O carro seguia pela estrada como se engolisse quilômetros de asfalto e silêncio. O motor roncava constante, preenchendo o espaço entre uma música qualquer no rádio e as vozes que tentavam abafar o cansaço da viagem. O cheiro de salgadinho aberto no banco da frente e do perfume de Clara se misturava ao ar quente que entrava pela fresta da janela.
— Eu ainda não acredito que cancelaram o voo em cima da hora — resmungou Rafa, apertando o volante com força. — Ia ser tão mais fácil chegar lá em uma horinha de avião.
Clara, de pernas cruzadas no banco do passageiro, suspirou alto, ajeitando o cabelo. — Pelo menos a gente conseguiu o carro… Pensa se tivesse acabado tudo? — Ela ergueu o celular para mostrar a reserva do Airbnb da noite: uma casinha apertada, perdida em alguma cidade que ninguém conhecia.
— “Aconchegante e bem localizada”… — Murilo leu em voz alta, zombando, inclinado entre os bancos da frente para espiar a tela. — Aposto que vai ser uma espelunca.
— Melhor do que dormir no carro — rebateu Caio, com aquele tom sério que parecia sempre encerrar discussões.
No banco de trás, Léo tentava se encolher entre os dois amigos do irmão. O corpo dele estava comprimido, de um lado pelo braço tatuado de Caio, do outro pela perna comprida de Murilo. A viagem improvisada já o deixava nervoso, mas o que mais mexia com ele era aquela proximidade sufocante — e, ao mesmo tempo, excitante.
— Relaxa, maninho, aventura é isso aí — Murilo cutucou as costelas de Léo, rindo. — Airbnb de última hora, estrada sem GPS, cerveja quente e… — ele fez uma pausa dramática — boas histórias pra contar depois.
Léo riu sem graça, sentindo o toque insistente. Tentou olhar pela janela, disfarçar, mas percebeu que Caio o observava de lado, sem dizer nada. Havia algo nos olhos dele que deixava o caçula desconfortável, como se fosse visto por dentro.
O assunto voltou para o voo cancelado, os preços absurdos dos hotéis, a falta de planejamento. Rafa reclamava, Clara tentava manter a leveza, Murilo fazia piada de tudo. Só Léo permanecia quieto, absorvendo a sensação de estar preso entre dois homens que pareciam brincar com sua ansiedade.
Foi quando sentiu. Primeiro, leve: a mão de Caio roçou contra a dele, como se fosse por acidente. Léo recolheu rápido, mas logo Murilo encostou a perna de propósito, pressionando.
— Tá apertado aí, loirinho? — Murilo provocou, baixinho, perto do ouvido dele, para que só os dois ouvissem.
O coração de Léo acelerou. Ele balançou a cabeça em um “não” mudo, mas sabia que estava vermelho.
Caio, então, passou a mão pelo elástico do coque malfeito de Léo, puxando-o de leve pela nuca. — Esse cabelo preso… — murmurou. O gesto foi rápido, discreto, mas suficiente para arrepiar a pele de Léo inteira.
Na frente, Rafa e Clara continuavam discutindo sobre qual seria a próxima parada, sem desconfiar do que acontecia atrás.
Léo respirou fundo, tentando manter a compostura. A estrada se estendia infinita, e a viagem tinha acabado de começar.
A estrada parecia não acabar nunca. O GPS anunciava horas pela frente. Clara, ao lado Rafa, tentava entreter com música e comentários sobre os lugares pela janela. O clima, para quem estava na frente, era de tédio.
Já no banco de trás, o mundo era outro.
Murilo tinha se espremido mais perto de Léo, encostando o braço e deixando o calor do corpo colar no dele. Fingiu cochilar, mas apoiou a cabeça no ombro do caçula, respirando pesado, como se fosse natural. Léo não sabia se afastava ou se deixava — ficou rígido, o coração disparado.
Caio percebeu e riu de canto. Passou a mão pelo cabelo de Léo mais uma vez, puxando o coque firme pela nuca, dessa vez sem disfarçar tanto.
— Relaxa — disse baixo, com a voz grave. — Não precisa ficar todo duro assim.
Murilo abriu um olho, rindo preguiçoso, e deixou a mão escorregar até a coxa de Léo, primeiro por cima do jeans, depois pressionando um pouco mais.
— Tá nervosinho, loirinho? — sussurrou. — Ou é outra coisa?
Léo engoliu em seco. Na frente, Rafa aumentava o volume da música, discutindo com Clara sobre a rota. Eles não tinham como ouvir.
Caio se inclinou devagar, o ombro largo encostando em Léo, abafando ainda mais o espaço. Os dedos dele roçaram o braço do garoto, descendo até a mão. Segurou firme, entrelaçando, como se fosse um casal.
— Se o Rafa olhar pelo retrovisor, vai pensar que você é meu namorado — disse, quase sem mover os lábios.
Murilo riu abafado e, aproveitando o embalo, deslizou a mão pela coxa até quase encostar na virilha. Não pressionou de imediato, mas ficou ali, rondando, sentindo o corpo de Léo tremer.
— Aposto que ele tá duro já — provocou.
Léo arregalou os olhos, tentando afastar a mão, mas Murilo a segurou de volta, apertando. Caio, sem soltar a mão entrelaçada, aproximou o rosto até roçar a boca no ouvido do caçula.
— Fica quietinho… — sussurrou. — Ninguém precisa saber.
A respiração de Léo falhava. O motor constante, a música alta, a conversa animada na frente… era como se vivessem em dois mundos diferentes dentro do mesmo carro.
Murilo deslizou mais, apertando a coxa forte, chegando cada vez mais perto do volume no meio das pernas de Léo. O garoto fechou os olhos por um instante, tentando disfarçar. Um gemido quase escapou, mas Caio apertou sua mão, firme, como um aviso.
— Shhh. —
O carro seguiu pela rodovia, quilômetros de asfalto se acumulando.
Horas depois, o carro parou em frente ao prédio meio descuidado que serviria de abrigo improvisado para a noite. O sol já começava a cair, tingindo o céu de laranja e rosa, mas o calor ainda se arrastava pelo ar. Rafa e Clara desceram primeiro, discutindo sobre a posição das malas, enquanto Murilo ajudava Léo a tirar a bagagem do porta-malas.
Léo sentiu o constrangimento bater novamente. A ereção que havia tentado disfarçar no banco de trás parecia ganhar força de repente, pressionando contra a calça jeans apertada. Ele se ajustou discretamente, tentando caminhar rápido, mas cada passo era lembrança do que havia acontecido durante a estrada.
— Vai devagar, Léo! — Murilo brincou, carregando a mochila grande e quase esbarrando nele. — Não some com a mala na correria.
— Tô indo… — murmurou Léo, um pouco abafado, olhando para o chão.
Caio se aproximou por trás, passando o braço pelo ombro de Léo de maneira casual, encostando o corpo ligeiramente no dele.
— Precisa de ajuda com as malas? — perguntou, a voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de provocação.
Léo revirou os olhos, tentando manter a compostura. — Não, eu consigo… — respondeu, firme, tentando afastar a tensão que o corpo todo denunciava.
Uma vez dentro do apartamento minúsculo, o cheiro de limpeza improvisada e o calor do espaço apertado só intensificaram o desconforto. Leo correu para o banheiro, empurrando a porta com força, desejando desaparecer por alguns minutos.
— Ah, então é aqui que você se esconde? — a voz de Caio soou atrás da porta.
— O quê? — Léo estremeceu. — Sai fora!
— Que dramático… — Caio riu, abrindo a porta um pouco e espiando. — Tá bravinho, é?
— Bravinho? Sai daí, Caio! — Léo cruzou os braços, virando o rosto para não encará-lo.
Caio entrou devagar, fingindo buscar toalha. Se aproximou, roçando o braço no de Léo de forma quase imperceptível. — Não é bravura, loirinho… — disse baixinho, com aquele sorriso que fazia o coração de Léo disparar. — É que você tá gostando…
Léo sentiu um arrepio subir pela coluna. Tentou se afastar, mas Caio o acompanhou com passos lentos, encurralando-o contra a parede do banheiro. O rosto de Caio estava tão próximo que Léo podia sentir a respiração dele bater no pescoço.
— Para de me provocar… — Léo sussurrou, firme, mas a voz traía a excitação.
— Não estou provocando — respondeu Caio, deslizando a mão pelo quadril do garoto de forma casual, quase brincando. — Só tô mostrando a você… o quanto você tá vulnerável.
O choque de ser visto assim, tão exposto e ainda por cima pego no flagra, deixou Léo dividido entre raiva e desejo. Ele tentou protestar, mas cada gesto de Caio parecia sabotar sua resistência.
— Caio… — Léo tentou, a voz falhando, e então ouviu um batido na porta: Rafa chamando se estava tudo bem.
O som os separou instantaneamente. Caio recuou, deixando apenas o cheiro dele pairando no ar, e Léo se inclinou contra a parede, respirando fundo, tentando recuperar o controle.
Ele sabia que aquela noite seria apenas o começo.
A sala do apartamento era pequena, improvisada, com poucas cadeiras e uma mesa bagunçada com mapas e garrafas de água. Léo se sentou no sofá, tentando se recompor, mas não conseguia se livrar da sensação de que cada olhar, cada movimento, estava carregado de tensão.
— Sabe, você devia relaxar um pouco — murmurou Murilo, se aproximando. Com um sorriso malicioso, ele começou a fazer cócegas leves nas costelas de Léo. O garoto se contorceu, rindo nervoso, tentando se esquivar.
Caio, mais tranquilo, passou a mão pelo ombro de Léo, encostando-se de leve e sussurrando no ouvido dele: — Relaxa, loirinho… é só diversão.
Murilo não perdeu tempo e, ousado, deslizou a mão por dentro da camiseta de Léo, apertando levemente seu abdômen, explorando com o dedo e provocando arrepios que fizeram Léo prender a respiração. O coração do garoto batia acelerado, entre vergonha e excitação, sem saber para onde olhar.
— Para! — Léo conseguiu dizer, vermelho da cabeça aos pés. — Vocês estão demais!
— Ah, tá bravinho de novo — Caio riu, passando o braço ao redor dos ombros de Léo. — Tá gostando, não é?
Nesse instante, a porta se abriu e Rafa entrou, carregando uma mochila. Parou no meio do corredor e congelou por alguns segundos, observando a cena: Murilo fazendo cócegas e tocando Léo, Caio encostado provocativamente, e Léo claramente desconfortável e vermelho.
Rafa riu alto, quebrando a tensão. — Ah, então é assim que a viagem vai começar, né? — disse, passando a mão pelo cabelo. — Léo, para de ser chato! Deixa a galera brincar. Vai, é bom você conhecer pessoas novas, se abrir um pouco. Essa viagem não é só sobre lugares… é sobre experiências novas, sobre você se soltar e deixar de ser tímido o tempo todo.
Léo ficou sem palavras, corando ainda mais. Murilo e Caio trocaram olhares cúmplices, sorrindo para o garoto. Ele sabia que tinha sido “pegado” no flagra, mas a reação de Rafa o deixou curioso e, de certa forma, liberado.
— Tá… — Léo murmurou, sem conseguir reclamar de fato, mas já consciente de que aquela noite e aquela viagem seriam o início de algo totalmente novo.
Murilo encostou a testa na dele, sussurrando: — Viu só? Não é tão ruim, né…
Caio apenas sorriu, encostando o queixo no ombro de Léo. O garoto respirou fundo, sentindo que, finalmente, estava entrando no clima da viagem — uma mistura de nervosismo, excitação e expectativa.
E assim, a sala improvisada virou palco de novas descobertas, de pequenas provocações e de uma ousadia que, até então, Léo nem sabia que poderia sentir.