Há Luz, Mesmo no Fundo do Poço - Parte 1/3

Um conto erótico de Tom (Por Mark da Nanda)
Categoria: Heterossexual
Contém 4354 palavras
Data: 08/08/2025 18:41:39

Meu nome é Tomás, Tom para os íntimos. Tenho 28 anos, e até aquele fim de semana na casa de campo, eu acreditava que minha vida com Elisa era uma obra-prima, tal qual as construções antigas que restauro no meu trabalho como arquiteto. Elisa, minha esposa era o alicerce do meu mundo, a mulher que me fazia rir, que me desafiava, que transformava cada dia em uma tela viva de cores e paixão. Casados há cinco anos, namorados por sete, éramos o casal que todos admiravam: cúmplices, apaixonados, brincalhões, aparentemente inseparáveis. Mas naquela fatídica noite, cercada por risadas, bebidas e uma confiança cega que eu depositara nela, minha visão do nosso casamento desmoronou como uma fachada rachada pelo tempo. Eu sou o traído dessa história. Sim, eu fui chifrado covardemente, e contar o que vi, o que senti, é uma tentativa de me reconstruir como se fosse eu um prédio em ruínas após chamas avassaladoras, sabendo, por experiência profissional, que algumas rachaduras nunca vão fechar.

Sou um cara comum. Bem, nem tanto... Tenho 1,80m, cabelo castanho curto que começa a mostrar fios grisalhos nas têmporas, barba rala que mantenho por preguiça de fazê-la todos os dias, e olhos azuis que Elisa dizia serem “um mar onde ela se perdia”. Não sou de academia, mas mantenho o corpo em forma com caminhadas longas pelas manhãs, quando o silêncio da cidade me ajuda a pensar. Como arquiteto especializado em restauração de prédios históricos, meu trabalho é meticuloso: passo horas desenhando, planejando, pesquisando, trazendo o passado de volta à vida com traços precisos. Sou introspectivo, observador, o tipo que prefere ouvir a falar, mas quando falo, é com intenção. Gosto de analisar as pessoas, de entender o que as move, talvez porque minha profissão me ensinou a ver beleza nas estruturas que outros ignoram.

Elisa é o oposto de mim em quase tudo. Aos 30 anos, ela tem 1,65m, cabelo loiro ondulado que brilha como ouro ao sol, caindo em cascata até os ombros, e olhos castanhos, com um brilho que mistura doçura e provocação. Seu corpo é uma obra de arte, seios fartos que parecem desafiar a gravidade, cintura fina que ela exibe com orgulho, coxas torneadas que mantém com aulas de “spinning” e um bumbum redondo que, segundo ela, é “o resultado de muito suor”. Ela é publicitária por formação, mas vibrante e carismática por natureza, o tipo de mulher que entra numa sala e faz todos se calarem, não só pela beleza, mas pela energia que emana. No trabalho, ela cria campanhas que cativam, com ideias que misturam ousadia e emoção, e na vida, ela é assim também, um furacão que me puxa constantemente para fora da minha zona de conforto.

Nosso casamento era uma dança bem ensaiada. O sexo era um dos pilares, claro; Elisa tinha uma paixão intensa, um jeito de se entregar que fazia meu corpo inteiro pulsar. Eu adorava explorar cada curva dela, ouvir seus gemidos roucos, sentir suas unhas cravando nas minhas costas. Fora da cama, éramos parceiros: viajávamos juntos, fazíamos planos para o futuro, desde comprar uma casa com jardim até viajar para a Itália, onde eu poderia estudar a arquitetura renascentista e ela poderia se inspirar na “publi” locais. Tínhamos nossas brigas, claro, eu às vezes me irritava com sua impulsividade, ela com minha mania de planejar tudo, mas sempre resolvíamos com conversa e uma noite de amor que apagava qualquer mágoa. Minha confiança em Elisa era absoluta, talvez exagerada. Eu nunca questionei suas saídas com amigas, suas longas noites com clientes, seus flertes inocentes em eventos de trabalho. Ela era minha melhor amiga e eu achava que nada poderia nos abalar.

Quando o convite da nossa amiga Marina, para o reencontro de fim de semana chegou, via WhatsApp, vi como uma chance de relaxar e reviver os dias de colégio com a “Turma do Apê”, nosso grupo de amigos que vivia fazendo festas no apartamento do pai de um dos amigos. Éramos uma turma unida, que sobreviveu a provas, noitadas e corações partidos juntos, e mesmo depois de anos, mantínhamos contato, ainda que esporádico. A ideia de passar um fim de semana com eles, longe da correria da cidade, parecia perfeita:

— Tom, a Marina tá chamando a galera pra um “finde” na casa de campo que ela alugou. Topa? — Elisa perguntou, mostrando o celular, os olhos brilhando de empolgação.

Eu estava no sofá, revisando esboços de um casarão do século XIX que estava restaurando. Levantei os olhos, vendo o entusiasmo dela:

— Parece massa... Quem vai? — Respondi, pegando o celular para ler a mensagem.

— A turma toda: Marina, Leila, André, Joana, Rafael, Carol, Lucas, Iara, Thiago, Letícia... Talvez mais alguns... Uns 15, acho. Vai ser como as festas da “facul”, mas com mais conforto e menos cerveja quente. — Ela disse, rindo, enquanto se sentava no meu colo.

— Tô dentro. Mas sem ressaca épica, hein? — Brinquei, beijando o pescoço dela: - Já não tenho mais idade para isso não...

— Vamos por partes, querido. Sem promessas, por enquanto, ok? Não sei se consigo honrar esse compromisso tão solene... — Ela respondeu, mordendo o lábio com aquele olhar que me desarmava.

Eu ri da sua cara divertida, sentindo o calor que ela sempre despertava em mim. A ideia de um fim de semana com a Turma do Apê era tentadora. Marina, a organizadora, uma “influencer”, era outra alma livre do grupo: morena, cabelo curto e desfiado, olhos grandes, pretos e expressivos, com uma energia que contagiava qualquer ambiente. Leila, a dentista, era uma descendente de orientais, magrinha, de pele branca e delicada como uma peça de porcelana. André, o marido dela, era o oposto: sério, engenheiro civil, com um humor seco que fazia a gente rachar de rir quando menos esperava. Joana era a sonhadora, a artista plástica, a riponga e maconheira da turma, sempre com ideias malucas, como pintar um mural no apê que quase nos custou o despejo. Rafael, o advogado, o solteiro convicto, era o “galã”, com cabelo castanho ondulado, sorriso charmoso e um jeito de flertar que nunca parecia sério, mas que atraía olhares. Carol, a psicóloga, era a mais quieta, com um jeito hipnótico de olhar que fazia você contar até seus segredos mais profundos. Lucas virou jogador de basquete; era um gigante negro, com quase 2m, músculos definidos e um sorriso fácil que desarmava qualquer tensão. Iara, a escritora, era a mais observadora e detalhista, empática até demais com todos, com cabelo preto solto até a cintura e uma risada que ecoava como música. Thiago e Letícia, os discretos, eram professores, sempre com histórias engraçadas sobre alunos. Havia outros, como Bruno, o DJ amador, e Clara, a chef que, além de comandar um restaurante renomado, adorava viajar para eventos no seu “food truck gourmet”. Cada um trazia uma história de vida, um pedaço do passado que eu adorava revisitar.

A casa de campo ficava a duas horas da cidade, numa região de vinhedos e colinas suaves, onde o ar cheirava a terra úmida e o céu noturno era tão estrelado que parecia de mentira. A casa era uma construção moderna, com janelas de vidro do chão ao teto, uma piscina com borda infinita com vista para o vale, uma área de churrasco coberta e uma imensa varanda com fogueira que parecia abraçar a paisagem. Dentro, a sala era ampla, com sofás de couro, outra lareira e uma cozinha americana que dava para a área externa. Havia 6 suítes na casa, suficientes para todos, embora alguns teria que dormir com alguns casais, o que dava um toque de luxo ao retiro.

Chegamos na sexta à noite, com o céu já escuro, o lugar iluminado como uma joia, com luzes quentes saindo das janelas e o som de risadas ecoando. Havia um grupo nas varanda que logo destacou Marina, que veio nos receber com um abraço apertado, segurando um copo de vinho tinto:

— Tom! Elisa... Meus amores, quanta saudade! Já estava pensando que não viriam! — Exclamou, nos puxando para dentro.

— A gente!? Imagina! Tava louca pra chegar aqui. Tô pronta pra essa farra, Marina! — Elisa disse, rindo, já pegando e virando o copo da amiga.

— Cuidado, hein, Tom. Tua mulher tá querendo roubar a cena. — Rafael falou, aproximando-se e me dando um tapa no ombro.

Ele estava com uma camisa polo azul, cabelo perfeitamente bagunçado, e aquele sorriso que eu conhecia desde a nossa juventude, o mesmo que fazia as meninas do curso de direito suspirarem:

— Ela sempre rouba. — Respondi, sorrindo, enquanto Elisa me lançava um olhar provocador, ajustando o vestido verde que abraçava suas curvas.

— Espero que você tenha trazido energia, Tom. Esse “finde” promete ser épico. — Rafael insistiu, piscando para Elisa.

— Tô preparado! E você, se comporta. — Retruquei, meio brincando, meio sério, por conhecer a fama de galinha do amigo.

— Senhor, sim, senhor! – Ele brincou, batendo uma desajeitada continência: - Sempre me comporto. Do meu jeito, mas me comporto...

A noite começou leve, com a turma espalhada entre a varanda, a sala e a área externa. Um rol de carnes variadas já começava a atiçar nossas lombrigas com aquele odor característico. Misturava-se ao aroma doce e cítrico de vinho tinto, caipirinha, batidinhas e cerveja. O crepitar da fogueira criava um som de fundo, regado a risadas e piadas variadas. Além disso, uma “playlist pop” tocava nos alto-falantes. Tudo ali cheirava a nostalgia.

Lembrei da vez que Rafael e eu tentamos organizar uma festa no apê e acabamos com a polícia na porta por causa do barulho. Joana contou como pintou um mural no quarto dela que quase infartou o corretor responsável pela locação, exigindo que fosse apagado sob pena de despejo. Lucas riu, relembrando quando ele e Thiago apostaram quem conseguia beber mais cerveja sem vomitar, tendo os dois vomitado ao mesmo tempo, num empate inimaginado. Elisa estava no seu elemento, rindo alto, alternando em comer e contar histórias do trabalho, e beber e dançar com Joana ao som das músicas. Seu vestido verde, justo na cintura e mais ainda na bunda, balançava enquanto ela rebolava, o cabelo loiro brilhando sob as luzes da varanda. Eu a observava, orgulhoso, mas com um leve desconforto. Rafael, como sempre, não tirava os olhos dela, e até Lucas parecia hipnotizado quando ela passava:

— Que noite, hein, Tom? Tô adorando isso! — Elisa disse, voltando para o meu lado e me dando um beijo quente, com gosto de vinho.

— Cuidado com a bebida, mulher! Brilha, mas não esquece que até vagalume se encosta em lâmpada quente, acaba queimado. — Respondi, apertando a cintura dela, sentindo o calor do corpo dela contra o meu.

- Credo, amor! – Ela deu uma gostosa gargalhada: - Vem dançar comigo?

— Daqui a pouco. Tô conversando com o André... — Falei, apontando para o amigo, que contava uma história sobre um cliente que exigiu um prédio inspirado em Gaudí, mas com orçamento de “Minha Casa, Minha Vida”.

— Chato! Não demora, hein? — Ela disse, sorrindo, mas antes de voltar para a pista improvisada na varanda cochichou em meu ouvido: - Senão vou ser obrigada a “terceirizar” sua vaga, se é que me entende?...

Dei uma tapa na bunda dela, praticamente a empurrando para a pista e me sentei com André, tomando uma cerveja gelada, enquanto ele falava sobre os desafios de gerenciar obras. Conversávamos, mas meus olhos seguiam Elisa a todo o momento e não só os meus, de vários dos desacompanhados presentes. Ela dançava com Joana e Carol, mas logo Rafael se juntou, girando uma e outra como se fosse uma dança de salão. Até que fez o mesmo com Elisa. Fez mais! Também colocou a mão na cintura dela, puxando-a mais para perto, e ela, ao invés de repelir o contato, apenas riu, jogando o cabelo para trás. Senti um leve ciúme, mas disse a mim mesmo que era só o jeito de Rafael, sempre flertando, nunca sério. Elisa era minha, e eu confiava nela.

Conforme a noite avançava, a bebida começou a soltar todo mundo. O vinho que Marina trouxe de um vinhedo local, foi substituído por doses de tequila que Thiago servia com limão e sal. A “playlist” passou de pop para eletrônica e depois para funk, e a varanda, antes uma pista de dança, se transformou numa “rave” com ares de bailão de comunidade. Havia várias pessoas dançando, umas 20 pelo menos, outras na piscina, algumas jogando cartas na sala, e o clima era de ficava cada vez mais solto e desinibido. Eu estava na quarta ou quinta cerveja, sentindo a cabeça leve, mas ainda no controle. Elisa, porém, parecia já estar alçando altos voos. Ela ria e falava alto, bebericando todas as doses que todos lhe ofereciam, inclusive o Rafael, sempre presente, e dançava com uma energia que hipnotizava. Seu vestido subia um pouco nas coxas quando ela rebolava e eu via os olhares dos caras, até mesmo do Thiago, que normalmente era mais o mais tímido e reservado de todos. Num momento em que ela veio tomar um pouco de água, falei:

— Cuidado com a tequila, amor. — Avisei, me aproximando dela na pista: - Cê vai passar mal, ou hoje, ou amanhã.

— Relaxa, Tom. Só tô me divertindo! — Ela respondeu, os olhos brilhando, o rosto corado pelo álcool e pela dança quase ininterrupta.

— Tá, mas vai com calma! — Pedi, tentando não soar controlador, mas preocupado com o jeito que ela se jogava na festa.

— Prometo, ó meu preocupado senhor... — Ela brincou, me dando um beijo rápido antes de voltar para a dança.

Eu seguia à mesa com André e Carol, tentando me convencer de que estava tudo bem, mas algo me incomodava, meus olhos não desgrudavam de Elisa. Ela agora dançava com Rafael, ela e ele só, os corpos tão próximos que eu não podia ver sequer um minúsculo espaço entre eles. Pior! Vi a mão dele descer um pouco além da cintura dela, na altura onde a bunda dela nasce. Ela ria, jogava a cabeça para trás, e não parecia notar, ou se importar. Lucas se juntou a eles, dançando ao lado, e foi bom, porque Elisa e Rafael se desgrudaram, mas, não sei... os três formavam um trio que parecia íntimo demais. Senti um nó no estômago, mas tentei convencer a mim mesmo que era só a bebida, que Elisa estava apenas curtindo a noite.

Como nada é complicado o suficiente que não ficar ainda mais, por volta da meia-noite, Marina, sempre ela, a rainha das ideias furada, propôs um jogo:

— Galera, que tal um jogo? Vamos brincar de Verdade ou Desafio? Mas versão adulta, hein! Nada de brincadeira de criança... — Ela anunciou, segurando uma garrafa de tequila e girando-a como se fosse uma roleta.

— Tô dentro! — Elisa gritou, rindo, enquanto se sentava no chão da sala.

— Isso vai dar merda, Marina. — André disse, rindo, mas se juntando ao círculo.

— É pra dar merda mesmo! — Ela respondeu, com um sorriso travesso e ordenou: - Senta todo mundo aqui, em roda gente! E seguinte: após cada rodada, quem escolher “Verdade”, vira dois “shotinhos” de tequila; se for para o desafio, vira só um.

Nem todos participaram, mas eu sim, puxado pela animação da Elisa. Nos reunimos na sala, uns 12 de nós, sentados nos sofás, almofadas e no tapete. A garrafa girava, e o jogo começou leve: Qual foi a pior nota que você tirou na “facul”? Imite o professor de história. Quem foi o seu primeiro “crush”? Carol teve que contar sobre seu primeiro beijo, com um primo, ficando vermelha. Thiago confessou que já roubou um livro da biblioteca, e não leu. Várias outras perguntas surgiram, com as respostas mais absurdas possíveis. Até então, ninguém havia escolhido os desafios.

Todos ríamos, enquanto o clima ia ficando mais solto. Mas, com as doses descendo, o nível do jogo foi subindo, ficando mais ousado... Rafael desafiou Carol a tirar a blusa e dançar de sutiã, e ela, rindo, aceitou, mostrando um sutiã roxo que cobria seus fartos seios, fazendo o grupo aplaudir. Joana teve que beijar Thiago na boca, o que gerou risadas e gritos de “Tá namorando! Tá namorando!”, já que estavam ambos solteiros. Rafael girou a garrafa, que apontou para Elisa. Ele então sorriu, com aquele olhar malicioso que eu já conhecia:

— Verdade ou desafio, Elisa? — Ele perguntou, inclinando-se para frente.

- Ué!? Faz a pergunta primeiro. – Ela retrucou.

- Ok... Onde você estava no dia 13 de agosto, às 19:00? – Ele sorriu novamente, mas agora meio enigmático, como se soubesse de algo que os demais não soubessem: - — Oooooouuu... Beija a Marina, mas um beijo de verdade, com língua.

- Dia 13? Nem sei que dia foi esse... – Ela resmungou, colocando um dedo sobre a boca.

Eu sabia. Foi uma sexta-feira em que ela disse que iria, depois do trabalho, para um “happy hour” temático na casa de Carla, uma colega de sua agência de publicidade. Eu não pude ir, porque estaria numa reunião extraordinária com um cliente e meu chefe. Ela chegou em casa quase à meia noite nesse dia, bastante bêbada e com as roupas meio desalinhadas. Até tivemos uma leve discussão que resolvemos e não transamos naquela noite, mesmo comigo pedindo desculpas, implorando perdão:

— DESAFIO! — Respondeu Elisa, após parecer ter lembrado de algo que a surpreendeu, pois arregalou brevemente os olhos, misturado a um sorriso que não consegui decifrar.

Foi o primeiro desafio da noite. Ela virou um “shot” de tequila e aguardou o desafio do Rafael:

Eu olhei para Elisa, esperando que ela recusasse, ou pelo menos hesitasse. Nem a esperei, incomodado, perguntei:

— Sério, Rafael!?

— Relaxa, Tom, é só brincadeira... — Disse Elisa, me dando um beijo rápido na boca e uma piscada, antes de se virar para Marina.

— Beleza, Marina, vem cá! Me respeita, hein!? Sou moça direita e casada, muito bem casada... — Ela falou, rindo e fazendo os outros rirem, enquanto Marina se aproximava, com um sorriso malicioso.

E as duas se beijaram mesmo, não um beijo longo ou íntimo, mas com línguas se entrelaçando, ou uma bela de uma simulação. O grupo comemorou, aplaudiu, assobiou, e eu senti um calor estranho, uma mistura de ciúme e uma excitação estranha, que me pegou desprevenido. Ali, era a minha esposa, beijando outra mulher, e parte de mim achava a cena... excitante, afinal, era uma fantasia antiga minha, nunca revelada à minha esposa por vergonha. Elisa voltou para o meu lado, sorrindo timidamente, o rosto corado. Ela me olhou em silêncio, como se aguardasse o puxão de orelhas do próprio pai:

— Gostou, Tom? — Gritou Joana.

Não respondi. Tentei rir, mostrar que estava tudo bem, mas o sorriso saiu sem convicção alguma, o coração acelerado. Elisa, vendo que o clima parecia prestes a azedar, apertou minha mão, como se pedisse desculpas. Só então, vendo seu olhar preocupado, entendi que era a minha esposa que estava ali, preocupada com a gente, eu e ela, e isso me fez sorrir, verdadeiramente. Dei um leve tapa em seu rosto, pura brincadeira, nada de punição e a chamei de safada, fazendo todo o grupo gargalhar alto.

O jogo continuou e os desafios foram ficando mais pesados. Rafael teve que tirar a camisa e dançar com Joana, exibindo o corpo definido que ele mantinha com academia. Carol desafiou André a lamber tequila do pescoço dela, o que ele fez com um sorriso constrangido, enquanto Marina ria escandalosamente. Quando a garrafa apontou para mim, girada por Marina, esta sorriu, com um brilho nos olhos que eu não soube interpretar:

- Ok... Verdade ou Desafio, Tom... – Ela bateu o indicador nos lábios algumas vezes, sorrindo para mim até perguntar: - Você já beijou alguém do seu escritório, uma colega ou um colega, sei lá? – Riu e continuou: - Ou a Elisa vai ter que tirar o vestido e dançar na piscina, só de calcinha e sutiã.

— Marina, sério você também!? — Perguntei, agora claramente incomodado.

Marina apenas sorriu, maliciosamente e bebericou uma taça de vinho:

— É só brincadeira, Tom. Relaxa, amor. — Elisa disse para mim, aguardando a minha resposta.

Eu a olhei e de imediato lembrei-me de um caso há anos atrás, em que uma colega, que já nem mais trabalha no escritório, uma que parecia sentir algo por mim, num momento de distração minha, me roubou um selinho, algo que eu confessara para Marina, mas nunca para Elisa, justamente para não criar um desentendimento sem importância entre a gente:

- O desafio não tinha que ser para mim? – Perguntei, tentando ganhar tempo.

- Quem cria o desafio é quem pergunta, e o meu é esse. – Retrucou Marina, rindo da minha cara: - E aí!? Verdade ou Desafio?

Virei um “shot” de tequila. Todos ficaram esperando eu virar o segundo, mas apenas olhei para Elisa, que abriu a boca, surpresa, mas logo depois, sorriu, dizendo:

- Filho da puta! Sei que você nunca me traiu, mas me jogar no fogo, é sacanagem! Vai ter volta, ouviu, mocinho?

Ela tirou o vestido devagar, como se estivesse em um palco, revelando uma lingerie preta, rendada e levemente transparente que abraçava seus seios e mostrava sua púbis que, para meu azar, ela não tinha depilado, mostrando, portanto, uma penugem que se destacava na transparência. Além disso, atrás, sua bunda praticamente estava nua, engolindo o recibo de baixo até cima, onde o triangulo se unia para circundar sua cintura. O grupo assobiou, gritou, comemorou e eu senti uma onda de orgulho misturada com um desconforto por expô-la. Ela era minha esposa, mas ali, naquele momento, parecia pertencer a todos. Elisa correu para a piscina, dançando na borda, o corpo brilhando sob as luzes subaquáticas. Não demorou muito e Rafael e Thiago, que já estava só de bermuda, foram na direção dela, mas se desviaram no último segundo, pulando somente eles e passando a jogar água nela. Ela logo se rendeu e pulou também, igualmente jogando água neles, brincando, rindo, xingando... Eu fiquei na sala, tentando ignorar o ciúme que crescia no meu peito e certamente transbordava em meus olhos, ao ponto da Carol comentar:

— Ela só tá se divertindo, Tom. Relaxa. Deixa ela curtir. — Ela disse, percebendo minha expressão tensa.

— Eu sei, Carol. Só não tô acostumado com ela assim, tão... solta. É meio... Sei lá! Constrangedor... — Confessei, tomando um gole de cerveja.

— É só o jogo e a bebida, Tom. A Elisa te ama, dá pra ver de longe. — Ela disse, com um tom reconfortante.

Mas suas palavras não me tranquilizaram. Logo os três voltaram, se secaram e o jogo continuou, terminando só por volta das duas da manhã. A festa então voltou para a pista improvisada na varanda e a piscina. Eu estava cansado, com a cabeça já girando apesar de não ter bebido tanto, talvez pela tensão, e decidi ir ao banheiro da casa, dar uma mijada e uma lavada no rosto. Ao voltar, vi Elisa subindo as escadas do segundo andar com Marina, as duas rindo alto, segurando copos de vinho. Não achei estranho de imediato, afinal, elas eram amigas desde a faculdade, sempre grudadas, compartilhando segredos e risadas. Mas pouco depois vi que Rafael também subiu para o andar superior, uma lata de cerveja na mão e um sorriso que parecia esconder intenções indizíveis em público. Isso sim me preocupou. Talvez fosse o ciúme falando ou talvez fosse um instinto que eu não sabia que tinha, mas decidi, por via das dúvidas, decidi ir atrás.

Certifiquei-me de não ser observado para não passar papel de marido ciumento, opressor e desconfiado, e subi as escadas devagar, o coração batendo alto e mais rápido a cada degrau. O corredor do segundo andar era mal iluminado, com três portas alinhadas de ambos os lados, duas fechadas, quatro abertas. Ouvi risadas abafadas vindo de uma suíte no final do corredor, justamente de uma das portas fechadas, e meu estômago embrulhou. Aproximei-me e vi que a porta apenas encostada, entreaberta na verdade, com uma luz tênue saindo lá de dentro, provavelmente de um abajur. Aproximei-me o máximo possível, tentando não fazer barulho, e a empurrei bem devagar, só o suficiente para ver o que acontecia lá dentro.

O que vi me deixou em choque. Elisa e Marina estavam na cama, já nuas, os corpos colados, os braços entrelaçados em uma dança lenta e sensual. Elisa estava deitada, as pernas abertas, enquanto Marina a beijava com paixão, as línguas se encontrando em um ritmo que parecia coreografado. As mãos de Marina acariciavam os seios de Elisa, apertando os mamilos com delicadeza, e Elisa gemia baixo, um som que eu conhecia bem, mas que agora parecia estranho por não mais pertencer somente a mim. Entretanto, era uma cena linda, quase hipnótica: a minha esposa, com sua pele dourada brilhando sob a luz fraca, e Marina, com seu corpo esguio e curvas suaves, movendo-se com uma graça que era ao mesmo tempo delicada e selvagem. Meu corpo reagiu antes da minha mente: senti o sangue pulsar, uma onda de excitação que me pegou desprevenido, fazendo o meu pau endurecer a jato, estufando a frente da minha bermuda.

Olhei para trás, apenas para não confirmar que havia sido seguido e tive uma ideia: entrar, dar um “flagra na traidora”, mas me juntar à brincadeira. Era uma chance e tanto de realizar uma fantasia que eu nunca admiti, mas que agora parecia viva, pulsando na minha frente, tão perto e acessível. Eu poderia abrir a porta, fingir um inconformismo, mas logo dizer algo como “Já que começaram sem mim, agora vão terminar comigo!”, e transformar aquilo em algo nosso.

Mas antes que eu pudesse fazer algo, ouvi o som de uma descarga no banheiro da suíte. A porta se abriu, e Rafael saiu, completamente nu, o corpo definido brilhando com suor, o pau já duro, empinado para cima, mas balançando enquanto ele caminhava na direção das duas. Meu estômago embrulhou novamente. Naquela excitação do momento, do “flagra”, eu havia me esquecido completamente dele. Broxei de imediato! A excitação que eu sentia virou uma náusea que subiu pela garganta, quase encontrando saída em minha boca. Respirei fundo, me controlando, agora disposto a dar o “flagra” de verdade e transformar aquele espetáculo num show de horrores.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO SÃO FICTÍCIOS, E OS FATOS MENCIONADOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL SÃO MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DOS AUTORES, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 306Seguidores: 686Seguindo: 28Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Elisa, Marina e Rafael já se pegam a tempos com a participação de Tiago desde o tempo da faculdade, essa é a minha hipótese...

A data e horário que Rafael citou foi uma pegação entre Elisa e Marina que ele ficou sabendo e agora está cobrando sua parte para não revelar ao corno todas as traições de Elisa.

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Bom dia Mark da Nanda. Mais um excelente conto.

Pelo que o protagonista fala no início, ainda devem ter mais revelações pela frente. Por exemplo o dia 13 de agosto.

Ansioso pela continuação. Será que a festa organizada pela Marina foi pra rolar o ménage entre os 3? Na cara do marido? Será que além do dia 13/08, ainda houve outras vezes? Nâo parece que o ocorrido foi algo aleatório, causado pela bebida.

Vamos aguardar os 2 capítulos restantes. Mark sempre tem umas cartas guardadas na manga...

Forte abraço.

P.S. Curioso pelo desenrolar da história da Emilinha. Gostei muito da história dela e do Paulinho...

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Enfia a mão na cara do “amigo” e toca o horror com a vagabunda!

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Pelo menos uma vez eu queria ver o corno saindo por cima...

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Pelo inicio com ele se referinda a ela e ao relacionamento no passado, deixa pistas de que o casamento acabou e pelo visto ele pensava que ela era uma coisa mas no fundo era outra totalmente diferente, vem chumbo grosso aí

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Confesso que cai de paraquedas nessa história mas ainda assim gostei bastante e pelo visto muitps esqueçetos vão ser desenterrados nessa farra,e muitas sujeiras vão sair .🫢🫢🫢

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Puta que pariu, a mulher dele cagou pra ele e depois vai botar a culpa na bebida e o babaca preocupado de esconder que levou um selinho de uma colega de trabalho. Que foda mal dada do caralho, isso aí é pra quebra o pau na hora, não o que esperar. Parabéns novamente grande Mark da Nanda 3 estrelas. vou dormir agoniado pensando no que eu faria se fosse comigo.

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E Mark, acho que você usou errado a tag do desafio do fundo do poço. Comento isso porque fiz o mesmo antes. Tem que copiar e colar igual está no post do desafio, no blog do site

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Eita porra, por uma noite de bebedeira a esposa virou uma vagaba, mas será mesmo q foi somente pela bebida, ou ela já era uma vagaba antes e o trouxa não sabia?

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O 13 de agosto as 19h já entrega que tem algo anterior

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Muito óbvio não acha, porque Rafael jogaria isso na roda? Só se ele soubesse de algo e estava usando isso a seu favor naquele momento

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Tem 3 hipóteses: I- Ele sabe com quem ela estava e aonde estava II Ele pode estar usando essa chantagem disfarçada de brincadeira para conseguir com ela o

que ele quer,sexo.III Ele desestabilizar o casal para eles se separem e ele pode ter o caminho livre para ter ela .

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A pergunta que fizeram a ele e que ele não respondeu dá força a terceira hipótese. Os desafios também

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Muito bom, como sempre, Mark. Terminei o conto tenso, sentindo a adrenalina subindo, tal qual imagino que o protagonista sentiu. Caramba, vou ficar pensando nesse conto até ler a continuação. Com certeza tem mais coisa nessa história do que uma noite de bebedeira

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