08. A rodoviária

Da série Eu sou novinho
Um conto erótico de Mateus
Categoria: Gay
Contém 3122 palavras
Data: 21/09/2025 06:40:38

rodoviária

Contra a dor, Nando era apenas uma distração. Houve o velório e o enterro, no mesmo dia em que seria sepultada a mãe de Murilo. Sua prima ligou para perguntar se ele iria, ele perguntou a ela qual era a opinião dela, ela levou um tempo para responder que tinha uma dívida com Murilo, ela onde pode ajudar não ajudou e ainda dificultou Joel de fazer mais, por isso se ele fosse ia lhe dar apoio incondicional, mas… e ele agradeceu e disse que ia guardar o favor para outra coisa, ela disse que ia aumentar a dívida com ele e disse que tinha madrinha para a filha que ia nascer, mas o queria como padrinho, ele deu aceito imediatamente, dívida paga, dívida paga.

Essa história nos fez rir naquele lugar onde havia para além de nós sete, o pai de Fernando não foi, quatro vizinhos nossos que eram amigos de meus pais, disseram que agora eu estava sozinho e eu não achei prudente discordar, não queria mostrar meu tio e nem dizer que o divorcio de meu noivo havia saído, que em dois ou três meses eu seria um homem casado, perguntaram se eu tinha onde dormir, disse que meu patrão arrumou um espaço para eu dormir no estoque, que não é tão ruim quanto se imagina, eles me desejaram sorte, apareceram os funcionários da oficina, porque eu dei uma pausa mas no dia seguinte eu ia trabalhar sim, e eram meus colegas de trabalho, uma ex companheira de trabalho de Murilo ligou para conversar com ele e lhe deu pêsames, conheci alguns colegas do escritório de meu noivo, estavam ali por ele, ao fim meu pai estava cercado de estranhos que lhe desejavam o bem em sua nova morada.

Tive uma conversa séria e delicada com Fernando quando voltamos, os meninos saíram para beber e voltarem levemente alterados com o caralho anestesiado de álcool, ficamos apenas ele e eu e me deu uma fome dele e a gente trepou, na cama que foi de meu pai, de ladinho, meu pau adorou aquela bunda gorda, depois que eu fiz ele gozar punhetando ele eu esporrei dentro e foi isso eficiente e sem muita imaginação e foi a maior rapidinha que eu tive, não deu mais que seis minutos, deu nada, sete é conta de mentiroso. Ele gozou antes na minha mão enquanto eu comia a gala amarga e doce como um pão mal assado, lambendo a mão e puxando ele para meu peito com o outro braço eu o ouvi fazer umas queixas.

“A minha faculdade é pública, mas é um curso caro, eu quase não cozinho em casa, não dá tempo, e eu consumo tudo e não pago por nada, meu pai estava reclamando disso porque minha mãe disse que a aposentadoria de professora era curta e não podia mais me ajudar, meu pai disse que já quase não ajudava meus irmãos e eles já tinham emprego fixo e carteira assinada, eu fiquei me sentindo um inútil e um peso, um peso gordo.”, perguntei se parecia que a gente fazia amor com ele por caridade, porque a gente não precisava se humilhar tanto, a gente sabe que a bunda dele era linda e maravilhosa, e eu não soube se minha piada foi rude, se eu deveria só me desculpar e ficar calado ou não sei mais o quê.

“Tio Renato brigou com meu pai, disse que se eu não tinha um responsável por mim agora tinha, era filho de um eletricista e uma empregada doméstica e seus pais fizeram esforços, morreram com todo o conforto e dignidade do mundo, só não pode dar a eles a alegria de um neto bonito, bom e esforçado como eu. Ele disse que ainda que tivesse que voltar a vender banana na feira como fazia nos sábados para ajudar a pagar os livros que podia ter de segunda mão, ainda assim eu iria cursar medicina e depois a minha especialização, eu disse que não precisava se preocupar com isso. Ele diz que eu não sou uma bunda gostosa que ele gostou demais, ele nunca baixou as calças para um homem que não admirasse, e eu era um desses poucos que mereciam que ele mantivesse a boca aberta, o pau duro e o cu a disposição, ele me beijou olhando para meu pai, eu sei que nesse momento ele estava juntando com outra coisa qualquer e disse que eu não era uma putinha que se paga quando se tem mais dinheiro que meu namorado.”

Tio Renato sabia e eu estava morrendo de vergonha agora. Eu viajando na maionese, a culpa de ter sido humilhado era minha e eu estava para ser exposto quando depois de um tempo calado Nando começa a falar novamente.

“Meu namorado me bateu, eu não soube como me defender e ele se aproveitou disso, eu não disse nada, não contei a ninguém, ele disse que a culpa era minha pelo que houve, que eu sou o culpado pela surra e por ele ter sido obrigado a fazer o que fez, eu que criei o motivo, ele está sendo chamado de comedor de bicha, de gigolô de maricona, disseram que ele é um gay que tem vergonha de se assumir, caralho, essa última parte é verdade. Sim eu uso camiseta do orgulho, eu uso anel do arco-íris e sou militante. Eu estava preparado para isso na rua. Ele rasgou minha camiseta e disse que eu nunca mais a usar aquilo, eu disse para ele bater nos idiotas com quem ele anda, esses cretinos como ele e não em mim, ele disse que não me bateu, só estava dando uma ordem para uma baleia gorda, eu disse que ele era magro e bonito mas não tinha o direito de rasgar meu orgulho sendo tão veado quanto eu, e aí ele gritou e me encheu de tapa, e eu corri para me trancar no banheiro, eu pedi ajuda ao porteiro que entrou e o tirou de lá, e eu tenho medo, e ele se desculpou e disse que a culpa era minha e depois disse que não quis dizer o que disse e chorou e disse que é muita pressão e que eu não entendo e devia perdoar e um monte de coisa e eu só saí da faculdade correndo, um ônibus freou a menos de um metro de mim, as minhas amigas não sabem, pensam que eu estou abalado porque brigamos e ele acabou. Outras pensam que eu tentei me matar, mas não foi, mas na hora eu queria que tivesse acontecido.”

As minhas merdas com o pai dele foram uma violência mas… nem perto, eu olhava para ele e eu queria tanto proteger esse garoto.

“Eu não deveria. Eu sei que não fiz nada de errado. Eu apenas existo, porra. Mas eu morro de vergonha, de culpa, ele exerce um controle sobre mim, não é amor, eu não sei como te dizer. Ele manipula minha raiva que sinto por ser essa baleia encalhada na areia. Ele me faz acreditar que apenas ele pode fazer o sacrifício de gostar de mim, e essa semana foi… Desculpe, seu pai morreu e eu falando de mim como se isso estivesse à altura de…”

“O dia de ontem passou e os problemas de ontem são sempre menores que os de agora, ontem eu sobrevivi, se eu não estiver alerta pra o agora talvez não sobreviva novamente. Preciso que você me deixe ajudar, eu…”

“Você não vai contar a ninguém, eu não quero que ninguém saiba, eu não tenho como te contar como me sinto sujo e repugnante quando penso em contar a alguém. Eu tenho lido sobre relacionamento abusivo e eu sei que posso resolver isso sozinho. Se você conta a alguém eu vou ser a vítima eterna, não quero ser a baleia em cima da torre como a princesa desprotegida, eu quero poder… não morrer de raiva de mim mesmo quando eu me olhar no espelho, eu nem quero ver a sua cara de piedade por mim, é assim que ele acaba comigo.”

“Meu boiolinha, eu não queria estar em sua pele de pêssego e nem ter esses olhos verdes lindos cheios de lágrimas. Eu nem imagino onde Joel e Murilo podem desovar seu ex se eles souberem. Eu quero que você me prometa três coisas, e se você não fizer essas três coisas, eu conto. Coisa um, nunca mais fale com ele novamente, não fique no mesmo ambiente que ele e nem esteja a sós com ele, mude a fechadura e se for necessário se mude, coisa dois, se você voltar pra ele, não esconda, me diga a verdade, me ajude a te proteger, coisa três, essa é sua casa, esqueça Murilo, esqueça seu pai e qualquer pessoa, eu sei, eu continuo sabendo que posso confiar em você e sei que você pode confiar em mim, e se algo der errado não é culpa sua, eu sempre vou estar aqui na nossa casa esperando por você. Promete?” Ele prometeu e eu o beijei, então ele ia falar algo e eu coloquei a coisa quatro, eu inventei as regras e tinha coisa escrito do outro lado da folha de regras, “Toda semana, você vai se filmar nu pra mim e vai seguir as orientações de autodefesa que eu vou te passar”.

Eu estava preocupado, mas de verdade não era eu que deveria tomar decisões por ele, ele é maravilhoso e frágil, mas é livre e eu só posso estar presente na vida dele e influenciar as decisões dele e apoiar a luta dele, mas luta, decisões e vida que são dele, não minhas, meus pais me educaram assim e eu não tenho como viver de outro jeito, é a minha formação. A gente acabou se deitando e dormindo, Joel me acordou bem tarde, ele e Murilo já haviam jantado, disseram que estavam esperando que a soneca terminasse mas já passava das nove, comemos, tomamos banho e Nando concordou de esperar o sofá que estava para chegar na manhã seguinte.

Naquela semana ele dormiu sozinho, conosco, com Murilo, comigo, com Joel, e agora queria dormir sozinho novamente, mas isso Murilo não deixou, devem ter varado a madrugada na conversa, só ouvimos os risos, acordei com um puta sorriso de Murilo sentado em minha barriga, “Acorda, Mateus, meu anjo, nosso maridinho tá tomando banho porque trabalha perfumado no ar condicionado e nós trabalhamos no calor da oficina.”, “Nem a oficina é quente e nem trabalhamos, eu estou aprendendo os processos, mas meu lugar é no escritório, é você quem vai colocar graxa por baixo dessas unhas lindas.”

Fernando beijou cada um de nós na saída. O ônibus dele saía às quatro da tarde e a gente não ia mais se ver, demos um tchau porque aquela semana as despedidas estavam dramáticas demais e a gente estava muito sensível, Murilo disse que pediu a tio Renato para pagar por minha carteira de carro e moto, Joel deu um grito que ele não tinha noção, “Me adora, o que é pouco pelo tanto que eu babo o saco dele, e babo mesmo, pauzão grosso, eu engasgo e babo e desce pelo saco e ele é o cara que te fode no videogame, que é muito mais caro que a carteira para Mateus, e de mais a mais não é o nome dele que vai estar na minha identidade quando eu for casar é? Renatão entrou nas nossas vidas e isso parece ser definitivo, você está queimando sua poupança e daqui a pouco a gente vai estar na lona, dois desocupados que ainda não trazem um centavo pra dentro de casa”, conversamos sobre isso, sobre a data futura para o casamento, disse que meus tios não falam mais em adiar a data para ver se eu tenho certeza, Murilo fala que agora era o caso de falar sobre uma data para eu me arrepender, a gente riu das mesmas coisas, eu ainda estava preocupado com Fernando, eu ainda estava pensando em meu pai, ainda estava triste, mas assim os dias passaram: comigo e eles tentando fazer o dia dos outros dois ser só um pouquinho menos ruim.

No segundo fim de semana três foram até nosso apartamento, era sempre uma festa, trouxeram a caixa de ludo, jogamos e bebemos, meu Deus, sou um horror bebendo fiquei zonzo com a segunda caipirinha e parei, tio Galvão me levou para lavar o rosto e disse que o papel de parede de nosso quarto era a coisa mais feia que já viu, eram cordas de junco com rosas brotando delas, talvez fosse lindo para uma mocinha que estava se casando com um moleque audacioso, mas era isso, muito feio, ele disse que eu deveria pensar nas pequenas reformas que três homens podem e querem fazer para tornar esse lugar a nossa cara, e não a cara da casa que foi do casamento fracassado de meu companheiro.

Isso ficou na minha cabeça, de verdade eu curti a presença de Nando, mas agora que havia passado uma semana sem ele, caramba, era muito melhor assim, eu estava mais… não sei, e senti culpa por não querer ele ali, mas logo chegou aquele negócio de minha intuição dizendo que ele falou que o namorado manipulava a culpa dele, culpa de quê? Então eu bem distraído fui trazido ao mundo real por tio Galvão.

Voltamos até a sala, quando estávamos para decidir o filme, tio Caio pergunta porque o pai de Fernando não havia vindo com tio Renato que logo diz que convidou e ele disse que não queria vir, tio Renato fala que nem insistiu e nem perguntou o motivo. Tio Caio diz na lata que o cara é uma boa companhia por umas horas e que não gostaria de parecer ser mal educado ou qualquer coisa assim, mas da última vez em que ele esteve ali conosco pareceu que alguma coisa havia acontecido de errado, “Tipo ele ter me flagrado comendo o cu do filho dele?”, “Não, outra coisa. Ele olha para Mateus de um jeito que sempre me desagradou, ele olhava para o garoto que conhecemos de um jeito que parecia um predador, não estou falando isso na ausência dele, já falei isso na cara dele, o moleque era desordem mas ainda assim eu preferi colar no moleque até o mandar em segurança para casa. Desculpa falar isso assim Renato, não sei se é o momento certo, mas já falei que fico monitorando a presença dele quando Mateus está próximo, Mateus nunca se sentiu à vontade na presença dele e eu já conversei com todos aqui nesta sala sobre isso. Todos ficam alerta para não passar dois minutos com os dois sozinhos.”

“Você tá querendo dizer o que, exatamente, Caio.”, “Gosto de você, Renato, de verdade, mas eu nunca imaginei que Sampaio fosse apresentar um namorado mais velho, eu achei que ele sempre ronda os mais jovens que Murilo, jovens como meu sobrinho de dezoito anos e um mês. Eu nunca deixaria Joel se aproximar tanto de Mateus, mas isso entre os dois era o meu melhor escudo contra um cara que tem um jeito de que gosta quase exclusivamente de novinhos de dezoito anos e talvez menos. Por isso brigamos na rodoviária quando fui deixar o filho dele, Fernando me deu um abraço e se ofereceu pra mim quando o ônibus chegou, ele disse que eu não deveria estar rondando um novinho, ainda mais quando é um garoto com pai e mãe, e tem dinheiro.” Renato me olhou, eu desviei, morri de vergonha. A vergonha, a culpa.

“Ainda bem que eu não estou louco. Faz um tempo que eu não encontrava ninguém. Pra foder eu encontrava, academia, barzinho, festa, Grindr, Disco, mas eu queria jogar Banco Imobiliário, assistir um filme do lado de um cara prestando atenção no filme, depois conversar sobre o filme, aí surge um crush da faculdade, olha isso, e com uma família estendida muito melhor que ele, com sexo muito melhor que o dele, ok. Eu embarco. Mas eu comecei a notar esse comportamento dele e comecei a me sentir mal, resumindo, ele saiu lá de casa há três dias, eu não ia contar nada ainda, eu preciso falar com Mateus antes… e não tive como conversar contigo sem parecer que eu sou…”, falei para tio Renato falar o que o pai de Fernando falou sobre mim e foi… foi a verdade, ele não alterou nada só não disse de minha vergonha, medo, culpa, de como eu me senti com o pai de meu amigo me assediando dentro da casa de meu noivo, da presença dele…

Tio Caio diz que eu não devia me sentir com medo ou vergonha e principalmente culpa, eu falei de Fernando, Murilo disse que não queria nem ver a presença dele perto de mim, “Eu sou um idiota, quando Caio falou que ele era um predador eu achei que era o tio ciumento que estava levando o papel de pai a sério demais, longe demais. Marcando em cima de seu melhor amigo, se o melhor amigo dele não serve para o sobrinho, quem serve? Mas eu jurei que ia proteger vocês dois e isso eu fiz, pedi um favor à prima e ela fez, levantou a ficha de ambos, um não pode exercer a medicina por conduta imoral com pacientes, por isso ele ficou impotente, vingança de um marido. O outro é um vigaristazinho sem vergonha, minha prima ligou para o gordinho e disse que ele deveria me dizer para parar de assediar minhas irmãs a herança estava em paraísos fiscais, que eu jamais iria pegar em um único dólar, eu não era da família e o advogado que eu contratei ia trabalhar para levar todo o tempo do mundo para entrar com a ação. Tentem ligar para ele, tá bloqueado.”

“Mas tu é o malandro mais pato que eu conheço, Mateus, aposto que ele falou que é vítima de homofobia, gordofobia e que o namorado bateu nele, mas ele não chegou com uma marca no corpo ruivo dele, ou seja, os tapas que dei nele ficaram da quarta até o sábado, ele foi espancado e chegou aqui alvo e sem manchas como um ovo de galinha, tu precisa meter mais essa pica em um cu e deixar de frescura, eu que não senti nada por ele, só tesão, tivesse aqui eu trepava novamente com o mal caráter. Porra, veadinho, esse tanto de macho e tu atrás de um merda ganancioso daquele. Que raiva de você, Mateus, um homem mais que lindo como é Joel, ele é perfeito, e de bônus grátis você tem eu que sou ainda mais lindo que ele, só não sei ser fofo. Porra, Mateus, mais ninguém, três tiozões e dois maridos…”

OK, eu sou um pato, um idiota.

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