MARLENE foi a amiga mais estranha que tive na vida. A pele era tão alva que as veias frágeis eram facilmente visualizadas naquele rosto de ar angelical. Tinha uns olhinhos tristes sempre voltados para o chão. Ela se aproximou de mim com muito medo de ser rejeitada. Eu era a famosinha da escola. Sempre cercada de muitas amigas, querida pelas freiras e protegida das professoras.
Ela era taxada de estranha e as meninas constantemente diziam que ela era moradora do banheiro. Era para lá que ela escapava nos intervalos das aulas. Corria para se esconder das meninas malvadas da escola.
Como eu não gostava dessas garotas, apesar de ter uma convivência quase pacífica, comecei a arrebanhar as esquisitas da escola. Fazíamos juntas uma verdadeira terapia em grupo. Nos intervalos, quando não estávamos jogando tênis de mesa, estávamos sentadas nas escadarias do colégio trocando confidências.
Éramos alunas medianas, jamais medíocres.
Nas festas nosso lema era “sempre juntas”, independente do que acontecesse.
Marlene era nossa mascote por ser a mais esquisitinha de todas. A mais fechada. Se precisasse fazer um trabalho em dupla era comigo que ela fazia. Sua família confiava somente em mim para deixar que ela fosse em casa fazer trabalhos ou estudar para as provas. Minhas outras amigas ficavam até enciumadas mas entendiam que era ela que precisava de mais ajuda e apoio emocional.
Eu só não imaginava que as coisas caminhariam para o desfecho inesperado.
Sempre achei que ela era uma menina abusada por algum familiar. Aquele tipo de comportamento não me deixava com dúvidas.
Um dia, aproveitando uma aula vaga, Marlene quis conversar sozinha comigo. Nos afastamos para uma escadaria próxima da quadra e sentamos. Ela começou de uma maneira muito triste a relatar os abusos do pai. Ele ajudava em tudo. Naquela idade, ele ainda acompanhava seu banho, suas trocas de roupa, sua ida para a cama e a visitava durante a noite para se certificar-se que estava tudo bem.
Ela já dava sinais que teria seios fartos e quadris estreitos, o que tornava sua figura meio desproporcional. O seu olhar azul é que desconcertava qualquer um que ela decidisse encarar. Era um olhar de um azul profundo, cheio de mistério.
Constrangida, timidamente me confessou que o pai estava encantado com seu desenvolvimento físico. Tinha uma atração enorme em ensaboar suas costas e lavar seus longos cabelos. Ela não teve coragem de revelar tudo, seu acanhamento era gigantesco. Perguntei se sua mãe também estava presente nesses momentos e sua resposta me chocou. Não só estava presente como também demonstrava aprovar o assédio. Nesse momento ela desabou chorando descontroladamente. Como estávamos na área externa da escola, procurei evitar que outros a vissem e nos dirigimos para o banheiro do ginásio em que fazíamos Educação Física. Deixei que chorasse até se acalmar. Aos poucos ela foi melhorando e pediu para me dar um abraço. Ficamos ali abraçadas e eu deitei a cabeça dela no meu colo como se fosse uma criança carente necessitando de cuidado e atenção. Não reagi quando ela alcançou meu seio com a mão e apertou-o entre os dedos. Foi uma sensação diferente, nunca tinha tido aquele tipo de experiência. Logo em seguida ela me puxou para o box trancando com força a porta. Nosso isolamento era completo. Só conseguia ouvir os pássaros nas árvores bem cuidadas pelas irmãs. Marlene que aquela altura não tinha mais nada de anjo, desabotoou minha blusa parcialmente e mordeu com força o bico do meu peito por cima do bojo do sutião. Senti e meus olhos encheram-se de lágrimas, tentei afastá-la sem agressividade para não piorar a situação, mas ela era outra pessoa. Colou os lábios no meu peito e ficou se deliciando entre um e outro como se fosse uma criança faminta abandonada à própria sorte. Eu me entreguei ao momento. Abracei-a carinhosamente e a embalei como se fosse realmente um bebê carente precisando de aconchego . Despertamos daquele êxtase com nossas amigas procurando por nós pois a sala tinha sido dispensada. Eu me recompus rápido apesar das pernas não acompanharem meu corpo. Minha cabeça dava voltas e eu não conseguia ter noção do que tinha acontecido. Se era realidade ou um simples devaneio de uma mente confusa.
Minha amiga mais antiga, mesmo não reagindo na hora, veio comigo para casa e me olhava de modo estranho. Quando ficamos sozinhas no meu quarto de adolescente ela perguntou sem rodeios o que tinha acontecido. Não tive coragem de revelar uma intimidade minha e de Marlene. Ela merecia respeito e eu ainda não estava preparada para encarar o que tinha acontecido. Dei uma desculpa e deixamos passar.
Depois de alguns dias de recesso escolar, retornamos para nossas atividades. Na sala todos comentavam a saída de Marlene da escola. Os pais alegaram que o ambiente escolar tinha feito muito mal para ela e estavam providenciando um colégio interno para que ela ficasse protegida dos males do mundo.
Para ser sincera eu é que precisava de proteção diante daquele vulcão em forma de menina que me fez ter uma experiência capaz de mexer tanto comigo. Foi diferente, foi revelador, foi dolorido e gostoso ao mesmo tempo.
A única decepção é que, quando finalmente dividi com minha amiga curiosa o que tinha acontecido, ela tentou beijar minha boca. Afinal, Marlene tinha conseguido uma intimidade maior e ela também tinha direitos. Mas não beijou, não quis e não deixei. Nem por isso a amizade acabou. Enquanto fizemos parte da mesma sala, éramos cúmplices nas traquinagens para descobrir o segredo por trás do hábitos das freiras. Naquele tempo tudo ia mais devagar e com mais encantamento.