Capítulo 1 – Verão de 1995

Um conto erótico de Juliana
Categoria: Crossdresser
Contém 2012 palavras
Data: 08/08/2025 02:58:33

O sol queimava devagar, como se quisesse deixar uma marca permanente nas peles jovens e despreocupadas daquele grupo de amigos. Era o início de Agosto, e as férias grandes pareciam ainda infinitas. As tardes deslizavam sem pressa, entre banhos de piscina, conversas fiadas e jogos que variavam entre o ridículo e o quase íntimo.

Na casa de Mário, o quintal era um paraíso improvisado. Uma piscina de lona azul estendida no centro, toalhas largadas pelo relvado já seco, um rádio pequeno a tocar alguma coisa entre o grunge e o pop, e um cheiro constante a protetor solar misturado com fruta fresca e cloro.

Júlio estava deitado de barriga para baixo na toalha, o tronco nu e ainda húmido, as costas finas a brilhar sob o sol da tarde. Tinha o olhar pousado num ponto qualquer entre os dedos, mas os olhos só pareciam vagar. Sentia o calor a penetrar-lhe os músculos, a enlentecer-lhe os pensamentos. Até que uma voz o chamou.

— Júlio… estás a dormir ou só a babar-te?

Abriu os olhos e viu Inês agachada ao seu lado, um biquíni claro colado ao corpo molhado, os cabelos loiros presos num rabo-de-cavalo desalinhado, pingando pelas costas abaixo. O rosto dela estava perto, demasiado perto. Júlio sentiu o estômago apertar — ou seria mais abaixo?

— Estava a... meditar — respondeu, esforçando-se por manter o tom leve. — Sobre a vastidão da existência. E a beleza das sombras das árvores.

— Claro — riu-se ela, empurrando-lhe a cabeça com uma mão suave mas firme. — E a seguir vais dizer que a tua filosofia se inspira no meu rabo.

Ele riu-se, meio engasgado.

— Não disse isso. Mas… agora que mencionas…

Inês sorriu, mas os olhos demoraram-se um instante a mais nos dele. Aquelas íris azuis tinham um brilho que o confundia. Eram olhos de menina e de mulher ao mesmo tempo. Júlio sentiu-se pequeno e, estranhamente, muito consciente da posição do seu corpo.

Ela sentou-se na toalha ao lado, as pernas cruzadas, os braços a esticarem-se para trás, empinando o peito pequeno mas firme sob o tecido húmido do biquíni. O sol colava-se à pele dela como verniz quente. Júlio não conseguia deixar de reparar. Ela sabia? Parte dele desejava que sim.

— Lembras-te quando andávamos nisto com pistolas de água e boias dos Power Rangers? — perguntou ela, virando-se para ele com um sorriso de nostalgia.

— Lembro. Tinhas sempre uma boia cor-de-rosa e choravas se alguém te espirrasse água na cara.

— Só se fosse com força. Eu também espirrava. E tu fugias a gritar.

— Ainda hoje fujo se me molhas o cabelo — retorquiu ele, puxando uma ponta da toalha para fingir que se protegia.

Inês inclinou-se para ele e, com a ponta dos dedos, traçou uma gota de suor que escorria-lhe da nuca até ao ombro. O toque foi leve, mas acendeu-lhe um arrepio que percorreu toda a espinha.

— Estás a suar, filósofo.

— Está calor.

— Ou nervos?

Os olhos dela não tinham malícia. Só curiosidade. Uma curiosidade que fazia o coração de Júlio bater mais depressa do que devia.

— Talvez os dois — disse ele, num fio de voz mais grave do que esperava.

Do outro lado do quintal, Rafael e Maria brincavam com a mangueira, rindo como crianças. Rafael atirava água para o ar, Maria corria em círculos, molhada, a camiseta colada ao corpo magro, revelando as curvas firmes que ninguém ali ignorava.

Alexandre, deitado numa espreguiçadeira com óculos escuros, apenas observava. Ana estava sentada ao lado dele, de pernas dobradas, a desenhar com o dedo sobre a própria coxa. Júlio reparava em todos, mas apenas com um canto da atenção. A maior parte dela continuava em Inês.

Mário chegou da cozinha com uma garrafa de água e atirou-a a Júlio, que apanhou com reflexos lentos.

— Bora jogar qualquer coisa. Verdade ou consequência?

— Isso já é jogo de putos — disse Maria.

— Só se jogarem à moda antiga — sugeriu Patrícia, que apareceu vinda de dentro da casa com um vestido curto e solto, já semi-transparente de tanto estar molhado.

— E qual é a moda antiga? — perguntou Ana, rindo.

— Aquela em que as consequências envolvem tirar roupa, beijar quem não deves ou contar fantasias — respondeu ela, com um sorriso maroto, já a sentar-se no chão em posição de comando.

Júlio engoliu em seco. Estava mesmo a acontecer?

A roda começou. Círculo mal feito, corpos bronzeados, toalhas coladas à pele, pés descalços, copos com refrigerante e gelo, outros com algo mais forte, escondido dos pais que estavam "a passar o fim de semana fora".

— Júlio, verdade ou consequência? — perguntou Maria, com aquele ar de quem já sabia o que queria ouvir.

— Verdade.

— Alguma vez sonhaste com alguém aqui… de forma… menos inocente?

Os risos rebentaram. Júlio ficou vermelho.

— Vá lá — incentivou Rafael. — Não vale fugir à pergunta.

Júlio olhou à volta. Os olhos pararam um segundo em Inês, depois desviaram-se.

— Já sonhei… com uma de vocês. Não digo quem.

— Hmmmmm — fez Patrícia. — Isso vai render. Próxima ronda!

O jogo continuava, as perguntas e os desafios aumentando de intensidade, as barreiras a esbaterem-se. Alguém teve de dar um beijo no pescoço de outro. Alguém teve de tirar a t-shirt. Alguém revelou que tinha perdido a virgindade meses antes.

Quando chegou de novo a vez de Júlio, a pergunta caiu como um raio:

— Consequência, ou vais ser sempre menino bem comportado?

— Consequência — disse ele, num impulso.

— Troca um beijo de 10 segundos com a pessoa à tua esquerda.

À sua esquerda, estava Inês.

Silêncio.

Ela olhou-o com uma expressão difícil de ler. Havia nervos, mas também algo mais — uma faísca.

— Só se quiseres — disse ela, baixo, quase num sussurro.

Ele assentiu. E inclinou-se. As bocas encontraram-se devagar, como se estivessem a redescobrir um território perdido.

Foi suave no início. Os lábios apenas encostados, testando. Depois, um ligeiro mover, um toque de língua tímida. Júlio sentiu o mundo a desaparecer. A boca dela era quente, doce, e cheirava a morangos e sol. Os dedos dele pousaram-lhe na cintura, por reflexo. Ela não recuou. Pelo contrário, aproximou-se.

Os dez segundos pareceram uma eternidade e um instante.

Quando se separaram, os olhares não sabiam onde pousar. O grupo explodiu em gargalhadas, assobios, comentários maliciosos. Mas Júlio só ouvia o som do próprio coração.

Inês baixou o olhar, um leve sorriso a brincar-lhe nos lábios. Depois levantou-se e foi até à piscina, atirando-se para dentro com um mergulho rápido.

Júlio ficou a olhar. Os cabelos dela espalharam-se como ouro líquido à superfície da água. As gotas escorriam-lhe pelas costas nuas. E pela primeira vez, ele sentiu que alguma coisa tinha mudado.

E não havia como voltar atrás.

A tarde avançava, e com ela o calor começava a ceder lugar a uma brisa morna que atravessava o quintal. A água na piscina agitava-se devagar, com os corpos meio submersos, meio deitados, as risadas a abrandarem, agora mais arrastadas. Júlio tinha mergulhado também, mas sem grande energia. O beijo com Inês ainda lhe vibrava nos lábios. Não sabia o que fazer com aquela sensação.

Sentou-se na borda da piscina, as pernas dentro de água, a olhar o céu a ficar mais alaranjado. Inês estava ali perto, a flutuar de costas, os olhos fechados, os seios pequenos a romper a superfície como dois segredos.

Ela abriu os olhos e viu-o a olhar.

— Estás diferente — disse ela, aproximando-se a nado preguiçoso.

— Como assim?

— Não sei. Estás mais… crescido. Mas não só no corpo.

— Também já não usas a boia cor-de-rosa. — sorriu ele, tentando desviar o foco.

Ela não sorriu. Encostou-se à beira da piscina, ao lado dele, os ombros molhados a roçarem-se sem querer — ou talvez de propósito.

— Lembras-te quando te pintava as unhas com os meus vernizes?

— Lembro — disse ele, a voz mais baixa.

— E quando te punhas a experimentar os meus vestidos? Achavas graça a ver-te ao espelho.

— Tu é que me pedias — defendeu-se, mas com um sorriso cúmplice.

— Eu adorava. Ainda adoro, na verdade. Tinhas um ar tão... bonito. Ficavas mesmo fofinho. Mas eras sempre tu. Só... diferente.

Júlio sentiu o corpo aquecer todo de novo, mas agora era outro tipo de calor. Aquele que começa nas palavras e termina nos poros.

— Nunca gozaste comigo — disse ele, quase em tom de confissão.

— Claro que não. Aquilo era só nosso. E eu gostava de te ver assim. Mais... solto. Mais teu. Como se te visses de outra forma.

Ela pousou a mão no braço dele, leve, como se não quisesse assustá-lo. O toque era quente, mesmo com a água a escorrer.

— Eu gostava dessa parte de ti, Júlio. Ainda gosto.

Ele engoliu em seco. Sabia o que ela queria dizer. Sentia-se dividido entre a segurança da infância e a vertigem do agora.

— E se um dia quisesse voltar a brincar assim? — perguntou ele, num tom que soava mais provocador do que planeado.

Inês olhou-o nos olhos, sem sorrir.

— Talvez já não fosse bem brincar — respondeu ela, a voz baixa, como se partilhasse um segredo sagrado.

Mais tarde, quando o sol se punha e o céu se pintava em tons de tangerina, os amigos começaram a dispersar. Alexandre levou Ana para casa, Patrícia saiu com Maria e Rafael para procurar gelados, e Mário recolheu-se ao quarto para telefonar a alguém. Júlio e Inês ficaram para trás, sozinhos no quintal, com os pés descalços ainda húmidos, a caminhar devagar até ao velho sofá de verga no alpendre.

Ela trazia uma toalha enrolada ao corpo. Ele vestira uma t-shirt larga e uns calções velhos.

— Estás bem? — perguntou ela.

— Estou. Só a tentar perceber o que se passou hoje.

— Qual parte?

— Todas — admitiu.

Ela riu-se, mas com ternura.

— Eu também. Mas acho que já sabíamos que ia acontecer, não?

— O beijo?

— Tudo.

Silêncio.

Ela puxou uma almofada para o colo e sentou-se de pernas cruzadas. O pano da toalha subiu-lhe pelas coxas. Júlio não desviou o olhar. Ela também não tentou esconder.

— Sabes que sempre te vi como algo especial — começou ela. — Não só por sermos amigos desde pequenos, mas por aquilo que tens. Essa tua forma de sentir, de estar. A tua pele branca, o teu jeito mais… suave. Fazias-me sentir confortável. Como se não precisasse de fingir nada contigo.

Ele sentiu o coração a martelar.

— Tu também me fazias sentir isso. Ainda fazes. E eu… sinto coisas contigo que nem sempre sei nomear.

Ela inclinou-se para ele, os rostos de novo próximos, como mais cedo. Mas desta vez não havia roda, nem desafios. Só a noite a cair e o cheiro a jasmim no ar.

— Queres que te pinte as unhas? — perguntou ela, de repente.

Júlio riu-se, surpreendido.

— Agora?

— Tenho o verniz na mala. Aquele cor-de-rosa que usavas quando tinhas dez anos.

— Estás a gozar?

— Estou a lembrar-te quem és — disse ela, já de pé, a entrar na casa.

Voltou pouco depois com um frasquinho pequeno e um sorriso meigo. Sentou-se no chão, entre as pernas dele, e puxou-lhe um pé para o colo.

— Isto vai fazer-te sentir... vulnerável — avisou ela.

— Já me sinto.

Ela começou a aplicar o verniz com cuidado. As mãos delicadas, firmes, sensuais na precisão.

— Estás bonito — murmurou. — Gosto mesmo de ti assim.

— Assim como?

— Quando te deixas ver.

Ela terminou uma mão, depois outra. O rosa vivo nos dedos dele contrastava com a t-shirt escura. Mas ele não se sentia ridículo. Sentia-se… visto.

Quando terminou, pousou o frasquinho ao lado e olhou para ele.

— Estás a tremer.

— Tu também.

Inês passou os dedos pela perna dele, de leve, subindo até ao joelho. Depois sentou-se ao lado e encostou a cabeça ao ombro dele.

— Podemos parar aqui — disse ela. — Ou ir mais além. Mas só se quiseres.

Ele virou-se. Olhou-a de frente. O rosto dela tinha a luz suave do entardecer, os olhos brilhantes, a pele húmida, a boca entreaberta.

— Eu quero.

Ela aproximou-se devagar e beijou-o outra vez, com mais intenção. A língua dela encontrou a dele num movimento lento, estudado. As mãos tocaram-lhe o peito por baixo da t-shirt. Ele sentiu-se derreter.

O beijo durou, e quando se separaram, ficaram apenas ali, juntos, os corpos inclinados um para o outro, os dedos enlaçados — com as unhas pintadas a brilhar na penumbra.

A noite envolvia-os, cúmplice, sem pressa...

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Comentários

Foto de perfil de Dani Pimentinha

Júlia estou apaixonada e você ganhou uma leitora, três merecidíssimas estrelas e uma fã fascinada. Definitivamente os mesmos sentimentos.

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Foto de perfil de Juliana_C

Muito obrigada, acima de tudo sou uma romântica XD. Boas leituras e boas escritas. Obrigada ;)

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