O sol batia impiedoso no areal. O calor fazia o ar vibrar sobre a areia fina, onde os pés enterravam-se quentes e os corpos procuravam refúgio nas toalhas coloridas estendidas num semi-círculo. Era sábado, e a praia estava cheia, mas havia espaço suficiente para que o grupo se sentisse num pequeno mundo à parte.
Júlio chegou com Mário, mochila ao ombro, toalha enrolada à cintura. O mar estendia-se num azul hipnótico. Lá ao fundo, via já Inês e as outras raparigas a estenderem as toalhas. Maria ajeitava o biquíni, Ana já mergulhava os pés, e Patrícia… Patrícia estava deitada de barriga para baixo, o rabo empinado, bronzeado, coberto apenas por um fio de tecido que mal lhe tapava a intenção.
Inês virou-se ao vê-los aproximar-se. Trazia um biquíni branco que lhe assentava como uma segunda pele. O contraste com a pele dourada fazia-a parecer uma pintura viva. Sorriu ao ver Júlio, e ele sentiu imediatamente aquele calor diferente a subir-lhe pela espinha — e não era do sol.
— Já vinham tarde! — chamou Ana.
— Dorminhocos de verão — respondeu Mário, já a tirar a t-shirt. — Quem trouxe bola?
— Eu — disse Rafael, que apareceu logo depois com Alexandre. — Mas só jogo se Patrícia for da minha equipa.
— Só se ganhares o direito — respondeu ela, sem se virar.
Júlio estendeu a toalha ao lado da de Inês, suficientemente perto para que os ombros se roçassem se ambos se deitassem virados para o mesmo lado. Mas antes de conseguir acomodar-se, Patrícia virou-se, de frente para ele.
— Júlio… tens as costas a brilhar. Precisas de bronzeador?
Ele hesitou.
— Hm, posso pôr mais logo.
— Agora é que o sol está a atacar. Anda cá — disse ela, já a abrir o frasco e a despejar o líquido espesso nas mãos.
Olhares cruzaram-se. Inês fingia estar a olhar para o mar. Mas os olhos, nos intervalos, varriam Júlio.
Ele sentou-se, costas viradas para Patrícia. Ela ajoelhou-se atrás dele, as coxas a tocarem-lhe as costas, e começou a espalhar o bronzeador com movimentos lentos, sensuais. As mãos subiam pelos ombros, desciam pelos omoplatas, circulavam junto à cintura. O toque era firme, quente, e deixava um rasto de arrepios visíveis.
— Tens a pele tão macia — sussurrou ela, inclinando-se mais. Os seios dela, dentro do biquíni justo, roçaram-lhe subtilmente as costas.
Ele fechou os olhos por um segundo. Sentia o cheiro doce dela, a respiração perto do pescoço.
— Devias pintar as unhas dos pés da próxima vez — continuou, quase em segredo. — Aposto que Inês ia adorar.
O coração dele bateu com força. A provocação era clara — e intencional.
Quando ela acabou, deu-lhe um ligeiro estalo na anca.
— Pronto. Agora estás pronto para fritar com elegância.
Ele virou-se e olhou-a. Os olhos verdes dela estavam cheios de malícia, mas também de… algo mais.
Inês levantou-se logo depois, indo para a água com Ana. Júlio ficou para trás, a tentar recuperar o fôlego.
Durante o jogo de bola na água, a tensão entre Júlio e Inês continuava, mas disfarçada. Sorrisos trocados, toques "acidentais", disputas corporais que envolviam braços entrelaçados, mergulhos em conjunto.
Quando saíram da água, Patrícia esperava por ele com uma toalha.
— Vem secar-te — disse, estendendo a toalha e abrindo espaço entre as pernas para ele se sentar.
Júlio olhou em volta. Inês estava a tirar a areia dos pés com a ajuda de Ana. O olhar dela atravessou-o por um instante. Não era de ciúme. Era de atenção — e de contenção.
Sentou-se entre as pernas de Patrícia. Ela passou-lhe a toalha pelos ombros, depois pelas costas, descendo em círculos suaves.
— Tens consciência de que és… delicioso de observar?
— És sempre assim directa?
— Só com quem me interessa.
Ela debruçou-se ao ouvido dele.
— A Inês já te disse que gosto de rapazes assim? Meio anjo, meio desafio?
Júlio virou-se ligeiramente, os rostos quase a tocarem-se.
— Isso é uma espécie de elogio?
— É um convite.
Ele riu, mas sem conseguir esconder o calor que subia por dentro.
— E se eu dissesse que estou… curioso?
— Eu diria que estás muito mais do que isso.
Mais tarde, o grupo adormeceu em pequenos grupos sobre as toalhas. Júlio afastou-se para ir à casa de banho do bar da praia. Patrícia seguiu-o minutos depois, discretamente.
Encontraram-se na lateral do edifício, junto às duchas exteriores, onde a sombra era mais fresca e havia menos gente.
— Fugiste? — perguntou ela.
— Só por um bocado.
— Também eu.
Ela encostou-se à parede, deixando a luz dançar-lhe sobre a pele ainda húmida. O biquíni colava-se ao corpo como uma promessa.
— O que queres, Júlio?
Ele hesitou.
— Quero perceber se o que sinto é real. Ou só o calor a subir-me à cabeça.
Ela aproximou-se. Passou-lhe um dedo pelo peito, molhado do mar.
— Então sente.
A mão dela pousou na cintura dele. Os corpos aproximaram-se. Ela beijou-lhe o pescoço, depois o canto da boca. Os lábios dele procuraram os dela. O beijo foi diferente. Mais carnal. Menos terno.
As mãos dela exploravam-lhe as costas, depois desceram até à linha dos calções. Ele agarrou-lhe os quadris, puxando-a contra si. Sentia o corpo dela a encaixar-se no seu, a pele quente, o desejo a crescer sem aviso.
Mas então… parou.
— Patrícia… eu…
Ela recuou ligeiramente, mas sem o largar.
— Ainda estás com a cabeça nela?
Ele assentiu.
— E no que isto significa. Eu gosto de ti. Gosto da tua energia. Mas… preciso entender o que estou a viver.
Ela olhou-o nos olhos. Havia ali mais compreensão do que ele esperava.
— Eu não quero roubar-te. Só provocar-te. E… talvez partilhar.
Ele franziu o sobrolho.
— Partilhar?
Ela sorriu, misteriosa.
— Pergunta à Inês. Ela entende.
E com um último beijo no ombro dele, voltou para a praia.
O fim da tarde trouxe um cansaço doce. A praia, o calor, a água salgada, os olhares… tudo parecia ter deixado os corpos à flor da pele.
Depois do grupo se dispersar — alguns para casa, outros para jantar fora — Inês sugeriu a Júlio que fosse com ela até casa, dizendo que os pais não chegavam senão no dia seguinte.
— Mário ficou a dormir no Rafael — disse ela, quando entraram. — Temos a casa por nossa conta.
O tom dela era leve, mas havia um subentendido que não se podia ignorar.
Ela subiu as escadas à frente, o corpo ainda húmido do banho rápido que dera na casa de banho da praia, o vestido curto a colar-se às coxas. Júlio seguiu-a em silêncio, o coração a bater-lhe forte no peito, como se o corpo soubesse antes da mente o que estava para acontecer.
O quarto de Inês era familiar, mas naquela noite parecia diferente. A luz suave do candeeiro de secretária criava sombras longas nas paredes, e a janela entreaberta deixava entrar o cheiro do verão: terra quente, jasmim, maresia.
Inês fechou a porta com um gesto quase cerimonial. Depois virou-se para ele.
— Queres que te pinte outra vez as unhas? — perguntou, com um sorriso terno, aproximando-se.
— Não hoje.
— Hoje queres que te toque de outra forma?
Júlio não respondeu. Em vez disso, aproximou-se e beijou-a.
O beijo foi suave, mas carregado de promessa. As mãos dela subiram-lhe pelo peito, despindo-lhe a t-shirt devagar. Os dedos de Inês eram precisos, sensíveis, quase reverentes ao explorar cada centímetro da pele dele.
Júlio deixou as mãos pousarem-lhe na cintura, depois subiram devagar pelas costas, sentindo a pele quente, os músculos a reagirem sob o seu toque. Quando os lábios dela se afastaram, os olhos mantiveram-se fixos nos dele.
— Já pensaste… quantos anos estivemos juntos, sem saber que isto podia acontecer?
— Talvez sempre soubéssemos.
Inês puxou o vestido por cima da cabeça, deixando o corpo à mostra num conjunto de lingerie simples, de algodão branco. Júlio prendeu a respiração. Ela era bela de um jeito natural, quase sagrado. O corpo pequeno, firme, harmonioso. Os mamilos duros contra o tecido, a barriga plana, o quadril delicado mas cheio de curvas.
— Estás a tremer — sussurrou ela.
— Estou a explodir por dentro.
Ela pegou-lhe nas mãos e levou-as até ao fecho lateral do soutien.
— Então vem comigo.
Despiram-se devagar, como se cada peça de roupa fosse um pedaço de infância a ser deixado para trás.
Os corpos encontraram-se na cama, primeiro em carícias lentas, exploratórias. Mãos em pescoços, costas, coxas. Depois, lábios que desciam pela pele, procurando o sal, o perfume, o calor.
Júlio passou os dedos pelas coxas dela, depois subiu, com reverência. Inês abriu-se para ele, com um gemido suave, o corpo a arquear-se ao toque.
— Toca-me assim — pediu ela. — Como se me descobrisses com os olhos fechados.
E ele obedeceu. Tocou, beijou, lambeu. Aprendeu a linguagem do corpo dela com a boca, com os dedos, com a respiração.
Ela devolveu o gesto com igual entrega. Explorou-o com mãos firmes, com a língua húmida, com os olhos cheios de ternura e desejo. Quando o corpo dele tremeu entre os dela, Inês sorriu.
— Sempre te achei bonito — disse ela, os dedos a passearem-se por entre os cabelos dele. — Mas agora… vejo-te com outros olhos.
— E eu a ti. Como nunca vi ninguém.
Fizeram amor pela primeira vez com uma suavidade inquietante. O encaixe foi lento, profundo, cheio de pequenas pausas e suspiros. Não houve pressa. Nem medo. Só um silêncio cheio de respiração e murmúrios.
Os gemidos dela eram curtos, doces, intensos. O corpo dela movia-se debaixo do dele com uma naturalidade quase instintiva. Ele sentia cada contração, cada arrepio. Tocavam-se como se pudessem desenhar-se um no outro.
No fim, ficaram enlaçados, os corpos nus entre os lençóis quentes, ainda a recuperar o fôlego.
— Nunca pensei que isto fosse acontecer assim — disse ele, com a cabeça pousada no peito dela.
— Eu imaginei… vezes demais — respondeu ela, a brincar-lhe com o cabelo. — Mas a realidade foi melhor.
— Achas que isto muda tudo?
— Não. Só muda o que tem de mudar.
Ele beijou-lhe o ombro.
— Patrícia disse-me uma coisa.
— Disse-te o quê?
— Que não queria roubar-me… só provocar-me. Talvez… partilhar-me.
Inês ficou em silêncio por alguns segundos. Depois sorriu.
— Ela é perversa.
— E tu?
— Eu sou curiosa.
O silêncio que se seguiu foi denso. Mas não desconfortável. Um silêncio onde as possibilidades dançavam como o calor da noite.
(continua)