O Sabor De Uma Doce Vingança! Cap.16 Segunda Temporada

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 1801 palavras
Data: 02/08/2025 14:17:17
Assuntos: Gay

Acordei antes mesmo do sol dar o ar da graça. O mundo ainda estava mergulhado em sombras azuladas, e a única coisa que me despertava de verdade era o silêncio. Um silêncio novo, profundo, que só o campo podia oferecer. Não tinha buzina, não tinha vizinho brigando, não tinha cidade me sufocando. Só o som da minha respiração enquanto colocava o tênis e dava play em Adele — como sempre.

“All I Ask” começou baixinha nos fones, mas logo preencheu todo o espaço dentro de mim. Saí pela porta dos fundos da nova casa, sentindo o cheiro da terra molhada, da grama recém-acordada, do orvalho que escorria pelos galhos. A trilha de barro se estendia à frente como se me convidasse a ir, correr, sumir.

E eu corri. Corri porque precisava. Porque a mente não calava.

Thales.

O nome dele era uma mancha que eu não conseguia apagar da memória. A última vez que ele foi visto foi pela Jéssica!

Eu queria acabar com ele. Com todo o mal que ele causou, todas as vezes que me jogou no fundo do poço, me humilhou, me machucou. Mas eu… eu não consegui.Só sei que quando olhei nos olhos dele, havia medo. E talvez ali ele tenha percebido que eu era capaz. E então ele fugiu de um jeito impressionante!

O vento frio batia no meu rosto enquanto eu acelerava o passo. A cada corrida, parecia que eu tentava apagar as pegadas daquilo que fiz.

E então, como um corte no peito, vieram eles na memória: Bernardo e Pietro.

Dois caras . Duas almas. Dois cúmplices. Eu os contratei com a promessa de justiça. Queria que dessem um jeito em Mateus, aquele desgraçado, aquele monstro. O plano era simples: pressionar, expor, assustar ... Nada além disso. Mas Mateus… ele foi além. Muito além.

Mateus matou os dois.

Sim, Bernardo e Pietro estão mortos por minha causa. Por algo que eu comecei. E às vezes, mesmo tentando fingir que a culpa é dele, lá no fundo... eu sei que também é minha.

O caminho se abriu para o riacho, aquele fio de água cristalina que cruzava a trilha como uma cicatriz na pele da terra. Parei. O coração disparado. Os olhos ardiam. Me agachei, joguei água no rosto e respirei fundo.

E aí pensei nele de novo!

Mateus.

Ele já foi meu tormento. Meu desejo. Meu trauma. Meu caos. Hoje, ele é só um vazio cheio de ódio. Eu o odeio. O desprezo. Mas há dias em que acordo e me pergunto se ele ainda se lembra dos meus olhos como eu lembro dos dele.

Ele se tornou algo pior do que eu poderia imaginar. Um predador silencioso, manipulador, covarde. Alguém que não sente. Que não para. Que elimina qualquer ameaça. Eu o vi mentir, seduzir, matar... e depois fingir que nada aconteceu. Como se nada tivesse valor pra ele.

Mas ali, de pé, olhando meu próprio reflexo na água, uma coisa me atingiu como um soco no estômago.

"Será que eu sou tão diferente?"

Eu fiquei parado por alguns minutos, com o corpo tremendo, e o pensamento me engolindo.

Ali estava eu, julgando Mateus. Pensando em como ele se tornou desprezível.

Mas… e eu?

"Quem tentou matar Thales?"

"Quem armou contra Mateus e resultou na morte de dois caras que confiavam em mim?"

"Quem foi se afundando nesse plano de vingança achando que tudo ia fazer sentido no final?"

Era eu.

Eu.

Talvez o monstro que eu tanto odiava estivesse mais perto do que eu pensava. Talvez ele estivesse em mim. Dentro de mim. Me moldando, dia após dia, com cada escolha errada que eu fiz.

Voltei a correr, mas agora não era pra fugir dos outros. Era pra tentar fugir de mim mesmo!

Voltei da corrida ainda com o peito apertado, a mente fervilhando e os músculos cansados. O céu já estava completamente claro, e o calor começava a tocar a pele com mais força. Enquanto me aproximava da frente da casa, notei uma silhueta parada me observando.

Era o Flávio.

De braços cruzados, com aquela expressão entre séria e curiosa que ele sempre faz quando está tentando decifrar alguma coisa.

— Bom dia —ele disse, assim que me viu me aproximando, abrindo um sorriso leve. — O jardim tá ficando bonito, viu?

Olhei pro canteiro improvisado, com as mudas que eu tinha começado a organizar no dia anterior. Nada muito elaborado, mas já dava outro ar pra casa.

— Comecei a mexer nele ontem — respondi, limpando o suor da testa com a camiseta. — Tô tentando dar um jeito aqui fora. A bagunça de dentro já é o suficiente.

— Tá funcionando — ele disse, caminhando devagar — Essa casa tá começando a parecer um lar.

Fiquei sem resposta por um instante. Lar. Aquela palavra ainda pesava dentro de mim.

— Entra aí — falei, tentando cortar o silêncio que ameaçava nascer entre nós. — Vou fazer um café. Cê aceita?

— Sempre.

Entramos. A cozinha ainda tinha cheiro de tinta nova e madeira. A chaleira logo começou a chiar, e o som do café sendo passado preencheu o ambiente. Eu me concentrava nos gestos simples — água, pó, açúcar — como se pudesse controlar o caos da cabeça colocando ordem nas mãos.

Quando coloquei a caneca na frente dele e me sentei, o silêncio voltou. Mas dessa vez, Flávio o quebrou.

— Pedro, eu não te entendo.

Levantei os olhos, surpreso. Ele estava com as mãos envoltas na caneca, mas o olhar fixo em mim.

— Às vezes você parece… presente. Quase entregue. Dá sinais de que quer algo, de que sente algo. Mas de repente vira outra pessoa. Frio. Distante. Fechado. Como se eu tivesse feito alguma coisa errada. Mas eu sei que não fiz.

Suspirei. Era difícil ouvir aquilo, porque ele estava certo.

— Não é culpa sua — falei baixo, quase como um pedido de desculpas. — É só... meu jeito. Eu sou assim. Complicado. Cheio de coisa entalada aqui dentro. Mas eu gosto de você, Flávio. Gosto mesmo.

Ele esperou. Quase como se quisesse ouvir outra coisa.

— Mas não a ponto de… namorar. Não agora. Eu não conseguiria. Não do jeito que tô.

Vi nos olhos dele a tentativa de entender. De aceitar. De não deixar transparecer a decepção que provavelmente sentia. Mas, em vez de recuar, ele se levantou.

Deu a volta na mesa com calma e parou diante de mim, me encurralando na bancada da cozinha. A respiração dele estava próxima da minha. O olhar, mais firme do que nunca.

— Eu posso te ajudar, Pedro.

— Ajudar a enfrentar esses problemas. Esses demônios que te assombram. Você não precisa carregar tudo sozinho. Não precisa se isolar de quem quer estar perto.

Por um momento, fiquei imóvel. Uma parte de mim quis dizer sim. Quis ceder. Quis ser amparado.

Mas não.

Me soltei devagar, colocando espaço entre nós. Encarei ele nos olhos, tentando ser o mais honesto possível.

— Mas nesse momento, Flávio, a melhor escolha sou eu… sozinho.

— Não porque você não seja bom pra mim, mas porque eu ainda sou ruim pra qualquer um. Eu ainda tô tentando entender o que sobrou de mim. E não é justo te arrastar pra isso.

Ele baixou os olhos por um instante, respirou fundo e depois assentiu.

— Tá.

— Eu vou tentar conviver com isso — disse, sem rancor na voz, mas com algo parecido com tristeza. — Só... não demora demais pra descobrir se esse caminho solitário vai te levar a algum lugar. Porque às vezes, ele só leva a um buraco mais fundo.

A tarde escorria preguiçosa pela sala, como se o tempo tivesse decidido tirar um cochilo junto com a gente. Tínhamos ficado a manhã toda conversando, Flávio havia fechado a loja hoje!

A televisão passava algum filme aleatório — desses que a gente já viu mil vezes, mas continua assistindo só pelo conforto. Eu e Flávio estávamos jogados no sofá, conversando amenidades, rindo de comentários bobos sobre o roteiro, os atores, e principalmente sobre como ninguém naquele filme conseguia correr direito.

O cheiro do pão que eu tinha colocado no forno já começava a tomar conta da casa. Era uma receita simples, dessas que aprendi fuçando vídeos durante a pandemia, mas que sempre me dava alguma sensação de controle. Amassar, esperar crescer, assar… pelo menos aquilo eu conseguia fazer direito.

Flávio estava só de bermuda e com o cabelo meio bagunçado — e, claro, sem camisa, como sempre fazia questão de ficar quando estava à vontade aqui. A luz da tarde batia no peito dele, e confesso que por um segundo me peguei observando, antes de lembrar que eu mesmo que disse que não podia me envolver.

Levantei pra checar o forno e fui até a cozinha. O timer já apitava baixinho, e o cheiro do pão era tudo de bom. Me abaixei, desliguei o forno, e naquele exato momento ouvi batidas na porta.

Duas. Secas. Diretas.

Logo em seguida, a voz de Flávio:

— Já vou!

E então, segundos depois, uma outra voz.

Firme. Fria.

— Cadê o Pedro?

Congelou tudo em mim. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

Arthur.

Levantei num pulo e fui pra sala com o coração martelando no peito. Quando virei o corredor, lá estava ele. De farda. Braços cruzados. Firme na porta como um aviso de que nada seria tranquilo dali pra frente.

O olhar dele foi direto pra mim, mas antes passou por Flávio, que ainda estava sem camisa, e só então voltou pra mim com um certo veneno no canto da boca.

— Ah... então é isso — ele disse, com um tom debochado que doeu mais do que qualquer grito. — Vim aqui pra conversar, mas pelo visto você tá ocupado demais.

Engoli seco.

— Arthur… que que tá acontecendo?

Ele deu um meio sorriso, frio.

— Relaxa. Nada urgente. Só passa na delegacia depois. A gente precisa conversar. Oficialmente.

Ficou um silêncio na sala. Flávio encostou-se na parede, meio desconfortável. Eu senti o cheiro do pão invadando o ambiente, como se fosse irônico que justo naquele momento algo tão simples e bom estivesse pronto — enquanto o resto da minha vida ameaçava ruir pela porta da frente.

— Tá, eu passo lá — respondi.

Arthur só assentiu com a cabeça, com aquela expressão dura, impenetrável. Antes de sair, olhou mais uma vez pra Flávio, depois pra mim, como se estivesse marcando mentalmente a cena. E então virou as costas e foi embora.

Fechei a porta lentamente.

O silêncio voltou, denso.

Flávio ainda estava parado, olhando pra mim, agora com um leve incômodo no rosto.

— Era aquele… Arthur? O policial que agora é delegado?

— Era.

— Ele parecia… puto.

— Ele sempre parece assim quando tá de farda — falei, tentando amenizar. Mas a verdade é que ele tinha visto mais do que queria, e eu sabia que aquilo não ia passar batido.

O cheiro do pão agora parecia pesado.

Tudo parecia.

E eu… não sabia mais se queria pão, filme ou companhia. Só queria entender que merda estava por vir agora.

Continua..

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