9 de Março (Domingo)
12:20 PM
— Que saudade que eu tava da sua comida, Claudia! — Adoro a comida dela, mas já fazia tempo que não comia.
A preguiça bateu hoje e resolvi almoçar na casa dos meus pais, a ideia era comer com eles, mas a Pam saiu com as amigas para a praia e meu pai está no restaurante, vai almoçar por lá mesmo.
— Sempre bom cozinhar para você Cicinho, só que agora você tem comida só no restaurante.
— É que já estou lá e na hora do almoço tem sempre muito trabalho, mas olha queria saber se você não pode fazer umas quentinhas para mim jantar durante a semana, é que comer na faculdade é caro e to tentando economizar.
— Vai ser um prazer, vou ficar até mais tranquila de saber que você está comendo direito, vou fazer umas receitas que você adora e que sejam boas para jantar — Claudia me trata como se eu fosse seu filho e às vezes me sinto mais filho dela do que da Pam.
— Te amo Claudia!
— Eu também te amo Cicinho, agora me conta como o Dan está?
— Ele tem perdido peso, já que não tem sua comida lá — estou rindo, mas tem um pouco de verdade nisso, Dan não está se dando muito bem com a culinária italiana.
— Bixim.
— Pois é, ele não tem muito tempo para cozinhar em casa, mas pelo menos tem muita coisa que ele ainda come por lá, só que segundo ele, a comida europeia não tem o mesmo gosto da nossa aqui.
— Pena que não temos como mandar comida para ele, quando ele voltar vou fazer um banquete!
— Essa é uma ótima ideia, Cláudia, ele vai amar — é impossível não amar essa mulher.
14:30 PM
Estou em casa estudando em pleno Domingo, se isso não for um sinal de que estou levando esse curso a sério não sei mais o que é! Tenho alguns professores bem ruins, eles sabem de muita coisa, mas na hora de explicar minha nossa é uma dificuldade, o de segunda por exemplo só falta pôr a turma toda para dormir, se eu não estudar em casa vou ter problemas — e isso não é uma opção.
Ontem fiquei praticamente o dia todo com o Dan em ligação, vimos até um filme, então hoje resolvi dar uma revisada, no meu telefone já chegaram umas três notificações, duas do Nicolas me chamando para sair e uma do Arthur me pedindo umas anotações da aula de sexta, respondi meu amigo de sala com a anotações e pro meu amigo do racha mandei uma foto minha estudando, ele mandou uma figurinha revirando os olhos.
Entrei em um foco tão grande que quase não percebi que meu celular está tocando — depois de responder meus amigos tinha deixado o telefone de lado para não perder a concentração e parece que funcionou. — Ainda não terminei de revisar a matéria, mesmo assim pego o celular para ver quem está me ligando, vejo na tela a foto do Guigo. Deve ser importante porque quase não me liga, só manda mensagem e nem tempo o hábito de nos falarmos todos os dias, por isso melhor atender.
— Alô!
— Ciço, tudo bem, está ocupado? — Sua voz já me indica que ele não anda bem, parece estressado, ou só irritado com algo, posso imaginar o que seja baseado na nossa última conversa.
— Estou estudando, mas pode falar macho.
— Deixa quieto, pode voltar a estudar, foi mal te atrapalhar.
— Espera Guigo, pode falar mano, o que foi?
— Cara preciso sair para beber — Guigo até bebe, mas não desse jeito.
— Aconteceu alguma coisa, Guigo? — Estou preocupado com ele.
— Macho eu só quero beber até esquecer de tudo!
— Tá bom, eu vou tomar um banho e broto pra gente conversar.
— Não quero conversar com Ciço, quero beber! — Deve ser sério mesmo.
— Tranquilo então mano, já chego ai para te buscar então — ele nunca me chama para isso, então deve ser importante, se ele ligou para mim vou tentar ajudá-lo da maneira que eu puder, se encher a cara é do que ele precisa agora vou fazer isso acontecer.
— Valeu mano.
Aviso ao Dan que também ficou sem entender nada, mas me disse para ir mesmo assim, já que ele precisa extravasar, até pensei que o Dan poderia saber de algo, eles são mais amigos, mas nem para o meu namorado eles parecem ter se aberto. A única coisa que o Dan me pediu foi para não ir de carro, já que a ideia é chapar o coco melhor ir de carro de aplicativo. Quando estou saindo de casa recebo uma mensagem do Arthur me perguntando se vou fazer algo, ele tem ficado muito só desde que se mudou. Penso por um segundo em chamá-lo também, mas pode ser que o Guigo e o Raylan queiram conversar, então não seria bom ter alguém que eles não conhecem juntos, por isso me desculpa com o Arthur, no próximo fim de semana eu marco alguma coisa com ele.
18:00 PM
Mando mensagem avisando que estou chegando para eles já irem descendo, quero aproveitar a mesma corrida, só para não ter o trabalho de pedir outro carro. Para minha surpresa apenas o Guigo entra no carro, pessoalmente é mais perceptível sua irritação. Exito um pouco em perguntar pelo Raylan, mas já que ele entrou no carro e não vejo sinal do meu amigo digo ao motorista para seguir nosso percurso.
— E ai a gente vai pro Boteco? — Ele se refere ao bar do noivo do Ricardo.
— Sim, mas se quiser ir a outro lugar — digo.
— O Boteco tá bom, obrigado, eu sei que você tem que acordar cedo amanhã, mas é que — Guigo tenta se explicar, mas eu o corto antes que termine de falar.
— Relaxa, não preciso de muito para encher a cara e outra já faz tanto tempo que a gente não sai juntos, vai ser legal.
— Obrigado Ciço.
Por ser domingo a noite o Boteco não está tão cheiro — dia de Sesta e Sabado isso aqui parece um formigueiro, de tão lotado — isso é bom, podemos beber e conversar tranquilamente, André que é quem toma de conta dos bares aqui em Fortaleza nos recepciona logo na entrada, fazia um tempo que não vinha por aqui e o Guigo mais tempo ainda, para falar a verdade acho que a ultima vez dos meus amigos aqui comigo foi na despedida do Dan quando ele foi estudar na Itália.
— E ai galera, como tá o Dan? — André pergunta sendo educado.
— Estudando feito um maluco, mas fora isso tudo bem!
— Que coisa boa é o Raylan?
— Ele ficou em casa — Guigo responde — hoje é só a gente mesmo.
— Massa, podem ficar à vontade, o que vão querer?
— Pode ser uma cerveja mesmo amigo — respondo enquanto nos sentamos em uma mesa perto da porta.
Depois que André deixa uma garrafa gelada com dois copos na mesa finalmente ficamos só nós dois, ele bebe um gole generoso da sua bebida em seguida respira fundo. Da para ver que ele está cansado e bem estressado, estou curioso sobre o que o deixou assim, mas sinto que devo dar espaço para que ele me fale o que aconteceu quando se sentir pronto, depois de mais um tempo em silêncio ele finalmente começa a falar.
— Cara, não sei mais o que fazer.
— Ainda aquele lance com a sua mãe?
— Pior, Sexta tivemos nossa primeira reunião para ver se saia um acordo do processo acredita? — Não colocava fé que ela fosse mesmo seguir com o processo, que filha da mãe — Ela quer basicamente vender o apartamento e o carro e dividir o dinheiro igualmente.
— E a casa dela lá em Messejana?
— A casa ela quer manter pois precisa de um lugar para morar — dá para ver a raiva em cada palavra da sua sentença.
— E vocês?
— Bem ela disse que se eu quiser posso ir morar com ela, mas que não faz sentido manter o apartamento.
— Mas cara, eles não tinham se separado? Tipo ela está metendo o louco mesmo? — Não consigo acreditar que uma mãe queira deixar o proprio filho sem teto.
— Macho essa mulher é louca! Ela diz que deu a vida todo para cuidar do meu pai, beleza ela realmente se esforçou para caralho, mas porra o pai deixou a casa para ela, fora a grana dele que ficou bem dizer toda para ela na separação, mas como foi tudo de boca ela esta se passando agora, velho você tinha que ver ela mentindo na cara dura!
— Mas você não consegue provar que eles já não estavam mais juntos? — Deve existir alguma forma de resolver isso.
— Pois é, eu argumentei a compra do apartamento, só que o advogado dela disse que eles compraram esse apartamento porque fica mais perto do hospital que meu pai era atendido.
— Mano, e sua família?
— Estão do lado dela, o que foi pior, ela tem varias testemunhas mentindo pra ajudar ela só porque não concordam com o que meu pai fez, tipo ele só se separou dela, caralho que crime foi esse que ele cometeu, ela ficou com tudo mano, tivemos que cortar um dobrado para pagar a porra do apartamento para que ela venha e queira metade de tudo que meu pai deixou para mim, desonrando a imagem e lembrança dele assim velho? — Seus olhos se enchem de lagrimas, deve ser foda passar pelo luto e ainda ter que brigar por conta de herança.
— Porra Guigo, mas e ai cara o que o advogado disse?
— Macho ele disse que o caso é muito complicado, porque ela tem a família como testemunha e tem muita coisa que fortalece a teoria dela se liga, mas estamos tentando provar que eles não estavam mais juntos a muito tempo e que também o que tinha para ser dividido já foi.
— E o Raylan?
— Está em casa, eu precisava de um tempo, eu amo meu ele Ciço, mas eu te juro o Raylan consegue ser muito insuportavel as vezes — parece um desabafo — a gente está bem, só que a minha sogra consegue ser pior que a minha mãe e isso está deixando ele muito, mas muito estressado.
— Nossa cara.
— Ciço a mulher não dá um descanso, ela agora liga todos os dias para ele e ele fica possesso, só que eu preciso ser o que fica com a cabeça no lugar em casa, mas não quero ser a rocha, quero ser o cara que manda a própria mãe se fuder aos gritos no telefone! Caralho! — Sua voz se exalta um pouco, então ele volta ao normal — Eu só quero surtar também, mas eu não posso, o Raylan surtado já é o bastante para nós dois.
— Acho que vocês precisam de uma folga amigo.
— Eu tenho certeza!
Em pouco tempo a cerveja foi secando e já pedimos outra.
— Agora que pensei, o carnaval passou e nem fizemos nada — digo só me dando conta agora de que o meu carnaval esse ano foi quase que esquecido.
— Nem me fala, estou tão cansado que quando não estou trabalhando estou dormindo, quando penso no meu pai perco a vontade de fazer qualquer coisa — seus olhos lacrimejam de novo.
— Ei Guigo, estou aqui com você e olha mesmo sendo um pé no saco o Raylan também está com você.
— Eu sei, só que eu queria por um fim de semana que fosse pelo menos não ter que pensar nem no meu pai e nem na minha mãe!
— Isso eu posso fazer — digo tendo uma ideia.
— O que você está falando?
— E se a gente fizer uma festa, muita cachaça, som alto e um monte de gente fazendo merda!
— E onde seria essa festa? — Ele não descarta de imediato.
— Uma casa de praia, a gente vai curtir só a gente e marca uma resenha com geral a noite, assim podemos aproveitar a casa e ainda curtir loucamente! — Estou me empolgando com a ideia — Podemos chamar de carnaval atrasado? — O que me diz?
— Não sei Ciço, estamos ruins de grana, com nossa casa ameaçada, podemos ter que nos mudar a qualquer momento — ele quer aceitar mais está relutante por conta dos problemas com a mãe.
— Faz o seguinte: sua tarefa é só convencer o Raylan e deixa o resto comigo, eu posso alugar a casa, e a gente vê só a comida, pra festa é só avisar para levarem bebida e você vai ver que ainda vai sobrar cachaça no outro dia.
Só de planejarmos a festa já parece surtir efeito, Guigo parece mais leve e um pouco mais animado do que quando o encontrei mais cedo. Enquanto conversamos, saquei meu celular e procuramos juntos algumas opções de casa para alugar, meu novo estilo de vida tem me permitido economizar bem meu dinheiro, também acho que o Dan concordaria que é um bom investimento, afinal meus amigos precisam disso e eu meio que preciso também.
Não demorou muito para encontrarmos uma casa ótima no Cumbuco, com três quartos, sala e cozinha amplas, um deck com churrasqueira e bastante espaço no terreno. Antes de fazer a reserva, confirmo com Dan se tudo bem — já que quero evitar brigas desnecessárias com ele e também por puro hábito de consultá-lo antes de gastar muito dinheiro — ele nem demorou para me responder.
— Ótimo, tenho o ok do meu gerente barra namorado, agora é só esperar e se organizar — faço a reserva para não perdermos a data, pela localização e as avaliações no site essa é uma dessas casas bastante procuradas.
— Só espero que o Raylan não coloque dificuldades — Guigo curtiu bem mais a ideia do que pensei, isso é ótimo, ele merece ter um pouco de paz dentro desse inferno que está vivendo.
— A gente faz ele aceitar, qualquer coisa o Dan liga para ele, você sabe que o Raylan não consegue dizer não pra ele — rimos, pois esses dois foram de arqui rivais para irmãos inseparáveis.
— E sobre a lista de convidados? — Só falta isso no nosso planejamento.
— Bem, você, o Raylan, eu, você quer chamar a Bia?
— Pode ser, não sei se ela vai poder, mas seria bom chamar, faz tempo que não vejo ela, acho que a última vez foi no velório — Guigo diz pensativo.
— Ela ainda está solteira?
— Está sim, quem fala muito com ela é o Ray, ela está trabalhando na mesma escola que ele — isso eu não sabia — e o Rick, será que ele viria?
— Podemos chamar, mas o fim de semana é complicado por causa do bar — queria muito que ele viesse, mas também em cima da hora é complicado para ele se organizar, de qualquer forma colocamos ele na lista também — e aí mais alguém que você queira chamar para social?
— Da minha parte não — Guigo e Raylan precisam mesmo sair mais de casa.
— Você se importa se eu chamar meus amigos da faculdade, eles são legais, eu juro, um deles até queria vir hoje, mas imaginei que você iria querer conversar.
— Podia ter chamado, mas agradeço que tenho pensado em mim — Guigo é um otimo amigo e uma pessoa foda também, não merece passar por esse dor de cabeça — sobre a casa de praia pode chamar, então ficaram quantas pessoas?
— Bem, para passar o fim de semana então vai ter nós três, mais quatro da faculdade, a Bia e o Rick, se ele for vir acho que o Chico não vem, um deles pelo menos tem que ficar por lá.
— Entendi, acho que dá bom então, e aí para festa a gente faz sabado a noite e abre pra galera toda?
— Pode ser, vai dá bom — agora também estou animado para essa casa de praia, já estava me achando muito tiozão nessa minha nova fase santinho.