Capítulo 2 – Noites de Toalha e Segredos

Um conto erótico de Juliana
Categoria: Crossdresser
Contém 1847 palavras
Data: 09/08/2025 03:30:59
Última revisão: 09/08/2025 03:52:03

A noite caiu preguiçosa, abafada, sem vento. O calor do dia parecia ter ficado colado às paredes da casa, aos corpos, às toalhas penduradas ao acaso nas cadeiras do quintal. As luzes amareladas da varanda davam um brilho morno às peles douradas pelo sol, e no ar pairava o cheiro a churrasco mal apagado, protetor solar e suor seco.

Júlio estava sentado numa das cadeiras de plástico, uma toalha enrolada à cintura e uma cerveja semi-quente na mão. As unhas ainda tinham vestígios do verniz rosa, agora meio gasto, mas ele não se importava. Na verdade, havia algo reconfortante naquela cor — como se fosse uma lembrança visível de algo só deles.

Inês estava sentada no chão, perto dele, de costas. Tinha o cabelo solto, húmido da piscina, e usava uma camisola larga que lhe caía por um ombro, revelando a alça do biquíni. Conversava com Ana e Maria, rindo-se em voz baixa. Júlio ouvia-lhe a voz sem esforço, como uma canção familiar.

Foi então que Patrícia apareceu.

Vinha da cozinha, com dois copos na mão e um vestido leve, quase transparente com a luz contra. A peça dançava-lhe sobre o corpo, colando-se nas coxas e marcando-lhe os seios firmes. Os olhos verdes brilharam quando encontrou o olhar de Júlio.

— Anda cá, rapaz das unhas bonitas — disse, a sorrir, estendendo-lhe um copo.

Ele corou. Alguns amigos riram-se.

— Estás a ver, Patrícia? Ele não se livra da manicure.

— Eu acho encantador — respondeu ela, num tom que era meio brincadeira, meio confissão.

Patrícia sempre fora direta, mas havia uma suavidade no olhar dela agora, algo mais demorado, mais denso. Sentou-se na borda da cadeira ao lado, cruzando as pernas devagar, deixando a perna nua roçar, ainda que ligeiramente, na de Júlio.

— Sabes que fico curiosa contigo, Júlio.

— Comigo?

— Com o teu silêncio. E com o que guardas por baixo dessa timidez.

Ele não soube o que responder. Sentiu o coração bater-lhe na garganta. Olhou de relance para Inês, que o observava com um meio-sorriso. Ela sabia. Claro que sabia. Patrícia era sua amiga. Confidente. Testemunha.

A roda voltou a formar-se. Toalhas no chão, almofadas, copos. Mais escuro agora, com apenas uma luz amarela pendurada a balançar na varanda. Mário trouxe um baralho de cartas para misturar com o jogo: quem tirasse um certo naipe, respondia; outro, cumpria consequência.

Patrícia ficou estrategicamente ao lado de Júlio. Inês do outro lado da roda.

O jogo aqueceu depressa. Perguntas sobre desejos secretos. Beijos trocados. Uma consequência fez Ana sentar-se no colo de Alexandre e mordiscar-lhe o pescoço, sob os aplausos do grupo. Outra obrigou Maria a confessar onde e com quem tinha tido o orgasmo mais intenso.

E depois, saiu o naipe de Patrícia. Consequência.

— Escolhe alguém para recriar a vossa primeira fantasia juntos. Em 30 segundos. Improvisa.

Patrícia olhou devagar à volta. Parou em Júlio.

— Posso?

Ele engoliu em seco e assentiu.

Ela levantou-se, puxando-o pela mão. Levou-o para o canto do quintal, com o grupo a aplaudir em fundo, rindo, incentivando.

— Fecha os olhos — disse ela, em voz baixa.

Ele obedeceu.

Sentiu as mãos dela nas suas, a levarem-nas devagar até à cintura dela.

— Lembras-te quando a Inês te vestia com os vestidos dela? — sussurrou. — Eu via-vos, às vezes. Nunca disse nada. Mas achava… bonito. Eras diferente. E isso deixava-me curiosa.

Júlio manteve os olhos fechados, a respiração presa.

— Nunca foste menos homem por isso — continuou ela, aproximando-se. — Aliás… acho que te tornava mais… desejável.

As mãos dela subiram-lhe pelos braços. Depois pousaram-lhe no rosto. Polegares a acariciar-lhe a face.

— Abre os olhos.

Ele abriu.

Ela estava colada a ele, os olhos cravados nos seus. E então pegou numa das pontas da toalha enrolada à cintura dele, e puxou devagar, deixando-a cair ao chão.

O grupo aplaudiu, riu, mas àquela distância, com a penumbra a envolver os dois, o momento parecia só deles.

Ela tocou-lhe o peito com a ponta dos dedos.

— A tua pele é suave como eu imaginava.

Depois, curvou-se ao ouvido dele.

— Se um dia quiseres brincar outra vez... com vestidos. Com maquilhagem. Ou só com a minha companhia… chama-me. Eu não preciso que sejas mais homem. Só quero que sejas inteiro.

Voltou a puxar a toalha, tapando-o outra vez. Beijou-o no canto da boca. Não na boca. No canto.

E levou-o de volta à roda como se nada tivesse acontecido.

Mais tarde, já com os outros a recolherem, Inês sentou-se ao lado de Júlio no sofá da varanda. Estavam só os dois. O ar estava mais fresco, mas os corpos ainda quentes.

— A Patrícia foi gentil — comentou ela, em tom neutro.

— Foi direta.

— Ela sempre soube. Conto-lhe quase tudo.

— E tu? Sabias que ela…?

— Que ela gostava de ti? Claro. De ti assim.

Júlio olhou para Inês, confuso.

— Isso incomoda-te?

Ela sorriu e abanou a cabeça.

— Não. Na verdade… excita-me um pouco.

Silêncio.

Ela puxou-lhe a mão e começou a brincar com os dedos dele, acariciando as pontas pintadas.

— Sabes que gosto de partilhar. De provocar. De ver… coisas acontecerem.

— Que tipo de coisas?

Ela subiu o olhar, lenta.

— Coisas que comecem com ternura… e acabem com pele arrepiada.

A noite terminou com um beijo lento, desta vez mais longo, mais íntimo. Não havia pressa. Nem promessas.

Mas o que antes era um segredo de infância agora tornava-se um desejo à flor da pele — e não era só entre os dois.

No dia seguinte:

O quarto estava cheio de gente, mas era Inês quem ocupava o centro sem se esforçar. Estava de pé, junto ao microfone improvisado — um comando de consola ligado a um rádio antigo com colunas decentes — e a sua voz enchia a sala com uma versão delicada e sensual de Wicked Game, de Chris Isaak.

As luzes estavam baixas, e só as pequenas lâmpadas coloridas penduradas nas prateleiras davam forma às sombras e aos contornos dos corpos. Júlio estava encostado à parede, de copo na mão, os olhos colados nela.

O mundo desaparecia cada vez que ela cantava.

Inês usava um top justo e uma saia leve, e mexia-se devagar, com uma confiança tranquila que o hipnotizava. A voz dela era doce, envolvente, com aquele toque de timidez que tornava tudo mais íntimo. Ela não olhava diretamente para ele… mas sabia que ele estava ali.

No sofá, Mário ria-se com Rafael e Alexandre, enquanto Patrícia dançava sozinha ao fundo da sala, os olhos ora na música, ora em Júlio.

Maria e Ana partilhavam um olhar cúmplice e brindavam em silêncio, enquanto Inês cantava os últimos versos. E quando a música terminou, houve aplausos — não exagerados, mas sinceros.

Júlio sorriu, e ela, ao cruzar finalmente o olhar com ele, corou.

Mário, que assistia à troca silenciosa com sobrancelhas semicerradas, bebeu um gole de cerveja e bateu no ombro de Júlio ao passar por ele.

— Anda cá, coisa gira. Temos que conversar.

Júlio seguiu-o até à cozinha, onde o som estava mais abafado.

— Estás diferente — começou Mário, abrindo o frigorífico e tirando uma bebida.

— Diferente como?

— Sei lá… mais cor-de-rosa.

Júlio bufou uma gargalhada curta, mas ficou tenso.

— As tuas unhas estão pintadas, meu.

— Ah. Isso.

— Isso o quê? Vais entrar numa banda de glam rock?

Júlio sorriu, mas não respondeu logo. Mário encostou-se ao balcão, cruzou os braços.

— Vá, conta-me lá. O que se passa entre ti e a minha irmã?

A pergunta ficou no ar, espessa.

— Nada de mais — começou Júlio, hesitante. — Só… temos estado mais próximos.

— Mais próximos? Tipo, mãos dadas e confidências… ou beijos e massagens nos pés?

— Mário…

— Tu és o meu melhor amigo, pá. Mas também és o Júlio que a minha irmã levava para o quarto para lhe pintar as unhas e meter vestidos cor-de-rosa. Agora andas com verniz outra vez, ela olha para ti como se estivesses nu, e tu pareces um adolescente prestes a explodir.

Júlio corou até às orelhas.

— Não é o que parece.

— Então explica-me o que é.

Silêncio.

— Não sei bem. A sério. Mas… há qualquer coisa entre nós. Está a crescer. E não quero fugir disso.

Mário olhou-o por um momento longo. Depois suspirou.

— Desde que não a magoes… e que me poupes aos detalhes — disse por fim, com um meio sorriso. — E por amor da santa, arranja acetona. Pareces uma prateleira da Claire’s.

Riram-se os dois, e a tensão quebrou-se. Mas o recado estava dado.

Mais tarde, já com a sala mais vazia, Inês saiu para apanhar ar. Júlio esperou alguns minutos, depois seguiu-a para o jardim das traseiras, onde a noite era mais escura, e o ar cheirava a terra molhada.

Ela estava sentada no banco de pedra junto ao limoeiro, a olhar o céu.

— Cantaste lindamente — disse ele, aproximando-se devagar.

Ela olhou para ele, sorrindo com doçura.

— Estavas a ver-me?

— Sempre.

— Vi o Mário a arrastar-te pela cozinha.

— Fez de irmão mais velho.

— E tu? — perguntou ela, baixando o tom. — O que disseste?

— Que havia qualquer coisa entre nós. Que não queria fugir disso.

Ela levantou-se, aproximando-se até ficarem frente a frente. Depois, sem dizer nada, pegou-lhe nas mãos — as mesmas com verniz cor-de-rosa já lascado.

— Eu também não quero fugir.

O beijo aconteceu sem cerimónia. Natural. Intenso.

Desta vez os lábios procuraram-se com mais fome. As línguas tocaram-se com mais desejo. As mãos não hesitaram.

Ela puxou-o para o banco, sentando-se de lado, as pernas dobradas sobre as dele. Ele abraçou-a pela cintura, as mãos deslizando-lhe pelas costas nuas até à curva suave da cintura. Os corpos encaixaram-se.

Inês gemeu baixinho contra os lábios dele.

— Já sonhei contigo assim — murmurou. — Mesmo antes de perceber o que significava.

A mão dele deslizou-lhe pela perna, devagar, até à coxa exposta. Ela não recuou. Pelo contrário, puxou-o para mais perto, deixando que a sua pele o guiasse.

— Gosto quando me tocas assim — disse, com a boca no ouvido dele. — Mas também gosto quando deixas que eu te toque.

Ela passou os dedos pelo pescoço dele, depois desceu pelo peito, por baixo da t-shirt, até ao ventre.

Júlio sentiu o corpo todo a reagir, o calor a expandir-se entre eles.

— Tenho saudades de quando me deixavas maquilhar-te — disse ela, em tom de provocação doce.

— Ainda podes.

— Agora?

— Agora não tenho rímel. Mas tenho a tua boca.

Beijaram-se outra vez, mais lento, mais profundo.

As mãos encontraram novos caminhos. O toque já não era apenas curioso — era necessidade. Os dedos de Inês roçaram o interior das coxas de Júlio, por cima do tecido fino dos calções. Ele arfou.

— Queres parar? — perguntou ela, recuando ligeiramente.

— Não. Só… estou a aprender a respirar contigo assim tão perto.

Ela sorriu, encostando a testa na dele.

— Também estou a aprender. A conhecer-te com outros olhos.

Passaram minutos colados, a sussurrar palavras tontas e beijos ainda mais lentos. As carícias tornaram-se mais íntimas, mas sempre com um respeito silencioso. O toque era sensual, sem ser urgente. Desejo sem invasão.

No fim, ficaram abraçados, as pernas entrelaçadas, os rostos colados.

— Temos que contar ao Mário? — perguntou Júlio, quase a rir.

— Ele já sabe. Mas finge que não. É o melhor que podemos pedir dele.

— E os outros?

— Eles vão perceber.

— E tu?

— Eu já percebi há muito tempo.

(continua)

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 6 estrelas.
Incentive Juliana_C a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil de Dani Pimentinha

Perfeitinho Juliana, breve eu leio o terceiro merecidíssimas 3 estrelas.

0 0