O silêncio pesava entre nós. Ela sentou-se de costas pra mim, as pernas pendendo pra fora da cama, como se o gesto de virar o corpo pudesse apagar o constrangimento que pairava.
Vesti minha cueca e o short com pressa. As roupas pareciam mais incômodas do que antes. Sentamos de novo — um de cada lado da cama, separados, mas estranhamente conectados pelo absurdo da situação.
Ficamos sentados ali em silêncio, cada um no seu canto da cama, como se qualquer palavra só fosse piorar a situação. O constrangimento pairava pesado, quase sólido entre nós.
Ela puxou o lençol devagar, cobrindo as pernas com cuidado, o rosto ligeiramente avermelhado, evitando qualquer contato visual. Eu cocei a nuca, os olhos fixos no chão, tentando achar uma desculpa para quebrar o silêncio, mas nenhuma palavra parecia certa.
O único som que dominava o quarto era o zumbido do ventilador, enquanto esperávamos o tempo passar. A vergonha fazia tudo parecer mais lento, os segundos se arrastando sem pressa.
Esperamos quietos, calados, fingindo que nada tinha acontecido — e torcendo para que continuasse assim.
Ela suspirou, se levantou e foi até o guarda-roupa da Mayara. Puxou uma toalha . Estendeu pra mim sem me encarar.
— Toma... vai tomar banho.
Só assenti. Palavras pareciam demais.
Ela abriu a porta do quarto. Quando saímos pro corredor, meus olhos bateram direto na sala.
Lauro estava lá, afundado no sofá, de frente pro corredor. Quando nos viu, tentou disfarçar um sorriso, mas ele se desfez no mesmo instante.
Seu olhar vacilou. Um misto de timidez e constrangimento. Era o tipo de vergonha que aparece quando se percebe no lugar errado, na hora errada.
Ele passou a mão na perna, ajeitou o corpo no sofá e desviou o olhar, rápido.
Ela nem hesitou: me puxou pelo braço, entrou no banheiro e trancou a porta atrás de nós.
Fiquei em pé, meio sem saber onde pôr as mãos. O azulejo gelado sob os pés contrastava com o calor do momento.
— Você vai ficar aqui? — perguntei, a voz baixa, quase constrangida.
Ela me olhou nos olhos por um segundo inteiro antes de falar, em voz baixa, mas firme:
— Sim. O Lauro acha que a gente transou... então nada mais normal do que tomarmos banho juntos.
Fez uma pausa curta e acrescentou com um meio sorriso:
— Ele é meio bobo, mas nem tanto. Se a gente vacilar no teatro, ele pode desconfiar.
Assenti com a cabeça, ainda sem saber o que dizer. O silêncio entre nós agora parecia menos incômodo e mais cúmplice.
— Fica tranquilo... vou virar de costas, não vou olhar. — Ela abriu um sorriso tímido, virou-se com naturalidade e completou, quase rindo: — Não que eu já não tenha visto quando entrei no quarto de supetão.
A risada que soltou logo em seguida era leve, espontânea, mas com o volume perfeitamente calculado. Alta o suficiente para atravessar a porta do banheiro. Alta o bastante para que Lauro ouvisse.
Retribui a gargalhada, na mesma altura que ela soltou. Depois, fiquei de costas para ela também, tirei a roupa ainda com muita vergonha e tomei um banho rápido. Me enxuguei depressa, coloquei a cueca e o short novamente.
— Terminei.
— Mas já? Garoto, foi rápido, hein.
— É que eu fiquei com medo de você olhar — falei, rindo.
Ela baixou a tampa do vaso, encostou-se e retribuiu o sorriso. Era um sorriso difícil de decifrar: não havia arrependimento por ter me salvado, mas também não havia alegria completa — a preocupação de quem pode estar prestes a perder alguém importante ainda pairava.
— Vamos ter que esperar um pouco — disse ela, sentada no vaso, olhando para o nada. O silêncio voltou a reinar entre nós.
Ela mantinha a mesma expressão, enquanto eu me encostava na pia, arrependido por tê-la envolvido naquela confusão.
— Só eu mesmo é que me meto nessas situações — murmurei.
Ela não falou nada, apenas levantou uma sobrancelha e virou o rosto levemente, como quem concorda.
— Acredite, com a Mayara eu já tive que apagar muito incêndio antes de você aparecer.
— Sério? — perguntei.
— Sério. Já tive que fazer muita coisa por essa menina. Uma vez, o Lauro mandou mensagem dizendo que tava lá fora, na frente da nossa casa, lá na capital. Ela abriu a porta do nada e pediu pra eu esconder o cara. O coitado ficou quase uma hora dentro do meu guarda-roupa, suando.
— Porra…
— A segunda foi quando estávamos na lanchonete e ela foi para o banheiro transar com um cara que a gente nunca tinha visto na vida. A família do Lauro toda chegou pra comer lanche depois da igreja. A sogra dela tava indo pro banheiro, e eu tive que sair correndo igual uma desesperada, bater na porta e tirar ela pelo outro lado. Mas, sinceramente, cansei de fazer isso por ela.
Eu não disse nada, só fiquei olhando pra ela, impressionado com as histórias.
— É, Carlos, você não é o primeiro, e acho que não vai ser o último a entrar nos joguinhos da Mayara. Mas como eu te falei, não vou ajudar ela nunca mais. Só ajudei porque era você. Se fosse outro, como já te falei, não ajudaria.
— Será que o Lauro conta pro Zeca?
— Provavelmente sim. Além de primos, eles são muito amigos.
— Porra, eu não devia ter feito você passar por isso.
— Carlos, eu que quis te salvar. Na hora, nem pensei muito.
— Eu sempre fodendo tudo... agora tô atrapalhando até a vida dos outros.
— Não se preocupa comigo, tá? Até porque... eu acho que eu e o Zeca não daríamos certo.
— Mas você... pelo menos poderia ter tentado.
Ela deu de ombros, sem responder. O silêncio entre a gente ficou pesado por um instante.
— Só faz uma promessa pra mim.
— Claro.
— Não se envolve mais com a Mayara. Um dia ela ainda vai acabar se dando mal.
Respirei fundo e estendi a mão, com o dedinho esticado.
— Juro. Juro de dedinho.
Ela riu.
— Isso é coisa de criança — falou, entrelaçando o mindinho no meu — mas eu vou levar a sério.
— Pode levar.
A gente começou a rir junto, riso solto, meio nervoso, meio aliviado. Ela se levantou, passou água no cabelo pra disfarçar, ajeitou a roupa no espelho. Saímos do banheiro.
Voltamos para o quarto em silêncio. Vesti a camiseta às pressas enquanto ela, trocou de roupa também. Um de costas para o outro, Tudo rápido, como se estivéssemos encenando uma normalidade. Quando saímos do quarto, o corredor parecia mais longo do que antes. Fomos direto pra sala.
Mayara estava sentada no sofá, agora mais próxima de Lauro. Ele tinha perdido aquela expressão tensa de minutos atrás e parecia mais calmo, embora ainda com os olhos vermelhos. Quando nos viu, deu um sorrisinho sem graça e disse:
— Foi mal aí, prima… é que meu tio falou um monte lá em casa e eu cheguei aqui cego de raiva.
Mayara cruzou os braços, firme.
— Já falei que a família dele não gosta de mim. Ficam inventando coisa, enchendo a cabeça dele. Aí ele acredita e vem fazer esse papelão.
Forcei um sorriso, tentando disfarçar o misto de pena e vergonha alheia que me bateu. Era difícil não achar tudo meio cômico, mas no fundo dava dó do Lauro. Ele claramente estava perdido.
Ele virou pra mim.
— Foi mal aí, cara…
— De boa, mano — respondi, dando de ombros.
Mayara, que estava recostada de lado no sofá, um pouco atrás dele, ergueu o olhar em nossa direção. Primeiro me olhou, depois encarou Andressa. O sorriso que se formou nos lábios dela não era exatamente safado — mas também não tinha arrependimento nenhum. Era o sorriso de quem escapou por pouco, de quem sabe o que fez e, pior, talvez fizesse de novo. Um olhar descarado, desavergonhado, debochado. Pra completar, ela piscou pra mim e ainda jogou um beijinho discreto, como se a final de tarde tivesse sido apenas uma travessura.
— Ai, amor... a santinha nunca apronta, e quando vai aprontar, você vai e atrapalha — disse ela, com a voz escorregadia de ironia.
Andressa virou o rosto bruscamente pra ela, os olhos faiscando.
— Ai, Mayara... vai se foder!
Aquela era uma Andressa que eu nunca tinha visto. Sempre tão centrada, tão firme, agora estava com o rosto contraído de raiva. Não era só seriedade — era incômodo puro, indignação.
Mayara riu.
— Olha só… a santinha agora tá até falando palavrão — soltou com um sorriso debochado e a sobrancelha arqueada. — Ontem foi o Zeca… hoje, você... e agora tá aí, soltando os cachorros como se sempre tivesse sido assim.
Fez uma pausa curta e completou, balançando a cabeça com falsa indignação:
— Cê tá criando um monstro, Carlos. Tá sendo uma péssima influência pra santinha.
— Monstro? — Andressa repetiu baixo, rindo sem graça. — Não, ninguém tá criando monstro nenhum.
Ela ajeitou a postura, o tom leve, quase casual, como se falasse de qualquer outra coisa:
— Só que tem coisas que a gente vai deixando passar, por costume, por laços... até que um dia cansa.
Lançou um olhar tranquilo para Mayara, que parecia normal pra quem olhava de fora, mas carregava um peso que só ela entenderia.
— A diferença é que agora eu não vou mais.
Carlos a olhou de lado, quase sorrindo, e Andressa retribuiu com um olhar seco, mas satisfeito.
O silêncio entre os dois dizia tudo: ela tinha colocado a Mayara no lugar — e nem precisou levantar a voz.
Eu fiquei quieto só encarei Mayara sério ela se divertia como se estivesse em um palco esperando aplausos.
Mayara olhou para Andressa, o sorriso sumindo, os olhos ficando sérios. Ficaram se encarando por um tempo, a tensão crescendo no ar, pesada, silenciosa.
Foi Lauro quem quebrou o silêncio, com um sorrisinho maroto:
— É, fiquei sabendo — comentou, jogando o olhar pra prima — Tá soltinha, hein, prima?
Mayara deu um sorriso torto, os olhos brilhando de provocação.
— Tem gente que até tenta enganar, mas não consegue esconder quem é por muito tempo. Uma hora a máscara cai.
Andressa fechou a cara de vez, os olhos faiscando entre irritação e cansaço.
— Ai, vocês dois se merecem — soltou, a voz carregada de ironia e desprezo.
Lauro e Mayara trocaram olhares e riram baixinho, saboreando o desconforto dela como quem ganha uma partida fácil.
Vi nos olhos dela que ela só queria sair dali. Então, antes que a situação piorasse, falei:
— Vamos? Pega suas coisas que eu te deixo em casa.
— Ah, Carlos, é mó fora de mão pra você…
— Relaxa. Se quiser ir, eu te levo.
Ela hesitou por um segundo, mas acabou concordando:
— Tá bom. Vou aceitar sim. Não tô com paciência pra esses dois, não.
Acompanhei ela até o quarto. Enquanto arrumava suas coisas, ficamos em silêncio. De lá, ainda dava pra ouvir a dupla na sala zombando, rindo alto, soltando piadinhas sobre a “santinha”. Ela não reagia, só apressava os movimentos, claramente querendo sumir dali.
Assim que terminou, saímos do quarto e passamos pela sala sem nem olhar pros dois. Nenhum aceno, nenhuma palavra. Simplesmente fomos embora, como se aquilo tudo fosse apenas um final de tarde esquecível. Mas, por dentro a tarde tinha deixado marcas.
Entramos no carro. O caminho até o sítio era longo e escuro, mas eu não ia deixá-la lá com aqueles dois. Ela cruzou os braços, encostou a cabeça no vidro e ficou em silêncio por uns minutos, até suspirar baixinho.
— Obrigada por me trazer.
— Que isso... nem penso duas vezes. Eu até tava com dó do Lauro, mas agora? Tô achando é pouco.
— Eles se merecem. — Ela deu uma risadinha sem graça, mas sem esconder o cansaço na voz.
— Ela nem gosta dele, né? Só tá com ele porque...
— Interesse. — cortou, seca. — A família dele é a terceira mais rica da cidade, e meus tios meio que empurram. Fingem que não veem, mas sabem o jogo que ela joga.
Fiquei um tempo quieto, dirigindo devagar pela estrada de terra. O farol batia nos arbustos e criava sombras estranhas no mato alto.
— Ela é ingrata, viu... Você ajuda, acolhe, e ela te trata daquele jeito. Por que você deixa, Andressa?
Ela virou o rosto pra mim, com um sorriso torto.
— Sei lá... acho que convivo tanto tempo com a Mayara que já anestesiei. — Pausou. — Mas, pra ser sincera...
Ela olhou pela janela de novo. A frase ficou no ar, incompleta, como se o resto engasgasse no fundo da garganta.
Fomos conversando o resto do caminho. Primeiro, falamos mais um pouco sobre a Mayara e o Lauro. Depois, o assunto acabou escorregando pro Zeca. Eu ainda me sentia mal por ter estragado o que poderia ter rolado entre os dois. Ela merecia alguém legal. E, no fundo, eu sabia que o Zeca tava mesmo a fim dela.
Aí passamos a falar da Vanessa. Ela me ouvia com atenção. Deu pra falar bastante — o caminho era longo mesmo. Quando chegamos, vi que o sítio era simples, antigo, mas grande. Tinha um charme meio rústico, com varanda de madeira e um quintal escuro, iluminado só pelos faróis do carro.
Ela pegou algumas sacolas no banco de trás e se virou pra mim.
— Você tem meu número. Se as coisas apertarem com a Vanessa... é só me ligar, tá? Se quiser vir pra cá um dia, pra descansar, conversar... — disse, apertando meu braço com carinho.
— Tá bom, eu ligo sim.
— Então tá. Tchau, amigo — ela sorriu, aquele sorriso meio cansado, meio grato.
— Tchau, amiga.
Ela desceu do carro, acenou uma última vez e sumiu no escuro do portão.
Voltei sozinho pra casa. A estrada de terra parecia ainda mais comprida naquela hora. Tentei colocar uma música, alguma coisa leve, mas não adiantou. Os pensamentos começaram a me atropelar um por um, como se não tivessem freio.
“Se eu não tivesse entrado, a Andressa não precisaria disfarçar. Não teria estragado o lance dela, porra. Que amigo sou? Ontem eu ajudei, hoje eu atrapalhei.”
"Se o Lauro tivesse me pego com a namorada dele... Meu Deus. Tava ferrado. Ele podia ter me quebrado ali mesmo, sem ninguém pra apartar."
"Maiara, como que eu fui me envolver com uma pessoa assim? Tanta falsidade, tanta manipulação, ficando o tempo todo jogando com os sentimentos dos outros. Nunca mais. Nunca mais fico com ela.”
A Vanessa... ah, a Vanessa.
"Desde moleque, eu sonhava com ela — minha paixão de adolescência, achava que era amor de verdade. Mas agora ela chamou o marido pra passar o Natal no sítio com ela. O cara que traiu, que largou, que só aparece quando convém. E ela... pensando em voltar. E eu aqui, sozinho, sendo amigo, sendo suporte, enquanto ela balança pro lado dele de novo."
“Por que ela insistiu tanto para Karina me chamar pra vir então? Por dó? Por carência? Por pena?”
O volante apertado nas minhas mãos. A estrada escura pela frente. A cabeça fervendo, o peito apertado. E nenhuma música era capaz de calar tudo aquilo.
Nesse momento, chegou uma mensagem no meu celular. Era da Mayara.
Mayara: E aí, gatinho... já deixou a santinha no altar? 😏
Eu: Já deixei sua prima. Tô voltando pra cidade.
Mayara: O corninho vazou... passa aqui. A gente nem terminou direito. Meus pais ligaram, vão demorar. Tô sozinha 😈
Eu: Não.
Mayara: Nossa, que seco. Vai bancar o moralista agora? Você nem gozou, lembra? 🙄
Eu: Já falei que não, Mayara. Agora não tem a Andressa pra você se esconder atrás.
Mayara: Relaxa, o corninho e a família dele foram pro sítio. Ninguém vai saber de nada. Igual da outra vez 😉
Eu: Já disse que não. Vai procurar outro pra brincar de marionete.
Mayara: Hahaha, tá bom então. Só pra constar: eu não costumo repetir macho, viu? Aproveita o privilégio 😘
Eu: Que bom. Porque eu também não costumo repetir erro. 👋😎
Quando eu cheguei na cidade, estava passando em frente ao pequeno mercadinho e vi que ainda estava aberto. Eu nunca fui muito de beber, mas depois de tudo o que tinha vivido naqueles dias, resolvi entrar para pegar alguma coisa forte. Só que, sinceramente, era melhor se eu não tivesse entrado.
Enquanto caminhava pelos corredores, passando entre prateleiras apertadas e luzes fluorescentes meio frias, parei em frente à sessão de bebidas alcoólicas. E foi ali, naquele exato momento, que vi.
Vanessa... com o Paulo.
Eles estavam juntos, como se fossem um casal — e eram mesmo. Riam baixinho, trocando olhares cúmplices enquanto escolhiam besteiras para levar. Ela pegou uma garrafa de vinho, levantou na direção dele, mostrando com aquele sorriso — o mesmo sorriso que, por alguns dias, eu tive só pra mim.
O ar no mercadinho era carregado de cheiro doce das frutas e do plástico das embalagens, enquanto meus olhos se fixavam naquela cena, tão próxima, e ao mesmo tempo tão distante.
Assim que vi os dois, dei um passo rápido pro lado e me escondi atrás de uma prateleira cheia de garrafas geladas. As mãos envolveram a bebida fria, um contraste estranho com o gelo que parecia escorrer por dentro de mim. Fiquei ali, imóvel, respirando baixo, torcendo para que eles não me notassem.
Doía.
Não só ver os dois juntos. Doía entender que ela já tinha feito uma escolha. E eu?
Eu só era o erro que ela fingia que não existiu.
Fiquei alguns segundos ali, preso entre as gôndolas, tentando entender como tudo aquilo tinha virado poeira tão rápido. Vanessa parecia leve, como se nada tivesse acontecido, como se o que a gente viveu não tivesse deixado nem um arranhão nela.
Pra ela, talvez eu tenha sido só isso: um deslize. Uma distração.
Mas pra mim… foi o começo de algo que eu nem tive tempo de entender.
Quando eles chegaram no caixa pra pagar, ela levantou os olhos por um instante... e me viu.
Por um segundo, nossos olhares se cruzaram. Nada de sorriso, nem surpresa. Só um silêncio seco. Ela abaixou os olhos e voltou a se ocupar do Paulo, como se eu fosse só mais um rosto qualquer naquela cidade.
Antes que ele me notasse, ela sussurrou algo e o mandou pegar alguma coisa no fundo da loja. Quando ele saiu do corredor, ela se aproximou.
Segurou meu braço com cuidado, as mãos levemente trêmulas. O olhar dela, mais vulnerável do que eu esperava, encontrou o meu.
— Carlinhos... fala comigo — disse, a voz baixa, quase um pedido.
Eu desviei o olhar, tentando segurar a mágoa que queimava por dentro. O ar parecia mais denso ali entre os caixas, cada segundo parecia uma eternidade.
— Não me chama assim — respondi, a voz seca, pesada.
Ela respirou fundo, mordendo o lábio inferior, a insegurança pulsando no silêncio entre nós.
— Não faz isso... a gente precisa conversar.
— Não, Vanessa. A gente não precisa de nada. Você não me deve satisfação, lembra? — minha voz era firme, mas carregava um nó que eu não conseguia esconder.
Puxei meu braço devagar, com uma força contida, evitando o choque direto. A moça do caixa congelou no gesto, os olhos deslizando até nós em furtivos relances, como quem sente o peso do clima no ar, mas finge não estar vendo.
— Carlinhos... — a voz dela quebrou, um fio de desespero entrando no tom.
Ela tentou de novo, mas foi interrompida.
Paulo voltou, rindo alto, com duas caixas de chocolate na mão. Veio direto na minha direção, largando um tapinha no meu ombro.
— E aí, garoto! Pelo jeito o negócio foi bom demais, hein? Ainda tá na cidade? — riu. — Nem parece mais aquele garotinho tímido de uns anos atrás!
Forçei um sorrisinho de canto, só por educação. Vanessa deu um cutucão nele e lançou um olhar atravessado, que ele nem entendeu.
Paguei pelas bebidas e por um Halls, e saí do mercadinho em silêncio.
O barulho das moedas no balcão se misturava com as vozes baixas das pessoas por perto.
A vontade de beber já tinha passado, como se tivesse sumido do nada.
Mas levei as bebidas mesmo assim, segurando as garrafas como se carregasse um peso que só eu sentia.
O que eu queria de verdade… não era mais meu. E talvez nunca tenha sido.
Entrei no carro e segui pro sítio. No caminho, não conseguia pensar em mais nada. Só nela. Só na Vanessa. O nome dela martelava na minha cabeça como uma maldição: Vanessa. Vanessa. Vanessa.
Quando cheguei, estacionei, cumprimentei meu tio e minha tia, coloquei as bebidas no freezer do barracão e fui pro quarto. A Karina já estava lá, deitada.
— Chegou agora? — ela perguntou, sem tirar os olhos do celular.
— Uhum. Demorei porque fui deixar a Andressa no sítio.
— Ah, tá... mas mesmo assim demorou, né? Lá não é tão longe assim.
— É que eu quase me fodi hoje.
— Como assim? Que aconteceu?
— Eu tava no quarto da Mayara... a gente tava transando. De repente, a Andressa abriu a porta avisando que o Lauro tava chegando.
— E aí?
— Ela mandou a Mayara ir pro banheiro e ficou no lugar dela. O Lauro entrou e achou que eu tava com a Andressa.
— A Andressa sempre cobrindo a Mayara, né?
— Pois é. Mas depois de hoje, eu não fico mais com aquela menina, já deu. Aquilo ali é confusão demais.
— Tonto. Se quiser, eu te apresento outras. Tem um monte de amiga que vale bem mais a pena.
— Não, obrigado. A última já me deu dor de cabeça suficiente.
— É por isso que você tá com essa cara?
— Não só por isso... Eu vi a Vanessa com o Paulo na venda. E pelo jeito, voltaram mesmo.
— Hoje à tarde ele saiu com as meninas para dar uma volta aqui perto do sítio. Minha mãe e minha outra tia chamaram ela para conversar, mas não adiantou — disse ela, a voz carregada de decepção.
— Depois que você saiu, chamei ela aqui no quarto e falei para ela que estava muito chateada com ela. Porque ela ficou pedindo para eu fazer você vir? Para fazer você passar por isso? — balançou a cabeça negativamente.
— Relaxa! Não posso fazer nada, só aceitar e ficar na minha — respondi, tentando conter o peso que aquilo me causava — Depois nois conversa mais, vou lá ajudar o seu pai com o porco.
— Vai lá — ela respondeu, imitando o som de um porco com um "oinc oinc" e dando uma risada leve, tentando quebrar o clima tenso.
Saí pra ajudar meu tio. Logo em seguida, ela e o Paulo chegaram, e ele veio dar uma força também. Ele e meu tio brincavam, conversavam e bebiam, e eu ali no canto, quieto, só observando. De vez em quando puxavam papo comigo, eu respondia e soltava uma risadinha sem graça, só pra não parecer antipático.
Enquanto fritávamos a carne, entre uma piada e outra, a gordura estalava alto, espalhando aquele cheiro bom que grudava no ar.
As latinhas vazias iam se empilhando aos nossos pés, ainda úmidas do gelo que começava a derreter.
Quando tudo ficou pronto, chamamos todo mundo pra comer.
Nos sentamos em volta da mesa grande da varanda, coberta por toalhas floridas e pratos de encher os olhos.
De repente, ela apareceu. Linda. Como sempre.
Veio caminhando devagar, com aquele vestido leve que rodava em volta das pernas, e um sorriso que brilhava mais que as luzes do pisca-pisca pendurado na varanda. Eu não consegui disfarçar. Fiquei paralisado, babando por ela.
Foi aí que senti um cutucão no braço. Era a Karina.
— Ei, tonto... disfarça — sussurrou no meu ouvido, com um sorrisinho de canto de boca.
A noite de Natal foi divertida... pra quase todo mundo.
Cantaram no karaokê, dançaram, riram alto. Eu, por outro lado, fiquei no meu canto, sentado com a bebida na mão, só observando. E lá estava ela, do outro lado, se divertindo com ele — o cara que parecia ter tudo que eu não tinha.
Minha tia percebeu que eu não estava me divertindo como o resto do pessoal. Chegou perto, com aquele jeito alegre de sempre, e falou:
— Ô, o que foi, meu filho? Aí isolado… Vem dançar com a gente! — disse ela, já segurando meu braço e me puxando.
Acabei indo. Ela me levou pro meio do povo que dançava animado. Ficamos ali: eu, minha tia e a Karina. Eu até tentei me soltar, mexer o corpo no ritmo da música, mas bastava olhar pra Vanessa e ele dançando juntos que alguma coisa dentro de mim desmoronava.
Talvez percebendo, Vanessa deixou ele lá com as filhas e veio dançar com a gente. Mas eu logo inventei que estava cansado. Ela insistiu um pouco, mas depois entendeu. Me afastei, voltei pro meu canto e continuei bebendo.
Karina veio junto, sem dizer nada. Sentou ao meu lado só pra fazer companhia, dividindo o silêncio comigo e olhando o povo dançar, como quem entende sem precisar perguntar.
Depois, meio bêbado, resolvi entrar na piscina. A água estava gelada, daquele jeito que corta o corpo na hora — o choque térmico com o frio da noite dava até um susto bom.
Lutar com a temperatura fazia minha cabeça desacelerar, como se o corpo buscasse algum jeito de silenciar o que tava rodando por dentro.
Karina veio e se jogou numa espreguiçadeira perto de mim, o corpo afundando no estofado.
Ficou ali em silêncio, os olhos vagando entre as luzes da varanda e o reflexo da piscina, até que, do nada, virou o rosto na minha direção — aquele olhar dela, meio bravo, meio carinhoso, que sempre me desmontava.
— Ei, tonto... sai dessa água agora, vai. Você vai acabar gripado — disse, com a voz firme, mas o sorriso querendo escapar no canto da boca.
— Ah, tonta... para de ser chata, vai — resmunguei, afundando até os ombros. A água gelada já tinha deixado minha pele arrepiada, mas eu gostava da dormência, como se anestesiasse a cabeça também. — Não tá bebendo por quê? Você fica chata quando não bebe.
Ela puxou uma almofada do lado, abraçando como se fosse um casaco, e respondeu com aquele jeito debochado só dela:
— Alguém tem que ficar sóbrio, né? Lembra do nosso combinado? Um cuida do outro quando beber... Só que, normalmente, eu que bebo — completou, rindo baixinho, com aquele riso que saía pelo nariz e fazia a pontinha do ombro tremer.
Ficamos ali por um bom tempo — ela sentada na espreguiçadeira, e eu com os braços apoiados na borda da piscina, o corpo flutuando preguiçoso, só com o queixo pra fora d’água. A música tocava mais ao fundo, abafada pela distância da varanda. Ríamos, conversávamos baixo, como se o resto da festa tivesse ficado em outro plano. Um mundo só nosso, entre o cloro, as luzes penduradas e o céu escuro.
Até que, ao virar o rosto, vi Vanessa vindo em nossa direção. Trazia uma toalha enrolada no braço e a testa franzida.
— Carlinhos, sai daí. Você vai acabar resfriado.
Fingi que não era comigo. Só virei o rosto e encarei o outro lado da piscina, tenso.
— Carlinhos, olha pra mim. Me escuta, sai dessa água — insistiu, a voz mais dura.
Não olhei, mas respondi mais alto do que deveria:
— Já falei pra não me chamar assim, porra.
A música abafou metade do que eu disse — ninguém pareceu notar.
— Tá, não vou te chamar de nada, mas só sai daí, vai — retrucou, já impaciente.
— Ah, sai daqui, porra. Me deixa. — respondi, agora encarando ela com os olhos afiados.
— Não, eu não...
Antes que terminasse, Karina se levantou da espreguiçadeira e se pôs entre nós, a expressão firme.
— Tia... deixa ele.
— Karina, ele vai acabar doente. Você sabe que à noite essa água gela — respondeu Vanessa, já tentando dar a volta para chegar perto da piscina.
Karina estendeu o braço, bloqueando a passagem.
— Vanessa, me dá a toalha. Eu tiro ele de lá, vai. Volta pra lá... ou vão acabar percebendo, esse clima entre vocês.
Vanessa não insistiu. Apenas me encarou — os olhos presos aos meus — e, naquele momento, vi algo quebrar dentro dela. Um arrependimento silencioso tomou conta do rosto. Nunca tinha falado com ela daquele jeito... e talvez por isso os olhos dela tenham marejado. Sem dizer mais nada, entregou a toalha nas mãos da Karina e voltou pra varanda, de cabeça baixa.
Fiquei ali por mais alguns minutos, o corpo ainda submerso até o peito, o som da festa longe demais daquilo que eu sentia por dentro.
Karina se acomodou de novo na espreguiçadeira, mas cerca de dez minutos depois, se aproximou da borda e falou:
— Tá bom, primo. Já deu, vamos sair.
O tom dela era calmo, mas firme. Assenti sem discutir. No momento em que pisei na escadinha da piscina, tropecei num degrau e quase escorreguei. Ela arregalou os olhos e me encarou com um misto de cuidado e bronca.
— Cuidado, garoto... sai devagar — disse, vindo até mim.
Me envolveu na toalha com delicadeza, enxugando meus ombros e passando o pano com calma. Depois, colocou a toalha sobre mim e me puxou num abraço, me ajudando a andar enquanto eu seguia meio cambaleante.
Quando passamos pela varanda, meu tio percebeu meu estado e soltou uma piada, acho que era a primeira vez que me via assim, meio bêbado. Vanessa, do outro lado, nos olhava com aquele mesmo rosto de antes — sem sorrisos, sem pose, só aquele olhar perdido, pesado.
Entramos em casa. Minha tia veio logo na porta, aflita:
— Pode deixar, mãe. Eu me viro — disse Karina, assumindo o controle.
— Mas ele precisa tomar banho, minha filha...
— Eu sei, mãe. Ele vai pôr uma bermuda e eu dou banho nele.
Minha tia hesitou um segundo, mas confiou. Voltou pra varanda. A gente seguiu pelo corredor. A luz baixa da casa desenhava sombras nas paredes, e a sensação de calor e álcool me fazia tropeçar um pouco nas palavras.
— Bermuda? — resmunguei. — Você já me viu pelado, caralho...
Karina riu abafado e levou o dedo aos lábios.
— Garoto, fala baixo... se minha mãe escuta, ela mata a gente — sussurrou, fazendo sinal de "psiu" com a mão.
No quarto, ela me fez vestir uma bermuda — só por precaução, caso a mãe dela aparecesse de surpresa no banheiro. Entramos juntos, e ela assumiu o controle da situação como se estivesse acostumada. Pegou o chuveirinho e começou a me dar banho com calma, esfregando meu corpo com uma esponja e sabão, os movimentos firmes e silenciosos, concentrada.
Só que o meu corpo começou a reagir. Quando ela passou a esponja mais embaixo, meu pau começou a enrijecer, crescendo sem controle. Peguei a mão dela, guiando devagar na direção dele, num gesto mais de impulso do que intenção.
— Para. Deixa eu terminar de te dar banho — disse ela, num tom mais firme, sem raiva, mas deixando claro os limites.
Eu ainda tentei insistir com o olhar, mas ela me encarou com mais seriedade. Então recuei. Não falei mais nada, mas o corpo ainda pulsava com a tensão. Ela terminou de me enxaguar em silêncio, me pegou pela mão e me levou até o quarto. Me sentou na cama e começou a me enxugar com uma toalha.
Foi nesse momento que ouvimos a porta da casa se abrir. Era a tia. Ela apareceu ali na entrada do quarto e viu a cena.
Karina, com a rapidez de quem já esperava por isso, colocou a roupa nas minhas mãos e disse:
— Se troca aí, vai.
Saiu do quarto e fechou a porta. Do lado de fora, ouvi a conversa abafada entre as duas:
— Mãe, vou colocar ele na cama e trancar a porta, tá?E esconder a chave, só por garantia, pra ele não sair.
— Tá bom, minha filha. Mas qualquer coisa, me chama.
— Pode deixar.
O som abafado da música da festa ainda vinha do lado de fora — batidas graves atravessando as paredes, misturadas a vozes, risadas, copos sendo colocados na mesa, o tilintar de garrafas. O clima lá fora era agitado, mas aqui dentro parecia outro mundo.
Ela entrou no quarto, parou por um segundo, olhou pra mim com um sorriso enviesado e, com um estalo seco, girou a chave na fechadura. Clac. O som da porta trancando foi baixo, mas, no silêncio do quarto, pareceu alto. Quase como se marcasse o ponto de não retorno.
Virou de costas pra mim e, sem pressa, começou a tirar a roupa. A blusa subiu, revelando a pele negra e macia. O sutiã caiu logo depois, seguido pelo short que desceu deslizando pelas coxas até o chão. Ela chutou a peça pro canto e veio na minha direção completamente nua, os olhos cravados nos meus.
Aquilo me deixou com mais tesão do que eu já estava. Tentei disfarçar, mas ela percebeu. Me empurrou de leve na cama e subiu em cima com aquele ar provocador.
— Você não queria? Agora você vai ter — disse, com a voz baixa e firme, como quem dá uma ordem.
— Sério? Você vai se aproveitar do seu primo embriagado? — falei, rindo de leve e fazendo uma cara de safado, tentando manter o clima descontraído.
— Ah, garoto, para de graça. Você nem tá tão bêbado assim — respondeu, devolvendo a mesma expressão safada, mordendo o lábio inferior devagar, quase sem som, mas com um olhar que gritava desejo.
Ela nua começou a se esfregar em cima de mim. Meu pau, que já estava duro, ficou ainda mais por debaixo do short.
Ela sentia — e sorria com aquilo. Rebolava devagar, pressionando a buceta quente na minha direção, o olhar fixo no meu. A respiração dela já era mais pesada, mas ainda contida. A casa inteira tava acordada — qualquer som fora do lugar e fodia tudo.
— Vai fazer alguma coisa ou vai só ficar com essa cara de besta? — sussurrou no meu ouvido, a voz baixa, quase um sopro.
Levei a mão até a nuca dela e puxei pro beijo. Um beijo urgente, abafado, dentes raspando, línguas se esbarrando sem cerimônia. Enquanto isso, minha mão já deslizava pelo corpo quente dela, até alcançar a bunda macia e apertar com força.
Ela puxou meu short com um gesto rápido e o jogou pro lado. Meu pau saltou, rígido, roçando na parte interna da coxa dela. Ela soltou um riso curto, abafado contra minha boca.
— Desse jeito vão ouvir a gente até na sala... — murmurou, rebolando bem devagar em cima de mim, sentando devagar, só pra provocar.
Quando a cabeça do meu pau encostou na entrada dela, os dois pararam. Silêncio. Ela mordeu o lábio e olhou pra porta, como se esperasse algum som do corredor.
Nada.
Então desceu de uma vez. Lenta, mas inteira.
Um gemido subiu na minha garganta, mas ela tampou minha boca com a mão na hora, o olhar duro como quem diz: "se fizer barulho, a gente para aqui".
Começou a quicar devagar, o quadril se movendo como quem dança no escuro. Eu segurava firme a cintura dela, sentindo cada contração, cada deslize quente e úmido.
— Isso... bem assim... — sussurrei rente ao ouvido dela, a boca quase encostando.
Ela cavalgava em silêncio, o som abafado da pele encontrando pele quase inaudível. Mas o tesão tava todo ali — no olhar, no suor começando a descer pelas costas, nos dentes cravando o lábio inferior.
Me puxou pelos ombros, deitou meu tronco e ficou inclinada sobre mim, metendo devagar. Os peitos roçavam no meu peito, o cabelo dela caía no meu rosto. Eu levava uma das mãos até a nuca dela, a outra cravada na bunda, controlando o ritmo.
— Vira. Quero você por trás — sussurrei.
Ela levantou, saiu de cima de mim devagar e se posicionou de quatro na cama, a bunda empinada, a buceta latejando. Eu cheguei por trás, encaixei e entrei de novo, dessa vez mais fundo.
Ela levou a mão pra trás, buscando apoio no meu quadril, controlando a intensidade. Os dois se moviam devagar, num vai e vem abafado, preciso. A cama rangia levemente, e só isso já fazia o coração acelerar.
— Se alguém escutar, fudeu — ela sussurrou, olhando por cima do ombro.
— Cala a boca e rebola... — murmurei, puxando os cabelos dela pro lado e mordendo de leve o ombro.
Ela começou a gozar. Eu sentia. O corpo dela tremia, a buceta apertava meu pau como se sugasse. Mas mesmo no auge, ela manteve tudo abafado, os dentes cravados no travesseiro, a mão livre tampando a própria boca.
Eu já tava no limite. Segurei a cintura dela com força e acelerei um pouco, só o suficiente.
Ela virou o rosto e esticou a mão pra mim. Entendi na hora. Peguei a mão dela e tampei a boca dela com uma, e ela fez o mesmo comigo.
Mais três, quatro estocadas — e gozei dentro dela, gemendo contra a palma da mão dela, o corpo inteiro contraído, os músculos rígidos tentando não fazer barulho.
Ficamos ali, respirando pesado, suados, o quarto ainda em silêncio.
Ela tombou pro lado, virada pra parede. Me deitei atrás, sem falar nada. Só a respiração dos dois tentando voltar ao normal.
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