"Sabrina"
Durante o tempo que estive no hospital com Fernanda, não deixei de avisar Ingrid e Joyce sobre sua recuperação. Eu me sentia bem em compartilhar que meu amor estava se recuperando. Joyce sempre comemorava as boas notícias, mas as reações de Ingrid eram diferentes, mais entusiasmadas. Com o tempo, percebi o quanto Ingrid gostava da Fernanda. Para ser sincera, isso me causava um pouco de ciúmes no início, mas com o tempo esse sentimento foi passando. Acho que a segurança que eu tinha no amor de Fernanda por mim tinha sido recuperada.
Quando Fernanda finalmente foi para casa, minha interação com Ingrid não mudou muito, mas comecei a deixar de avisar Joyce sobre a recuperação, já que agora Fernanda estava em casa e bem. As poucas mensagens trocadas com Ingrid foram evoluindo ao longo da semana. Primeiro, ela me deu alguns conselhos para facilitar a recuperação de Fernanda e perguntou se ela parecia bem psicologicamente, ressaltando a importância de ficar atenta a possíveis traumas. Achei essas preocupações sinceras e admiráveis.
No fim da semana, a conversa se tornou mais pessoal, e começamos a trocar perguntas mais íntimas. Ingrid perguntou se eu já havia perdoado Fernanda. Respondi que estava quase lá, mas ainda não tínhamos conversado seriamente sobre isso. Ela me disse que eu estava perdendo tempo e que já passava da hora de nos acertarmos definitivamente. Concordei e perguntei se ela havia descoberto o que realmente sentia por Fernanda. Ingrid disse que provavelmente sim; além da culpa, ela realmente gostava de Fernanda, mas não da mesma forma de antes. Agora, torcia para que Fernanda fosse feliz, mas com alguém que não fosse ela, e que via o quanto eu amava Fernanda. Disse que está torcendo por nós duas e sem sentir nenhum tipo de ciúmes. Fiquei feliz em ouvir aquilo.
No sábado, convidei Ingrid para ir à boate à noite. Ela estava relutante, mas acabou dizendo que pensaria e talvez aparecesse. Não contei nada para Fernanda, não por maldade, mas porque não queria preocupá-la. Assim como ela não me contou que a mulher que a beijou era Ingrid, achei justo manter isso em segredo por enquanto. Sabia que ela me contaria sobre Ingrid quando fossemos conversar sobre o que aconteceu, e eu também planejava falar sobre Ingrid nesse momento.
Ingrid apareceu na boate, acompanhada de Joyce, sua melhor amiga. As duas pareciam inseparáveis e se davam muito bem. Conversamos bastante, evitando tocar no passado de Ingrid com Fernanda, como se tivéssemos chegado a um consenso não verbal; discutir esse relacionamento não seria produtivo para o início da nossa amizade. Joyce era comunicativa, e a conversa fluiu bem, falamos sobre nossas famílias sem entrar em intimidades, só para saber das nossas origens. Falamos sobre estudos, trabalho, projetos futuros e sonhos pessoais. Foi uma boa interação, mas eu não pude ficar muito tempo com elas, pois tinha meus deveres no local. Notei que elas se divertiram na pista de dança quando eu tive que sair de perto delas, e quando decidiram ir embora, vi que ambas estavam felizes, principalmente Ingrid.
No domingo, após conversar com Fernanda, fui para a cozinha e, antes de preparar meu almoço, mandei uma mensagem para Ingrid contando as novidades. Ela respondeu rapidamente, dizendo que estava muito feliz com a notícia e que se sentia menos culpada agora. Disse que esperava um dia poder conversar com Fernanda e, quem sabe, conseguir seu perdão para seguir em paz com seu passado. Senti pena dela e decidi arriscar, mesmo sem saber se seria uma boa ideia. Convidei-a para visitar Fernanda, mencionando que minha sogra tinha acabado de ir para casa. Ingrid respondeu que adoraria, mesmo que Fernanda não a perdoasse ou não quisesse ouvi-la; ela queria tentar se explicar e pedir perdão. Enviei minha localização e disse que a aguardava.
Ela demorou alguns minutos para responder, mas quando o fez, disse que chegaria ao meu apartamento em 20 minutos. Passei o andar e número do apartamento e disse que estaria à sua espera. Enquanto almoçava, pensei melhor sobre o que tinha feito e me preocupei, mas já era tarde para voltar atrás; rezei para que tudo desse certo e esperei Ingrid chegar. Ela apareceu antes do tempo que havia mencionado, e fui recebê-las na porta. Joyce estava com ela, e as convidei para entrar. Seguimos direto para o quarto, e percebi a expressão de Fernanda mudar algumas vezes quando viu Ingrid; surpresa, depois pensativa, e, por fim, uma expressão que não consegui decifrar. Fernanda não foi muito receptiva no início, mas intervi e, ao menos, ela foi educada, concordando em ouvir o que Ingrid tinha a dizer.
Ingrid contou a Fernanda tudo o que viveu após decidir deixá-la. Notei que ela quase se engasgou com as palavras enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Fiquei comovida com a história que ela contou e, sinceramente, me emocionei. Quando terminou, vi que Fernanda parecia dividida entre perdoar ou não, provavelmente sem saber como agir. Ingrid, percebendo que Fernanda não tinha o que dizer, achou melhor ir embora. Eu não queria que aquilo terminasse assim e, quando Fernanda me olhou como se pedisse ajuda, apenas fiz um sinal positivo com a cabeça.
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" Fernanda"
Imaginei o que o sinal da Sabrina significativa, então resolvi chamar Ingrid de volta e encerrar aquele assunto de vez.
Fernanda— Ingrid, espera. Se você não se importar, gostaria de fazer algumas perguntas?
Ingrid— Não me importo, pode perguntar o que quiser.
Fernanda— Por favor, se sente novamente, junto com sua amiga.
Imaginando que a amiga era a tal Joyce, que ela mencionou ao falar sobre o passado, pedi que se sentasse novamente. Joyce novamente segurou a mão de Ingrid, mostrando seu apoio.
Fernanda— Você poderia me explicar por que disse que não iria se desculpar pelo que fez no passado, mas sim pela forma como fez? Você não se arrependeu de ter ido embora?
Ingrid— Eu não vou me desculpar porque não me arrependo de ter ido embora, não hoje. Eu me arrependi muitas vezes enquanto estava fora, mas hoje vejo que fiz a coisa certa. De forma errada, sim; nisso eu te devo desculpas. Eu devia ter sido honesta com você naquela noite. Sei que provavelmente nós duas iríamos sofrer, mas talvez, sabendo os verdadeiros motivos, seu sofrimento passaria mais rápido. Não sei... Mas se fosse hoje, eu te contaria tudo antes de ir, mesmo assim, eu iria. Eu conhecia bem o meu pai e não colocaria sua vida em risco. Eu realmente tinha medo do que ele poderia fazer com nós duas se descobrisse.
Fernanda— Acho que entendi e concordo com você. Se você tivesse me contado a verdade, eu iria sofrer, mas pelo menos não passaria tanto tempo te odiando ou pensando que fui apenas um brinquedo para você. Algumas palavras daquela carta me machucaram muito.
Ingrid— Eu sinto muito. Eu era uma adolescente imatura, fiz besteira.
Fernanda— Tudo bem, já passou. Sinceramente, acho que você ter ido embora nos levou ao que somos hoje. Eu conheci o amor da minha vida e você realizou seu sonho de se tornar médica. Provavelmente, logo encontrará alguém que te faça feliz também.
Ingrid— Por isso digo que não acho que ter ido embora foi um erro. Talvez tenha sido, mas foi um erro que, no fim, deu certo. Quanto ao amor, eu realmente não tenho sorte. Só amei você até hoje, e deu no que deu. Nunca mais consegui me apaixonar de novo e, sinceramente, não crio mais expectativas sobre isso. Não que não quisesse encontrar alguém que me ame e cuide de mim como você encontrou, mas deixei de criar expectativas.
Fernanda— Não desanime. Eu deixei de viver e desisti do amor por muito tempo. Talvez, se Sabrina não tivesse avançado o sinal quando nos conhecemos, eu estaria vivendo uma vida triste e solitária até hoje. Às vezes, é preciso arriscar mais. Você merece ser feliz também, como você disse, você também sofreu muito. Sua hora de ser feliz provavelmente está próxima.
Ingrid— Obrigada, Fernanda. Fico muito feliz em ouvir isso de você. Acho que posso considerar que talvez algum dia eu tenha seu perdão.
Fernanda— Não sei o que nos reserva o futuro, mas não quero carregar mágoas do passado. Se você precisa do meu perdão para viver em paz, você tem meu perdão.
Ingrid— Muito obrigada! Eu nem sei o que dizer.
Fernanda— Não precisa dizer nada. Vamos seguir em frente e esquecer o que passou. A propósito, você contou para sua mãe sobre suas preferências sexuais?
Ingrid— Sim, contei logo que voltei para o Brasil. Ela já desconfiava. Não fez festa ao saber, mas também não me julgou ou mudou seu jeito comigo. Hoje, posso namorar outra mulher sem problemas, mas, por crueldade do destino, não tenho essa mulher para namorar.
Fernanda— Tudo tem sua hora. Bom, vou fazer minha última pergunta: há quanto tempo você e Sabrina se tornaram amigas?
Ingrid— Não sei se somos exatamente amigas, mas acho que é melhor ela te explicar isso. E, por favor, não brigue com ela; eu que insisti em saber notícias suas.
Sabrina— Ela não vai brigar não, Ingrid. Acho que podemos dizer que somos amigas, sim. Pelo menos é assim que vejo; talvez não próximas, até porque te conheço há poucos dias, mas te acho podemos considerar que temos sim uma amizade.
Fernanda— Sabrina tem razão. Não vou brigar e nem vou ser contra vocês terem uma amizade.
Ingrid— Nossa, fiquei com muito medo agora!
Fernanda— Relaxa. Se fosse algo que me incomodasse, eu falaria com Sabrina a sós depois.
Sabrina— Eu mesma iria te falar sobre isso, mas acabou que não deu tempo. Desculpe não ter te contado antes, não foi por mal; só não queria que isso se tornasse um problema antes de resolvermos as coisas.
Fernanda— Tudo bem. Eu também não tinha te falado que era Ingrid aquele dia na boate justamente por isso. Não vamos fazer disso um problema.
Joyce— Desculpe ser a estraga-prazer da história, mas precisamos ir, Ingrid.
Ingrid— É verdade, eu me esqueci da hora.
Elas se despediram e Sabrina acompanhou-as até a porta. Fiquei pensando no momento surreal que acabara de acontecer e, por incrível que pareça, eu estava bem com tudo. Eu me senti de certa forma aliviada. Logo, Sabrina voltou com uma expressão de criança quando faz alguma arte.
Sabrina— Desculpe se agi mal, amor. Não pensei direito, só achei que era a coisa certa a fazer.
Fernanda— Tudo bem, amor. Te juro que não estou chateada, mas queria te pedir um favor: não faça isso de novo. A gente sempre resolve as coisas juntas, conversando e tomando decisões em conjunto. Não estou chateada, mas poderia ter ficado e, em uma hora dessas, poderíamos estar discutindo ou de mau humor uma com a outra.
Sabrina— Eu te prometo. Não vou fazer mais isso, e você tem razão em tudo que disse. Perdão.
Fernanda— Tudo bem. Como eu disse, não estou chateada. Mas me conte sobre esse lance de você e Ingrid serem amigas?
Sabrina— Eu conto, mas me fala: como você sabia?
Fernanda— Você não teria chamado ela para vir aqui nem defendido ela quando chegou sem ter conversado com ela mais vezes e criado algum tipo de ligação.
Sabrina— Faz sentido. Eu realmente falei outras vezes com ela e criamos uma ligação, sim. Vou te contar tudo, sem esconder nada.
Sabrina me explicou tudo. Escutei em silêncio e, no fim, não vi nada demais no que tinha acontecido. Conversamos sobre Ingrid, e Sabrina disse que ficou feliz por tudo ter dado certo, mas achou que eu não agiria com tanta calma. Disse que estava orgulhosa de mim, mas surpresa por eu ter perdoado tão facilmente.
Fernanda— Eu só não esperava rever Ingrid novamente, muito menos recebê-la aqui no nosso apartamento depois de tanto tempo e de tudo o que houve. Já tinha superado nosso passado, e ouvir tudo o que ela passou me fez perceber que ela também sofreu muito. Vi que ela não era o monstro que criei em minha mente. Não culpei ela pelo que Hugo fez comigo, e você, que foi a mais afetada pelo que ela fez na boate, a perdoou. Ver você emocionada com a história dela me fez perceber que não valia a pena chorarmos mais pelo que aconteceu. Nós três sofremos com tudo isso. Acho que já chega de chorar pelo passado, mal-entendidos e mágoas que só atrapalham. Por isso achei que era melhor perdoar logo e seguir em frente.
Sabrina— Você tem um coração enorme. Mas tem razão; só espero que Ingrid encontre alguém legal que a faça feliz.
Fernanda— Ela já achou, mas provavelmente não percebeu, mas já tem alguém doida para fazê-la feliz.
Sabrina— Como assim?
Fernanda— Me empresta seu celular? Acho que não é só Ingrid que é cega. rsrs
Sabrina me entregou o celular com uma expressão de desconfiança. Tentei acessar o WhatsApp dela e, ao ver a conversa com Ingrid, mandei uma mensagem.
"Mensagem — Ingrid, é a Fernanda. Você disse que queria encontrar alguém que te ame e cuide de você, igual eu encontrei. Bom, você deveria olhar mais ao seu redor; essa pessoa já está ao seu lado. Não sei o que você sente por ela, mas para mim está claro o que ela sente por você."
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper