A partida de futebol havia terminado, deixando Júnior completamente exausto, sujo de terra e suor, a dor dos golpes anteriores ainda latejando em seu corpo. O sol começava sua descida majestosa no horizonte, pintando o céu em tons de laranja e púrpura, enquanto Gabriel e seus amigos, eufóricos com a vitória, dirigiam-se novamente para a área da piscina. João Victor e João Guilherme se espalharam nas espreguiçadeiras, e Thiago sentava-se na borda da piscina, todos ansiosos pelo relaxamento pós-jogo.
Júnior, que os havia seguido de perto, sentia cada músculo protestar. Seus joelhos, a virilha e o rosto ainda ardiam, mas a sede de servir e agradar seu Mestre era mais forte do que qualquer dor física. Ele estava ali para atender a cada capricho.
— Cadela! — chamou Gabriel, estendendo um pé sujo de grama e terra. — Tire minhas chuteiras. Meus pés estão suados e quero-os limpos para o próximo passo.
Júnior se apressou em se ajoelhar na grama úmida. Com mãos trêmulas, mas precisas, ele desamarrou os cadarços de uma das chuteiras de Gabriel. A sola estava impregnada de terra e pequenos pedaços de grama. Ele puxou a chuteira, sentindo a resistência do pé inchado de Gabriel.
— Que lentidão, cadela! — zombou João Guilherme. — Será que a gente vai ter que esperar a noite toda?
Júnior encolheu-se, mas redobrou o esforço. Finalmente, a chuteira cedeu. O cheiro de suor, couro e terra invadiu suas narinas, e para Júnior, era o perfume mais inebriante. Ele não removeu o meião, e com a mesma reverência, repetiu o processo com o outro pé.
— Mestre, as chuteiras. — murmurou, estendendo o calçado. Gabriel balançou a cabeça. — Guarde-as, cadela. Quero-as impecáveis para mais tarde.
Júnior, com o coração palpitando, pegou as chuteiras de Gabriel com cuidado. Gabriel, ainda com os meiões sujos do jogo, começou a caminhar em direção às espreguiçadeiras, seus amigos o seguindo também de meião pela grama, que logo estariam sujas.
— Ei, cadela! — chamou Thiago, que já estava sentado, estendendo o pé. — Já que você está aí, tire a minha também. E a do João Victor e do João Guilherme. Anda, não temos o dia todo!
Júnior, com as chuteiras de Gabriel em uma mão, apressou-se em ir até Thiago. Ajoelhou-se e, com a destreza adquirida, desamarrou e puxou a chuteira de Thiago. O cheiro era ainda mais forte que o de Gabriel. Thiago riu.
— Essa cadela é um espetáculo! — exclamou João Victor, de sua espreguiçadeira. — E a minha, cadela? Vai ficar só olhando?
Júnior se arrastou até João Victor, equilibrando as chuteiras já recolhidas. Ajoelhou-se e removeu as chuteiras de João Victor. Cada chuteira era um lembrete do esforço em campo, o cheiro de suor e grama grudado em cada uma delas.
— Demorou, cadela! — resmungou João Guilherme, quando Júnior finalmente chegou a ele. — Pensei que ia ficar o dia inteiro de chuteira!
Júnior removeu a última chuteira de João Guilherme. Agora ele estava de posse das quatro chuteiras sujas, equilibrando-as precariamente nos braços, enquanto os amigos de Gabriel, finalmente apenas de meião, o observavam com satisfação. O peso, o cheiro, o acúmulo de humilhação, tudo se misturava.
Ele permaneceu ali, curvado sob o peso das chuteiras, sem saber para onde levá-las. Aquele era um impasse inédito. Ele não tinha autorização para entrar na casa sem ordem específica, e largá-las no chão parecia um ato de desrespeito. Seus braços começaram a tremer.
João Guilherme, percebendo a confusão de Júnior, soltou uma gargalhada. — Ih, a cadela travou! Não sabe o que fazer com a sujeira do Mestre!
— É burra mesmo! — acrescentou João Victor, rindo. — Nem para guardar as nossas coisas serve!
Gabriel, observando a cena, sorriu com um ar de superioridade. — O que foi, cadela? Vai ficar aí feito uma estátua com as minhas chuteiras e as dos meus amigos? Vai sujar tudo?
Júnior sentiu o sangue subir ao rosto, a vergonha queimando. Sua mente, exausta, tentava encontrar uma solução. — M-Mestre... O que devo fazer com elas? — ele balbuciou, a voz trêmula.
— Hummm... — Gabriel fez um som pensativo. — Leve-as para o carro, cadela. As minhas para o porta-malas da minha BMW. E as dos meus amigos... — ele olhou para João Victor e Thiago. — Onde a cadela deve guardar as suas chuteiras, meninos?
— Na mala, cadela! — respondeu Thiago, apontando para o carro deles. — No porta-malas do nosso carro. E trate bem, hein!
João Victor acenou com a cabeça. — É isso. As nossas no carro e as do Gabriel no carro dele. E rápido, cadela! Não quero ver minhas chuteiras jogadas por aí.
Júnior assentiu vigorosamente, sentindo um pingo de alívio por ter uma ordem clara. Com as quatro chuteiras nos braços, ele se arrastou até os veículos. Primeiro, abriu o porta-malas da BMW de Gabriel e cuidadosamente depositou as chuteiras do Mestre. Em seguida, dirigiu-se ao outro carro, onde com dificuldade, conseguiu abrir o porta-malas e colocar as demais. Ao fechar, ele sentiu as mãos sujas e o cheiro forte, mas o trabalho estava feito.
Júnior, num último resquício de energia, começou a recolher as garrafas e os resíduos do churrasco que jaziam espalhados pelo gramado. Cada movimento era um protesto mudo de seus músculos, mas a necessidade de servir, de manter a ordem para seu Mestre, o impulsionava. Ele trocou as toalhas molhadas por secas, reabasteceu o cooler com gelo e bebidas, e silenciosamente, como uma sombra, continuou a atender às demandas.
Cada ordem era um lembrete de sua posição, uma confirmação de sua verdade. A dor, o cansaço, a humilhação... tudo parecia convergir para um único ponto de satisfação perversa.
Júnior estava por perto, atento às necessidades do grupo, quando Gabriel o chamou. — Cadela! Venha aqui! Júnior obedeceu prontamente, correndo para a beira da piscina. Ajoelhou-se na grama úmida, os olhos fixos nos de Gabriel, que estava em sua espreguiçadeira e o observava com um olhar de leve tédio e satisfação. — Você está me entediando, cadela. — disse Gabriel, estendendo um pé ainda com o meião sujo do jogo. — Massagem. E faça direito.
Júnior não hesitou. Com as mãos trêmulas, pegou o pé de Gabriel, sentindo a meia áspera e suja sob seus dedos. Aquela meia, que já carregava a sujeira e o suor da partida de futebol da noite anterior e a terra da caminhada pela grama da chácara, era agora o centro da atenção de Júnior. — Mestre... posso... posso tirar seu meião para massagear melhor? — ele perguntou, a voz quase inaudível, já antecipando o toque da pele de Gabriel. Gabriel riu, uma risada baixa e perversa:
— Tirar? Não, cadela. Quero que massageie por cima. Sinta a textura da minha sujeira. Sinta como ela se acomoda na sua mão enquanto você trabalha. É um privilégio massagear até mesmo a minha imundície. E trate a minha meia com o respeito que ela merece.
Júnior, com o coração palpitante, obedeceu. Começou a massagear o pé de Gabriel por cima do meião sujo, sentindo a áspera trama do tecido e a sujeira por baixo. Seus dedos percorriam a sola, os dedos, o calcanhar de Gabriel, aplicando pressão nos pontos certos, tentando aliviar qualquer vestígio de cansaço. O cheiro natural da pele de Gabriel, o resquício de suor do jogo e a virilidade que exalava dele... tudo parecia inebriar Júnior, elevando-o a um estado de êxtase quase espiritual.
Gabriel estava contando uma anedota do jogo para os amigos, que riam abertamente. Júnior, sem permissão, e dominado por uma emoção avassaladora, interrompeu-o.
— Mestre... — a voz de Júnior saiu em um sussurro rouco, embargada pela emoção, mas carregada de uma sinceridade brutal. Gabriel parou de rir, e um franzir de cenho irritado surgiu em seu rosto:
— O que foi, cadela? — Gabriel respondeu, com um tom cortante de impaciência. — Não vê que estou conversando?
Júnior inspirou profundamente, ignorando a dor que subia por seu peito. As palavras jorraram, puras, desimpedidas, como uma confissão que há muito tempo ansiava por ser libertada. Ele se endireitou, ainda de joelhos, mas virado totalmente para Gabriel, ignorando Thiago e os demais.
— Mestre, minha vida inteira... foi uma farsa. Eu vivia sob o fardo de ser o "homem de pulso", o "provedor", o "homem no comando". Todos esperavam tanto de mim, e eu me forcei a ser aquilo que não era. Eu construí uma fachada de sucesso e controle, mas por dentro... por dentro eu estava morrendo, Mestre. Sufocado. Vazio.
Ele se arrastou até os pés de Gabriel, ainda de joelhos, e abraçou os pés do Mestre, que ainda estavam calçados com os meiões sujos do jogo, como se estivesse segurando a própria essência de sua vida. — Mas o senhor, Mestre... O senhor me viu. O senhor me viu como eu realmente sou, e não me desprezou. O senhor me aceitou na minha mais profunda verdade. No meu desejo mais íntimo de ser nada, de ser dominado, de ser seu. Sua crueldade, Mestre, é a minha redenção. Sua frieza é o calor que eu nunca encontrei. Cada tapa, cada humilhação, cada centavo que eu lhe dou... é um sacrifício. Mas é um sacrifício que me liberta.
As lágrimas escorriam livremente pelo rosto de Júnior, mas seus olhos brilhavam com uma paixão inquestionável. — Eu te amo, Mestre. Não com o amor que o mundo conhece, não com o amor romântico ou sexual que as pessoas esperam. Eu o amo com o amor de um servo por seu Dono. Com o amor de uma criatura que encontrou seu propósito na devoção a você. Eu amo a sua força, a sua arrogância, o seu desprezo. Eu amo como o senhor me quebra, porque é na quebra que eu me sinto inteiro.
Ele se inclinou, beijando os meiões sujos de Gabriel, que permaneceram imóveis. — Eu sou seu, Mestre. Cada fibra do meu ser, cada batimento do meu coração, cada pensamento... é seu. Minha alma pertence a você. Eu viverei e morrerei servindo-o, Mestre. Sua vontade é a minha única lei, seu prazer é a minha única recompensa. Não há nada neste mundo que eu queira mais do que a oportunidade de ser sua cadela, de rastejar a seus pés e obedecer a cada uma de suas ordens. Eu sou seu. Eu te amo, meu Mestre. Meu tudo.
O silêncio que se seguiu foi pesado, quase palpável, quebrado apenas pelo som distante de grilos. Os amigos de Gabriel estavam em choque. Thiago, que havia assistido a cena, estava com a boca aberta, chocado demais para reagir. João Victor e João Guilherme estavam com os olhos arregalados, completamente atônitos. Aquela não era uma declaração de amor comum. Era uma confissão visceral de submissão absoluta, de uma entrega total que ia além de qualquer compreensão convencional.
Gabriel permaneceu imóvel por um longo instante, o rosto inexpressivo. Seus olhos, antes entediados, agora analisavam Júnior com uma intensidade fria e calculista. Havia uma fagulha de algo ilegível em seu olhar: surpresa, talvez uma pontada de incômodo com a profundidade da emoção, mas acima de tudo, uma satisfação imensa e perversa. A declaração de Júnior havia sido tão crua, tão honesta, que era impossível confundi-la com um truque ou uma encenação.
— Uma declaração e tanto, cadela. — a voz de Gabriel soou baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma autoridade inquestionável. — Mas palavras são baratas. Você me diz que me ama, que sou seu tudo. E que faria qualquer coisa. Mas e a prova?
Júnior, com o rosto molhado pelas lágrimas, mas os olhos fixos e ardentes em Gabriel, respondeu sem hesitação: — Qualquer coisa, Mestre! Eu farei qualquer coisa. A sua vontade é a minha. Diga-me o que deseja.
Um sorriso frio e sádico se formou nos lábios de Gabriel. Ele olhou para seus amigos, que assistiam à cena com a respiração suspensa, depois de volta para Júnior. — Qualquer coisa, é? — Gabriel saboreou as palavras. — Então me prove. Agora. Você vai sair daqui, vai para o seu apartamento, vai olhar nos olhos da sua esposa e terminar com ela. Diga que ela não é mais nada para você, que sua vida agora pertence a outro. E depois, você vai voltar para cá. Vai se arrastar até os meus pés, e beijá-los. Você tem uma hora, cadela. Se você não voltar em uma hora, se eu souber que mentiu... Eu e meus amigos iremos embora, e você nunca mais vai me ver. E vai perder tudo. Entendeu?
Júnior sentiu o sangue gelar nas veias. O apartamento. Sua esposa. O fim da fachada. Aquele era o teste final, a anulação completa de sua vida anterior. Seus lábios tremeram, mas não de medo, e sim de uma excitação aterrorizante. Ele havia encontrado sua verdade.
Júnior sentiu o sangue gelar nas veias. O apartamento. Sua esposa. O fim da fachada. Aquele era o teste final, a anulação completa de sua vida anterior. Seus lábios tremeram, mas não de medo, e sim de uma excitação aterrorizante. Ele havia encontrado sua verdade.
Ele permaneceu ali, ajoelhado na grama, o corpo em um estado de choque e êxtase. Sua mente processava as palavras de Gabriel, cada uma delas um golpe certeiro que desmantelava a vida que ele conhecia. O ultimato de uma hora, a ameaça de perder tudo que havia conquistado com tanto sacrifício — a posse de seu Mestre — pairava sobre ele.
Gabriel, vendo a paralisia momentânea de Júnior, soltou um riso seco. — E aí, cadela? O relógio está correndo. Você tem uma hora. Não há tempo para contemplação, apenas para ação. Ou você prova que é meu, ou se torna um lixo novamente. Corre!
A voz de Gabriel soou como um estalo de chicote. Júnior estremeceu e, com um esforço monumental, impulsionou-se para cima. As pernas bambas, os joelhos latejando pela grama áspera, ele cambaleou, mas se manteve de pé. Seus olhos, antes fixos em Gabriel, agora varriam a chácara, calculando a distância, a urgência.
— Sim, Mestre! — Júnior murmurou, a voz rouca, quase inaudível, mas cheia de uma nova determinação.
Ele se virou, ainda atordoado, e correu em direção à BMW de Gabriel, que jazia na entrada da chácara. Cada passo era um esforço, seus músculos doloridos protestando, mas uma energia febril o impulsionava. Chegou ao carro ofegante, abriu a porta do motorista com uma agilidade desesperada e jogou-se para dentro. O interior do veículo, que há poucas horas era o cenário de sua submissão, agora era seu único meio de cumprir a ordem.
Ele ligou o motor com as mãos trêmulas, sentindo o ronco potente que tanto conhecia. Antes de colocar o cinto, olhou-se rapidamente no retrovisor. O rosto estava sujo, manchado de terra, suor e lágrimas, os olhos injetados, o cabelo desgrenhado. Aquele não era o contador impecável que ele apresentava ao mundo, mas sim a cadela de Gabriel. E, estranhamente, naquele momento de desespero e revelação, ele nunca se sentira tão real.
Acelarou a BMW, levantando uma nuvem de poeira no caminho de cascalho. O tempo. O tempo era seu inimigo e seu motor. Uma hora para desmantelar uma vida inteira e se reafirmar como a propriedade de seu Mestre. O relógio estava correndo, e Júnior estava pronto para a corrida de sua vida.
Enquanto a BMW de Júnior sumia na estrada de terra, a poeira que subia era quase uma cortina para o choque que pairava sobre a chácara. Thiago, João Victor e João Guilherme permaneceram em silêncio por um longo instante, os olhos arregalados, fixos no ponto onde o carro havia desaparecido. A gravidade da situação finalmente os atingira por completo.
João Victor foi o primeiro a quebrar o silêncio, a voz rouca, quase um sussurro. — Caralho... Ele... ele vai mesmo? Ele vai terminar com a esposa?
Thiago balançou a cabeça, descrente. — Eu... eu não acredito. Eu pensei que Gabriel estava blefando. Isso é... é outro nível. O cara é casado, tem uma chácara, um carrão... e vai jogar tudo fora por... por isso?
João Guilherme, o sorriso sumindo completamente de seu rosto, sentou-se pesadamente na espreguiçadeira, as mãos na cabeça. — Ele realmente faz tudo o que você manda, Gabriel. Ele te adora. É assustador.
Gabriel, por outro lado, estava radiante. Ele caminhou até a borda da piscina, um sorriso triunfante e quase sádico preenchendo seu rosto. Havia um brilho de puro poder em seus olhos. Ele não estava blefando. Ele nunca blefava.
— Eu disse a vocês, não disse? — Gabriel falou, a voz baixa, mas carregada de uma satisfação imensa. — Eu disse que não havia limites para essa cadela. Ele é meu. Totalmente meu. E agora, ele está provando isso. Não para mim, não. Ele está provando para ele mesmo. Para todos vocês.
Thiago, recuperando um pouco a compostura, olhou para Gabriel com uma mistura de fascínio e um temor recém-descoberto. — Mas... o que acontece se ele não voltar? Se ele não conseguir?
Gabriel deu de ombros, um gesto de indiferença. — Então ele se torna um lixo novamente. Um covarde que não foi capaz de cumprir uma ordem simples. E ele saberá que eu estava certo o tempo todo. Ele não é nada sem mim. Mas ele vai voltar. Ele precisa. Ele ansiava por essa liberdade mais do que por qualquer coisa na vida dele. Ele não suportava ser o homem que o mundo esperava que ele fosse. Eu o libertei. E agora, ele me pertence.
João Victor se levantou, caminhando de um lado para o outro, visivelmente abalado. — Cara, isso é... perturbador. O nível de controle que você tem sobre ele... é doentio.
Gabriel riu, uma gargalhada fria que ecoou pela chácara. — Doentio, João Victor? Ou genial? Ele estava implorando por isso. Ele estava se afogando na própria vida. Eu dei a ele um propósito. Um sentido. E vocês viram o quanto ele me ama. Não é um amor de contos de fada. É o amor da servidão. Da devoção absoluta. A mais pura forma de posse.
E assim, enquanto Júnior disparava pela estrada para desmantelar sua vida, Gabriel e seus amigos aproveitavam a chácara.