CÊ QUE SABE
Diogo estava feliz — isso ela percebia, mesmo sem saber o motivo. Sorria, cantarolava, batucava os dedos no volante. Uma das mãos segurava a dela, dedos entrelaçados com firmeza. No carro, o clima era descontraído, apesar do calor lá fora insistir em incomodar, com o ar-condicionado lutando para amenizar.
Diogo seguia dirigindo e, ao parar na primeira esquina, tirou a camisa. Ela tentava disfarçar, olhando para fora, mas o olhar sempre voltava para aquele peito firme, com pelos finos descendo pelo abdômen — parecia que ele se depilava às vezes. Sem a camisa, os braços pareciam ainda mais longos e fortes. O cheiro quente e marcante dele agora dominava o pequeno espaço, quase impregnando o ar.
Bya apertou o outro braço contra a cintura, respirando curto, olhando pela janela do carona... o estômago embrulhado diante daquela presença tão física e intensa. Apesar do desconforto — tanto na oficina quanto agora no carro —, estava feliz: havia conseguido cem reais sem esforço algum, conversado bastante com Diogo no caminho até a oficina e, agora, viria a melhor parte: a celebração no posto, com cerveja, beijos e mais conversa.
O telefone tocou. Diogo atendeu: era Murilo.
Bya desviou o olhar, como se quisesse dar privacidade, mas mantinha um olho no corpo dele e outro no movimento da rua, respirando pela boca para evitar o cheiro tão próximo e, ao mesmo tempo, prestando atenção na conversa.
— E aí, irmão, tudo tranquilo?
— Não, nem imagina. Eu tava com medo daquele cara já. Achei até que ia sequestrar a gente, né, Bya?
Murmúrio abafado, ela ouvia calada.
— Mas tá resolvido. Se não fosse a Bya esperar, sei lá o que aquele cara ia fazer...
— Ah... você dá risada porque o cara é seu amigo.
— Não, não, tá tudo bem agora. A gente já tá indo embora.
— Melhor não, outra hora a gente marca.
— Tô falando sério, já tá tarde.
— Outro dia eu te apresento, valeu?
— Eita... claro que não esqueci, calma, moleque.
— Sei sim... outra hora te arrumo o dinheiro, valeu.
— Desliga.
Bya olhava as pessoas passando na rua, entediada, pensando no que fazer com o dinheiro. Diogo falou:
— O Murilo mandou um beijo pra você. Queria te conhecer, sair pra beber algo, mas já tá tarde hoje, né?
Um salto no peito dela, quase um choque.
— Jura? Que legal.
Era mais uma chance de entrar no mundo dele — e sem ter feito esforço.
De repente, ela perguntou:
— Mas por que não hoje?
— E que dia vocês estão pensando?
Diogo respondeu sem muito interesse:
— Sei lá... quando der certo. Isso é o de menos pra mim.
Aquilo foi um balde de água fria. Será que ele tinha vergonha dela?
— Poxa, eu acho que ia ser legal conhecer ele...
Diogo jogou o olhar em Bya com um sorriso meio torto, a voz baixa, quase um desafio disfarçado de brincadeira:
— Ei... dá uma disfarçada aí, vai... Não precisa ficar tão animada com o meu amigo.
Bya engoliu seco, desviando o olhar, sentindo o rosto queimar.
— Eu... só achei que seria legal conhecer ele. Afinal, ele é o seu melhor amigo, né?
Ele arqueou uma sobrancelha, o sorriso ficando mais afiado.
— Legal? Sério? Você sabe que ele já tá me cobrando aquele dinheiro, né? Que eu acabei de pedir emprestado...
O coração dela acelerou, e a garganta ficou seca.
— Eu não queria causar problema. Só queria... entender um pouco mais da sua vida, sabe?
Diogo se inclinou um pouco, o olhar fixo, a voz carregada daquela calma dominadora:
— Ele é meu amigo sim, Bya. Mas por enquanto, é com você que eu tô saindo. E eu achei que você tava mais do meu lado, que você ia entender isso sem eu ter que ficar explicando tudo.
Bya sentiu um arrepio estranho, não só pelo calor da proximidade dele, mas pelo peso daquela cobrança que não era só uma palavra.
— Eu...desculpa vai, não tinha pensado assim. Por favor não fica achando que é maldade minha... não queria que você ficasse com ciúmes.
Ela queria dizer que não era nada disso, que tudo era inocente, mas as palavras fugiam, atropeladas pelo nervosismo. Pensou: “Será que ele acha que eu tô interessada no amigo dele? Que estou me entregando mais do que deveria?”
Ele sorriu de lado, lento, quase saboreando o desconforto dela.
—Ciúmes? Eu?
Ele se afastou só um pouco, deixando o ar carregado de um silêncio tenso, e completou:
— Do jeito que você fala dele, parece até que tá afim. E eu não sei se gosto dessa ideia.
Bya mordeu o lábio, o corpo quente, a mente confusa. Queria fugir, mas uma parte dela queria provar que podia conquistar, que merecia estar ali, naquele carro, com aquele homem que a confundia e dominava tudo.
— Eu... acho que fiz besteira. Não devia ter falado tanto. — A voz saiu baixa, quase um pedido de perdão, misturado com uma provocação tímida.
Diogo riu, um som baixo, cheio de malícia e promessa.
— Besteira, né? Às vezes, a gente se anima e esquece do que realmente importa. Mas fica tranquila... É bom eu ficar sabendo dessas coisas...
Bya sentiu o corpo reagir, o turbilhão de medo e desejo crescendo, sabendo que, por mais que ela quisesse entender tudo, no fundo só havia uma coisa que importava: estar do lado dele.
O calor dos dedos dele tocando a mão dela, o cheiro forte misturado à voz grave, tudo era um convite e uma ameaça ao mesmo tempo.
Agora dentro do carro era só um silêncio E ele emendou, meio sem paciência:
— Escuta, acho que já tá ficando meio tarde, né. Demorou na oficina, achei que ia ser mais rápido. A gente deixa a cerveja pra amanhã, certo?
Bya tentou esconder a decepção. Apesar do clima ter pesado, queria ficar mais um pouco — afinal, não estava tão tarde. Por outro lado, sentia alívio: sair daquele carro, respirar ar puro, pensar no que comprar com o dinheiro.
— Bom... cê que sabe. Eu por mim ficava mais, mas é até melhor assim.
— É, também acho melhor — disse ele, num tom casual, mas firme.
— Esses dias você falou que queria conversar mais, me conhecer... Hoje enquanto a gente caminhava até a oficina, conversamos bastante, não foi?
E continuou:
—E se a gente for embora agora, sobra mais tempo também pra você lavar minha roupa e me devolver amanhã.
O comentário pesou no ar. Bya sentiu um nó apertando a garganta — de repente o fim daquele rolê era culpa dela.
Mas tentou deixar o clima mais leve:
— Si, sim, claro, eu vou dar um jeito. Amanhã tá quase tudo em ordem.
Ele sorriu torto, querendo aliviar também:
— Ah, que bom. Mas nem precisa trazer tudo. Preciso de algumas pra viajar e, quando voltar, pego o resto.
Os cem reais perderam o valor na hora. Os planos de maquiagem, perfume, roupas... nada mais importava. Queria ser dele, mas do nada parecia que havia perdido tudo.
Ela desviou o olhar, tentando esconder a raiva dela mesma... Ela sempre causava esses problemas por não saber bem a hora de fechar a boca.
Diogo perguntou em que ponto ela queria ficar — já que estavam longe do centro.
Ele disse que, como estavam perto da república, podia deixá-la no ponto de ônibus perto do velório. Ela pediu que fosse mais adiante, senão teria que pegar outro ônibus ou caminhar muito e tava muito calor...
Ele percebeu o tom irritado na voz dela e, para aliviar a tensão, comentou quase brincando:
— Ah, claro, princesa... pra você eu faço tudo, você sabe disso, né?
E então, com uma curiosidade que soou como provocação:
— Agora me conta direitinho: o que você ficou fazendo na oficina do Faísca depois que eu saí? Ainda não entendi direito uma coisa...
A garganta dela secou. Depois da confusão com Murilo, o elogio de antes agora parecia alguma acusação.
— Não aconteceu nada demais... já te falei, lindo. Só fiquei vendo eles trabalharem e comentando alguma coisa quando dava. Mexi no celular... esperando chegar alguma mensagem sua.
Ele riu, desconfiado:
— Ah é? Será que foi só isso mesmo? Porque acredita que o Faísca falou bem de você pra mim?
Ela tentou minimizar:
— Ah, deve ser porque ele passa o dia todo sozinho lá. Ter mais alguém pra conversar deve ser bom.
Ele sorriu com malícia:
— Pode até ser... Mas lembra que ele disse que não ia dar mais desconto no meu serviço?
— Claro, ficou um clima estranho lá.
— Pois é. E se eu te contar que ele tirou cem reais do valor por sua causa?
Ela deu risada nervosa:
— Ah, qual é, lindo... até parece.
Diogo parou o carro, pegou duas notas de cinquenta e mostrou:
— Tá duvidando? Ele mesmo disse que foi por sua causa.
Ela riu, mas o riso tinha um fundo de medo.
Ele aproximou o corpo quente, estendendo a nota:
— Seja lá o que vocês fizeram, valeu a pena. Esses cinquenta são seus. Presente meu pela ajuda de hoje.
— Não, imagina. O desconto é seu, ele deu pra você.
— Nada disso. Eu só consegui por sua causa. Se não quiser aceitar, considera então como um adiantamento da lavagem das roupas. Fechou?
Ela ficou irritada — parecia que tudo vinha com uma intenção escondida. Deveria ter aceitado calada.
Mal teve tempo de se recompor quando aconteceu.
O beijo veio rápido, inesperado. O calor da boca dele se misturou ao cheiro forte de suor, incendiando a pele dela.
Bya sorriu nervosa, já sabendo o que viria.
— Diogo, para... aqui não.
— Calma, garota... relaxa.
As mãos dele entraram pela barra da camiseta e apertaram seus seios, beliscando os bicos. Ela arfou, tentando resistir, mas a boca aberta entregava prazer. Ele conhecia o ponto fraco dela. O corpo tremia, dividido entre o desejo e a vontade de fugir.
A mão dele guiou a dela até o volume rígido sob o calção. Ela tentou recuar.
— Não, não... calma, garota. Eu disse que ia cuidar de você, não disse?
— Mas tem gente lá fora...
Ele riu:
— E a gente tá aqui dentro. Ninguém vê. Vai, Bya, faz logo isso.
O coração dela acelerou, a mente cheia de pensamentos contraditórios — medo, culpa e um desejo obscuro.
— Diogo, eu... não sei se...
— Shhh... fica calma. Deita aqui no meu colo, vai... Ninguém vai ver você.
O cheiro dele invadia tudo. A pele quente colava na dela, a respiração pesada no pescoço. O corpo reagia, mesmo contra a vontade. Ela pensava que precisava agir com naturalidade... não queria que ele ficasse ofendido de novo por causa do cheiro.
Ele soltou o membro pela perna do calção, e o cheiro azedo a fez lembrar da outra veze — um misto de excitação e repulsa. Quando começou, o gosto dele dentro da sua boca fez o estomago embrulhar novamente... lágrimas surgiram nos olhos — não de humilhação, mas do conflito de querer estar alí e de fugir. E ao mesmo tempo, de se perder naquele instante.
— Isso, garota... vai... eu gosto de você assim, sabia?
O corpo dela tenso, mãos trêmulas. Sentia prazer escondido, mas ainda não sabia como lidar sem conflito. Ele a acariciava segurando seus cabelos gentilmente.
— Agora sim, você tá indo melhor do que da outra vez. Eu sabia que ia se acostumar. Você é uma mulher muito especial mesmo...
Ela acelerou, só pensando em ir embora, dentro dela ela queria compensar tudo...pelo mal entendido do Murilo, pelo segredo com o Faísca... Quando ele apertou seus cabelos, ela sentiu uma satisfação estranha, que a fez molhar em segredo... Ele atingiu o clímax, inundando sua boca com seu gozo quente... segurando a sua cabeça por uns segundos a mais, garantindo que ela fizesse o que ele queria. Quando soltou, ela engoliu, sentindo o gosto amargo e a impotência da cena.
Ele a olhou firme, dominante.
— Tá aprendendo do jeito que eu gosto. Da outra vez parecia uma amadora, mas hoje você foi melhor já.
Bya tentou esconder o rubor. O corpo ainda tremia. O melado entre as pernas a confundia e ela ficou feliz que ele não percebeu.
Diogo pegou a camisa suada do treino e, sem olhar pra ela, passou pelo rosto e pelos cabelos, limpando e secando o suor como se nada tivesse acontecido.
Ela ficou parada, sentindo o cheiro ainda mais forte, a boca amarga, o corpo quente.
Ele se ajeitou, passou a camiseta pelo peito úmido, pelos braços peludos, e então virou para ela. O beijo veio forte, com mordida.
— Você é muito especial Bya... merece ser feliz. E eu quero te fazer muito feliz.
Lançou um último olhar, pegou a mochila dela entre as pernas sob o carpete, colocou a camiseta dentro, alcançou a sacola plástica no banco de trás com mais roupas sujas e colocou dentro e depois deixou no colo dela.
O caminho até o ponto mais próximo foi curto. O silêncio era de alívio, os vidros agora abertos permitiam o ar entrar e o sons da cidade também.. Tudo parecia mais real dessa forma. A Musica seguia baixa no rádio e eles só soltaram as mãos para destravar porta quando chegaram ao ponto de ônibus.
Ele a puxou enquanto ia saindo, o beijo foi intenso de novo-como se quisesse recomeçar.
Ela se afastou e ele pediu para que ela mandasse mensagem quando tivesse chegado.
O carro saiu da vaga subindo a ladeira – Bya viu os vidros subirem lentamente até desaparecer no horizonte.
Ao chegar no ponto, não havia lugar para sentar – o sol fazia um ardido no rosto, a calcinha molhada encostada na pele a lembrava de um prazer que ela desconhecia. Era uma descarga de emoções... A única fuga agora eram os 150 reais. Já sabe que 50 iriam para pagar a tia... e sobrariam 120 reais para fazer muitos planos na perfumaria e onde mais ela quisesse.