O Airbnb era um apartamento antigo no centro, quarto com ventilador barulhento, sofá manchado, paredes descascando com charme e dois colchões jogados no chão da sala.
— Ainda bem que temos ar condicionado — disse Clara, chegando do mercado com algumas bebidas e salgadinhos.
— E tem vibe de pornô alternativo — completou Caio, girando na cadeira giratória do computador velho.
Murilo estava na sacada fumando. Do lado de fora, buzinas, sirenes distantes, gente gritando de alegria. Léo encostou na parede do corredor e observou em silêncio o caos se organizando à sua frente.
Era tudo novo. Intenso. Estranhamente confortável.
— Léo, vem aqui — chamou Rafa. — Ajuda a encher o colchão.
Léo foi. Enquanto inflava o colchão com a bombinha elétrica, Caio jogava latinhas de cerveja de uma sacola térmica no freezer.
— A gente vai sair ou fazer pré aqui mesmo? — perguntou Murilo, entrando de volta e soltando a fumaça pela janela.
— Pré aqui. E depois a gente vê no que dá — respondeu Clara, já abrindo um vinho barato.
A sala se encheu de música baixa, luz amarelada e risos soltos. Caio tirou o tênis e se jogou no sofá, bolando um beck com destreza.
— Fuma, Léo? — perguntou, já oferecendo.
O garoto hesitou. Olhou para o irmão, que estava na cozinha com Clara. Rafa não viu. E mesmo se visse… talvez não fosse tão grave.
— Só um pouco — respondeu, tentando parecer casual.
Caio sorriu. O tipo de sorriso que dava medo e tesão ao mesmo tempo.
Uma hora depois, o ar estava espesso. Todos riam alto de alguma piada sem sentido. Clara estava deitada no colo de Rafa, os dois em clima próprio. Murilo e Caio estavam jogados no colchão da sala, com Léo entre eles, pernas encostando, ombros se tocando de vez em quando.
— Tô falando sério, esse moleque vai voltar outro pra casa — disse Caio, olhando para Murilo. — Já tá com outra cara.
— Tá ficando homem — Murilo completou, olhando Léo de um jeito lento, profundo.
Léo fingiu rir, mas o estômago se apertou.
— Vocês são uns idiotas.
— A gente é tua melhor chance de perder a timidez — disse Caio, batendo de leve no joelho de Léo.
Murilo só observava. Não precisava dizer muito. O jeito que ele olhava já dizia tudo.
E então, Clara se levantou.
— Gente, eu tô morta. Sério. Meu corpo quer dormir.
— Também tô cansado — disse Rafa. — Amanhã a gente vê algum rolê melhor.
Eles foram para o quarto do Airbnb, deixando os três deitados no colchão.
Um silêncio caiu. Mas não era silêncio de desconforto. Era outro tipo. Um silêncio elétrico.
Léo engoliu seco. Sentia o toque da coxa de Caio pressionando a dele. O braço de Murilo atrás de sua cabeça.
— E agora? — ele perguntou, com a voz meio rouca.
Murilo se aproximou. Sussurrou no ouvido dele:
— Agora... a gente te mostra como é uma viagem de verdade.
A luz da sala vinha fraca, amarelada, só um abajur aceso no canto. Léo continuava entre Murilo e Caio no colchão inflável, os olhos meio pesados, a boca seca. Sentia tudo ao mesmo tempo: a risada abafada de Clara vinda do quarto, o som dos carros passando lá fora, e, principalmente, o calor dos dois rapazes ao lado dele. Um calor que não vinha só do corpo.
— Tá com sono? — Caio perguntou, deitando de lado, apoiando a cabeça na mão, olhando direto pra ele.
— Um pouco... mas acho que não consigo dormir.
— Normal — respondeu Murilo, passando a mão devagar no próprio peito, sob a camiseta. — Primeira noite de uma viagem dessas... a gente demora pra desligar.
Caio soltou uma risada baixa.
— Às vezes é melhor nem tentar desligar, né?
Léo virou o rosto pro teto, sem saber onde colocar as mãos. O colchão se mexia a cada movimento dos outros dois. Parecia menor do que antes.
Murilo passou o braço por trás da cabeça dele, aproximando o rosto.
— Relaxa, Léo. A gente só quer que você se divirta. Tá tudo certo.
Léo sentiu o bafo quente de Murilo perto da orelha. Seu corpo reagiu antes da mente entender. O coração batia forte, o jeans começava a apertar entre as pernas.
Caio percebeu. Sorriu de canto e passou a mão de leve na barriga de Léo, por cima da camiseta.
— Tá nervoso? — ele perguntou, a voz meio debochada, meio gentil.
Léo mordeu o lábio. Não respondeu. Só ficou ali, parado, mas não se afastou.
— Isso é um sim — disse Murilo, com a voz grave. — Mas tá gostando, né?
Um leve aceno. Um sussurro quase mudo:
— Tô.
Caio se inclinou e beijou o pescoço de Léo. Um beijo lento, quente, sem pressa. A respiração dele queimava. O corpo de Léo se enrijeceu e depois relaxou, como se estivesse finalmente soltando algo que segurava há muito tempo.
Murilo desceu a mão até o quadril de Léo, passando por dentro da blusa.
— A gente vai com calma, tá? Só o que você quiser. Sempre.
Léo virou o rosto e, por instinto, encostou os lábios nos de Murilo. O beijo começou tímido, como se fosse um erro. Mas logo ficou mais firme. Mais úmido. Mais certo.
Caio desceu a mão até o zíper da calça dele, enquanto mordia o ombro exposto de Léo.
Murilo levantou um pouco o corpo, pressionando com o quadril.
Léo estava no meio, sendo explorado, tocado, desejado — e, mais do que tudo, acolhido naquele caos de calor e juventude.
O som do colchão rangendo, os suspiros, os gemidos abafados, tudo se misturava. Léo sentia as mãos dos dois ao mesmo tempo, sentia o gosto de um na boca enquanto o outro beijava sua barriga, seu pescoço, seu peito. Sentia-se flutuar entre os dois corpos, entregue.
Até que... uma porta rangeu.
Rafa.
Ele parou no corredor, olhou na direção da sala. A cena era clara, mesmo na penumbra: Caio estava deitado, encaixado atrás do caçula, as mãos espalmadas em sua cintura. Murilo, nu da cintura pra baixo, sentado na poltrona em frente, com uma ereção óbvia e um sorriso debochado.
— O quê... — ele murmurou, a voz engasgada.
Caio se afastou. Caio saindo de cima de Léo. O irmão mais velho olhava a cena como se tivesse sido atingido no estômago.
— Rafa... — Léo tentou dizer, mas a voz falhou.
— Eu não... Não acredito — Rafa sussurrou. — Sério? Aqui? Com eles?
Ele virou as costas, passou a mão no rosto e foi em direção à porta do apartamento.
Caio ficou parado. Murilo levantou e, por um instante, encarou Léo.
— Eu vou falar com ele — disse. — Fica aqui.
Murilo saiu no corredor. Rafa estava encostado na parede, respiração pesada.
— Sai fora, Murilo. Não tô com cabeça pra ouvir merda agora.
— Eu não vim falar merda — ele respondeu, se aproximando com calma. — Eu vim... resolver isso do jeito que a gente sabe fazer.
Rafa virou o rosto, irritado.
— Resolver como? Tá achando isso bonito? Ele é meu irmão, porra.
— E você tá com ciúmes ou com tesão? — Murilo perguntou, direto, com um sorriso de canto.
Rafa ficou em silêncio. A respiração acelerada entregava mais do que a raiva. Havia algo a mais ali.
— Você viu tudo, né? — Murilo se aproximou. — E ficou duro vendo?
Rafa não respondeu.
Murilo ajoelhou, encarando os olhos dele por um instante.
— A gente é amigo há quanto tempo, Rafa?
— Sei lá. Anos.
— E você sabe que eu nunca faria nada com alguém que não quisesse. Mas se você quiser... — ele desceu as mãos até o elástico do moletom — eu também sei cuidar de você.
Rafa tentou afastá-lo.
— Murilo, não é assim...
Mas quando sentiu a boca dele ali, quente, decidida, arfou. Os olhos se fecharam. E ele permitiu.
No corredor escuro do Airbnb, entre respirações contidas e beijos abafados, um outro tipo de tensão se dissolvia.
A brisa da madrugada acariciava os dois enquanto o som distante da cidade continuava lá embaixo, abafado. O irmão se apoiava no parapeito da varanda, as mãos firmes no concreto gelado, enquanto Murilo, agachado à sua frente, deixava a língua passear com lentidão, quase provocando mais pela expectativa do que pelo toque.
— Você é porra louca mesmo, hein... — o irmão sussurrou, com um sorriso torto, o olhar meio perdido entre o prazer e o susto da situação.
Murilo riu baixo, com a boca ainda encostando no tecido. O cheiro do baseado, da noite, do suor, se misturava com algo mais primitivo — algo que deixava os dois mais leves, mais selvagens. Ele puxou o elástico do short, libertando a ereção latejante do amigo, que arfou como se tivesse sido golpeado no estômago.
— Porra, Murilo...
O som do que vinha de dentro da sala ainda podia ser ouvido — gemidos abafados, a cama improvisada rangendo no ritmo de outro corpo que também explorava os limites do prazer. Tudo parecia sincronizado, como se a casa inteira respirasse desejo.
Murilo não tinha pressa. Brincava com a ponta da língua, lambia, mordia de leve, subia com beijos molhados até o baixo ventre e descia de novo. O irmão se curvava mais sobre o parapeito, os olhos fechados, entregue ao toque e à ousadia do momento.
— Vai... — ele pediu, quase num sussurro.
Murilo obedeceu.
A boca quente o envolveu aos poucos, primeiro com lentidão, depois com mais fome. O som úmido do boquete misturava-se com a brisa e os sons noturnos da cidade. O irmão mordeu os lábios para não gemer alto demais — era como se o risco de serem vistos ou ouvidos aumentasse o tesão. O coração disparava, não só pelo prazer, mas pela adrenalina.
As mãos de Murilo seguravam as coxas do outro com firmeza, controlando o ritmo, guiando o corpo. Ele sabia o que fazia. Sabia como provocar. Como recuar e voltar. Como arrancar suspiros sem pressa.
— Caralho... — o irmão gemeu, a cabeça encostada na parede agora. — Isso é surreal...
Murilo parou por um instante, olhando pra cima, os lábios molhados, o olhar faminto.
— A noite é longa, parceiro. E a viagem só tá começando.
Ele se levantou devagar, ainda colado no outro, e encostou o corpo suado no dele. O irmão ainda estava ofegante, o membro latejando, a respiração descompassada. Murilo encostou os lábios no ouvido dele.
— Você devia experimentar o que a gente tá oferecendo — sussurrou, referindo-se a si e a Caio. — Mas só se quiser. A gente não força nada... a gente convida.
Um arrepio atravessou o corpo do irmão.
Ele não respondeu. Só tragou fundo o resto do baseado e ofereceu de volta, com um leve tremor nos dedos.
Lá dentro, o silêncio indicava que os dois já tinham terminado... ou apenas dado uma pausa.
— Vamos entrar? — Murilo perguntou, com um brilho safado nos olhos.
— Ainda não. — ele respondeu. — Fica mais um pouco.
Eles ficaram.
A sala estava mergulhada numa penumbra silenciosa quando Rafa e Murilo voltaram. A TV ainda passava algo qualquer no mudo, apenas luzes piscando no canto. No sofá, Leo e Caio estavam largados, cobertos por um lençol leve, as pernas entrelaçadas, os corpos ainda suados e com respiração lenta. Havia um ar de paz ali — o tipo de silêncio bom, depois do gozo.
Murilo jogou o baseado que restava em um copo vazio e se espreguiçou, como quem retorna pra casa. Olhou pros dois, um sorriso enviesado no canto da boca.
— Boa noite, irmão — Rafa disse, já meio distante, indo em direção ao quarto. — Aproveita aí... vocês, né?
— Sempre — respondeu Murilo, sem cerimônia.
Rafa sumiu no corredor. A porta do quarto se fechou com um clique abafado. O silêncio voltou.
Murilo se aproximou devagar do sofá, tirando a camiseta pelo caminho e deixando-a cair no chão. Leo o olhava com olhos ainda pesados de prazer, mas havia um brilho curioso ali, meio tímido, meio faminto. Caio sorriu de canto, deitado de lado, com uma mão sobre a barriga exposta.
— Achou que ia escapar dessa? — ele provocou, puxando o lençol de lado e revelando os dois corpos, ainda nus sob a luz fraca da sala.
Murilo apenas se ajoelhou entre eles, as mãos firmes nas coxas de Leo, abrindo espaço com naturalidade. O toque era direto, como quem já sabia o caminho. Ele se inclinou sobre o mais novo, a língua passeando preguiçosa pelo abdômen, subindo pelo peito, mordiscando um mamilo rígido.
Leo se encolheu um pouco, rindo baixinho.
— Vocês são insanos...
— A gente é livre — corrigiu Caio, já se aproximando por trás de Murilo, roçando o quadril nu nas costas do amigo, enquanto distribuía beijos na nuca dele.
A movimentação reiniciou o desejo. Leo arfou quando Murilo deslizou a mão por dentro de sua coxa e o tocou de novo — ainda sensível, ainda pulsando. Era como reacender uma brasa que nunca tinha se apagado. Aquele segundo toque era diferente: menos ansioso, mais ritmado. Murilo sabia o que estava fazendo. Seu toque era confiante, envolvente, como se estivesse lendo o corpo do outro.
Caio já se encaixava atrás dele, os corpos se movendo como uma coreografia fluida, sensual. Três ritmos, três respirações, três vontades misturadas.
Murilo se inclinou até a virilha de Leo, lambendo com lentidão antes de envolvê-lo de novo com a boca quente. Desta vez, não havia pressa. Era prazer de verdade. O tipo que se dá e se recebe. Leo gemeu baixo, os dedos se enterrando no estofado do sofá.
Caio, de joelhos, puxava Murilo para trás com uma das mãos, enquanto com a outra se masturbava lentamente, o olhar fixo no vai e vem da boca do amigo sobre o corpo do caçula do grupo. Era como assistir a um filme proibido e, ao mesmo tempo, ser parte dele.
Leo abriu os olhos em meio ao prazer e viu aquilo: os dois amigos, entregues um ao outro, como se ele fosse o epicentro de uma dança que vinha acontecendo há muito tempo.
— Isso é... surreal — ele sussurrou, entre gemidos curtos e intensos.
— Vai se acostumando, baby — respondeu Murilo, interrompendo por um segundo o boquete só para dizer isso, antes de continuar com ainda mais fome.
Caio se aproximou, se deitando ao lado de Leo, e começou a beijá-lo com desejo renovado, a mão acariciando o peito, a barriga, até chegar ao ponto em que os dois estavam conectados pelo prazer. Os beijos eram molhados, mais intensos que antes. Leo o puxava com uma urgência que contrastava com a calma do início da noite.
E ali estavam de novo, os três. O lençol caído no chão. Os corpos colados. As mãos explorando. A pele suada. A madrugada avançando. Sem culpa. Sem vergonha. Sem explicação.
Só desejo.