A luz da manhã entrava suave pelo estore entreaberto. O quarto estava quente, mas tranquilo. Havia aquele cheiro bom de lençóis com pele, misturado com o perfume doce e morno da Inês.
Júlio abriu os olhos devagar, sentindo o corpo ainda mole do prazer da noite anterior. Estava deitado de lado, nu, com o braço à volta da cintura dela. Inês dormia de costas voltadas para ele, o cabelo espalhado pela almofada, a pele dourada e ainda com marcas da praia e dos dedos dele.
Passou-lhe os lábios pelos ombros, num beijo leve, só para confirmar que aquilo tinha mesmo acontecido. E ela, sem abrir os olhos, sorriu.
— Já estás acordado?
— A ver se não foi um sonho.
— Não foi. Mas parece, não parece?
Ela virou-se e colou-se ao corpo dele. O beijo da manhã foi calmo, cheio de ternura. Mas também com um desejo que não se apagara com o sono.
— Gosto de te ter assim — murmurou ela. — Natural. Inteiro.
— E agora? — perguntou ele, com os olhos presos nos dela. — O que somos?
Ela suspirou, acariciando-lhe o peito.
— Somos o que sempre fomos. Só que agora sem medo de tocar.
Júlio sorriu, mas no fundo algo o inquietava. E não era só o que tinham partilhado. Era o que viria a seguir. O mundo lá fora. Os olhares dos outros. E, claro… Patrícia.
Ao final da tarde, o grupo voltou a juntar-se — casa da Maria desta vez, churrasco no pátio, música a sair de umas colunas pequenas e cervejas a circular entre gargalhadas.
Júlio e Inês chegaram juntos, mas evitaram qualquer gesto que pudesse denunciar demasiado. Mário ainda não dizia nada, mas observava tudo. Patrícia, por outro lado, recebeu-os com um sorriso que era puro fogo.
— Ora, os nossos pombinhos bronzeados — disse ela, piscando o olho a Inês. — Dormiram bem?
— Dormimos — respondeu Inês, com naturalidade. — E tu?
— Sonhei com coisas... cor-de-rosa.
Júlio engoliu em seco.
Mais tarde, enquanto os outros comiam e conversavam, Patrícia sentou-se ao lado de Inês no sofá do pátio. Puxou-a devagar pelo braço, como quem partilha um segredo, e sussurrou-lhe algo ao ouvido.
Júlio, que os observava à distância, viu Inês sorrir… e corar.
Minutos depois, foi a vez de Patrícia o abordar. Encontrou-o sozinho na cozinha, a servir-se de sumo.
— Estás diferente.
— Já me disseste isso.
— Mas agora sei porquê.
Ela aproximou-se, muito perto. O suficiente para que o aroma dela o envolvesse.
— Dormiste com ela.
Júlio ficou imóvel.
— Isso não é da tua conta.
— Não é? — sussurrou ela. — Eu fazia parte dessa história antes de vocês perceberem que era uma história.
Ele olhou-a, sério.
— Queres o quê, Patrícia?
Ela encostou-se ao balcão ao lado dele, os dedos a brincarem com o copo.
— Quero saber se há espaço. Para mais. Para partilhar. Para explorar.
— Explorar o quê?
Ela pousou o copo e virou-se para ele, encostando-se, o corpo quase colado ao dele.
— Tu. A ti. E talvez a ela. Ou só contigo. Não preciso definir.
A mão dela passou-lhe pelo peito, devagar, até parar junto ao estômago.
— Só quero… sentir. E fazer-te sentir.
Júlio agarrou-lhe a mão, travando-a. Mas não a afastou.
— E se eu não conseguir?
— Consegues. Porque já sentiste. Porque queres. Mas tens medo.
Silêncio.
— A Inês sabe que estás a falar-me assim?
— A Inês quer saber o que vais responder.
Ela afastou-se, deixando o toque no ar como perfume. Antes de sair da cozinha, virou-se.
— Quando estiveres pronto… aparece no quarto do andar de cima. Porta entreaberta. Só hoje.
E desapareceu pela casa.
Júlio ficou parado, o coração aos pulos. O corpo reagia como se soubesse que algo ia acontecer. Mas a cabeça gritava perguntas. Estava apaixonado por Inês — disso não havia dúvida. Mas Patrícia… tinha algo de magnético. Sedutor. Irresistível. E Inês sabia. E talvez… aceitasse.
Subiu as escadas devagar. O corredor estava silencioso. Ao fundo, a porta entreaberta.
O quarto estava envolto em penumbra. O único foco de luz vinha do candeeiro de mesa coberto com um lenço vermelho, espalhando sombras quentes pelas paredes. A música soava baixa, melódica, quase um sussurro. O ar cheirava a baunilha e jasmim, e no centro da cama estavam duas figuras femininas, sentadas lado a lado: Inês, com um sorriso doce; Patrícia, com o olhar felino a brilhar.
— Estávamos à tua espera — disse Inês, sorrindo, ao vê-lo entrar.
Patrícia estava sentada na cama. Inês em pé, encostada à cómoda.
— Queres fugir? — perguntou Patrícia.
— Ou queres… desabrochar conosco? — completou Inês, os olhos a brilhar.
Júlio parou à porta, os olhos fixos nas duas.
— Entra — disse Inês, suave. — Fecha a porta contigo.
Ele obedeceu. Cada passo parecia pesar mais que o anterior. O coração batia-lhe na garganta. Estava excitado, nervoso, curioso — e pronto.
Patrícia foi a primeira a falar.
— Hoje queremos conhecer a outra parte de ti. Aquela que está escondida atrás do rapaz tímido… aquela que pintava as unhas e sorria ao espelho.
Inês levantou-se, caminhando até ele com passos lentos, descalça, apenas com uma camisa branca a tapar-lhe o corpo nu por baixo.
— Hoje queremos ver a Juliana.
Ele respirou fundo. As mãos delas agarraram-lhe as suas, puxando-o para o centro do quarto. Os olhos das duas não julgavam. Convidavam.
— Senta-te — disse Patrícia, apontando a cadeira frente ao espelho.
Júlio sentou-se. O espelho era grande, inclinado, e refletia o seu corpo alto, esguio, ainda vestido com calções e uma t-shirt leve.
Inês apareceu ao lado com uma caixa de maquilhagem.
— Posso?
Ele assentiu.
Patrícia, atrás, despejou uma pequena mala sobre a cama: lingerie, um vestido preto justo, collants rendados, e sapatos de salto médio.
— Trouxe coisas para ti. Juliana.
Júlio fechou os olhos. Sentiu o pincel suave nas pálpebras, o toque leve do batom nos lábios. Inês sussurrava-lhe ao ouvido:
— Deixa sair quem sempre esteve cá dentro. Deixa-te ver. Deixa-nos ver-te.
Patrícia foi escolhendo a roupa. A lingerie era delicada, rendada, num tom bordeaux. Quando Júlio — ou Juliana — se levantou, nu da cintura para baixo, Patrícia ajoelhou-se à frente dele e ajudou-o a vestir as cuecas com delicadeza. Os dedos dela roçavam-lhe as coxas, com uma mistura de carinho e provocação.
— Ficas… deliciosa.
Inês trouxe o vestido. Ajudaram-na — agora Juliana — a vesti-lo. O tecido desceu como uma segunda pele, moldando-lhe o corpo. Depois os collants, os saltos. E no final, Juliana olhou-se ao espelho… e sorriu.
Era ela. Finalmente.
— Estás linda — murmurou Inês.
— Estás… provocante — completou Patrícia.
Juliana corou. Mas manteve o olhar no espelho. Sentia-se completa.
Inês beijou-lhe o pescoço. Patrícia desceu as mãos pela curva das ancas. O calor no quarto tornava-se espesso. As três mulheres no espelho eram versões diferentes de um mesmo desejo: amor, fascínio, prazer.
— Deita-te — disse Inês.
Juliana obedeceu.
Elas despiram-se lentamente à sua frente. Os corpos femininos em contraste: a delicadeza de Inês, o poder de Patrícia. Subiram para a cama, rodeando Juliana como pétalas à volta de uma flor.
Os beijos começaram na boca, mas depressa desceram. O corpo de Juliana vibrava. Sentia as mãos a percorrerem-na por baixo do vestido, a abrirem espaço, a tocarem-na por cima da renda.
Patrícia ajoelhou-se entre as pernas dela, enquanto Inês sussurrava:
— Hoje vais sentir-te toda.
As mãos de Patrícia eram seguras. Desceram entre as coxas, tocaram-na com perícia. A excitação de Juliana era visível, latejante. Patrícia lambeu os lábios e sorriu.
— Já estás pronta.
Com um gesto calmo, retirou da gaveta da mesinha uma pequena bisnaga de lubrificante e um brinquedo estreito, discreto. Juliana estremeceu. Inês beijou-lhe o rosto.
— Confia em nós.
Patrícia posicionou-se atrás. Inês ficou à frente, beijando-a, acariciando-lhe os seios por cima da renda. A sensação era esmagadora — uma avalanche de prazer, de aceitação, de calor.
O momento do toque anal foi suave, paciente. Patrícia foi lenta, experiente. O brinquedo deslizou devagar, com cuidado, e Juliana arqueou as costas, entre o susto e o prazer.
— Relaxa — sussurrou Patrícia, com a boca colada ao ouvido dela. — Sente. Aproveita-te.
A pressão tornou-se prazer. O prazer virou gemido. E Juliana perdeu-se.
O corpo estremeceu entre as duas. As pernas tremeram. O orgasmo veio como um sismo interno — lento, depois violento, depois doce. Inês segurou-lhe o rosto. Patrícia agarrou-lhe a anca.
E no final, Juliana chorou.
Mas não de dor. De libertação...