Saí do quarto ainda com o corpo esquisito. Era como se eu estivesse dentro de mim e, ao mesmo tempo, fora. Uma leve tontura me acompanhava a cada passo. Os pés arrastavam no chão frio do corredor, e a luz da sala já acesa me incomodava um pouco. O mundo parecia claro demais pra quem acordou de um breu tão pesado.
Virei no corredor e vi Letícia sentada no sofá, com uma xícara nas mãos. A TV estava ligada, num programa qualquer — desses de manhã cedo que passam receita ou notícia leve. O volume baixo preenchia o ambiente sem invadir.
Ela parecia distante, olhando pra tela, mas sem ver de fato. Quando notou minha presença, sorriu. Um sorriso simples, sonolento.
— Bom dia, mana. Dormiu bem?
Fui até o sofá e me sentei devagar. Respirei fundo. Meu corpo doía — não uma dor exata, mas uma sensação desconfortável, como se algo estivesse fora do lugar. Meu pescoço pesava, a cabeça estava meio zonza. Tentei responder da forma mais natural possível.
— Eu... não sei. Pra ser sincera, parece que eu apaguei. Deitei-me na cama e... não lembro de mais nada. Como se alguém tivesse puxado o fio da tomada, sabe?
Letícia ergueu as sobrancelhas, surpresa.
— Sério? O mesmo aconteceu comigo.
Virei o rosto pra ela, devagar.
— Como assim, o mesmo?
— Eu também deitei e... puf, apaguei. Dormi tão pesado que nem lembro se sonhei.
Engoli seco. A xícara que ela segurava tremia levemente, mas talvez fosse o café quente, ou o robe leve demais.
— Você... tomou o chá ontem? — perguntei, tentando soar casual.
— Tomei — respondeu rápido. — O Rodolfo fez com todo cuidado, como sempre. Até bocejou antes de ir dormir, lembra? — ela riu baixo, com aquele jeitinho que sempre teve quando tenta aliviar o clima.
Assenti com a cabeça. Dei um sorriso forçado. Mas algo ali não encaixava.
A sensação que eu tive ao acordar… a ardência, a fraqueza, o vazio. Era como se o meu corpo tivesse vivido alguma coisa da qual a minha mente não participou. E agora saber que Letícia também “apagou”, do mesmo jeito, me deixava ainda mais inquieta.
Mas… eu não podia afirmar nada. Não tinha visto nada. Não ouvi barulhos durante a noite. A porta do quarto estava fechada. A casa estava silenciosa. E Rodolfo… bem, Rodolfo parecia o mesmo de sempre.
Mas por quê, então, aquela inquietação dentro de mim?
Letícia me olhou de lado e perguntou:
— Tá tudo bem com você?
— Tá sim… acho que é só o cansaço acumulado — respondi rápido, tentando disfarçar. — Ontem foi um dia pesado.
— Foi mesmo — ela suspirou. — Quer um café?
Assenti.
— Quero sim. Acho que vai me ajudar a acordar de verdade.
Ela se levantou e foi até a cozinha, e eu fiquei sozinha ali no sofá. A TV falava sozinha, e meu corpo todo ainda parecia em suspensão.
A dor ainda estava ali, quieta, como um lembrete. A ardência, o torpor… aquela sensação de ter sido mexida sem saber.
Mas não. Não posso afirmar nada. Pode ser psicológico. Pode ser tudo isso junto — estresse, tensão, culpa, desgaste.
Ainda assim, algo não sai da minha cabeça: por que ontem à noite foi um apagão?
E por que aquela sensação estranha, de que alguma coisa escapou por entre os dedos, continua aqui… grudada em mim?
Letícia voltou com a xícara e me entregou com carinho.
— Toma. Tá quente.
— Obrigada — murmurei, segurando com as duas mãos.
Dei um gole lento, sentindo o gosto amargo na boca.
E tentei, pela milésima vez, afastar aquela sensação incômoda que ainda não tinha nome.
Mas ela continuava lá.
Silenciosa.
Observando comigo.
Dentro de mim.
Depois de tomar um gole do café, me encolhi no sofá. Cruzei as pernas, virei um pouco de lado. O incômodo ainda estava ali. Não forte o bastante pra me fazer chorar, mas presente. Constante. Como se meu corpo tivesse sido violado em silêncio.
Não queria falar. Mas também não aguentava mais ficar quieta.
Suspirei fundo. Virei o rosto devagar e olhei pra Letícia. Ela me olhava com aquele jeito dela — cuidadosa, atenta, mas sem pressão.
Eu hesitei. Depois falei, baixinho:
— Mana... eu preciso te contar uma coisa. Eu tô comdesconforto. Desde que acordei. Uma ardência, sabe? Lá embaixo...
Ela franziu levemente a testa. Não falou nada. Só me deu espaço.
— Na... vagina. E… no ânus. É como se tivesse sido... mexido. Eu não sei explicar. Tá doendo. Tá estranho.
Ela pousou a xícara no braço do sofá, com cuidado. Me encarou com os olhos cheios de atenção. Não tinha choque, nem julgamento. Tinha escuta. Silêncio seguro.
— Você teve algum sonho mais intenso? Ou lembra se se mexeu muito à noite? — perguntou com calma.
Balancei a cabeça, devagar.
— Não. É isso que tá me assustando. Eu simplesmente... apaguei. E agora, acordo assim.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos. O suficiente pra eu ouvir meu próprio coração batendo.
Então falou, com a voz suave, porém firme:
— Maris… antes de qualquer coisa, eu quero que você entenda que o que você está sentindo é real. Tá? Você não tá louca. Nem sensível demais. Seu corpo tá te dizendo alguma coisa — e isso merece atenção.
Assenti com os olhos marejando. Eu só precisava ouvir isso.
— Agora — ela continuou — existem algumas possibilidades, e a gente precisa tratar todas com cuidado. Pode ter sido uma irritação, uma reação alérgica a algum produto, até algo hormonal. Mas também pode ter sido… outra coisa. Algo mais sério.
Fechei os olhos por um instante. Aquilo me doía mais do que eu conseguia descrever.
— Eu não quero te assustar — ela disse, se inclinando um pouco pra frente —, mas eu também não vou fingir que isso é normal. Não é comum acordar com esse tipo de ardência sem lembrar de absolutamente nada da noite. Principalmente depois de um apagão como o que você descreveu.
Ela respirou fundo, apoiou a mão na minha perna com delicadeza.
— A gente precisa cuidar disso. E quando eu digo “cuidar”, não é só conversar. É exame, é apoio médico. Pode ser necessário um exame ginecológico hoje mesmo, entender se houve algum tipo de... lesão, ou interferência. E se você se sentir segura, talvez a gente precise considerar um exame toxicológico também. Só pra afastar qualquer possibilidade de substância.
Senti um nó na garganta.
— Você acha que... que pode ter acontecido alguma coisa comigo?
Ela demorou antes de responder. Seus olhos estavam firmes, mas doces.
— Eu não posso afirmar nada, Maris. Seria antiético, irresponsável até. Mas o que eu sei, como psicóloga e como sua irmã, é que quando uma mulher acorda com sinais físicos no corpo e um vazio na memória, isso precisa ser levado a sério. Sem pânico, mas com responsabilidade.
— Tá — sussurrei. — Tá bom.
Ela apertou minha mão.
— Eu tô com você. Vamos fazer tudo com calma. E com cuidado. Mas você não vai passar por isso sozinha, tá? A gente vai até onde for preciso.
Eu apenas assenti. Pela primeira vez naquela manhã, senti que tinha um chão debaixo dos pés.
Mesmo que tremesse.
Mesmo que doesse.
Letícia estava ali.
E agora... começava o difícil trabalho de descobrir a verdade.
Tomei mais um gole do café e perguntei:
— E o Rodolfo? Ele saiu?
Letícia respondeu:
Não, ele está na cama, sabe? Deixe-me contar uma coisa para você: o Rodolfo adora transar, mas hoje pela manhã ele estava com um tesão fora do comum. Meteu em mim como se não houvesse amanhã. Acordei com ele me chupando. A princípio, tomei um susto, pois ele nunca fez isso. Pensei em repreendê-lo, mas não falei nada. Na verdade, estava gostoso. Acho que, como aquilo foi inesperado, acabou me excitando, sabe? Fiz “uhum” para dizer que entendi, e ela prosseguiu. Minha irmã não tem nenhum pudor para falar, não importa o assunto.
Ele ficou me chupando, me chupando, até me fazer gozar. E, enquanto me chupava, alisava o pau, que estava muito duro. Pedi para ele se deitar na cama de barriga para cima, pois eu iria retribuir. Eu interrompi minha irmã: “Para, para com isso! Eu não quero saber da foda que você teve com o seu marido!”. E ela falou: “Espera aí, deixa eu falar! Então, eu o chupei, e ele decidiu pressionar a minha cabeça contra o seu pau para que eu fizesse garganta profunda — algo que ele também não havia feito antes. Aquilo foi uma novidade para mim. Engasguei-me na rola dele e pensei até que fosse vomitar, mas não ocorreu. Do jeito que ele enfiava o pau na minha boca, parecia até que minha boca tinha virado a minha buceta.”
E aí, depois, esse homem me comeu como um animal: metidas violentas, tapas na minha bunda, xingamentos. E eu, apesar de estar adorando e de conhecê-lo bem, não entendi o motivo de tanta excitação. Enquanto me comia, ele ficava sussurrando algo que eu não compreendia. Quando ele estava me comendo na posição papai e mamãe, tive a impressão de que o que ele sussurrava era o nome de alguém. Ele estava de olhos fechados e acho que nem percebeu o que estava fazendo. “Devia estar te xingando de alguma coisa”, falei. Mas minha irmã disse que não, mas que naquele momento nem deu muita bola e que só agora, me contando, lembrou do fato.
Então ela falou: “Depois de muito tempo fodendo, ele gozou em cima da minha bunda — uma gozada muito farta. E, mesmo gozando, ele ainda permanecia excitado. Estranho, muito estranho. Cheguei a perguntar para ele o motivo daquela excitação, e ele apenas falou: ‘Não sei, amor, não sei. De ontem para hoje estou assim.’”
Continua...