Explorando o passado da minha namorada parte 2 final
Ela arregalou os olhos, ficou pálida.
— Não… quer dizer… sim. Mas foi só uma vez. Eu juro. Achei que você ia gostar de imaginar. Não pensei que… não imaginei que fosse te magoar assim. Eu…
Fiquei parado, sem reação, o coração martelando.
A fantasia suja tinha virado realidade.
E, pela primeira vez, doeu de verdade.
[Continuando]
— Você me traiu.
A frase saiu da minha boca como se fosse de outra pessoa. Um sussurro duro, seco. Eu ainda estava sentado no sofá, o corpo congelado, o peito queimando.
Vanessa passou a mão pelos cabelos, andou de um lado pro outro da sala, parecendo tão perdida quanto eu.
— Matias, não foi… não foi de maldade. Eu juro por tudo. Achei que você… que você ia gostar de saber.
— Gostar?! — minha voz subiu, mas ainda sem gritar. — Você achou que eu ia ficar excitado em saber que você deu pra outro cara? Enquanto namorava comigo?
Ela parou, me olhando com os olhos marejados. A voz falhou quando tentou responder:
— Eu… eu sei que parece absurdo. Mas você sempre me perguntava do passado. Sempre dizia que imaginava, que sentia tesão ouvindo… Eu entrei nessa com você, Matias. A gente construiu isso juntos.
— Isso?! Isso o quê, Vanessa? — levantei do sofá, com o coração acelerado. — Uma fantasia é uma coisa, explorar o passado realmente virou uma coisa pra gente. Mas isso? Isso foi agora. Durante o nosso namoro.
— Eu pensei que… — ela tentou de novo, mas a voz embargou — pensei que você gostava da ideia. Você perguntava tanto, se excitava tanto com as histórias… No começo eu fiquei confusa e insegura, mas fiz questão de parar para ler sobre esse fetiche, sobre esse negócio de… corninho. Eu pensei que era isso. Que você tava me mostrando que queria algo assim.
Fiquei em silêncio. Era muita coisa de uma vez.
Ela continuou, os olhos vermelhos, a voz mais firme agora:
— Não foi por falta de amor. Foi por falta de entendimento. Eu juro, Matias. Quando aconteceu, eu só pensava em como você ia ficar quando contasse. Mas agora também fiquei confusa. Porque fiquei pensando que talvez fosse parte do nosso jogo. Que você ia entender. Que ia gostar de eu trazer uma nova história com alguém do passado…
— Eu nunca dei permissão. Nunca.
Ela se aproximou devagar, tentando segurar minha mão, mas eu recuei.
— Eu não sei se consigo olhar pra você agora.
— Me desculpa. Por favor. Eu te amo.
— Isso não é amor, Vanessa. Isso é loucura.
Ela se encolheu diante de mim, como se levasse um tapa invisível. Se sentou no chão, abraçando os joelhos.
— Eu fiz merda. Eu sei. Mas você também me puxou pra esse lugar… esse desejo de ouvir, de saber… Eu achei que… que talvez a gente estivesse mesmo indo pra um tipo de relação diferente. E eu nem queria isso no começo, só estava tentando te agradar, poxa.
Fiquei olhando pra ela, tentando encontrar alguma lógica, algum ponto onde aquilo tudo fizesse sentido. Mas não fazia. O corpo dela, ainda com o cheiro da gente, o quarto onde tantas vezes tínhamos nos amado, agora pareciam cenário de uma peça maldita.
— Com quem foi? — perguntei.
Ela hesitou, depois murmurou:
— Um ex ficante. Caio, já falei dele... A gente se encontrou sem querer. Conversamos. E… aconteceu.
— Foi só uma vez?
— Sim. Uma única vez. Eu não procurei. Não queria repetir. Mas quando aconteceu, pensei em você. Pensei que ia te deixar louco de tesão se eu contasse.
Fiquei em silêncio. As palavras dela ecoavam como uma batida surda na minha mente.
— Você se entregou pra ele do mesmo jeito que se entrega pra mim?
Ela me olhou, firme:
— Não. Com ele foi sexo. Com você… é amor.
Aquilo doeu mais do que aliviou.
— Eu preciso pensar — disse por fim. — Sozinho.
Ela não tentou impedir. Só assentiu com a cabeça, as lágrimas escorrendo em silêncio.
Saí da casa dela sem olhar pra trás. E quando entrei no ônibus, olhei meu reflexo na janela. Pela primeira vez em muito tempo, eu não sabia quem eu era naquela história.
O cara que provocava? O que ouvia? O que amava? Ou o que foi traído por achar que podia controlar o desejo de alguém com palavras?
Os dias que se seguiram foram um borrão.
Eu ia pra faculdade como se estivesse no piloto automático. Respondia o que precisava responder, fingia que prestava atenção, mas a cabeça estava sempre em outro lugar. Na verdade, em um lugar: naquele sofá, naquela sala, naquela confissão.
Vanessa mandava mensagens todos os dias. Às vezes longas, outras só um “me perdoa” com um coração quebrado. Eu lia todas. Não conseguia bloqueá-la. Mas também não conseguia responder. Qualquer palavra que eu tentasse escrever parecia vazia demais ou cheia demais. Nenhuma dava conta do que eu sentia.
Naquela sexta, uma semana depois, recebi uma mensagem diferente.
“Matias, eu vou estar na pracinha perto da sua casa às 19h. Se quiser conversar, vou estar lá. Se não aparecer, vou entender. Mas eu precisava olhar nos seus olhos pelo menos mais uma vez.”
Fiquei com o celular na mão por quase uma hora. O sol já começava a cair, e o céu estava pintado com tons de vermelho. O tipo de fim de tarde que me lembrava ela. Por tudo. Pela intensidade. Pela beleza e pelo incômodo.
Acabei indo.
Ela estava sentada num dos bancos, com uma blusa branca simples e o cabelo preso num coque frouxo. Quando me viu, levantou devagar, como se temesse que eu fosse desaparecer.
— Oi. — disse ela, com a voz baixa.
— Oi.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. O som de uma bola quicando na quadra ao lado foi a única coisa que nos tirou daquele vazio.
— Eu não vim pra me justificar. — ela disse, finalmente. — Já fiz isso. E errei. Mas... eu queria contar o que passou na minha cabeça depois que você foi embora. Se você me permitir.
Assenti, sem dizer nada.
— Eu me senti lixo. De verdade. Mas também me senti… perdida. Como se eu tivesse aberto um buraco dentro da gente e não soubesse mais onde pisar. Tudo que a gente construiu, essa confiança, essas provocações, esse laço íntimo — ela fez uma pausa, com os olhos brilhando — eu achei que a gente tava vivendo algo novo. Eu pensei que tava te dando algo que ninguém nunca tinha dado. E acabei quebrando o que tinha de mais bonito.
— Não era só desejo, Vanessa. — minha voz saiu mais rouca do que eu esperava. — Era amor. Entrega. O que eu sentia por você... era real. Ainda é, eu acho. Mas você transformou nossa brincadeira em um campo de batalha.
— Eu sei. Eu fui inconsequente. Achei que o jogo podia continuar do lado de fora da cama. Achei que o que te excitava era ver como eu era desejada. E fui tola. Eu não percebi que… você queria tudo de mim. Mas só pra você. Fui burra, muito burra.
— Sim. — eu disse, firme. — Eu queria que você fosse só minha. Como eu sou seu.
Ela abaixou os olhos. Depois, deu um passo à frente.
— Se você me der uma chance, Matias… uma chance só… eu posso provar que aprendi. Que eu entendi. Que eu cresci com esse erro. Eu não quero ser de outros. Quero ser só sua.
— Não sei se consigo confiar de novo.
— Eu espero que sim. Mas se não conseguir… pelo menos me deixa tentar.
Ficamos ali por mais um tempo, sentados no banco, em silêncio. Ela encostou o ombro no meu, com cuidado, como se ainda não tivesse o direito de me tocar por inteiro. E eu deixei. Porque, no fundo, ainda era ela.
A Vanessa que me fez homem.
A Vanessa que me destruiu.
A Vanessa que eu ainda amava.
Aquela noite terminou sem beijos. Sem juras de amor. Só com a presença dela ao meu lado, o silêncio compartilhado e uma dor que ainda nos acompanhava como sombra.
Mas foi um começo.
No sábado seguinte, eu aceitei encontrá-la de novo. Na casa dela. Sozinhos. O clima ainda era estranho, como se estivéssemos pisando em cacos de vidro, tentando não se ferir mais.
Ela estava diferente. Mais calma. Mais suave. Me recebeu com um abraço tímido, quase cerimonial. Ficamos um tempo na varanda, conversando sobre qualquer coisa que não fosse “aquilo”. Como se tentássemos lembrar que, antes de tudo, havia uma amizade ali.
— Eu senti sua falta. — ela disse, de repente, olhando pro céu.
— Eu também. Mas não é fácil esquecer o que aconteceu.
— Eu não quero que você esqueça. Quero que a gente atravesse isso. Que isso seja só uma parte difícil de uma história muito maior.
Me virei pra encará-la. Os olhos dela tinham a sinceridade que me conquistou no primeiro retiro. Era impossível não sentir algo. Mesmo ferido, mesmo cheio de desconfiança.
— Se a gente for tentar de novo… — falei com firmeza — tem que ser diferente. Sem suposições. Sem jogos. Tudo tem que ser dito. Antes.
Ela assentiu com a cabeça, os olhos marejando.
— Nada de interpretar fantasias como permissão.
— Nunca mais. — ela prometeu.
Ficamos em silêncio por alguns instantes. Depois, ela se aproximou devagar e tocou meu rosto com cuidado.
— Posso te beijar?
Não respondi. Só encostei meus lábios nos dela, com um misto de medo e saudade. O beijo foi doce, lento. Mas também trouxe um calor no peito. Um calor que dizia: talvez ainda exista algo aqui.
Ela me puxou pra dentro, devagar. Fechou a porta. E, pela primeira vez em semanas, subimos pro quarto dela como dois que se pertencem, mas não sabem mais como.
Entramos em silêncio. Tudo estava igual, mas parecia diferente. Como se o tempo tivesse mudado o cheiro das paredes, o peso dos móveis, o jeito que a luz entrava. Ela parou diante de mim, as mãos nervosas brincando com a barra da própria blusa. E foi ela quem deu o primeiro passo.
Começou a tirar a roupa devagar, como se cada peça fosse uma barreira emocional. O sutiã caiu no chão com um pequeno som seco, e, por um instante, fiquei apenas olhando. Não com desejo animal — mas com algo mais terno, mais respeitoso. Como se estivesse vendo alguém pela primeira vez, mesmo já conhecendo cada curva.
Tirei minha camisa em silêncio. Ela veio até mim e tocou meu peito com a ponta dos dedos, o olhar vulnerável, como se pedisse permissão pra continuar. Levei a mão até seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar, e ela fechou os olhos, como se aquele gesto simples a desmontasse.
Nos beijamos de novo. Mais fundo. Mais lento. Os corpos se encontrando sem pressa, só com calor. Minhas mãos exploravam o corpo dela com um cuidado novo, como se tateassem por entre rachaduras — e ela se entregava, silenciosa, deixando o corpo reagir sem exageros.
Deitamos. Ela por cima de mim, beijando meu pescoço, o peito, como se tentasse curar com a boca. Eu desci as mãos pelas suas costas, sentindo a pele arrepiar embaixo dos meus dedos. Quando minhas mãos tocaram a parte de trás de suas coxas, ela arfou, fechando os olhos.
— Me toca como se fosse a primeira vez. — ela sussurrou.
Obedeci.
Deslizei a mão entre suas pernas, sentindo a umidade quente e familiar. Ela abriu as pernas devagar, guiando meu toque com um movimento quase imperceptível do quadril. Comecei a acariciá-la com a ponta dos dedos, bem de leve, ouvindo sua respiração mudar de ritmo, os suspiros escapando sem filtro.
Ela me olhou, com um olhar cheio de ternura e desejo contido.
— Eu senti tanto sua falta… — murmurou, quase chorando.
A puxei pra perto, e ela me envolveu com as pernas. Entrei nela devagar, sentindo o interior dela quente, apertado, molhado — cada centímetro, cada contração, cada pequeno arrepio.
O ritmo era lento. Quase sagrado. Não havia pressa. Não havia urgência. Só vontade de permanecer ali, dentro dela, o máximo de tempo possível. Como se, de alguma forma, aquilo pudesse desfazer tudo o que nos afastou.
Ela me olhava nos olhos o tempo todo. Às vezes sorria, às vezes parecia à beira do choro. Me beijava no meio das estocadas, segurava minha nuca, mordia de leve meu lábio inferior.
— Eu ainda te amo. — ela disse, entre dois suspiros.
— Eu sei. — respondi, ofegante, tocando sua cintura.
O prazer crescia aos poucos, em ondas, como se os corpos se fossem reencontrando aos poucos, se sintonizando de novo. Quando gozamos juntos, foi como explodir num suspiro só. Um alívio quente, terno, verdadeiro. Ela estremeceu em silêncio, o corpo tremendo no meu, e eu me perdi no som da respiração dela.
Ficamos assim por um tempo, os corpos suados, as mãos entrelaçadas, as pernas ainda cruzadas. Ela deitou a cabeça no meu peito, ouvindo meu coração.
Depois, ficamos deitados em silêncio, colados, como se estivéssemos com medo de nos soltarmos e o feitiço acabar.
— Obrigada por me perdoar. — ela sussurrou, com a voz embargada.
— Ainda não sei se perdoei por completo. — confessei. — Mas eu quero perdoar. Quero tentar de novo.
Ela não disse nada. Só apertou minha mão.
E, por um instante, parecia que havia esperança de novo.
Só que nada voltou ao normal imediatamente. Nas semanas seguintes, o sexo diminuiu. Não porque o desejo tivesse acabado ou porque ficamos sem nenhuma oportunidade de estarmos a sós, mas porque a gente estava se reconstruindo. Com cautela. Com diálogos longos. Às vezes cansativos. Mas sempre verdadeiros.
O “hotpast” foi deixado de lado. Nenhum dos dois tocava mais no assunto. Nem com o olhar.
Mas, aos poucos, com o tempo, com a paciência… começamos a voltar a rir. A se provocar levemente. A se olhar com desejo de novo — e não com medo.
A confiança, essa sim, demorava mais. Mas eu via em cada gesto dela o esforço de reconquistar, não só meu corpo, mas minha alma.
A Vanessa que me destruiu… também era a que estava tentando me reconstruir.
E talvez o amor verdadeiro fosse isso: não um amor sem falhas, mas um amor que escolhe ficar mesmo depois da queda.
O tempo passou.
Não muito, mas o suficiente pra gente respirar. Pra voltar a segurar as mãos no meio da rua sem medo de parecer que estávamos fingindo. A traição ainda era uma cicatriz, mas já não era uma ferida aberta.
Aos poucos, Vanessa voltou a mandar mensagens mais doces, mas menos provocativas. Me ligava no meio do dia só pra ouvir minha voz. Me esperava depois da aula com uma marmita que ela mesma fazia. Simples, mas cheia de intenção.
Foi num sábado chuvoso que a gente decidiu sair da rotina.
— Vamos fazer uma coisa nova hoje? — ela perguntou, encostada na porta do meu quarto, com a blusa de frio caída num dos ombros e o olhar mais leve do que nos últimos tempos.
— Tipo o quê?
— Meus pais vão ficar com minha vó. Uma noite sem pressa. Só nós dois. Cozinhar juntos, ver filme, dormir agarrados… e se rolar, rolou.
— Isso tem cara de cilada romântica — brinquei.
— É, mas é a única que você vai topar cair.
Rimos juntos.
A noite foi exatamente como ela prometeu: simples, íntima, sem obrigação. Fizemos macarrão com molho branco, vimos um filme que nem lembramos o final e acabamos deitados no colchão no chão da sala, com cobertores e travesseiros por todos os lados.
Ela se encaixou em mim, de costas, minha mão na barriga dela, os corpos quentes, as respirações calmas.
— Sabe do que eu sinto mais falta? — ela disse, baixinho.
— Do quê?
— Da leveza que a gente tinha no começo. Antes da culpa, antes das perguntas.
— Eu também sinto falta. Mas acho que agora a gente tem algo mais.
Ela se virou pra mim e me encarou, o rosto colado ao meu.
— O quê?
— Verdade. Estamos nos comunicando ainda melhor.
Ela sorriu. Um sorriso limpo, leve. Sem dor, sem dúvida. Sincero como a primeira vez que me olhou daquele jeito.
— Mesmo com tudo?
— Sobretudo por causa de tudo.
Nos beijamos ali mesmo, no colchão. Sem urgência, sem desejo bruto. Só dois corpos com saudade de se reconhecerem.
Nenhuma peça de roupa foi arrancada. Elas foram tiradas com cuidado, entre beijos e risos baixos.
As mãos exploravam devagar, como se tocassem memórias.
A camiseta dela subiu pelas costas, e eu a tirei com carinho, passando os dedos por cada pedaço de pele que ia aparecendo.
Ela fez o mesmo comigo, puxando minha camisa com delicadeza, como se descobrisse meu corpo de novo.
Nossos olhares se encontravam entre cada toque — cúmplices, quentes, leves.
Ela se deitou de lado no colchão e estendeu a mão para mim.
— Vem aqui.
Me encaixei atrás dela, os corpos colados, a pele já quente do contato. Beijei devagar a curva do pescoço dela, ouvindo um suspiro escapar baixinho.
Minhas mãos foram descendo pela lateral de sua cintura, até encontrarem o elástico da calcinha.
Desci a peça devagar, sentindo sua respiração acelerar.
Ela arqueou um pouco o quadril, abrindo espaço, me deixando ir com calma.
Toquei entre suas pernas com a ponta dos dedos, lentamente, sentindo a umidade quente me receber. Ela mordeu o lábio e fechou os olhos, o corpo reagindo com suavidade a cada movimento meu.
Quando meus dedos circularam seu clitóris, bem de leve, ela soltou um gemido doce e me puxou mais pra perto com a mão no meu quadril.
Me alinhei a ela e entrei devagar, com os corpos colados, encaixados como se fossem feitos um para o outro.
Ela soltou o ar pela boca, e eu senti o calor dela me envolver por inteiro.
Ficamos ali, só nos movendo, primeiro devagar devagar, em silêncio, sentindo.
Depois, mais rápido, embalado por toques no rosto, tapas na bunda, puxão nos cabelos, beijos no ombro, mãos entrelaçadas.
O tempo parecia ter desacelerado.
A chuva lá fora criava um pano de fundo perfeito — íntimo, abafado, acolhedor.
— Eu amo isso. — ela sussurrou. — Com você, é sempre assim… como se o mundo sumisse.
Beijei a bochecha dela, o queixo, o canto da boca.
— Porque é com você. E com você eu não tenho pressa.
Ela virou um pouco o rosto e me beijou de lado, os lábios entreabertos, molhados, sorrindo entre um beijo e outro.
Eu cadenciei um pouco o ritmo, sentindo o prazer crescer de forma doce, firme, inevitável.
— Fica aqui… — ela disse, quase sem voz. — Só fica.
E eu fiquei.
Fiquei até o corpo dela se apertar contra o meu, até os gemidos ficarem mais altos e o prazer nos alcançar juntos, como uma onda quente, tranquila, completa.
Gozamos abraçados, respirando no mesmo ritmo, como se estivéssemos em algum lugar fora do tempo.
Depois, ficamos deitados olhando o teto. O som da chuva lá fora criava uma espécie de casulo sonoro em volta da gente.
Ela estava com a cabeça encostada no meu ombro, os dedos passeando distraídos pelo meu peito.
— Faz tempo que não era assim. — ela disse, num sussurro.
— Era isso que faltava. Só a gente. Sem medo.
Ela sorriu. Eu também.
E, por alguns minutos, não existia mais dúvida nenhuma.
— Amor… — ela disse, com a voz já sonolenta.
— Hmm?
— Um dia… se você quiser falar de novo sobre o meu passado ou algo assim, a gente pode. Mas agora eu só quero o nosso presente.
— Eu também.
E assim foi.
Nas semanas seguintes, voltamos a transar com frequência. Mas sem os jogos antigos. O erotismo estava lá, claro. Sempre esteve. Mas agora havia mais cuidado. Mais significado.
A igreja também voltou a fazer parte da nossa rotina. Começamos a frequentar o mesmo culto, o mesmo pequeno grupo. As pessoas nos viam como um casal firme. Bonito. Inspirador, diziam.
Se ao menos soubessem.
Mas talvez isso fosse parte do amor maduro: saber que ninguém vive um romance de filme. Que todo amor real tem rachaduras. E que são justamente essas rachaduras que deixam a luz entrar.
Um dia, no carro, depois de mais um culto de domingo, ela virou pra mim com um brilho nos olhos.
— Meus pais perguntaram de novo quando você vai pedir minha mão.
Olhei pra ela e sorri.
— Logo. Já até sei como vou fazer.
Ela riu e encostou a cabeça no meu ombro.
— Então eu vou me preparar pra dizer “sim” de novo. Dessa vez, pra sempre.
E naquele momento, no meio de uma rua qualquer da cidade, percebi que amar alguém é isso: errar, cair, se machucar… mas querer permanecer. Não por obrigação. Mas por escolha.
E eu estava escolhendo ela.
Estar com Vanessa agora era diferente.
Tinha menos urgência e mais intenção. A gente sabia onde pisava. Já tínhamos tropeçado feio, e por isso mesmo, cada passo parecia mais firme. Mais escolhido.
O sexo voltou a ser mais frequente, mas não era como antes. Agora não era alimentado por jogos, provocações ou fantasmas do passado. Era outra coisa. Um tipo de entrega que eu nem sabia que existia.
Ela começou a me olhar diferente. Como se eu fosse homem de verdade. Não era aquele amor juvenil e apaixonado. Como se eu tivesse passado no teste. E, de certa forma, acho que passei mesmo. O teste do amor. Da dor. Do perdão.
Num final de semana eu a levei para jantar num restaurante chique.
Ela se produziu toda. Usou um vestido semelhante ao daquela vez na casa dela, mas agora, sem o mesmo jogo nos olhos. Em vez de provocação, havia ternura.
Depois do jantar, fomos para um motel, discretos. Era um lugar simples, silencioso, com um quarto iluminado por uma luz âmbar que deixava tudo mais íntimo.
Fechamos a porta. Ela tirou os sapatos, riu de alguma coisa boba que eu disse, depois ficou em silêncio por alguns segundos. Me encarou como se tivesse certeza do que vinha depois.
— Eu te amo tanto, Matias… — ela disse, andando devagar na minha direção. — E talvez tudo o que a gente passou tenha sido só pra me mostrar que… é você. Sempre foi.
Minha resposta foi o silêncio do meu corpo indo até o dela.
Vanessa virou de costas e puxou lentamente o zíper do vestido. Deixou o tecido escorregar até os tornozelos. Não usava sutiã. Estava só de calcinha preta, que sumia em sua bunda. Olhou por cima do ombro e sorriu — um sorriso que conhecia meu desejo.
Ela veio até mim, me empurrou de leve até me sentar na beira da cama e subiu no meu colo com lentidão, abrindo as pernas com calma, encaixando o corpo dela no meu.
— Fica quietinho… deixa eu te sentir. — sussurrou no meu ouvido.
Beijou meu pescoço, minha clavícula, mordeu meu lábio com firmeza e me olhou nos olhos.
— Você me deixa completamente molhada só de olhar assim pra mim… — disse, enquanto rebolava levemente sentada no meu colo.
Passei as mãos pelas costas dela, apertando sua cintura, sentindo o calor da pele. Ela tirou minha camiseta e lambeu meu peito como se tivesse fome. Quando se esfregava, eu sentia sua calcinha já ensopada contra minha calça.
— Tira. — ela murmurou.
Obedeci. Baixei minha calça com pressa, o pau já duro, pulsando. Ela tirou a própria calcinha, devagar, mantendo o contato visual o tempo todo. Segurou meu pau e o esfregou entre os lábios da buceta, molhando ele inteiro.
E então sentou. De uma vez, fundo.
— Ai… porra… — ela gemeu, com os olhos fechados, a boca aberta, o corpo tremendo de leve.
Ela começou a cavalgar devagar, os movimentos lentos e profundos. Me beijava entre uma estocada e outra, lambia meu pescoço, mordia minha orelha.
— Você me deixa louca, Matias… — ela sussurrava. — Tua rola encaixa perfeita em mim. É só tua. Só tua.
Eu segurava a bunda dela com força, guiando o ritmo, mas deixando ela no controle. Cada gemido dela me fazia querer mais. Ela me olhava nos olhos e se movimentava com firmeza, como se estivesse me marcando.
— Me beija… e fala que é só comigo que você goza assim. — pedi, ofegante.
Ela sorriu, maldosa.
— É só contigo. Com mais ninguém. É tua porra que eu quero dentro de mim. — e acelerou os quadris, cavalgando mais forte.
A tensão crescia. Eu não sabia se gozava ou implorava por mais. Ela me puxou pelos cabelos, colou a testa na minha e disse, entre gemidos:
— Goza comigo… me enche, Matias… eu tô vindo, caralho…
E foi ali, com os corpos colados, gemendo no mesmo ritmo, que gozamos juntos. Ela tremia em cima de mim, enterrando as unhas nas minhas costas, enquanto meu corpo explodia dentro dela, quente, descontrolado, intenso.
Ficamos ali, suados, sem sair do lugar, as respirações pesadas misturadas. Ela ainda me beijava devagar, passando a língua nos meus lábios, como se dissesse que não queria soltar.
— Eu pensei em casar com você várias vezes. — ela disse, com a voz sonolenta.
— Eu penso nisso todo dia. Só tô esperando o momento certo.
Ela sorriu.
— Já pode considerar esse momento certo?
— Ainda não. Mas tá bem perto.
Ela se aninhou no meu peito e ficou em silêncio. E eu soube que ali, naquela quietude, a resposta dela já tinha sido dada. Mesmo sem aliança, mesmo sem igreja. Já éramos um do outro.
Dali em diante, começamos a construir um futuro para nós dois, juntos.
Passamos a fazer planos. Procurar cursos, pensar em trabalhos que nos dessem estabilidade. Começamos a sonhar com um cantinho só nosso. Algo pequeno, mas com varanda. Ela queria plantas. Eu queria uma rede.
E o mais curioso é que, com tudo em paz, o desejo voltou a se tornar mais espontâneo. Mais criativo.
Ela voltava a mandar mensagens sensuais, mas agora com outro tom. Em vez de “lembra daquele ex?”, agora era “lembra da gente ontem à noite?” Ou então: “Hoje eu sonhei que você me fazia gozar no meio da escada. Quer tentar?”
Sim. Era a mesma mulher. Mas com outra intenção. Ela não me provocava mais com o que tinha sido. E sim com o que éramos. E isso me excitava muito mais.
— Amor… — ela disse num desses dias, com a cabeça no meu colo, os dedos brincando distraídos com a barra da minha calça.
— Hm?
— Tem uma coisa que eu queria tentar com você.
— Diz.
Ela sorriu de lado, olhando pra frente, como se estivesse ensaiando a frase.
— Um striptease. Mas de verdade. Com música, com dança… com você sentado, só olhando. Sem tocar.
— E depois? — perguntei, já imaginando tudo.
Ela mordeu o lábio e olhou nos meus olhos, firme:
— Depois… eu deixo você fazer o que quiser comigo.
No quarto do motel, a luz estava baixa. Uma playlist qualquer rolava no fundo, mas ela tinha escolhido a música com cuidado — algo com batida lenta, suja, cheia de atmosfera.
Ela surgiu no vão da porta usando só uma lingerie preta rendada, uma cinta-liga presa às meias finas, e um salto que deixava suas pernas ainda mais longas.
— Não encosta — avisou, com um dedo apontado e um olhar que misturava ameaça e promessa. — Só olha.
Sentei na cadeira de frente pra cama, as mãos no joelho, o coração já acelerado.
Ela começou devagar, os quadris acompanhando o ritmo da música, o olhar preso no meu, como se testasse minha resistência. Rebolava com precisão, se aproximando e se afastando, subindo as mãos pelos próprios seios, gemendo baixinho só pra provocar.
— Tá duro já, amor? — sussurrou. — Só com o que tá vendo?
Passou a mão pela calcinha, por cima, fazendo um carinho lento, como se me desse uma prévia do que eu não podia tocar.
Depois, virou de costas e empinou devagar, rebolando no ar como se estivesse me montando de longe.
— Aposto que você queria segurar minha cintura agora… enfiar essa rola dura em mim e não parar até me ouvir implorar.
Desceu as alças do sutiã lentamente, deixando os seios livres, firmes, pontudos, e veio até mim.
Fez um giro lento, sentando no meu colo sem encaixar, só esfregando a bunda contra minha ereção por cima da calça.
— Eu gosto quando você olha assim. Com fome.
Se levantou de novo. Tirou a calcinha com uma provocação lenta, passando o tecido entre as pernas, depois jogando-a no meu colo.
Ela estava completamente nua, só com as meias e os saltos. Voltou a andar em minha direção e subiu no meu colo, agora de frente.
— Já olhou o suficiente?
— Já.
— Então agora é minha vez de brincar.
Se encaixou de uma vez, gemendo perto do meu ouvido, com a respiração entrecortada.
— Isso… era isso que você queria, né?
Eu segurei firme sua cintura e deixei que ela comandasse. Vanessa cavalgava com intensidade, os seios balançando, os gemidos ficando mais altos.
Ela passava as mãos pelo meu peito, lambia meus lábios, mordia meu queixo.
— Me fode olhando nos meus olhos… — pediu. — Me faz gozar desse jeito. Sem parar.
E eu obedeci.
Subi um pouco o quadril e comecei a bombar de baixo pra cima, segurando sua bunda com força, ouvindo os estalos do nosso corpo se chocando.
Ela veio rápido, o corpo inteiro tremendo contra o meu.
— Tô gozando… porra… Matias…
Não demorou pra eu gozar também, gemendo rouco, pressionando o rosto contra o pescoço dela, sentindo a pele quente, o cheiro, o suor, tudo misturado.
Nem pra nós, nem pro outro.
E foi assim que entendi que o nosso passado não era uma ameaça. Era só um caminho até o que nos tornamos.
A calmaria que veio depois foi diferente de tudo que já tínhamos vivido.
Não era tédio. Nem rotina. Era presença. Certeza. Um tipo de silêncio que não incomodava, mas confortava.
Vanessa se tornou minha melhor amiga de novo. Mas agora também era minha amante. Minha parceira de planos. Minha mulher. Só minha.
Nossos encontros não eram mais marcados pela tensão de “quando vamos conseguir transar de novo?” ou “será que tem alguém em casa?”. Agora, era natural. Quando dava. Quando o corpo pedia. Quando o carinho virava vontade.
E o mais surpreendente? Voltamos a conversar sobre o passado.
Só que agora com segurança.
— Amor — ela disse, uma noite, enquanto mexia no meu cabelo — você lembra da primeira vez que a gente falou sobre meu passado?
— Lembro. Foi numa transa. Um oral. Você falou de um cara que gostava de guiar sua boca.
Ela riu, meio sem graça.
— Eu achava que ia te assustar. Mas você só ficou mais… ligado.
— Eu era inseguro. E, ao mesmo tempo, curioso. Achava que saber tudo sobre você ia me dar algum tipo de controle. Ficava excitado de imaginar.
— E agora?
— Agora eu entendo que eu não preciso saber de tudo. Só preciso saber quem você é comigo. Hoje.
Ela me olhou com um sorriso terno, como se tivesse esperado ouvir isso há muito tempo.
— Mesmo assim… se quiser saber de alguma coisa, pode perguntar.
— Eu quero saber se você ainda pensa nele. Aquele que… sabe.
Ela ficou séria por um instante. Depois negou com a cabeça.
— Não. Antes daquilo, eu nem tinha mais contato. E, sinceramente? Nunca mais senti nem vontade. Foi uma burrice. Um erro egoísta. Eu teria apagado se pudesse.
— Eu não quero que você apague nada. Quero só que tudo isso nos sirva de base. Pra gente fazer certo agora.
Ela se aproximou e beijou minha boca devagar. O beijo foi longo, íntimo. Sem língua no começo. Só toque e intenção.
As bocas se encontrando com calma, como se disséssemos tudo de novo, mas sem palavras.
Quando nos separamos, ela olhou dentro dos meus olhos e sussurrou, com a voz rouca:
— Então vamos fazer certo agora.
Ela me puxou pela mão até o tapete da sala.
O mesmo lugar em que, meses antes, havíamos tentado recomeçar — entre mágoa e desejo, entre dúvida e saudade.
Dessa vez, era diferente.
Vanessa se sentou sobre mim, as coxas abertas, os olhos fixos nos meus. Estávamos nus. Corpo com corpo, pele com pele.
Ela segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou de novo, agora com mais fome, mais entrega.
— Eu quero você inteiro. Sem medo. Sem freio.
Me encaixei nela devagar, sentindo a umidade quente da sua buceta me engolir por completo.
Ela soltou um suspiro fundo, como se finalmente estivesse em casa.
Começou a cavalgar com calma, os movimentos lentos e contínuos, como ondas.
Me olhava nos olhos o tempo todo, como se quisesse me cravar ali, fundo, dentro da retina, da memória, do peito.
— Você é o único homem da minha vida… — sussurrou, sem desviar o olhar.
— Eu sou tua. Pra sempre.
Cada palavra entrava em mim junto com o calor do corpo dela.
Ela apoiava as mãos no meu peito, rebolando com precisão, o cabelo solto caindo pelos ombros, a pele suada e brilhando na luz morna do abajur.
— Me diz que eu sou sua mulher… — pediu, entre gemidos abafados. — Me diz que você me escolheu.
— Você é a mulher que eu escolhi. Que eu sempre vou escolher.
— Então não sai de mim. Goza aqui. Fica comigo.
Eu a segurei com força pela cintura, impulsionei o quadril de baixo pra cima, acompanhando o ritmo dela até o prazer crescer rápido, inevitável.
— Porra… Vanessa…
— Goza… goza pra mim… eu tô vindo também…
Gozei segurando sua cintura com força, sentindo ela apertar ao meu redor, gemendo alto no meu ouvido.
Ela me abraçou ali mesmo, ainda com o corpo tremendo sobre o meu, os corações disparados, os olhos fechados.
Nenhum dos dois queria soltar.
Dessa vez, não rolou silêncio depois.
Ficamos deitados ali mesmo, no tapete, com as pernas entrelaçadas, falando sobre tudo e nada.
Rimos de coisas bobas. Ela comentou dos nomes que daria aos filhos: um tradicional, um inventado, um secreto.
Eu confessei que tinha pesquisado preços de alianças.
— Jura? — ela perguntou, surpresa e com os olhos brilhando.
— Claro que sim. Com essa altura, depois de tudo… você acha que eu vou deixar você escapar de novo?
Ela riu e me beijou de novo.
— Então pesquisa direito, tá? Porque eu tenho dedo fino e gosto de coisa bonita.
— E eu gosto de mulher difícil. Ainda bem que você é minha.
— Você tá mesmo vendo isso?
— Eu já pensei demais. Agora tô planejando.
Ela sorriu como se o mundo tivesse parado só pra ela. Apoiou a cabeça no meu peito e ficou ali, ouvindo meu coração.
No domingo seguinte, fomos à igreja de mãos dadas. Um casal como qualquer outro, aos olhos de fora. Mas por dentro, sabíamos que tínhamos passado pelo tipo de tempestade que derrubava muita gente.
E sobrevivemos.
No final do culto, fomos tomar um café com um casal de amigos. Quando nos despedimos, um deles disse:
— Vocês têm uma vibe bonita. Dá pra ver que são sinceros um com o outro.
Eu e Vanessa nos entreolhamos e sorrimos. Aquilo era mais do que um elogio. Era confirmação. E nem precisou ser dita.
No caminho de volta, dentro do carro, parei na beira da praia, com o vento da noite entrando pela janela. Peguei a caixinha do porta-luvas. Simples, preta. E coloquei na mão dela.
Ela olhou, surpresa. A boca se entreabriu. Os olhos brilharam.
— Isso é…?
Assenti.
— É. Mas eu só vou abrir se você me disser que ainda acredita em nós. Mesmo depois de tudo.
Ela respirou fundo, com lágrimas vindo sem aviso.
— Eu acredito mais agora do que nunca. Porque agora eu sei do que a gente é feito.
Abri a caixinha. Um anel dourado, simples. Mas com uma inscrição interna:
“Amor é escolha. E eu escolho você.”
Ela colocou no dedo como quem sela um pacto. E me abraçou forte, sem dizer mais nada.
Naquele momento, eu soube: estávamos prontos.