O internato - Capítulo 37

Um conto erótico de Bernardo, Daniel, Theo, Gabriel
Categoria: Gay
Contém 3385 palavras
Data: 04/08/2025 21:53:00

Nota do editor

Este capítulo trata de temas sensíveis relacionados a traumas e abusos, mas optamos por omitir os detalhes mais gráficos. As passagens mais duras foram intencionalmente deixadas nas entrelinhas, respeitando o leitor e confiando em sua imaginação para compreender a dor e o impacto vividos pelos personagens.

Caso você ou alguém que conheça esteja passando por situações semelhantes, procure ajuda. No Brasil, denúncias de abuso infantil podem ser feitas de forma anônima pelo Disque 100. Você não está sozinho.

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Capitulo 37 - Não vou abandoná-lo

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Bernardo:

– Ele acordou – disse a enfermeira na recepção do hospital – Mas ainda está muito fraco.

– Você vai vê-lo, Bernardo? – minha mãe me perguntou, visivelmente preocupada.

– Vou sim – respondi, ainda em choque com tudo o que Pedrinho havia me contado.

Gabriel chegou ao meu apartamento naquela tarde completamente destruído, acompanhado de seu irmãozinho. Assim que abri a porta, ele desmaiou, me fazendo entrar em desespero. Pedi ajuda aos meus pais enquanto Pedrinho sacudia Gabriel, sem obter qualquer reação. Chamamos uma ambulância, que o levou ao hospital. No caminho, perguntamos a Pedro o que havia acontecido, e ele contou que Gustavo estava atrás deles e que havia matado Jair. O menino tremia o tempo todo, em completo estado de choque. Meu pai acionou a polícia imediatamente.

Foram até o apartamento de Gabriel, no endereço que Pedrinho forneceu, e encontraram o corpo de Jair com múltiplos ferimentos e um corte profundo no pescoço. Gustavo, porém, não foi encontrado. A polícia queria levar Pedrinho como testemunha, mas, a meu pedido, meu pai usou sua influência para que o interrogatório ocorresse no hospital, garantindo que o menino ficasse sob nossos cuidados. Gabriel veio até mim em desespero, e eu não permitiria que a polícia levasse seu irmãozinho enquanto ele permanecia desacordado.

Quando a enfermeira chegou para avisar que Gabriel havia despertado, Pedro estava em uma sala conversando com dois policiais. Já se passavam mais de duas horas.

Entrei no CTI, onde Gabriel estava deitado em um box, cercado de aparelhos, com um cateter nasal o ajudando a respirar. Quando me viu, seu olhar transmitiu alívio.

– Onde está Pedrinho? – foi a primeira coisa que perguntou, com a voz fraca.

– Ele está bem – respondi, pegando sua mão direita, já que a esquerda havia sido engessada novamente – Vocês estão seguros agora.

– Eu devia ter aceitado sua ajuda antes – disse ele, com os olhos marejados – Gustavo surtou.

– Seu irmão nos contou – tentei tranquilizá-lo – A polícia foi acionada e logo vão encontrá-lo. Agora você só precisa se recuperar.

– A médica disse que eu tive um traumatismo craniano – comentou, tentando levar a mão à cabeça, mas estava fraco demais e ela caiu. Segurei-a de novo.

Ele teve uma pequena fissura no crânio, causada por uma queda anterior à chegada ao meu apartamento. Foi o que a médica nos disse mais cedo. Nada grave, mas suficiente para fazê-lo perder a consciência e ter dificuldade para respirar. Ele ficaria em observação por 48 horas.

– Você vai se recuperar – disse, acariciando seu rosto, perto do hematoma em seu olho direito. Provavelmente, Gustavo o agrediu antes da fuga. Isso explicaria o traumatismo.

– A polícia quer conversar com você – continuei – Disseram que será rápido.

– Eles vão levar Pedrinho? – perguntou, apreensivo.

– Por enquanto, vocês vão ficar lá em casa – garanti, tentando animá-lo com um sorriso.

Gabriel retribuiu com um pequeno sorriso.

– Você pode avisar o Nick que eu estou no hospital? – pediu, receoso da minha reação – Não falo com ele desde o dia em que saí da escola.

Quis dizer que não. Quis dizer que Nick não se importava com ele e que ele era um tolo por acreditar no contrário. Mas então lembrei que, ao contrário de quando namorou Théo, Nick havia sido sincero sobre os motivos do término. E Nick, durante a viagem, tentou entrar em contato comigo e com Daniel para saber notícias dele. Será que ele havia mudado? Difícil acreditar, mas Théo e eu mudamos… por que ele não mudaria?

– Eu aviso, prometi – disse. – Agora vou deixar os policiais entrarem. Depois volto aqui.

– Tudo bem – respondeu, parecendo subitamente esgotado – Obrigado por tudo – uma lágrima escorreu por seu rosto.

– Não precisa agradecer – disse, beijando sua bochecha – Somos amigos.

– Sim – ele sorriu mais uma vez, tentando enxugar a lágrima com a mão, mas estava fraco demais. Fiz isso por ele – Você também avisa a Roberta onde estou?

– Claro – respondi, e então deixei o CTI.

Dois policiais aguardavam na entrada e acenaram. Retribuí o gesto. Pedrinho estava sentado entre meus pais, olhando para o chão com um semblante triste e ausente.

– Você pode levar o Pedrinho para comer algo, Cris? – meu pai pediu à minha mãe, embora seu tom não deixasse margem para recusa.

– Claro – respondeu ela, compreendendo de imediato – Já são duas da manhã, mas deve haver algum lugar aberto. Vamos, Pedrinho?

O menino, de pele morena e cabelos cacheados, apenas assentiu. Pequeno e frágil, parecia ter vivido horrores. Era evidente que estava no limite, pela forma como tentava desesperadamente acordar o irmão na entrada da minha casa. Como se não pudesse suportar perder mais ninguém.

Minha mãe se levantou e estendeu a mão. Pedrinho a segurou, e ambos seguiram pelo corredor. Ela tentava puxar assunto para distraí-lo, mas ele apenas olhava para os próprios pés, respondendo em voz baixa, quase sussurrada.

– É pior do que eu imaginava, Bernardo – meu pai disse quando eles sumiram no corredor rumo ao elevador – A mãe deles foi assassinada há duas semanas durante um assalto, e o garoto foi abusado pelo pai. Seu amigo Gabriel descobriu e foi atrás desse tal de Jair com uma faca. O Pedrinho não viu, mas ouviu uma briga. Depois, Gustavo acordou, e o menino, em desespero, contou tudo o que sabia.

Gustavo entrou no quarto e fechou a porta. Pedro ouviu mais gritos, uma luta, e depois sons de tortura. Em seguida, silêncio total. Ele acabou pegando no sono. Quando acordou, Gabriel o chamava, e os dois fugiram com Gustavo no encalço. O garoto está convencido de que Gustavo matou o pai e quer matá-los também. Mas, para mim, há algo mais por trás disso. Você sabe de alguma coisa?

Hesitei, questionando se deveria contar tudo que Gabriel me dissera sobre seu irmão e o padrasto. Por um momento, pensei em omitir, mas isso certamente atrapalharia a investigação – e eu havia prometido ajudá-lo.

Contei tudo. Meu pai ouviu com a serenidade de quem passou anos em um tribunal, mas eu sabia o quanto esse tipo de história o enojava.

– Ele suportou tudo isso por medo de que Pedrinho fosse abusado – concluí – Tinha medo de que ninguém acreditasse nele.

– O garoto foi ingênuo – disse meu pai, colocando a mão no meu ombro – Mas vamos ajudá-lo, Bernardo. Precisamos descobrir o que aconteceu naquele quarto.

– Provavelmente Gustavo espancou ele e Jair – comentei, lembrando das marcas no corpo de Gabriel – E depois matou o padrasto.

– Acho que os hematomas foram causados por Jair, não por Gustavo – respondeu – Pedro disse que ouviu uma briga antes de Gustavo aparecer. Também precisamos averiguar quem realmente matou Jair.

– Você acha que pode ter sido o Gabriel? – perguntei, perplexo.

– Acho que há uma boa possibilidade disso – concluiu meu pai.

...

Daniel:

— Acho que vocês estão correndo perigo — falei ao Bernardo, assim que ele me contou tudo o que estava acontecendo. — Seu pai está certo em cogitar a hipótese de o Gabriel ter matado o padrasto.

— Eu também penso nisso, mas acredito que não foi ele — Bernardo respondeu do outro lado da linha. — Tenho quase certeza de que foi o Gustavo, embora eu não tenha tocado nesse assunto com o Gabriel.

— Mesmo que ele não tenha matado o tal do Jair, tem um doido à solta atrás deles, e você quer abrigá-los na sua casa? — indaguei, incrédulo.

— Meu pai vai garantir proteção policial — ele argumentou.

— E quando as aulas voltarem na semana que vem? — perguntei, ainda inquieto. — Vai ter policial te escoltando até o colégio? Esse cara pode ir atrás de você também, Be! Ele já te agrediu uma vez.

— Até lá ele já vai ter sido preso — respondeu, tentando esconder o nervosismo, mas eu conhecia bem demais meu namorado pra cair nessa. — Meu pai está cuidando disso com toda a atenção possível, até pela nossa segurança.

— Não sei, Be — falei, olhando para o Théo, que até então estava calado, sentado na minha cama. — Isso me preocupa muito.

— Também me assusta, Dany — ele confessou — Mas não posso ignorar tudo isso. Eles não têm ninguém.

— Mas esse não é um peso que você deveria carregar! — falei, já exaltado.

— Não importa se é ou não, Daniel! — Bernardo rebateu, irritado. — Eu não vou virar as costas pra eles.

— Não me interessa se ele é seu amigo! — elevei o tom — Quero você longe dessa confusão!

— Não vou abandoná-los! — agora ele gritava — Porra, Daniel! Não acredito que você tá sendo tão idiota.

— Dane-se se eu tô sendo idiota, Bernardo! — respondi, com a mesma raiva — E sinceramente, não dou a mínima se esse Gabriel vai morrer ou não!

— Já ouvi muita merda, mas essa ganhou.

Théo então se levantou da cama e arrancou meu celular da mão.

— Be, o que o cabeçudo do meu irmão quer dizer é que ele se preocupa com você — falou ao telefone, enquanto eu bufava de raiva — Eu sei que ele é um idiota... — lançou um olhar crítico pra mim — Não tô dizendo que concordo totalmente com você, mas entendo que não vai abandoná-lo. Eu também ajudaria se estivesse no seu lugar. — Ele ouviu por mais alguns segundos. — Pode deixar que ele vai avisar, sim. Tchau, e qualquer coisa liga.

— Pergunta se ele quer que eu vá lá — pedi, mesmo já sabendo qual seria a resposta. Ele já tinha recusado isso quando me ligou do hospital.

— O Daniel quer saber se você quer que ele vá até aí. — Théo repetiu a pergunta e esperou a resposta. — Ok, amigo. Fica bem. Se precisar, liga. Tchau, Be.

Ele desligou e me encarou:

— Ele disse que não quer te ver por enquanto.

— Não me importo — falei, indo até o armário e pegando um moletom preto e uma calça jeans. — Não aguento mais ficar parado aqui.

— E não vai mesmo — Théo disse. — O Bernardo quer que você avise o Nick que o gótico tá internado. Meio bizarro, né? Nem sabia que o Nick curtia um estilo tão sombrio — ele riu sozinho da própria piada.

— O Bernardo disse que os dois estavam ficando — respondi, trocando de roupa — Mas nem fodendo eu vou falar com aquele idiota. Já te contei que ele tentou dar em cima do Be na festa junina?

— Mentira! — Théo arregalou os olhos — Que cara sem noção!

— Pois é — continuei — Ainda tentou puxar assunto com o Be no WhatsApp, mas foi ignorado. Aí ligou pra mim pra se desculpar.

— O nome do gótico é Gabriel? — Théo perguntou, como se tivesse ligado os pontos.

— É sim. Por quê?

— Uns dias depois que vocês viajaram, ele me procurou querendo saber do tal Gabriel. Mas como eu não fazia ideia de quem era, mandei ele procurar as vadias dele no lixão. Mesmo assim, parecia preocupado. Acho que veio falar comigo por falta de opção.

— Que ele se dane — falei, seco.

— Também acho, mas você vai até a casa dele sim. O Bernardo pediu.

— Nem por um cacete! — disse alto demais.

— Conhecendo você, dependendo do tamanho do cacete, você até iria — ele riu, aproveitando a deixa — E vai sim, porque o Bernardo te pediu de verdade. Disse que era importante.

— Ele vai ter que entender, porque eu não vou mesmo — insisti.

— Vai sim, Daniel Vilella! — Théo engrossou a voz, tentando parecer mais ameaçador — Nem que eu tenha que pedir pro Samuel te arrastar até lá, já que eu não tenho força pra isso.

Olhei pro Théo, agora sem as mechas azuis no cabelo raspado nas laterais. O novo corte, arrepiado em cima, caía bem melhor nele. Pequeno, magro e com cara de anjo, mas sabia ser intimidador quando queria.

— Tá bom, eu vou. Mas fica registrado que só tô indo porque o Samuel realmente conseguiria me arrastar — falei, pendurando o casaco de volta no armário. — Mas só vou amanhã de manhã.

— Certo. Porque bater na porta de alguém às duas da manhã não é legal.

— A gente já fez isso antes, lembra? — comentei.

Théo me olhou, e pelo sorriso nostálgico entendi que ele lembrava perfeitamente do soco que deu no Nick naquela noite. Um sorriso de orelha a orelha se abriu no rosto dele.

— Sei que é horrível, mas adorei ver a cara daquele idiota depois do soco. Ele nem viu de onde veio!

— Nem eu esperava aquilo — admiti.

— Nem eu. Foi automático. Quando percebi, minha mão já tava na cara dele.

Dei risada por um momento, esquecendo o motivo de estarmos falando daquele babaca. Só por um instante. Bernardo estava se arriscando pra ajudar um garoto que mal conhecia. Um idiota de coração enorme. Muito mais generoso do que eu seria. Dói admitir, mas eu queria o Gabriel bem longe do meu namorado. Que ele lidasse com seus próprios problemas e nos deixasse em paz. Quem ele era afinal? Até hoje só os vi conversando uma única vez, e foi quando aquele irmão doido apareceu e empurrou o Be, ameaçando ele. Que o Gabriel se danasse com a própria vida.

Mas essa era minha parte egoísta falando, aquela que só se importava com a segurança do Bernardo. No fundo, eu sabia que Gabriel não tinha culpa do inferno em que vivia. Estava apenas desesperado. Foi procurar ajuda onde achou que poderia encontrá-la. E Bernardo, sendo quem é, jamais deixaria alguém na mão. Parecia já ter criado um laço com Gabriel nesse tempo em que a gente ficou distante. E é isso que me incomodava. Eu tinha ciúmes. Ciúmes de um garoto quebrado, que só olhava pro idiota do Nick.

Bernardo tinha razão: eu estava mesmo sendo um idiota.

— Você pode ir comigo pelo menos? — pedi ao Théo.

— Não tô com muita vontade, mas vou sim. Só pra te dar apoio.

...

Gabriel:

Aqueles dois dias no hospital foram horríveis. Sentia uma dor excruciante em minha cabeça como se ela fosse explodir a qualquer momento. A princípio achei que era pela pancada, mas a médica me disse que tal dor era devido ao estresse. E ela tinha razão, pois quando me davam um tranquilizante para dormir, a dor diminuía até quase sumir. Tentava, mas não havia como não ficar estressado.

A polícia vinha me ver várias vezes, fazendo sempre as mesmas perguntas com palavras diferentes, tentando confirmar que minha versão da madrugada em que Jair foi morto se mantinha. Contei inúmeras vezes sobre como meu padrasto e meu irmão me machucavam, e como naquela noite eu quis fazer justiça, mas no fim coube a Gustavo o que eu não consegui. Também revivi várias vezes a fuga desesperada até o apartamento de Bernardo.

Havia um policial armado na porta do CTI e depois, no quarto onde fui transferido. Outros faziam vigília nas entradas do hospital e em frente ao nosso antigo apartamento, caso Nick retornasse. Pedro estava sob os cuidados dos pais de Bernardo e me visitava todos os dias. Meu pequeno e frágil Pedrinho... minha única razão de viver, agora seguro com quatro policiais ao redor. Conversávamos sobre coisas bobas, e uma vez até o vi sorrir — um vislumbre da criança alegre que ele um dia foi.

Durante a internação, minha história virou manchete. A mídia adorava especular, e os comentários públicos me afetavam. Mesmo com a polícia mantendo as informações em sigilo, boatos circulavam por todos os lados. Uma vizinha repassou detalhes à imprensa e até uma foto da minha família vazou. Me chocava ver como pessoas que nada sabiam opinavam sobre algo tão doloroso.

– Conseguimos contato com a tia do Pedro e conversamos a respeito do ocorrido – disse Miguel Andrade enquanto me ajudava a vestir a roupa nova que ele, com carinho, comprou pra mim: uma calça preta, um all star e uma camisa com manga ¾ com o desenho de uma caveira — segundo ele, escolhida por Bernardo. Não era o estilo gótico que adotei no colégio, mas definitivamente mais próximo do verdadeiro Gabriel.

– E ela vai ficar com o Pedro? – perguntei esperançoso.

A última vez que vi Izabel foi no casamento da minha mãe com Jair. Eles não se davam bem por conta de herança, e mesmo após anos de silêncio, a reconciliação nunca veio.

– Ela disse que não quer se envolver – respondeu Miguel com firmeza, mas empatia. – Pedro ficará sob tutela do Estado, assim como você. Sinto muito.

Não era exatamente inesperado, mas ainda assim doeu. Tinha esperanças de que ele fosse acolhido. Agora, ele enfrentaria uma realidade difícil. Eu faria dezoito logo, mas sem condições de cuidar dele, nenhum juiz me concederia sua guarda. E se fosse para vivermos na miséria, eu não queria isso para ele. Talvez fosse adotado, quem sabe, mas crianças maiores raramente conseguem uma nova família. Eu só podia prometer a mim mesmo que nunca o abandonaria, que o visitaria sempre, e que estaria pronto para recebê-lo quando ele completasse a maioridade.

– Tudo bem – falei com um sorriso amarelo – Mas eu queria poder dar um lar pra ele. Ele é tão bom... não merece crescer num abrigo.

Pensei nas muitas crianças que também enfrentavam isso. A injustiça era sufocante.

Saímos do hospital escoltados por quatro policiais. Jornalistas nos esperavam e fizeram perguntas invasivas e cruéis. Miguel me protegeu com seu casaco e me guiou até o carro, onde enfim respirei aliviado.

Fomos direto para o apartamento de Miguel. Ele novamente me cobriu com o casaco e me guiou para dentro, enquanto vozes insistiam em repetir as mesmas perguntas, como se minha dor fosse entretenimento.

– Gabriel! – Pedro correu para os meus braços assim que entrei. Como na outra vez, pulou em mim sem lembrar dos meus ferimentos. Mesmo com dor, o abracei com força.

– Desculpa?

– Não precisa se desculpar – falei com carinho.

– Ele não parava de falar de você – disse uma voz familiar.

– Roberta? – perguntei emocionado.

Ela me abraçou com força. Seu capuz caiu, revelando o cabelo loiro ondulado que eu conhecia bem.

– Eu também estou aqui – outra voz me fez virar.

– Nick? – falei, indo ao seu encontro. Estar com ele de novo era como respirar depois de muito tempo submerso. Ele me deu um beijo demorado, deixando Pedro espantado.

– Eu prometi que viria – disse Bernardo ao lado de seu namorado e de um garoto loiro magrelo.

– Embora eu ainda não entenda o que você vê nele – brincou o loiro. – Sou Théo. Melhor amigo do Bernardo. Nem pense em roubar meu posto!

– Nem pensar – falei sorrindo, as lágrimas escorrendo – Obrigado, Bernardo.

– Não precisa agradecer – ele disse com sinceridade – Amigos servem pra isso.

Ficamos todos ali conversando, tentando esquecer os traumas recentes. Théo era divertido e gentil, e embora Daniel, o namorado de Bernardo, não parecesse muito à vontade comigo, foi educado. No geral, o clima foi acolhedor e leve — algo que eu precisava muito.

– Onde coloco ele? – perguntou Nick com Pedro dormindo no colo.

– Na cama – indiquei o quarto de hóspedes. Era uma cama de casal que eu dividiria com Pedro.

Nick o colocou com cuidado, e eu o cobri com a mão que ainda podia usar. Pedro parecia tranquilo, e isso me deu paz.

– Fiquei feliz que veio – disse a Nick.

Ele sorriu. Um sorriso lindo, que melhorava qualquer dia.

– Eu quis te visitar no hospital, mas a polícia não deixou – disse meio sem jeito – Disseram que você estava sendo interrogado.

– Constantemente – confirmei.

Nick me abraçou. Não era só um abraço de saudade. Tinha dor, empatia, um pedido silencioso de perdão.

– Sinto muito por tudo, Gabriel – ele disse.

– Eu também – falei com a voz embargada.

– Eu te procurei quando você sumiu. Fui até seus amigos da escola, até encontrei um tal de Everton, mas ninguém sabia de você. Tentei falar com Daniel, Théo, Bernardo... mas não consegui respostas. Eu realmente tentei.

– Você não precisa se desculpar – falei. – Ninguém sabia o que aconteceu.

– Fiquei muito preocupado – ele murmurou – Imaginando mil coisas ruins. Infelizmente, algumas eram verdade.

– Você não tem culpa – garanti.

Olhei para seus olhos castanhos e vi que ele também se segurava. Uma lágrima escapou dos meus olhos quando o beijei. Foi um beijo cheio de sentimento, algo novo e verdadeiro.

– Gabriel, você quer namorar comigo? – ele perguntou quando nos separamos.

– Quero – respondi com um novo beijo.

Ele sorriu, e encostamos as testas. Pela primeira vez em muito tempo, me senti em casa.

...

Continua...

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Comentários

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Tudo muito tenso e ainda temos um louco solto por aí. Gostei das sugestões de WW abaixo. Não sei se já é um final mas realmente precisamos amenizar essa situação. Texto muito bom. Parabéns.

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Torcendo pros pais do Bernardo adotarem o Gabriel e o Pedrinho 🥹🥹 Eles já sofreram demais, essa história pesada precisa acabar bem, com muito amor, muita alegria e uma grande família feliz. Ou talvez o Nick case com o Gabriel e eles adotem o Pedrinho. Mas que esse terror acabei logo. Achei essa saga inteira muito pesada até agora.

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