Caminhando de volta da casa de Fátima, João e Beyya, o calor da tarde em Nhambane parecia menos sufocante, talvez por causa da brisa que soprava do leste, trazendo o cheiro salgado do mar próximo. Minha mente girava em torno de Beyya – a tristeza em seus olhos castanhos, a timidez que escondia uma força quieta, a beleza que parecia brilhar mesmo na simplicidade da vila. Queria impressioná-la, fazer algo que a tirasse daquele véu de melancolia. Enquanto passava pelas ruas de terra, meus olhos caíram numa vitrine velha, empoeirada, de uma loja de roupas improvisada. Três vestidos chamaram minha atenção: um vermelho, justo, com um decote discreto; um preto, elegante, com mangas de renda; e um azul, fluido, que parecia combinar com o jeito reservado dela. Pensei em como ficariam nela, destacando as curvas que o vestido florido do jantar mal sugeria. Num impulso, comprei os três, gastando o equivalente a 200 reais no câmbio. Para Fátima, escolhi uma camisola de cetim roxo, leve e sofisticada, imaginando que poderia alegrá-la após anos de sacrifício.
Com os embrulhos na mão, voltei à casa deles, o coração acelerado, uma mistura de ansiedade e expectativa. A vila estava quieta, o sol baixo lançando sombras longas nas paredes de alvenaria. Bati na porta, e Fátima abriu, o sorriso largo iluminando o rosto. “Mayer, voltou tão cedo?” exclamou, os olhos brilhando ao ver as sacolas. Estava com uma blusa folgada e uma saia colorida, o cabelo cacheado solto, caindo sobre os ombros. “Beyya saiu pra resolver umas coisas, mas entra, entra!” Insisti que era só uma entrega rápida, mas ela praticamente me puxou para dentro, a energia contagiante contrastando com a melancolia que eu percebera no jantar. Entrei na sala pequena, o cheiro de sabão em pó e comida cozida pairando no ar. João estava no sofá, como sempre, o corpo magro curvado, mas com um brilho novo nos olhos, talvez por causa do remédio que eu trouxera. Entreguei as sacolas com os vestidos para Fátima, explicando que eram para Beyya, e dei a ela o embrulho com a camisola. “É um presente, de coração,” disse, olhando para João, que acenou com um sorriso fraco. “No Brasil, é normal dar roupas, principalmente camisola,” expliquei, tentando soar natural. João assentiu, como se acreditasse, mas seus olhos tinham um brilho de quem entendia mais do que deixava transparecer.
O que aconteceu em seguida foi tão inesperado que me pegou desprevenido. Fátima, sem nenhuma cerimônia, tirou a blusa e a saia ali mesmo, na sala, ficando completamente nua na minha frente. O movimento foi tão rápido, tão natural, que por um segundo achei que era um costume local que eu não entendia. Meu queixo caiu, os olhos arregalados, enquanto admirava o corpo dela. Fátima era meio gordinha, mas sem a barriguinha típica – a cintura era definida, os seios grandes e firmes, a pele escura sem manchas ou estrias, brilhando sob a luz fraca da lâmpada. As coxas eram grossas, a bunda arredondada, e o corpo, que as roupas largas escondiam, era fenomenal, exalando uma sensualidade crua que me deixou sem ar.
Olhei para João, esperando uma reação de ciúmes ou reprovação, mas ele riu, um som rouco e fraco, e disse: “No seu país, é normal isso?” Balancei a cabeça, atônito. “Não.” Ele riu de novo, os olhos brilhando com algo entre diversão e cumplicidade. “Aqui também não.” Fátima, alheia à nossa troca, vestiu a camisola roxa, o cetim deslizando sobre a pele como uma carícia, o tecido agarrando-se às curvas de um jeito que fez meu coração disparar. Ela se virou para mim, o sorriso largo, mas com um brilho diferente nos olhos – determinado, quase predatório. “Mayer, quero te agradecer pelo remédio,” disse, a voz baixa, carregada de intenção. “Não tenho todo o pagamento, mas tenho uma parte.”
Antes que eu pudesse processar, ela pegou minha mão e me puxou para mais perto, tão perto que senti o calor do corpo dela, o perfume de sabonete misturado com algo mais primal. Com um movimento rápido, ela baixou minha bermuda e a cueca, deixando-me exposto. Fiquei paralisado, o cérebro gritando para reagir, mas o corpo recusando-se a obedecer. João, ainda no sofá, disse, com a voz calma: “Vai, Fátima, mostra pra ele como é aqui na África.” Fátima se ajoelhou, os olhos fixos nos meus, e abocanhou meu pau, que ainda estava meia-bomba, preso entre o medo e a surpresa. A boca dela era quente, úmida, e ela o engoliu inteiro, segurando por um momento, a língua deslizando pela base. Meu corpo reagiu apesar de mim, o pau crescendo dentro da boca dela, endurecendo a cada movimento.
Ela tirou a boca lentamente, o som molhado ecoando na sala silenciosa, e lambeu a cabeça, os olhos nunca deixando os meus. “Você tem o pau do tamanho de um preto,” João disse, rindo, a voz fraca, mas cheia de admiração. Olhei para ele, atordoado, enquanto Fátima continuava, chupando com uma habilidade que denunciava experiência. Ela engolia tudo, a garganta relaxada, depois recuava, lambendo a cabeça com movimentos lentos, provocadores, a mão segurando a base com firmeza. Cada chupada era uma onda de prazer que me fazia tremer, a culpa e o desejo lutando dentro de mim. João, para minha surpresa, baixou o short com dificuldade, revelando o próprio pau, menor e flácido, e começou a se masturbar, os olhos fixos em Fátima, um sorriso torto no rosto.
Fátima se levantou, a camisola subindo pelas coxas, e se posicionou em pé, inclinada, as mãos apoiadas no sofá, entre as pernas de João. A bunda empinada, redonda, parecia me chamar, o tecido da camisola levantado o suficiente para revelar a pele nua. “Mete em mim, Mayer,” ela disse, a voz rouca, cheia de urgência. “É parte do pagamento.” O desejo venceu qualquer resquício de hesitação. Me posicionei atrás dela, segurando os quadris com força, e entrei com um movimento violento, mas controlado, o calor dela me envolvendo como uma luva. Ela gemeu alto, rebolando contra mim, os quadris movendo-se em círculos que me faziam perder o controle. “Isso, menino, fode com força,” ela provocou, a voz entrecortada, enquanto começava a chupar João, a cabeça dela subindo e descendo no colo dele.
O ritmo era frenético, a sala cheia de sons – os gemidos dela, abafados pelo pau de João na boca, o rangido do sofá, o som molhado dos nossos corpos colidindo. Eu segurava a bunda dela, as unhas cravando na pele, cada estocada acompanhada por um tapa que fazia a carne tremer e ela gemer mais alto. João, com uma mão no cabelo dela, guiava o movimento, os olhos semicerrados, a respiração pesada. Fátima rebolava sem parar, o corpo respondendo a cada impulso meu, a camisola roxa agora amassada na cintura, o suor escorrendo pelas costas dela. “Mais, Mayer, mais,” ela pedia, a voz abafada, e eu obedecia, o prazer me consumindo, a culpa se dissolvendo na intensidade do momento.
Foram uns dez minutos de pura loucura, uma dança de corpos e desejos. Fátima chupava João com a mesma energia que rebolava contra mim, os gemidos dela vibrando contra ele, o que parecia levá-lo à loucura. Quando não aguentei mais, gozei dentro dela, sem camisinha, sem pensar, o jato quente fazendo-a tremer e gemer alto. João gozou quase ao mesmo tempo, o semen escorrendo pelo queixo dela, que levantou o rosto, rindo, a boca e as pernas brilhando com os vestígios de nós dois. “Obrigada, Mayer,” ela disse, a voz rouca, mas sincera, enquanto limpava o rosto com as costas da mão. Fiquei ali, ofegante, vestindo-me rapidamente, o coração disparado, a mente em turbilhão. “E agora?” perguntei, a voz tremendo, enquanto olhava para Fátima e João. “O que somos?” Revelei, hesitante, meu interesse por Beyya, esperando uma reação de desaprovação. Fátima sorriu, ainda ajustando a camisola. “Isso não muda nada, Mayer. A Beyya é especial, e eu te ajudo com ela.” João, com um esforço visível, falou: “Eu não posso mais dar prazer pra Fátima. A doença… não deixa. Mas você pode ajudar, de vez em quando.” Ele riu, um som fraco, mas sem malícia, e eu assenti, sem saber como processar aquilo.
Naquele momento, a porta se abriu, e Beyya entrou, segurando uma sacola pequena. Seus olhos caíram sobre as sacolas com os vestidos, e entreguei-as a ela, tentando disfarçar o rubor no rosto. “São pra você,” disse, a voz falhando. Ela abriu, os olhos arregalados ao ver os vestidos vermelho, preto e azul. “Mayer, você… não precisava,” disse, mas o sorriso tímido que surgiu no rosto dela fez meu peito aquecer. Fátima e João se retiraram para o quarto, deixando-nos na sala, o silêncio entre nós carregado, mas não desconfortável.
Sentamos no sofá, e Beyya segurava o vestido vermelho, os dedos traçando o tecido. “Por que você faz isso tudo?” perguntou, os olhos fixos nos meus, pela primeira vez sem desviar. “O remédio, os vestidos…” Engoli em seco, sem saber como explicar. “Porque você e sua família… vocês merecem mais.” Ela sorriu, mas havia algo nos olhos dela, uma percepção que me fez temer que ela soubesse do que acontecera minutos antes. “Não é nada,” menti, quando ela franziu a testa, e ela assentiu, como se aceitasse a resposta, mas não acreditasse.
Saí da casa com a cabeça girando, o peso da culpa e do desejo misturados à esperança de algo real com Beyya. A vila, com suas ruas de terra e segredos, continuava a me puxar para um caminho que eu não podia prever, e eu sabia que, entre os presentes, os prazeres e as promessas, estava me perdendo – ou talvez me encontrando. Ao chegar à casa de Doge, caminhando pelas ruas de terra de Nhambane, o peso dos eventos na casa de Fátima ainda ecoava em mim. A imagem de Beyya, segurando os vestidos com um sorriso tímido, misturava-se à cena intensa com Fátima e João, deixando-me dividido entre culpa, desejo e uma esperança indefinida de algo mais puro com Beyya. O sol já se escondera, e a vila estava envolta na penumbra, iluminada apenas pelos postes de luz fracos e pelo brilho ocasional de fogueiras nas portas das casas. O ar carregava o cheiro de lenha queimada e comida cozida, um lembrete constante da simplicidade da vida ali.
Amara estava na sala, sentada no sofá, folheando uma revista antiga, o cabelo trançado preso num coque alto. Usava uma regata solta e um short jeans, as pernas cruzadas de um jeito que parecia desenhado para chamar atenção. “Mayer, sua mãe ligou,” disse, sem levantar os olhos, a voz com aquele tom provocador que já me era familiar. “Ela pediu pra você ajudar com um problema na empresa. Doge vem te buscar em breve.” Assenti, o estômago revirando com a mudança repentina de planos. “Tá bem,” respondi, subindo para o quarto para trocar de roupa. Peguei uma camiseta polo preta e uma calça jeans, jogando água fria no rosto para afastar o cansaço e as imagens que insistiam em voltar – Fátima, nua, a camisola roxa, os gemidos dela.
Na cozinha, engoli rapidamente um prato de inhame com molho de peixe que Amara deixou na mesa, o sabor picante queimando a língua. O ronco da moto de Doge ecoou do lado de fora, e desci correndo, encontrando-o com a mesma camiseta polo azul-escura de sempre, o corpo robusto ocupando quase todo o espaço da entrada. “Pronto, Mayer?” perguntou, o sorriso largo, mas com um brilho de urgência nos olhos. “Sua mãe tá precisando de você na GeoMinas. Vamos.” Subi na garupa da moto, o vento quente da noite batendo no rosto enquanto acelerávamos pelas estradas de terra, o farol da moto cortando a escuridão.A fábrica da GeoMinas era um complexo imenso, uma mistura de concreto bruto e máquinas barulhentas, cercada por montes de terra vermelha e pilhas de minério. O cheiro metálico de pó e óleo diesel pairava no ar, e o som constante de britadeiras e guindastes criava uma sinfonia industrial. Doge me guiou pelo pátio principal, onde dezenas de trabalhadores, a maioria homens negros com rostos cansados, carregavam ferramentas ou operavam máquinas. Muitos tinham a pele marcada pelo sol, as roupas gastas, e os olhos carregavam a dureza de quem tirava o sustento dali, mesmo que isso significasse passar fome em casa. Senti um aperto no peito, lembrando da família de Beyya e da pobreza que permeava a vila.
Passamos por uma ala onde cerca de trinta mulheres trabalhavam, todas negras, operando máquinas menores ou separando minérios em esteiras. Elas conversavam baixo, algumas rindo, mas a maioria mantinha uma expressão focada, como se cada movimento fosse uma luta pela sobrevivência. Doge apontou para um prédio menor, com paredes de concreto e uma placa que dizia “Setor de Informática”. “É aqui que tá o problema,” ele disse, abrindo a porta. O ar-condicionado, uma raridade na vila, me acertou como uma lufada de alívio, mas o cheiro de plástico quente e poeira eletrônica dominava o ambiente.
Dentro, havia três técnicos: dois homens negros, com uniformes da GeoMinas, e uma mulher branca, de cabelos negros longos, presos num rabo de cavalo. Ela usava óculos de armação fina e uma camisa polo da empresa, o que me surpreendeu – pensei que Rose fosse a única mulher branca no projeto. Tentei disfarçar minha surpresa, cumprimentando-os com um aceno. “Mayer, esses são os técnicos: Tomás, Elias e Lúcia,” Doge apresentou. Lúcia me olhou com curiosidade, os olhos castanhos avaliando-me rapidamente antes de voltar ao monitor. O problema era simples para alguém com minha formação em Ciências da Computação: o sistema de gerenciamento da produção travava, causando atrasos na linha de processamento. “É um bug no software de integração,” expliquei, após alguns minutos analisando os logs. Corrigi o código com uma facilidade que deixou os três boquiabertos, os olhos arregalados enquanto eu reiniciava o sistema e testava as conexões.
“Você é bom, hein,” Lúcia disse, com um leve sotaque que misturava português de Moçambique com algo europeu, talvez português de Portugal. Sorri, meio sem jeito, e mexi em mais algumas configurações, otimizando o desempenho da rede interna. Doge, impressionado, bateu no meu ombro. “Sua mãe disse que você era esperto, mas isso é outro nível.” Agradeci, sentindo uma pontada de orgulho, mas também uma inquietação – a vila, com suas complexidades, estava me puxando para papéis que eu não esperava. Doge me levou para conhecer o outro gerente, Digo, um homem negro de uns 45 anos, mais baixo que Doge, mas com um porte atlético e um sorriso fácil. Ele usava óculos de armação metálica e uma camisa social impecável, contrastando com o ambiente empoeirado da fábrica. “Esse é o Mayer, o filho da Rose,” Doge apresentou, e Digo apertou minha mão com força. “Obrigado pela ajuda, rapaz. Salvou nosso dia.” Lúcia, que nos acompanhava, foi apresentada como filha de Digo, o que explicou sua posição na equipe técnica. “Ela é nossa estrela,” Digo disse, orgulhoso, e Lúcia revirou os olhos, sorrindo.
Rose chegou logo depois, entrando na sala com a autoridade de quem comandava o projeto. Estava impecável, como sempre: uma blusa branca justa, calças cáqui que marcavam a cintura fina, e o cabelo loiro preso num coque perfeito. Deu instruções precisas a Doge e Digo sobre o cronograma da obra, a voz firme, mas educada. Notei, pela primeira vez, os olhares dos funcionários – homens, em sua maioria, que paravam o que estavam fazendo para observá-la. Os olhos percorriam o corpo dela, a bunda empinada, os seios delineados pela blusa, com uma mistura de admiração e desejo descarado. Rose parecia não perceber, ou talvez ignorasse, focada nos papéis que carregava. Mas eu percebi, e um desconforto cresceu no peito, como se eu estivesse vendo algo que não deveria.
“Mayer, dá uma olhada nos servidores da outra sala,” ela disse, sem desviar os olhos dos documentos. “Quero garantir que tá tudo funcionando.” Obedeci, verificando mais algumas conexões, enquanto Doge e Digo discutiam logística com ela. Quando terminei, Digo se aproximou, o sorriso largo. “Você fez um baita trabalho, Mayer. Tô dando uma festa na minha casa amanhã à noite, pra comemorar o progresso da obra. Você tá convidado.” Agradeci, surpreso, e perguntei: “Posso levar alguém?” Ele riu, batendo no meu ombro. “Claro, rapaz, quem você quiser.”
Imediatamente, pensei em Beyya. A ideia de levá-la à festa, de vê-la com um dos vestidos que comprei, talvez o vermelho, me fez sorrir. Mas uma dúvida pairava – será que ela aceitaria? A timidez dela, a tristeza nos olhos, a situação da família, tudo isso pesava. E, no fundo, a culpa do que acontecera com Fátima ainda queimava, misturada com o desejo que Beyya despertava e a confusão sobre os olhares dirigidos à minha mãe. A vila de Nhambane era um labirinto de emoções, e eu, um estrangeiro de olhos azuis, estava cada vez mais perdido. Na volta para casa, na garupa da moto de Doge, o vento quente batia no rosto, mas não aliviava o turbilhão na minha mente. A fábrica, com seus trabalhadores exaustos, as mulheres na esteira, os olhares para Rose, a habilidade de Lúcia, tudo se misturava às imagens de Beyya, Fátima, Amara. Pensei em como convidaria Beyya para a festa, imaginando-a sorrindo, talvez dançando sob as luzes de uma casa cheia de vida. Mas também pensava na revelação de Faraji sobre ela e Zuri, na possibilidade de Beyya seguir o mesmo caminho da irmã, e no peso que a família carregava. A vila, com suas ruas de terra e seus segredos, estava me ensinando que nada era simples – nem o desejo, nem a gratidão, nem a esperança.
Chegando à casa de Doge, Amara estava na varanda, fumando um cigarro, o brilho da brasa iluminando o rosto dela. “Resolveu o problema?” perguntou, exalando a fumaça, o olhar provocador. “Sim,” respondi, subindo para o quarto, evitando prolongar a conversa. Deitei na cama, o ventilador zumbindo, e pensei em Beyya. Peguei o celular e mandei uma mensagem para Rose, confirmando que o sistema estava funcionando. Mas minha mente já estava na festa, na possibilidade de ver Beyya fora daquele contexto de tristeza, e na esperança de que, talvez, eu pudesse oferecer a ela algo além de presentes – um momento de leveza, um vislumbre de futuro.No dia seguinte à visita emocionante à casa de Fátima e João, caminhei novamente pelas ruas de terra de Nhambane, o sol quente batendo no pescoço, o ar carregado com o cheiro de poeira e vegetação queimada. Minha mente estava fixa em Beyya – a forma como ela sorriu ao receber os vestidos, a timidez que escondia uma força silenciosa, os olhos castanhos que pareciam carregar a história da vila. Decidi convidá-la para a festa na casa de Digo, imaginando-a com o vestido preto, talvez dançando, talvez se permitindo um momento de leveza. Cheguei à casa dela, o coração acelerado, e bati na porta, o som ecoando no quintal silencioso.
Beyya abriu, vestindo uma camiseta folgada e uma saia longa, o cabelo liso preso numa trança. Seus olhos se arregalaram de surpresa, e um leve rubor subiu às bochechas. “Mayer? O que tá fazendo aqui?” perguntou, a voz suave, mas com um toque de cautela. Expliquei sobre a festa, tentando soar casual. “É na casa do Digo, gerente da GeoMinas. Nada muito chique, só uma celebração. Queria que você fosse comigo.” Ela hesitou, os olhos baixando para o chão. “Não sei, Mayer. Não sou boa com essas coisas. Não saberia me comportar no meio de gente rica.” Tentei tranquilizá-la, rindo. “Não tem ninguém rico lá, Beyya. É só o pessoal da empresa, gente como o Doge.” Ela balançou a cabeça, firme. “Essas pessoas ricas não gostam de gente simples como eu.”
Antes que eu pudesse responder, Fátima apareceu na porta, limpando as mãos num pano de prato, o sorriso largo. “Beyya, vai com o menino! Você me deve essa, depois de tudo que ele fez por nós.” Fiquei vermelho, balançando as mãos. “Não, Fátima, não é por isso. Ela não me deve nada. É só… porque eu quero que ela vá.” Olhei para Beyya, tentando transmitir sinceridade. “Por favor, Beyya. Por mim.” Ela mordeu o lábio, os olhos oscilando entre mim e a mãe, e finalmente assentiu, um sorriso tímido surgindo. “Tá bom, eu vou.” Fátima bateu palmas, animada, enquanto eu sentia um alívio quente no peito, misturado com a culpa persistente do que acontecera com ela na sala. No dia seguinte, acordei cedo, o sol mal despontando no horizonte. Enquanto tomava café na casa de Doge, pensei na logística da festa. Caminhar ou depender da moto de Faraji não parecia ideal, especialmente se eu fosse levar Beyya. Verifiquei meu saldo bancário no celular – 20 mil reais, fruto de economias de estágios e mesadas generosas de Rose. Era mais que suficiente. Meu pai ligou naquela manhã, a voz cheia de bom humor. “E aí, filho, precisa de dinheiro?” perguntou, rindo. “Tô me virando, pai, mas pode mandar,” respondi, brincando. Ele gargalhou. “Esse é meu filho! Tá comendo muita mulher aí, né?” Fiquei vermelho, mesmo estando sozinho. “Duas, até agora,” admiti, meio sem jeito, e ele riu alto, parabenizando-me como se fosse uma conquista esportiva. Horas depois, minha conta pingou com mais 30 mil reais depositados por ele.
Decidi comprar um carro. Fui a uma concessionária em Inhambane, uma cidade vizinha maior, onde encontrei um sedã preto, um modelo que no Brasil seria considerado popular, como um Fiat Siena, mas que ali, em Nhambane, era visto como carro de luxo. Custou 10 mil reais no câmbio, uma pechincha. Na mesma loja, vi um colar de prata com um pingente de pedra azul, delicado, mas sofisticado, algo que só “gente rica” da vila usaria. Comprei por uma ninharia – o equivalente a 150 reais – pensando em Beyya, imaginando o colar brilhando contra a pele dela. Voltei para Nhambane com o carro novo, o cheiro de couro sintético e plástico novo enchendo o ar, sentindo-me estranhamente poderoso, mas também deslocado, um estrangeiro com privilégios que contrastavam com a simplicidade da vila.
Faraji, ao ver o carro estacionado na frente da casa, assobiou, impressionado. “Caraca, Mayer, tá podendo!” Ele mencionou que também iria à festa, mas precisava arrumar uma companhia. “Dá uma carona pra mim e pra quem eu levar?” perguntou, o sorriso travesso. “Claro,” respondi, já imaginando a logística com Beyya. Rose, Doge e Amara iriam no carro da empresa, um jipe robusto que Rose usava para se deslocar até a obra, então eu, Faraji e minha acompanhante teríamos o sedã para nós. Na noite da festa, passei na casa de Beyya com o sedã novo, o motor ronronando suavemente enquanto estacionava. Ela saiu pela porta, e meu queixo caiu. Estava deslumbrante no vestido preto que eu comprara, o tecido abraçando as curvas do corpo – seios fartos, cintura fina, quadris largos – com uma elegância que misturava sensualidade e recato. O cabelo liso estava solto, caindo sobre os ombros, e os olhos castanhos brilhavam sob a luz do poste. “Você tá linda,” disse, saindo do carro, e tirei o colar do bolso, colocando-o delicadamente no pescoço dela. A pedra azul reluziu contra a pele escura, e ela tocou o pingente, surpresa. “Mayer, você… não precisava,” murmurou, mas sorriu, um sorriso genuíno que fez meu coração acelerar. Dei um beijo leve na bochecha dela, e Fátima, que observava da porta, bateu palmas. “Que lindo, os pombinhos!” exclamou, rindo. Beyya repreendeu a mãe, mas riu também, o rosto corando.
Faraji, no banco do passageiro, elogiou Beyya, os olhos brilhando com admiração. “Tá matando, Beyoncé!” disse, usando o apelido dela, e ela revirou os olhos, mas sorriu. Seguimos para o bar onde Faraji pediu para parar, dizendo que ia pegar sua acompanhante. Ele voltou minutos depois com Zuri, a irmã de Beyya, que entrou no carro vestindo um vestido vermelho justo, com um decote profundo e uma fenda na coxa que deixava pouco para a imaginação. O perfume forte dela encheu o carro, e o clima mudou instantaneamente. Zuri sentou-se no banco de trás ao lado de Beyya, cumprimentando-a com um “Oi, mana” casual, mas os olhos de Beyya se estreitaram, e o ar ficou pesado. Finjo não conhecer Zuri, mantendo os olhos na estrada, mas sinto o olhar dela pelo retrovisor, um misto de provocação e curiosidade. Beyya, ao lado dela, parecia tensa, como se sentisse algo estranho, mas ninguém disse nada além de cumprimentos educados.
O silêncio no carro era desconfortável, quebrado apenas pelo ronco do motor e pelo som abafado de música kizomba vindo de algum lugar na vila. Eu segurava o volante com mais força que o necessário, a memória da noite com Zuri no bar voltando em flashes – a intensidade dela, os gemidos, a disputa de poder. Olhei de relance para Beyya, que encarava a janela, o colar brilhando no pescoço, e senti uma pontada de culpa. Faraji, alheio à tensão, conversava sobre a festa, dizendo que Digo sempre fazia eventos animados. “Vai ter cerveja, comida, música. Você vai gostar, Beyoncé,” ele disse, e ela assentiu, mas sem entusiasmo. Chegamos à casa de Digo, uma construção surpreendentemente chique para os padrões de Nhambane. Era uma casa de dois andares, com paredes brancas, janelas grandes de vidro e um quintal decorado com luzes coloridas penduradas em cordas. O som de música africana – uma mistura de kizomba e ritmos locais – ecoava alto, e o cheiro de churrasco e mandioca frita enchia o ar. Estacionei o sedã, e saí do carro, oferecendo o braço a Beyya como um cavalheiro. Ela riu, um som leve que aliviou a tensão no meu peito, e aceitou, segurando meu braço enquanto caminhávamos para a entrada. Faraji tentou imitar o gesto com Zuri, mas seus olhos estavam fixos no decote dela, sem disfarçar, e ela riu, dando um tapa brincalhão no ombro dele.
Digo nos recebeu na porta, impecável numa camisa social azul e calças escuras, o sorriso largo. “Mayer, bem-vindo! E quem é essa moça linda?” perguntou, olhando para Beyya. Apresentei-a, orgulhoso, e ela corou, murmurando um “Obrigada” tímido. Outros convidados – funcionários da GeoMinas, alguns moradores da vila, e até Lúcia, a filha de Digo, que usava um vestido verde justo – circulavam pelo quintal, rindo e dançando. Vi Rose conversando com Doge e Amara perto de uma mesa de bebidas, a blusa branca dela destacando-se na multidão. Os olhares dos homens ainda a seguiam, mas ela parecia alheia, focada na conversa.
Conduzi Beyya pelo quintal, segurando seu braço com cuidado, como se ela fosse uma dama numa corte. Ela ria das minhas tentativas de ser galante, mas seus olhos brilhavam, e pela primeira vez a vi relaxada, a tristeza habitual dando lugar a uma leveza que me fez sorrir. “Você já dançou kizomba?” perguntei, apontando para os casais que giravam no centro do quintal, os corpos colados num ritmo sensual. Ela balançou a cabeça, envergonhada. “Não sei dançar isso.” “Eu também não,” admiti, rindo. “Mas a gente pode tentar.” Ela hesitou, mas o sorriso dela me deu coragem para puxá-la suavemente para a pista improvisada, determinado a fazer daquela noite um momento especial. A festa na casa de Digo pulsava com energia, o quintal iluminado por cordões de luzes coloridas que balançavam na brisa quente da noite de Nhambane. A música kizomba ecoava, os graves vibrando no chão, enquanto casais giravam na pista improvisada, os corpos colados num ritmo sensual que parecia carregar a alma da vila. Segurei a mão de Beyya, guiando-a suavemente para o centro do quintal, o vestido preto que eu comprara abraçando as curvas dela de um jeito que fazia meu coração acelerar. Ela hesitou, os olhos castanhos brilhando de nervosismo, mas o sorriso tímido que surgiu nos lábios dela me deu coragem. “Não sei dançar isso, Mayer,” ela murmurou, a voz quase perdida no som da música.
“Nem eu,” respondi, rindo, e puxei-a para mais perto, uma mão na cintura dela, a outra segurando a mão dela com cuidado. Começamos a nos mover, desajeitados no início, nossos passos tropeçando no ritmo. Mas, aos poucos, ela relaxou, os quadris acompanhando a batida, o corpo se soltando contra o meu. O calor da pele dela, o perfume suave de sabonete misturado com o brilho do colar de prata no pescoço, tudo parecia hipnótico. Então, pela primeira vez, ouvi uma risada dela – livre, solta, como se o peso que carregava tivesse, por um momento, desaparecido. O som era claro, quase cristalino, cortando o ruído da festa, e me fez sorrir, o peito quente com algo que eu não sabia nomear.
Olhei nos olhos dela, e ela sustentou o olhar, o rosto iluminado pelas luzes coloridas. “Você tá feliz,” eu disse, mais uma constatação que uma pergunta. Ela assentiu, o sorriso alargando, e por um instante, a vila, a festa, as tensões – tudo desapareceu. Éramos só nós dois, dançando desajeitadamente, mas com uma conexão que parecia maior que o momento. Quando a música terminou, conduzi-a para um sofá de vime num canto do quintal, longe da pista, onde o barulho era menor, e o cheiro de churrasco e mandioca frita ainda pairava no ar. Sentamos, o tecido áspero do sofá roçando contra minhas pernas. Beyya cruzou as mãos no colo, o vestido preto subindo ligeiramente nas coxas, e me olhou com uma expressão que misturava leveza e algo mais profundo, quase triste. Ela respirou fundo, como se tomasse coragem, e fez uma pergunta direta, a voz firme, mas suave: “Mayer, você já dormiu com a minha irmã?” O mundo parou. Meu estômago gelou, e o ar pareceu fugir dos pulmões. Queria mentir, apagar a noite com Zuri no bar, fingir que nunca acontecera. Mas os olhos dela, grandes e castanhos, pareciam enxergar através de mim, e a ideia de enganá-la era insuportável.
Engoli em seco, o coração disparado, e confessei: “Sim, Beyya. Foi no primeiro dia que cheguei aqui. O Faraji me levou a um bar, e… ele me ofereceu a Zuri. Aconteceu, mas foi só aquela vez. Nunca mais voltei lá, nunca mais a vi. Não vou mentir pra você.” As palavras saíram pesadas, cada uma carregando a culpa que eu tentava enterrar. Esperei uma reação de raiva, de decepção, talvez que ela se levantasse e fosse embora. Mas, para minha surpresa, o rosto dela não endureceu. Ela me olhou, os olhos brilhando com algo que parecia alívio, e colocou a mão sobre a minha, os dedos quentes contra minha pele.
“Estou admirada com a sua sinceridade,” ela disse, a voz baixa, mas firme. “Muita gente mentiria.” O toque dela, leve, mas intencional, fez meu peito apertar, não de culpa, mas de algo mais profundo. Olhei para o rosto dela, os lábios cheios, a pele escura reluzindo sob as luzes, e ela olhou nos meus olhos, os cílios longos tremendo ligeiramente. Naquele momento, soube que estava gostando dela – não apenas do corpo, da beleza, mas da pessoa, da força quieta, da honestidade que espelhava a minha. Inclinei-me para beijá-la, o coração batendo tão alto que parecia abafar a música, mas antes que nossos lábios se tocassem, Amara apareceu, o perfume de lavanda precedendo-a. Amara segurou o braço de Beyya, puxando-a com uma energia que misturava brincadeira e autoridade. “Momento das mulheres, querida!” disse, o sorriso largo, os olhos brilhando com aquela provocação que eu já conhecia. “Vamos lá, é uma tradição. Todas as mulheres vão pra um canto, fazer… sei lá, coisas de mulher.” Ela riu, e Zuri apareceu logo atrás, o vestido vermelho colado ao corpo, os seios quase saltando do decote. “Vem, mana,” Zuri disse, a voz carregada de um tom que parecia desafiador, olhando de relance para mim. Beyya hesitou, mas se levantou, lançando-me um olhar que misturava desculpas e curiosidade. “Vai dar uma volta pela casa, Mayer,” Amara sugeriu, piscando, antes de levar Beyya e Zuri para o outro lado do quintal, onde um grupo de mulheres se reunia, rindo e falando alto.
Fiquei sozinho no sofá, o calor da mão de Beyya ainda presente na minha, o quase-beijo pairando como uma promessa interrompida. A festa continuava, o som da kizomba misturando-se às conversas e risadas. Vi Rose do outro lado do quintal, conversando com Doge e Digo, a blusa branca destacando-se na multidão, os olhares dos homens ainda seguindo-a, algo que eu tentava ignorar. Faraji estava na pista, dançando com uma garota que eu não conhecia, os movimentos exagerados, o sorriso travesso. Levantei-me, precisando de ar, de espaço, de algo para acalmar a tempestade de emoções – culpa por Zuri, desejo por Beyya, confusão sobre o que estava acontecendo comigo naquela vila. Decidi seguir o conselho de Amara e dar uma volta pela casa de Digo. O térreo era amplo, com uma sala de estar decorada com móveis de madeira polida, tapetes coloridos e fotos de família nas paredes – Digo, Lúcia, e uma mulher que devia ser a esposa dele, sorrindo em várias ocasiões. O cheiro de perfume caro misturava-se ao aroma de comida que vinha da cozinha, onde alguns empregados preparavam mais bandejas de petiscos. Subi as escadas para o segundo andar, curioso, os degraus de madeira rangendo sob meus pés. O corredor era estreito, com portas fechadas e uma janela no final, deixando entrar a brisa morna da noite.
Quando cheguei ao topo da escada, ouvi um som que fez meu corpo congelar – gemidos, abafados, mas inconfundíveis, vindo de uma das portas entreabertas. Meu lado curioso, aquele que me levara à grade de ventilação no quarto de Doge e Amara, despertou imediatamente. Meu coração acelerou, a culpa e o desejo lutando novamente, enquanto imagens de Amara, Zuri, Fátima passavam pela minha mente. Sabia que deveria voltar, me juntar à festa, esperar Beyya, mas a tentação era mais forte. O som – um gemido feminino, seguido por um murmúrio grave – parecia me chamar, como uma sirene que eu não conseguia ignorar.