O Escolhido de Eldoria ☆ Capítulo 44

Um conto erótico de Tiago e Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1218 palavras
Data: 22/09/2025 06:36:58
Assuntos: Fantasia, Gay, Homossexual

✧ A Sombra da Fortaleza ✧

(Tiago)

O ar tornou-se rarefeito, carregado com o fedor de magia apodrecida e pedra antiga, um miasma que se agarrava ao fundo da minha garganta e transformava cada inspiração numa tarefa desagradável. Cada passo em direção à fortaleza de Malakor era uma batalha, não apenas contra a distância, mas contra o próprio solo sob meus pés. Eu sou um homem gordo; meu corpo não foi feito para ter agilidade nem velocidade, e o terreno acidentado e ascendente testava cada grama da minha força. O chão parecia lutar contra mim, as rochas soltando-se sob minhas botas com uma teimosia maliciosa, as encostas tornando-se mais íngremes, como se a própria terra estivesse tentando nos impedir. Ou talvez, estivesse apenas em agonia, convulsionando sob o peso da presença profana de Malakor.

Eu sentia a dor da terra como um zumbido constante em meus ossos, uma corrupção que se infiltrava em tudo, tornando a grama cinzenta e quebradiça, torcendo os troncos das árvores em formas de puro sofrimento, como se estivessem congelados num grito silencioso. Malakor não apenas ocupava esta terra; ele a envenenava, sugando sua vitalidade para alimentar sua ambição sombria.

(Lucas)

Enquanto o esforço de Tiago era uma luta visível contra o terreno, a minha era uma dança silenciosa com o perigo. A quietude era enganosa, uma mortalha fina sobre um vespeiro de ameaças. Cada estalo de um galho sob minhas botas, cada sussurro do vento através das árvores mortas, soava como um alarme em meus ouvidos, e eu me movia em resposta, meu corpo tenso e pronto.

Meus sentidos estavam aguçados ao máximo, meus olhos perscrutando cada sombra, cada formação rochosa que poderia esconder uma emboscada. O ar fétido da influência de Malakor era um aguilhão, mantendo-me em um estado de alerta máximo que beirava a exaustão, mas eu não ousava relaxar. Eu me movia com uma economia de movimento deliberada, a leveza concedida pelas Botas Relâmpago ainda adormecida, esperando para ser despertada quando a velocidade se tornasse mais vital que o sigilo. Por enquanto, eu era apenas um homem, dependendo da minha inteligência e dos meus instintos, e eles me diziam que não estávamos sozinhos.

(Tiago)

Meus pulmões ardiam, e o suor escorria por minhas têmporas, mas o desconforto físico era um ruído de fundo comparado à tempestade dentro de mim. Minha mente continuava a revisitar o momento antes de partirmos, a calma que se seguiu à nossa paixão. Lucas e eu, deitados juntos, a vulnerabilidade e a força entrelaçadas em um único ato. Não foi apenas sexo. Foi uma promessa. Uma âncora lançada no meio do caos, uma declaração silenciosa de que, não importava a escuridão que enfrentássemos, a luz entre nós não se apagaria.

A memória da sensação de sua pele contra a minha, o peso de sua confiança em mim, era o combustível que me impulsionava para a frente. Eu olhava para suas costas enquanto ele caminhava alguns passos à minha frente, ágil e alerta. Cada movimento dele era preciso, um contraste com a minha própria massa pesada e deliberada. E um medo frio se agarrava ao meu coração, um medo não pela minha própria segurança, mas pela dele. Eu empunhava o poder da terra, da água e do ar, mas Malakor empunhava o poder sobre a escuridão e a morte. O pensamento de perder Lucas era um abismo que eu não ousava contemplar.

(Lucas)

Atrás de mim, ouvi Tiago parar. Seu fôlego pesado era um som constante e reconfortante em nossa jornada silenciosa. Eu não me virei. Eu não precisava. Eu sabia o que ele estava fazendo. Podia quase sentir a vibração sutil no chão enquanto ele se conectava com a terra, extraindo força de sua aliada mais antiga. Ele era o alicerce, a montanha. Eu era a tempestade que se abateria sobre nossos inimigos.

Meu punho se fechou em torno do cabo de uma de minhas adagas. O couro frio era familiar, uma extensão da minha própria mão. Minha mente repassava táticas, estratégias, as fraquezas na armadura dos soldados de Malakor que eu havia estudado em incontáveis relatos. Eu visualizava cada golpe, cada finta, cada passo. Mas o pensamento que realmente endurecia meu espírito não era tático. Era a imagem do rosto de Tiago, iluminado pela luz fraca da manhã, horas atrás. A forma como ele me olhou depois que fizemos amor… não havia dúvida, nem medo. Apenas uma aceitação profunda e um amor que parecia tão antigo quanto as pedras sobre as quais caminhávamos.

(Tiago)

Parei por um momento, apoiando as mãos nos joelhos e respirando fundo. O ar frio cortava minha garganta. Fechei os olhos e me concentrei, estendendo meus sentidos para o chão abaixo de mim. Senti as redes de raízes, o fluxo lento da água subterrânea e a pulsação constante do coração de pedra do mundo. Era uma pulsação fraca, doente, mas ainda estava lá. Toquei nessa força, puxando-a para dentro de mim. Não era uma súplica, mas uma comunhão.

“Dê-me força”, pedi silenciosamente.

“Estamos aqui para curar você, Escolhido.”

Uma onda de energia quente subiu por minhas pernas, aliviando a queimação em meus músculos, firmando minha resolução. Abri os olhos. A fortaleza agora era visível à distância, uma silhueta irregular contra o céu doentio, como um dente quebrado e apodrecido na boca do mundo. Era ali. O fim da nossa jornada e o começo da verdadeira batalha.

Ajustei a mochila pesada em meus ombros, sentindo o peso reconfortante de nossas provisões e suprimentos. Era um lembrete de nossa mortalidade, de nossas necessidades mundanas em face do poder divino e demoníaco. Um lembrete de que éramos apenas dois homens contra um império de escuridão. Mas éramos dois homens que se amavam. E isso, eu tinha que acreditar, faria toda a diferença.

(Lucas)

Aquele momento não foi um adeus. Foi um juramento. Foi um ato de desafio tão potente quanto qualquer feitiço, uma forma de gritar para o vazio que o que compartilhávamos era uma fonte de poder que Malakor nunca poderia compreender. O poder de Malakor era possessão. O nosso era libertação. Ele construiu seu império sobre o medo e a dominação. Nós construímos nossa fortaleza um no outro, sobre confiança e sacrifício. Eu olhei para a fortaleza negra no horizonte. Ela não me intimidava. Ela me enfurecia. Representava tudo o que era vil e corrupto, um monumento à tirania que buscava extinguir a luz e a bondade do mundo. E agora, ela ameaçava a única luz que importava para mim.

Deixei minha raiva ferver, não para me cegar, mas para me afiar, transformando-a em uma arma de precisão fria. Tiago começou a andar novamente, seus passos mais firmes, mais fortes. Senti a mudança sutil em sua presença, a energia da terra agora fluindo através dele. Nós não trocamos uma palavra. Não precisávamos. Nossos corações batiam no mesmo ritmo, nossas almas estavam sintonizadas com o mesmo propósito. Ele era minha âncora, e eu era sua espada. Juntos, éramos uma força da natureza. A jornada era árdua, o inimigo era poderoso, e as chances estavam contra nós. Mas enquanto olhava para aquela mancha escura no horizonte, eu sorri. A escuridão que se aproximava não sabia o que a esperava. Ela veria apenas dois homens. Mas enfrentaria o poder de um amor forjado no fogo e inquebrável como a própria terra. E isso seria sua ruína.

Continua…

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