A luz do entardecer era já um fantasma pela janela suja do bar quando ele entrou. O dia havia se esvaído num cinza chumbo, e a iluminação artificial, baixa e amarelada, criava poças de sombra nos cantos da sala. Eu estava no balcão, traçando o resto de uma cerveja que já perdia o gelo, a mente entorpecida pela monotonia da semana. A porta abriu-se sem pressa, e a silhueta dele preencheu o vão.
Não era apenas a farda que impunha respeito. Era a postura. Ombros largos, cintura contida pelo cinto de equipamentos, uma presença que sussurrava autoridade de longe. Seus olhos fizeram uma varredura lenta pelo ambiente, um hábito profissional, até pousarem em mim. E ali, a profissionalidade se dissolveu. Não foi um olhar de vigilância, mas de reconhecimento. Um fio de corrente direto, que ignorou a multidão escassa e conectou a intensidade dele à minha solidão disfarçada. Algo cru e não dito passou entre nós, um convite mudo que fez minha nuca formigar.
Ele se aproximou com passos firmes, as botas fazendo um som surdo no piso de madeira. Sentou-se no banco ao meu lado, pedindo uma água tônica. A proximidade era física, quase elétrica. O cheiro dele era um paradoxo: o sabão em pó simples da roupa institucional misturado a um vestígio de suor masculino, terroso e real.
“Dia longo”, disse ele, a voz mais baixa do que eu esperava, um baixo que vibrou no meu peito.
“Para alguns mais do que para outros”, respondi, encontrando seus olhos. Eram escuros, e naquela luz fraca, pareciam conter uma camada de cansaço sobre uma brasa de inquietação.
A conversa foi um jogo de xadrez discreto. Frases de duplo sentido, pausas carregadas, sorrisos que não chegavam aos olhos mas iam direto para outras partes do corpo. Não demorou muito até que a cortesia superficial se quebrasse. Ele pagou minha conta sem cerimônia, um ato de decisão, não de gentileza. “Você não parece estar com pressa de chegar em casa”, observou, e eu simplesmente balancei a cabeça, negando.
O apartamento dele era funcional, limpo, com o minimalismo de quem passa pouco tempo em casa. Mal a porta se fechou, a máscara profissional desabou. Ele me empurrou contra a parede, as mãos grandes e ásperas encontrando meu rosto, não com violência, mas com uma posse avassaladora. O beijo foi uma afirmação. Nada de suave exploração; era uma colisão de línguas, dentes e necessidade acumulada. Senti o coldre de sua arma roçar no meu quadril, um contraste absurdo e perversamente excitante.
Ele despiu-me com uma eficiência que era tanto prática quanto erótica. Cada botão desfeito, cada peça de roupa removida era um território conquistado. Quando ficamos nus, pude ver o que o uniforme escondia. Ele era esculpido, sim, mas a minha atenção foi sequestrada por outra coisa. Seu membro era imponente, já em plena ereção, grosso e veiudo, uma promessa de desafio e prazer. Um fio de prudência cruzou minha mente, mas foi rapidamente sufocado pelo desejo bruto que tomava conta de mim.
“Eu quero sentir você”, ele sussurrou contra meu pescoço, a mão deslizando pela minha coluna até se firmar na minha nádega. “Mas primeiro, eu quero você em mim.”
A declaração, feita com aquela voz grave, me surpreendeu. Quebrou qualquer expectativa pré-concebida. A inversão de papéis era tão excitante quanto a física dele. Ele me guiou até o quarto e deitou-se de costas na cama, pernas abertas, olhos fixos em mim, desafiadores e vulneráveis. Ajoelhei-me entre elas, as mãos tremulas percorrendo a parte interna de suas coxas poderosas. A preparação foi meticulosa, um ritual de lubrificação e dedos que exploravam a entrada tensa do seu corpo. Ver aquele homem, um símbolo de força e controle, arquear as costas e gemer baixo quando meus dedos o abriram, foi intoxicante.
Quando o penetrei, foi como domar uma força da natureza. Ele envolveu meu membro com uma constrição intensa, quente. Seus gemos eram roucos, abafados no travesseiro. Ele me puxava para dentro, suas unhas cravando-se nas minhas costas, comandando o ritmo. Era uma submissão ativa, poderosa. Eu estava dentro dele, mas era ele quem me controlava. A visão do seu torso musculado contraindo-se, o suor tornando sua pele luminosa sob a luz fraca do abajur – era a coisa mais eroticamente carregada que eu já vira.
Depois que ele atingiu o clímax, um rugido abafado, seu corpo relaxou por um instante. Mas os olhos não perderam o foco. Ele virou-se com uma agilidade surpreendente, invertendo nossas posições. “Agora é a minha vez”, disse, e não havia espaço para discussão.
Deitei de bruços, sentindo o peso dele sobre mim. Suas mãos imobilizaram meus pulsos acima da cabeça. A expectativa era um frio na barriga misturado com calor puro. A preparação foi mais rápida, mas não menos cuidadosa. E então, ele me penetrou.
A entrada foi uma onda de pressão que me fez prender a respiração. Era enorme, preenchendo cada centímetro de mim, alongando-me de uma forma que beirava a dor, mas que nunca a ultrapassava. Era uma dor transformada em prazer, uma expansão que me tornava consciente de partes do meu corpo que eu nem sabia existir. Ele começou a se mover, inicialmente devagar, permitindo que eu me acostumasse com seu tamanho. Cada embate era profundo, preciso, acertando um ponto dentro de mim que fazia luzes explodirem atrás das minhas pálpebras.
O som da nossa união era obsceno: a pele suada colidindo, seus gemidos brutais meu ouvido, meus gemidos incontroláveis. Ele segurava meus quadris com uma força que certamente deixaria marcas, marcando seu território. Eu estava completamente à mercê dele, e era exatamente onde eu queria estar. A sensação de ser possuído por aquela força, por aquele homem que há poucas horas era um estranho intocável, era de uma libertação perversa. Perdi toda a noção de tempo e espaço. Existia apenas o ritmo primal dos nossos corpos, o cheiro do nosso sexo, o calor daquele quarto.
O meu orgasmo veio como um tremor de terra, um convulsão que percorreu todo o meu corpo, arrancando um grito abafado do travesseiro. A contração intensa dentro de mim pareceu ser o sinal que ele esperava. Ele enterrou-se até o fim, um último e profundo empurrão, e gritou baixo, derramando-se dentro de mim, sua semente quente preenchendo o espaço que seu corpo já ocupava.
Ele desabou sobre minhas costas, ofegante, o peso dele esmagador e reconfortante. Ficamos assim por um longo tempo, sem palavras, apenas os corpos aos poucos esfriando, os corações diminuindo o compasso.
Quando ele se levantou para ir ao banheiro, eu virei-me de costas e fiquei olhando para o teto, meu corpo um mapa de sensações intensas e novas. Ele voltou, trouxe um pano úmido e limpou-me com uma estranha doçura, um contraste gritante com a fúria da nossa união. Deitou-se ao meu lado, puxou-me para um abraço, e eu encaixei minha cabeça no seu ombro.
Não trocamos números. Não fizemos planos. Sabíamos, no silêncio daquela manhã que começava a clarear atrás das cortinas, que aquele encontro existia apenas naquele quarto, naquele tempo suspenso. Era uma permuta de necessidades brutais, uma dança de papéis trocados que nos deixou exaustos e, de alguma forma, mais inteiros. Quando saí, o sol da manhã banhava a cidade de uma luz crua. E eu carregava, profundamente dentro de mim, a lembrança vívida e física do dia em que possuí e fui possuído pelo policial.