, um homem de cinquenta anos que cumprimentou Murilo com um aperto de mão e falou que ele ia ganhar um violão no aniversário dele no dia vinte e um, mas a surpresa seria maior se ele dissesse o tipo e a marca, Murilo disse na hora como queria o tal violão, o homem o encarou e perguntou se seu namorado estava, Murilo levou dois segundos pensando e gritou o mais alto que pode, “Tio Renato, seu namorado chegou.” Tio Renato morreu de vergonha, chamou o homem negro para sentar do seu lado, um armário, músculo como o Thor da Marvel, e aquele mesmo sorriso, e um rosto que ia deixar Bosco com inveja, todo careca com a barba só no queixo pontuda e bem feita. “Murilo, ele diz que adoraria ter um filho como você.”
Tio Nelsinho é maravilhoso, chegou pegou tio Renato pelo colarinho, ergueu e disse que ia repetir o que já disse antes: “Levei mais de quinze anos pra te encontrar outra vez, eu te achei com três dias de atraso, mas eu quero você e vou te provar que te mereço, eu quero você.”, mas não beijou, voltou no meio do caminho e deixou tio Renato o agarrar e beijar, depois se virou para nós e disse que tio Renato não traiu ninguém estão namorando há dois dias e só haviam transado no dia anterior, era tudo muito novo. E uma história bem antiga.
Casaram quando saíram da faculdade, um advogado e um médico e muita homofobia no ar, iam para onde havia trabalho, correram muito, um arruma um emprego numa clínica escola de faculdade e se fixam, mas o outro começa a ter de viajar para cada vez mais longe, concursos, desgaste, nenhum apoio externo, tio Nelson vai trabalhar muito longe se viam duas vezes por mês, depois uma vez a cada dois meses, se separaram e se perderam um do outro, tio Nelson casa novamente, vida excelente, mas não era tio Renato, viveu feliz, mas uma felicidade quase, quase completa, quase real, quase como tinha de ser, o ex cansou do quase, merecia mais, e ele procurou por quem nunca esqueceu, depois desistiu, o trabalho o trouxe até essa cidade, e quando já não esperava encontrar outro alguém, menos ainda tio Renato: Bingo, tio Renato numa fila de padaria, conversaram e tio Renato no início de uma outra história, “Levei mais de quinze anos pra te encontrar outra vez, eu te achei com três dias de atraso, mas eu quero você e vou te provar que te mereço, eu quero você.”, tio Renato começa a contar por telefone sobre nós.
Um fofoqueiro, se sentiu confiante e, afinal, tio Nelson já havia sido seu marido, era de confiança. A medida que nos conhecia contava as suas descobertas a tio Nelson, já esse delegado procurando motivos para mostrar que o pai de Fernando não era boa gente, e no dia seguinte em que ele me assediou, tio Nelson já tinha indícios demais e o denunciou por abuso, era evidente que estava de alguma forma envolvido ao que aconteceu ao garoto que conheci e acabou morto, de toda forma, está preso preventivamente, dia seguinte tio Nelson foi contar tudo ao seu ex e deixou claro que queria ser o atual, dia seguinte conversaram, outro dia estavam namorando, “E finalmente coloquei em prática tudo o que lembrava e esse lindão está melhor agora que no passado,e ele pediu um tempo para preparar vocês para me apresentar, não, se eu dependo de vocês para voltar a ser o marido de Renato… aqui estou e dessa vez de papel passado”, Joel pergunta se sabe que tio Renato lhe disse, e nem terminou de falar, tio Nelson falou que era uma honra ser o padrasto de um homem como ele, mas disse que só concordaria com isso se tio Renato e Joel continuarem transando porque isso faz um bem enorme a seu ex e futuro marido.
“Eu não estou aqui para participar dessa vida sexual estranha e divertida de vocês com ele, não, Deus me livre, mas quem me dera”, rimos, “eu quero estar com Renato, me ingressa minha vida sexual com ele, ele estava feliz com vocês e eu não sou o idiota que vai perder o único amor de minha vida com uma escolha que ele não precisa fazer, vocês são a família dele, eu o amo, sempre amei, nunca deixei de amar, troquei esse amor por um futuro, a vida só tem futuro com amor, eu vim pedir a vocês. Eu vim implorar a vocês que me deixem ser feliz com Renato.”
Eu esperava isso de Murilo, mas de tio Caio? Nunca. Ele disse que Renato não é um de nós, quando tio Nelson deixa o queixo cair é beijado, firme, sem pressa, sem carinho, era para deixar uma marca nas lembranças, chupando aqueles lábios grossos e roxos do delegado, meu tio termina o beijo e diz que iam expulsar tio Renato depois que ele lavasse os pratos, mas trazendo um gostoso desses… tornam a se beijar, tio Nelson passeava a mão firme entre a nuca e a regada da bunda de meu tio, tio Caio parecia querer o cu do negão sem tirar as calças dele antes, “A gente vai bater muito de frente, brigar muito, você é bem mandão e eu…”, “Tomara, eu já estou adorando pensar em todas as nossas brigas”. ‘Aquele idiota’ quando se referem um ao outro, chamam um ao outro de ‘seo idiota’, concordam em tudo, nunca brigaram, mas vivem como se estivessem acabado de brigar, se amam e não deixam sustenido essa admiração mútua que sentem.
Iam subir para transar sem nós, dessa vez, só os quatro; mas digo a tio Nelson que tenho uma dúvida: Fernando, pronto. Tio Nelson diz que não sabe sobre ele, nada consta, o viu passando duas vezes no elevador, não é cartomante, não trabalha com intuição, contudo não acredita que seja um garoto ruim, sua intuição diz algo diferente, mas não sabe dizer o que. Tio Galvão diz que voltam para o café da manhã.
Quando a porta fechou, Joel deixou claro que vamos casar a três o quanto o faço feliz e o caralho a quatro, porém, porém não ia deixar isso passar em branco, “Você não é burro, você está viciado no sexo com Fernando ou está apaixonado por ele, porra, eu estou entregue a você e você precisa me dizer o que está acontecendo, que preocupação é essa com Fernando?”, saiu sem pensar, saiu no fluxo da raiva, era nossa primeira briga, “Eu não posso contar”, pronto, pronto, Murilo se juntou a Joel e se eu não soubesse tudo o que sabia, eu daria ouvidos a eles e…
Eles estavam certos, outra briga eu admito isso, certíssimo, mas eu estava preocupado com o ruivinho sem recursos para continuar o sonho dele, faltava um ano e meio para ele se formar, faltava tão pouco… ele não podia desistir, não ainda, não era o que eu precisava, eu tinha urgência de ouvir daquela boca que adora pau tanto quanto a minha que estava feliz e bem e seguro e que eu não precisava me preocupar mais. Mas ouvindo os dois gritando comigo eu só fiz correr para o primeiro quarto e me tranquei por dentro, fiquei atrás da porta vendo um monstro querendo me fazer de puta, meu pai morrendo, Fernando chorando suas preocupações no meu braço até dormir. E dois imbecis batendo na porta e mandando eu abrir o quarto.
Acabei dormindo enquanto chorava, nenhum momento da minha vida havia sido tão sofrido, eu senti como se minha cabeça pudesse explodir, como se eu pudesse explodir, dormi, acordei como um cachorro enrolado em mim mesmo, fui ao banheiro e lavei o rosto. Ao abrir a porta derrubei os dois que dormiram sentados com as costas na porta, eu ri me desculpando, alisando as cabeças que bateram no chão, e eles se desculpando e nós entre sorrisos e tentando nos comunicar…
Joel me beijou, ele me roubou um beijo e parecia a primeira vez, e eu senti como se eu soubesse que era isso o que importava, e fugi da boca dele direto para a de Mateus, por um rabo de olho via o sorriso de Joel, ele se meteu entre nós, e novamente éramos três, e cheios de raiva, frustração e algum rancor, e também sentíamos a calma, juntos outra vez, tudo vai ficar bem. Voltei a empurrar os dois para que se deitassem no chão eu queria chupar aquelas rolas que eram meu paraíso particular, engolir o máximo de pica que pude, eles se beijavam, queriam me beijar, me levantei, estava suado, sujo, mandei esperarem, voltei nu passando lubrificante no meu cu, sentei no pau de Murilo e cavalgando pedi para Joel ficar atrás de mim, assim que ele chegou eu liberei o cu para ele me foder também, troquei bastante, umas quatro ou seis vezes entre eles.
E quando eu me senti preparado eu me sentei na pica de Murilo e falei para Joel me comer junto, queria os dois dentro de mim, ao mesmo tempo, me fodendo e dizendo que amam o veadinho deles, ficaram em choque, com medo de me machucar de me alargar, de fazerem eu sangrar. Pedi a Joel, era nossa primeira briga, eu precisava sentir isso, que não somos uma mentira, que é real que é amor, eu preciso sentir, Joel foi empurrando, não entrou nem na segunda tentativa, entrou na terceira. Eles quase não se moviam, Joel estava bruto e me puxava o cabelo e me mordia, me beijava, Murilo estava terno, delicadamente me acariciava, me beijava como se eu fosse de cristal, e eu rebolava, meu cu parecia mesmo que ia rasgar, doía, como doía, doía muito mais do que na vez em que dei pela primeira vez ao meu tio Caio, naquele momento eu queria tio Caio, queria todos os machos de minha vida, tio Caio, tio Galvão e tio Renato, mas de verdade eu não queria mais ninguém, meus dois maridos eram mais do que eu podia transportar e eu transbordava, eu era como uma gota de tinta em um balde de água, eu me dissolvia no sexo, no desejo, no carinho e no amor que eles me davam. Entendi meu lugar.
Gozamos juntos, eu nem vou tentar explicar como foi o orgasmo, nem vou.
Deitei entre os dois no chão, Joel colocou três dedos dentro de meu cu, eu fiquei surpreso, era fácil como se fossem três dedos em minha boca, ele ficou animadíssimo com isso, Murilo ficou em pânico, conferiu e entraram três dedos dele também, disse que eu ia me recuperar, e que nunca mais faríamos isso, eu disse que ia acontecer novamente no dia de nosso casamento e todo ano para comemorar nossos aniversário de casamento, Joel mandou eu ficar de quatro porque queria me comer novamente, Murilo disse que ele devia me deixar em paz e me recuperar, mas o pau dele estava quase pronto novamente, pedi para chupar os dois e sentir novamente os dois dentro de mim, repetir tudo igual novamente mas com Joel no chão dessa vez e Murilo à minha frente, e fizemos mais uma vez, Joel me dando tapas na cara, os pelos do peito de Murilo nas minhas costas, e eu ouvindo ambos me chamando de veadinho e de amor, dizendo o quanto me amavam, que meu cu era o melhor lugar do mundo. Gozamos quando eu já não aguentava mais, meu gozo chegou ao peito e pescoço de Joel, eles me encheram de porra mais uma vez, meu corpo expulsou tudo, deitamos, Murilo fala que tio Renato odeia o papel de parede dos quartos, a gente dorme suado, pegajoso, com porra do pescoço até o meio das costas.
Felizes.
Acordo com os dois me puxando para nosso banheiro, me fazem uma xuca e que horrível! “Teu cu é meu, Mateus, eu uso como eu quiser, é minha responsabilidade manter você limpo e saudável. Murilo, esse veadinho tá com vergonha, chega aqui pra dar piroca pra esse veadinho chupar e me deixar cuidar do rabo do marido mais chato e teimoso e maravilhoso do mundo”, era o jeito deles de me pedir desculpas, me deixei ser lavado, ser levado. Lavaram meu cabelo, fizeram minha barba, me depilaram, me deram pica que mesmo mole me acalma, me deram beijos. Depois seco e perfumado me colocaram no meio de nossa cama e pegamos o tablet de Joel para assistir pornô, eu nunca havia visto pornô gay, amei, amei demais, mostrei os meus atores favoritos no pornô hétero, Murilo concordou em comer uma xoxota para desvirginar seu lado ‘homem com H’, a gente riu, o dia amanhecia e acabamos vendo uma cena de dois coroas castigando um novinho na cama, Murilo disse que queria bater punheta me vendo dar para tio Renato e o namorado fantástico dele, Joel disse que não os dois iam bater punheta para isso sim, mas só depois de me ver dando para meus tios, daí fizeram uma dupla penetração no garoto do filme, e eu disse que aquilo era nojento, só pessoas casadas podiam fazer uma coisa dessas, desliguei a tela e a gente gargalhou, aparelho no criado mudo, dormimos.
Acordamos perto das nove, celulares nas mãos. Tio Galvão disse por mensagem que não quis nos acordar, limpou o chão onde fizemos a maior bagunça e acabamos com o restante do lubrificante, disse que viu a geladeira e os armários, foram fazer mercado para a gente, mandou a gente descansar, muita coisa acontecendo nesse mês que passou. Mandei uma mensagem agradecendo ter o melhor padrasto do mundo, agora que tio Caio era extraoficialmente meu novo pai. Ele mandou emoji de rostinho com olhos de coração.
Murilo grita caralho e diz que tem dois problemas, e vai precisar que nós dois concordemos, “Sebastião precisa de ajuda e eu não vou negar isso a ele, eu te conto quem é Sebastião, isso não é problema, é transtorno. Minhas irmãs disseram que estão querendo vir me ver, nos ver, conhecer vocês dois, hoje, no almoço, aqui em casa, estão a caminho.