No trote do peão - 16

Um conto erótico de Hollister
Categoria: Gay
Contém 3913 palavras
Data: 11/08/2025 19:22:00
Assuntos: Amor, Fazenda, Gay, peão, Romance

Ele me puxou pela cintura sem aviso, e eu já sabia o que viria. Nosso beijo foi direto, sem cerimônia — quente, úmido, carregado de saudade. Um beijo que não se dá todo dia. Suas mãos, firmes, foram parar exatamente onde ele gostava: na minha bunda, apertando com gosto, como quem reencontra algo que é só seu.

— Tava morrendo de saudade, sabia? — ele disse entre um beijo e outro, com os lábios roçando nos meus.

Eu sorri, ainda colado nele.

— E já vou avisando... quero algo bem gostoso pra comer.

— Vim pra isso — respondi, mordendo de leve o canto da boca dele. — Alimentar meu namorado guloso.

A gente riu baixinho, entre beijos e provocações. Estar com Francisco de novo era como respirar fundo depois de dias afogado. E mesmo rindo, eu sentia aquele nó na garganta, aquele medo bobo de tudo ainda ser um sonho.

Foi então que ouvimos um pigarro.

Viramos quase ao mesmo tempo. Lá estava Breno, de braços cruzados, como quem esperava mais do que apenas atenção.

— Detesto interromper — disse ele, com uma falsa gentileza. — Mas preciso voltar à cidade. A fábrica exige. Segunda-feira tô de volta.

Olhou direto pra mim, com um sorriso enviesado. — Foi um prazer te conhecer, Samuel. Caso a gente não se veja mais... bom retorno.

Aquela última frase veio carregada de intenção. Mas eu não estava disposto a engolir seco.

— Eu que agradeço — respondi, ainda com os braços ao redor de Francisco. — Mas não vim até aqui pra ficar só um dia.

Parei de propósito, só pra ver a sobrancelha dele subir.

— Vim pra dar ao meu noivo o que ele precisa. E vou ficar por um bom tempo.

Francisco segurou o riso, mas o brilho nos olhos dele entregava tudo. Ele adorava me ver assim, incisivo, debochado, defendendo o que era nosso — o que ele nunca teve coragem de pedir, mas agora não precisava mais.

Breno só assentiu com a cabeça, manteve o sorriso educado e se afastou, com o som do carro ligando logo em seguida.

Ficamos ali, olhando um pro outro.

— Tá me dando um orgulho danado, sabia? — ele disse, me puxando de volta.

— Só tô começando, amor — murmurei, antes de beijá-lo de novo, como se o dia todo fosse nosso.

E era.

A cozinha grande da casa principal já estava cheia quando eu e Francisco chegamos. O cheiro de pão de queijo assando, café fresco e bolo de fubá se misturava ao da madeira aquecida pelo sol da manhã. As vozes vinham da mesa: Bárbara, Elisa e Lucas já estavam sentados, rindo de alguma coisa que provavelmente não entenderíamos nem se perguntássemos.

Francisco desacelerou os passos assim que viu Lucas. Notei na hora o jeito como a expressão dele mudou: o maxilar travado, os olhos mais estreitos. Ele tentou disfarçar, ajeitou o cabelo, deu um leve “bom dia” que soou mais como um “tanto faz”, e sentou-se ao meu lado sem dizer mais nada.

Lucas respondeu com um sorriso polido e voltou a beber seu café, mas a tensão ficou ali, parada entre os três.

Eu sabia que aquilo precisava ser resolvido. E quanto antes, melhor.

Aproveitei uma pausa na conversa da mesa e anunciei, como quem diz que vai pegar um guardanapo:

— Francisco, Lucas... vem cá comigo um minutinho? Vamos conversar ali na sala rapidinho.

Lucas me olhou com um leve arqueamento de sobrancelha, mas se levantou sem questionar. Francisco demorou um segundo, como se já soubesse do que se tratava, e veio logo atrás.

A sala ainda estava silenciosa e fria, as janelas entreabertas deixando entrar o ar da manhã. Nos sentamos: eu no sofá do meio, Francisco na poltrona de couro e Lucas no canto, perto da janela.

Respirei fundo antes de começar.

— Eu queria que a gente deixasse tudo claro hoje. Sem ruído, sem clima estranho no café, nem depois.

Francisco cruzou os braços, encarando Lucas com a mesma expressão fechada de antes.

— Tô ouvindo.

Lucas olhou pra mim, depois pra ele, e suspirou.

— Tá bem. Eu vou ser direto — começou, ajeitando o corpo na cadeira. — Eu sei que pareço provocativo. E fui mesmo. Talvez até demais. Mas a intenção nunca foi… tomar o lugar de ninguém.

Francisco não respondeu, mas também não desviou o olhar.

— Eu só queria ver até onde você tava disposto a ir pra fazer o Samuel feliz. Só isso. — Lucas deu um meio sorriso. — A verdade é que o meu desejo… tem outro nome.

A reação foi imediata.

Francisco soltou o ar com um riso breve e aliviado, e a carranca se desfez num segundo. O clima mudou como vento em fim de tarde.

— Bom saber — ele disse, balançando a cabeça, com um meio sorriso no rosto. — Já tava ficando com raiva do menino à toa.

Fez uma pausa, me olhou de canto e completou:

— Fico feliz que não olhe pro Samuel com esses olhos. E mais ainda se você e Rafael derem certo.

Lucas arqueou as sobrancelhas, surpreso.

— Espera… como você sabe que é o Rafael?

Francisco deu de ombros, como se fosse óbvio.

— Ele tá tão interessado quanto você. Só não sabe esconder.

Sorriu com malícia. — E vocês dois têm um fogo parecido. Vai dar trabalho, mas vai dar certo.

Lucas corou. Pela primeira vez, parecia sem resposta. Apenas estendeu a mão.

— Então... paz?

— Paz. — Francisco apertou, firme, mas com leveza.

Eu sorri ali mesmo, aliviado como se alguém tivesse aberto uma janela num quarto abafado. A tensão evaporou. Voltamos juntos pra cozinha.

Assim que entramos, Bárbara nos olhou com aquele olhar de quem não perde uma fofoca por nada.

— Resolveram o triângulo? — perguntou, com um sorriso travesso.

— Resolvemos — disse Francisco, já mais leve. Se serviu de café, tomou um gole e então olhou direto pra mim, com aquele brilho provocador nos olhos. — Mas quem tá enciumado aqui é o Samuel… me chamando de noivo só porque viu o Breno perto de mim.

A gargalhada foi geral. Bárbara quase cuspiu o pão, Elisa escondeu o rosto atrás da xícara e Lucas soltou um "Eita" debochado.

— Não vem com essa— respondi, tentando manter a pose. — Se eu sou o ciumento, é porque você me treinou muito bem. Ele que não se meta com o que é meu.

Bárbara bateu palmas.

— E com isso, a novela da fazenda ganha mais um capítulo. Fica pra depois do almoço!

O sol já começava a esquentar de verdade quando subimos pro quarto. A luz entrava pelas frestas da janela, formando faixas douradas que cortavam o piso de madeira. O calor começava a se instalar, abafando o ar e deixando tudo mais lento, mais preguiçoso. Típico daquela hora da manhã na fazenda, quando até o vento parece tirar um descanso.

Começamos a nos trocar, preparando as coisas pra levar Elisa e Lucas até o rio. Eu me abaixava perto da mala aberta, revirando entre toalhas, protetor solar e uma sunga azul que eu sabia que estava ali em algum lugar. Francisco tirava a camiseta ao meu lado, jogando-a no encosto da cadeira com a despreocupação de quem se sente dono daquele espaço.

— Então é isso mesmo? — ele perguntou de repente, a voz já mais rouca que o normal. — Vai se instalar aqui de vez?

Me virei e encontrei o olhar dele fixo na minha mala, encostada num canto do quarto, já meio desarrumada, com minhas coisas misturadas às dele.

— Vai dormir comigo aqui, todas as noites?

— Esse é o plano — respondi, erguendo a sobrancelha. — Algum problema?

Ele deu um passo em minha direção, com aquele sorrisinho de canto que eu conhecia bem.

— Só quero saber se você tem certeza. Porque... você sabe o quão perigoso vai ser, né?

— Perigoso?

— Eu vivo com tesão, Samuel. Principalmente quando você tá por perto. — Ele passou a mão pela própria nuca, simulando inocência. — Não me responsabilizo se a gente acordar atrasado todo dia.

Sorri, sentindo um calor que não vinha só do sol.

— Na verdade... tô bem ansioso por esse tipo de perigo.

Virei de volta pra mala, puxei a sunga e comecei a tirar a roupa ali mesmo. Já não havia mais pudores entre a gente. Nem hesitação. A roupa foi caindo no chão como se não tivesse mais função.

E antes que eu pudesse vestir a sunga, senti o corpo de Francisco colando no meu. Ele estava nu também. A pele quente contra a minha, as mãos firmes me envolvendo pela cintura.

— A gente tem cinco minutos, né? — ele sussurrou no meu ouvido, a respiração pesada me fazendo arrepiar. — Só cinco minutinhos... ninguém vai perceber.

— Você disse isso da última vez. E a gente ficou quase uma hora no celeiro.

— E foi bom, não foi?

Assenti, rindo baixo, sentindo os lábios dele começarem a explorar minha nuca, descendo devagar pelas minhas costas. Meu corpo reagia como se tivesse esperando exatamente aquilo desde que cheguei.

— O rio pode esperar — ele murmurou, a voz quase uma promessa.

Fechei os olhos por um instante, me deixando afundar na sensação daquele momento. Estar com ele, de novo, por inteiro, sem barreiras, sem interrupções... era tudo que eu precisava.

E naquele quarto abafado, com o sol queimando as tábuas do chão, começamos a atrasar o dia — juntos, do jeito mais perigoso e delicioso possível.

E ele não pegou leve. Francisco cuspiu no meu cuzinho — comigo de quatro na cama — e em seguida colocou seu pau na entrada, estava babando. Ele forçou a entrada, me fazendo gemer com a cara enfiada no travesseiro.

Ele bombou forte, uma das suas pernas estava apoiada na cama, seu pau estava indo ainda mais fundo. Foi intenso, rápido e gostoso. Meu cu estava cheio de leite que ele não deixou eu tirar.

Me fez vestir a sunga enquanto ele secava o suor do rosto. Francisco me olhou com um sorriso lindo, abriu a gaveta ao lado da cama e pegou um pote de lubrificante intacto.

— pra que isso?

— esse foi o aperitivo. Eu com certeza vou estar com vontade daqui a meia hora. Coloca na bolsa que você usa de lado, vamos precisar — me beijou.

Quando finalmente descemos, o sol já estava alto o suficiente pra iluminar todo o corredor da casa. Eu ajeitava o cabelo com uma das mãos e segurava a toalha com a outra, enquanto Francisco descia os degraus logo atrás de mim, com aquele ar de quem não deve nada a ninguém — e claramente satisfeito demais pra disfarçar.

Assim que dobramos o corredor em direção à sala, vimos os três sentados no sofá, já de saída: Elisa, com a mochila nas costas; Lucas, com a garrafinha de água em mãos; e Bárbara, com óculos escuros na cabeça e as pernas cruzadas, como quem estava ali há tempo suficiente pra perder a paciência e refazer as unhas.

— Olha só quem resolveu aparecer — ela disse, sem nem levantar. — Achei que vocês tinham desmaiado de insolação lá em cima.

— Tava calor mesmo — Francisco respondeu, seco, mas com aquele meio sorriso debochado.

— Calor? — Bárbara ergueu uma sobrancelha, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Vocês dois parecem dois coelhos no cio!

Fez uma pausa dramática. — Vinte e oito minutos! Eu contei. Deu tempo do bolo esfriar, do Lucas quase desistir de ir, e da Elisa trocar de roupa três vezes.

Elisa riu, confirmando com a cabeça.

— É verdade. Eu tava com maiô, mudei pra biquíni e depois coloquei short. A essa altura já podia até ter ido e voltado do rio.

Lucas deu um gole na água, tentando não rir, mas claramente se divertindo.

Eu olhei pra Francisco, e ele só deu de ombros, como se não tivesse absolutamente nada a esconder.

— Ué — eu disse, tentando manter a compostura. — A gente teve que... revisar o protetor solar.

— Revisar. — Bárbara fez aspas no ar, rindo. — Vocês são descarados. É isso que vocês são.

— Vocês é que são apressados — rebateu Francisco. — A gente só aproveitou o tempo que tinha. Com qualidade.

— Isso eu não duvido — murmurou Lucas, abrindo a porta, agora com um sorriso mais leve. O clima entre ele e Francisco já não era o mesmo de antes. Havia um entendimento silencioso ali. Uma trégua confortável.

Já estávamos quase todos acomodados na caminhonete quando Lucas, do banco de trás, se inclinou um pouco pra frente e soltou, com aquele jeito irônico e despretensioso dele:

— Aliás... eu subi pra chamar vocês, viu? Quando vi que tinham sumido, pensei “vou lá ver se estão vivos”.

Francisco e eu nos entreolhamos, meio tensos, já imaginando onde aquilo ia dar.

— Só que quando cheguei no corredor... — ele continuou, saboreando as palavras — ouvi uns gemidos... uns tapas bem emocionados... e um som que, sinceramente, todo mundo aqui conhece muito bem.

Elisa arregalou os olhos e tapou a boca com a mão, tentando esconder o riso. Bárbara se jogou no banco, teatral como sempre.

— Samuel... desse jeito, meu filho, você vai ficar sem as pregas a qualquer momento!

Todo mundo caiu na gargalhada.

Até Francisco riu alto, batendo a mão no volante. Eu só consegui balançar a cabeça, rindo também, sem nem tentar me defender.

— Vocês não valem nada — comentei, me abanando com a toalha. — Agora que vocês já se divertiram às minhas custas... bora logo, antes que esse calor me faça derreter de verdade.

— Derreter? — Bárbara falou, ainda rindo. — Depois de tudo que a gente ouviu, tu deve é estar fervendo por dentro, querido!

— Bora, gente! — eu insisti, abrindo o vidro. — Quem falar mais uma gracinha vai ter que voltar a pé!

Francisco me olhou com aquele sorrisinho de canto.

— Vai ser difícil eles superarem o que rolou lá em cima.

— Cala a boca, Francisco.

— Eita. Tá sensível, amor?

— Eu tô com vontade de te afogar no rio, isso sim.

Eles continuaram rindo. E eu também. Porque, no fim, fazia parte — da gente, da amizade, da intimidade que eu sempre quis viver com verdade. E agora, finalmente, estava vivendo.

O caminho até o rio era como eu lembrava: ladeado por árvores altas, o som das cigarras se misturando ao das folhas que dançavam com a brisa quente. Mas, ver os olhos de Elisa e Lucas brilhando diante daquela imensidão fazia tudo parecer ainda mais bonito. A cada curva do rio, a cada pedra coberta de musgo, eles paravam, comentavam, fotografavam.

— Gente… isso aqui é surreal — disse Elisa, agachando-se perto da água. — E essa fazenda… quantos hectares tem mesmo?

— Mais do que você consegue imaginar — respondeu Francisco, rindo, enquanto jogava a toalha numa pedra grande.

— E essa história de cabana do outro lado do rio? — perguntou Lucas, de olhos arregalados. — É verdade ou é lenda?

— É verdade sim — respondeu Francisco, fingindo mistério. — Uma cabana linda. Boa pra passar a noite. Boa pra... aproximar pessoas.

Virou-se para mim, com um sorriso de canto. — Acho que vou pedir pro Rafael te mostrar ela depois. Ele conhece bem.

Todos riram.

Pouco mais de meia hora depois, ouvimos um assovio vindo da trilha. Era o Diego, suado e sorrindo, carregando uma mochila nas costas. Bárbara correu até ele antes que alguém pudesse reagir, pulou no pescoço do homem e o beijou sem cerimônia.

— Tava com saudade do meu peão! — ela exclamou, já agarrada nele.

— Achei que vocês iam me esquecer aqui! — ele disse, rindo.

O resto da manhã foi leve e delicioso. Nadamos, rimos, provocamos uns aos outros. Lucas escorregou na pedra e quase levou Elisa junto. Bárbara e Diego discutiam em tom de brincadeira sobre quem nadava melhor. Francisco mergulhava em silêncio, mas sempre me lançando olhares intensos de tempos em tempos. Eu sabia o que vinha.

Perto das duas da tarde, com todos distraídos, deitados nas pedras ou rindo de alguma piada que Lucas fazia, Francisco se aproximou de mim. Não disse nada. Apenas tocou minha mão com a dele, e eu entendi.

Nos afastamos pela trilha lateral, ainda úmida de orvalho embaixo das árvores mais altas. O mato era denso, mas conhecido por ele. O caminho até a cabana foi rápido. Francisco tirou a corrente do pescoço e, pendurada nela, estava a chave da porta. Ele a ergueu com um sorrisinho, como quem revela um segredo íntimo.

Entramos. O interior da cabana estava fresco, com cheiro de madeira antiga e eucalipto. Nem pensei em admirar a decoração. Fomos direto pro sofá de couro escuro, largo, gastado, confortável demais.

Beijei seu pescoço, descendo até o peito molhado ainda da água do rio. Francisco se deitou e me puxou pra cima dele, e, no silêncio quente da tarde, com o vento lá fora e o coração batendo acelerado, nos entregamos um ao outro mais uma vez. A água do rio ainda fria na pele contrastava com o calor que crescia entre nossos corpos.

Depois, ainda nu, deitado sobre ele, com a respiração mais calma e a cabeça encostada no peito dele, murmurei:

— Você não percebeu que o Breno tá dando em cima de você?

Francisco riu, a mão desenhando círculos nas minhas costas.

— Percebi sim. Mas sempre tratei ele com educação. Deixei claro que tô comprometido. Que é só trabalho. Nada mais.

— Mesmo assim… — falei, levantando um pouco o rosto. — Vou ficar de olho, até ele entender o recado.

Ele me olhou com ternura e algo mais.

— E se a gente mudasse esse status? De namorado pra noivo, talvez?

Eu respirei fundo. Aquilo me pegou desprevenido.

— Francisco… eu te amo. E muito. Mas tudo ainda é meio recente. Não quero correr, sabe?

— Eu sei — ele respondeu. — Mas não quero esconder o que sinto. E quero viver tudo com você. Do seu lado.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. O calor da tarde, o cheiro dele, o gosto da sua pele ainda na minha boca…

— Tá bom — falei, baixinho. — Eu topo. Vamos ser noivos. Mas sem pressa com casamento.

Ele sorriu, aquele sorriso largo e tranquilo que só ele tinha.

— Pra mim já tá ótimo. O resto a gente constrói.

Nos beijamos. E ali, naquela cabana, entre madeira antiga e promessas novas, senti que algo dentro de mim havia mudado pra sempre.

Quando voltamos pro rio, já passava das três. Elisa olhou primeiro, depois Bárbara, e foi ela quem abriu o jogo:

— Olha quem voltou! Mais leves, mais soltos… mais transados, né?

As risadas vieram em coro. Eu só ergui os braços.

— O que posso dizer? O amor me move.

***

Mais tarde, ao voltarmos pra casa, vimos Rafael sentado na varanda. Ele levantou quando nos viu, os olhos pousando direto em Lucas. O sorriso que ele deu foi inconfundível.

Rafael cumprimentou a mim, as meninas, Francisco — e então parou diante de Lucas. Olhos nos olhos. Nenhum dos dois desviou. O silêncio durou pouco, o suficiente pra fazer o coração acelerar por antecipação. E então Rafael simplesmente se inclinou e deu um selinho nele. Sem cerimônia, sem rodeios. Natural como respirar.

Lucas arqueou uma sobrancelha, sorrindo com aquele jeito debochado que ele domina com perfeição.

— Ué... Achei que você iria ligar — ele provocou, cruzando os braços e dando um passo mais perto.

Rafael deu de ombros, com aquele charme de menino mimado que sempre conseguiu o que queria.

— Quis fazer um pouco de charme — respondeu, tranquilo, como quem confessa um capricho.

— Ah, então seu conceito de charme é sair por aí dando em cima do cliente novo? — Lucas rebateu, olhando de esguelha, mas com um sorriso que entregava que estava se divertindo.

Rafael mordeu de leve o lábio inferior, os olhos escuros brincando com a ideia.

— Você tá com ciúme, Lucas?

Lucas deu uma risada seca e gostosa, cruzando os braços.

— Ciúmes? Eu? Não. Eu só gosto de jogar sozinho. Sem concorrência, entende?

A tensão no ar ficou elétrica. Eu vi Bárbara dar uma cotovelada discreta em Elisa e as duas segurarem o riso. Francisco me olhou com a sobrancelha arqueada, como quem diz "tá pegando fogo aqui".

— Então você quer o campo todo pra você? — Rafael perguntou, se aproximando mais, as palavras quase roçando a boca de Lucas.

— Quero o campo, o juiz, a bola e o gol. E se tiver torcida, melhor ainda — Lucas retrucou, com aquela malícia disfarçada de leveza, os olhos fixos nos lábios do Rafael.

Eles riam um do outro, mas ninguém duvidava da faísca entre eles. O clima era tão denso que dava pra cortar com a faca de passar manteiga do café da manhã.

— Olha, se continuar assim, nem o Francisco vai conseguir manter o controle da fazenda — Bárbara comentou, alto o suficiente pra todos ouvirem, fazendo a roda explodir em gargalhadas.

Francisco apenas balançou a cabeça e respondeu:

— Só espero que eles não usem a cabana antes de limpar o sofá que a gente usou hoje.

Rafael piscou pra ele, depois voltou o olhar pra Lucas.

— E aí? Vai continuar me provocando ou vai fazer alguma coisa a respeito?

Lucas deu um passo à frente, os rostos a centímetros de distância.

— Quem provoca muito é porque quer ser pego. Mas só por quem sabe o que tá fazendo.

Eu respirei fundo, tentando disfarçar o arrepio que percorreu meu corpo inteiro. Francisco me cutucou de leve e sussurrou:

— Acho que esses dois vão dar mais trabalho que a seca no pasto.

E eu só conseguia pensar que, se isso fosse mesmo um jogo, Rafael e Lucas estavam jogando pra ganhar. E a plateia toda, nós incluídos, já estava viciada no espetáculo.

***

A semana passou rápida demais. Os dias na fazenda seguiam com caminhões indo e vindo buscar os queijos prontos, entregas, telefonemas, e reuniões improvisadas com fornecedores. E em meio àquilo tudo, eu notei como Breno era insistente. Cada olhar, cada piadinha, cada toque desnecessário no ombro de Francisco quando falava algo “de negócios”.

Francisco não retribuía — disso eu tinha certeza —, mas Breno era do tipo que confundia silêncio com abertura.

E eu? Eu não era de fazer cena. Mas também não era de assistir calado.

Foi ali, perto da entrada lateral da casa, onde o sol batia quente nas telhas e o barulho dos caminhões abafava qualquer conversa mais distante, que encontrei Breno sozinho. Ele pegava uma prancheta, distraído, e nem percebeu que eu já estava chegando.

— Acha que eu não percebi, né? — falei, parando a menos de um metro dele.

Ele ergueu os olhos, com aquele mesmo ar debochado de sempre.

— Percebeu o quê?

— Você tentando dar em cima do Francisco como se fosse parte da negociação. — Cruzei os braços, firme. — O olhar, os toques, a intimidade forçada... Já deu.

Ele sorriu. Um riso curto, mais insolente do que divertido.

— Às vezes os negócios atraem tanto quanto um flerte, Samuel. Não é pessoal. É química.

— Química não. É cálculo — respondi. — E você calculou errado.

Me aproximei mais, até ele sentir a diferença de temperatura entre nossas respirações.

— O Francisco não vai te comer. Nem agora, nem nunca. Você pode fazer seus negócios com a fazenda, mas se continuar tentando esse joguinho, vai descobrir que eu sei jogar bem melhor.

Ele riu de novo, mas o riso foi menor. Nervoso.

— Você sabe pegar pesado, hein?

Fiquei em silêncio por um segundo. Depois, dei um leve sorriso, seco, quase imperceptível.

— É. E na maioria das vezes, as guerras acabam tão rápido quanto começam.

Os olhos dele vacilaram por um instante. Ele tentou manter o peito estufado, mas a postura traiu o desconforto. Sabia que eu não estava blefando.

— Considera esse o seu aviso. Ele é meu homem, somente meu e isso não vai mudar — Dei um passo pra trás, mantendo o olhar firme. — Da próxima, não vai ser com palavras.

Me virei e saí andando devagar, ouvindo ele puxar o ar como quem tenta se recompor. Francisco ainda estava ocupado lá na frente, de costas, sem ter ideia do que aconteceu. E assim era melhor. Tem coisa que a gente resolve sozinho. Sem cena. Sem plateia.

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Comentários

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POXA, ATÉ QUE ENFIM AS COISAS PARECEM QUE ESTÃO SENDO RESOLVIDAS. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

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Adoro a atitude que o Samuca está tendo! Hehehe

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O diálogo final foi maravilhoso. Vontade de dar porrada nesse Breno.

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