Ofegantes o corpo ainda tremendo. Ficamos em silêncio por alguns segundos, só ouvindo nossa respiração. O quarto ainda estava abafado, cheio do cheiro de sexo e da tensão que ainda não tinha se dissipado.
— A gente é doido. — ela murmurou, rindo baixinho, com a voz rouca. — Um barulho a mais e fode tudo.
— Foder já fodeu — respondi no mesmo tom com uma cara de safado, puxando ela mais pra perto, com o braço pesado em volta da cintura.
Ela me deu um tapa leve no peito e riu de novo. A bunda roçou no meu pau, que mesmo depois de ter gozado, já dava sinal de que não ia demorar muito pra endurecer de novo.
— Para de encostar esse troço em mim... — disse, provocando, mas sem sair do lugar.
— É ele que tá encostando em você, eu não tô fazendo nada...
Ela se mexeu devagar, rebolando de leve, só pra provocar.
— Se ficar duro de novo, a culpa é sua.
— Então me culpa logo — disse ela, olhando para trás, com aquela cara de safada que me deixava maluco de tesão.
Deslizei a mão por debaixo dela, encaixando de novo no meio das coxas. A pele ainda quente, molhada. Passei os dedos por ali, sentindo o calor latejando, e ela mordeu o lábio, os olhos fechados.
— Devagar... — sussurrou. — A cama range, e a parede é fina.
— Eu sei... — murmurei no ouvido dela, já encaixando de lado, com calma.
Segurei firme sua coxa e puxei devagar, abrindo espaço. O pau já estava duro de novo. E ela... já tava molhada.
— Pronta? — perguntei baixinho, encostando na entrada.
Ela apenas assentiu com a cabeça, mordendo o lençol. Então fui entrando devagar, empurrando centímetro por centímetro enquanto ela arfava baixo, segurando o próprio gemido. A sensação era quente, úmida e apertada, como se o corpo dela tivesse esperando exatamente por isso.
Comecei um vai e vem lento, de lado, os corpos encaixados com precisão. Cada estocada era controlada, calculada, com o quadril empurrando devagar pra não fazer barulho. As mãos dela se agarravam ao travesseiro, e a respiração saía abafada no tecido.
Ela jogou o quadril um pouco pra trás, dando mais espaço. Eu me encaixei ainda mais fundo, com o peito colado nas costas dela. A boca no pescoço, o braço por cima, apertando o seio com força.
— Isso... assim... — ela sussurrou quase sem voz, as palavras saindo entre suspiros.
O calor entre nós aumentava, e os movimentos ficavam mais intensos, mas sempre silenciosos, suados, tensos. Eu sentia o corpo dela começando a tremer de novo, o quadril rebolando contra o meu, querendo mais, pedindo sem som.
— Vai... — ela gemeu baixinho. — Não para... goza comigo de novo... só mais uma...
A boca dela buscou a minha mão e mordeu os dedos, tentando conter o som. Eu não aguentei. Empurrei mais fundo, sentindo meu pau sendo sugado com força pelas contrações quentes da buceta dela. O corpo inteiro dela tremia, e o meu também.
Com o rosto enfiado nos cabelos dela, gozei de novo, mordendo o seu ombro pra não gemer alto. As pernas tremiam, o coração batia forte, e a sensação era de puro descontrole contido.
Ficamos ali, encaixados, ofegantes, suando, no silêncio do quarto.
Ela virou o rosto devagar, ainda colada em mim.
— Você está certa, a gente é doido . — falei
Ficamos ali, cansados e suados, o corpo grudando no lençol molhado.
Lá fora, o friozinho da noite batia na janela, mas o quarto parecia uma sauna abafada.
Levantei, liguei o ventilador e voltei pra cama. Ficamos deitados em silêncio, o calor ainda preso no corpo, a boca começando a secar.
— Porra, que sede!
— É claro, com o tanto que você bebeu, não tinha como ser diferente.
— E com o tanto que você me deixou cansado também… — soltei, rindo de canto.
Ela levantou, pegou a primeira roupa que achou jogada num canto do quarto e foi vestindo rápido.
— Veste o short e vai pro colchão. Vou lá pegar água pra você.
— Tá bom.
Coloquei a bermuda e me joguei no colchão.
— Já volto.
Ela saiu.
Uns minutos depois, minha tia entrou no quarto.
— Carlos? Tá bem?
— Tô, só com sede... a tonta foi lá pegar água pra mim.
— Tá bom, vou levar essa roupa molhada pra lavar — disse, já se abaixando pra pegar as roupas do chão.
Quando olhei pra porta, Vanessa estava lá, encostada no batente do banheiro.
Me olhava em silêncio — o mesmo olhar da piscina. Aquele misto de arrependimento, tristeza e preocupação que ela tentava esconder, mas não conseguia.
Virei o rosto, desviando o olhar.
Minha tia saiu e fechou a porta.Depois de um tempinho, Karina voltou com a água... e com um pedaço de pudim também.
Tomei o copo todo de uma vez.
— Nossa, tá com sede mesmo, hein, tonto.
Ela sentou na ponta da cama, sorrindo de leve enquanto começava a comer o pudim.
Esticou o braço.
— Quer um pedaço?
— Sim.
Ela colocou direto na minha boca. A gente dividiu o doce em silêncio, sem pressa.
Depois, ela falou:
— A Vanessa veio me perguntar se a gente tava transando.
— E o que você disse?
— A verdade.
— E aí?
— Parece que não gostou muito...
— Mas ela nunca se importou com isso antes. Por que será que agora...?
— É... não sei — falou com uma cara de dúvida. — Disse que ficou mexida com o jeito que você falou com ela.
— E queria o quê? Que eu sorrisse? Fingisse que tava tudo bem? Eu não sei fingir, Karina. E você sabe disso.
— Ela pediu pra te ver. Disse que queria explicar.
Fiquei quieto por um tempo, mastigando o último pedaço do pudim.
O gosto travava na boca. Como se o corpo já soubesse: não dava pra engolir mais nada.
— E o que eu ganho ouvindo ela?
— Talvez entenda melhor.
— Agora? Depois de tudo?
— Eu sei que foi difícil.
— Difícil? — soltei uma risada seca. — Ela sabia que ia voltar. Então por que queria que eu viesse?
— Mesmo assim... ela ficou abalada.
— Karina, chega. Eu não quero ouvir.
Ela me olhava com firmeza, mas sem forçar. Sabia que era um terreno delicado.
— Eu esperei por ela. Por anos. E, quando finalmente parecia que ia acontecer... ela trouxe ele de volta, sem dizer nada. Como se tudo aquilo entre a gente nem tivesse contado.
— Ela disse que queria se explicar.
— Então diz pra ela que chegou tarde. Não tem mais nada pra explicar.
Karina abaixou os olhos.
O silêncio pesou.
O ventilador girava devagar, empurrando o ar parado do quarto.
Fiquei ali, deitado, tentando entender onde foi que tudo desandou.
Mas não achei resposta nenhuma.
— Pelo menos pensa, tá? Eu também tô puta com ela. Por ter ficado insistindo pra eu te convencer a vir. Mas pensa, tá? Vocês têm que se resolver. Se continuarem assim, todo mundo vai acabar percebendo o clima tenso entre vocês.
— Tá bom, tonta… mas não espera muito de mim, não.
— Vem pra cama. Eu tranquei a porta de novo — disse me olhando com aquela cara de safada, mas com um tom sério.
Eu levantei com um sorriso no canto da boca e fui andando até ela, que logo retrucou:
— Só que nem vem com esse sorrisinho safado pro meu lado, viu? O seu pau vai ficar dentro das suas calças. A gente vai dormir, ouviu?
— Eu não posso fazer nada… não consigo controlar ele.
— Garoto… que fogo é esse? Ontem você ficou com a Vanessa, depois com a Mayara… hoje de novo com ela, e ainda teve duas vezes comigo. Caramba.
Ficamos ali mais um tempo conversando, rindo, falando besteiras em voz baixa. Depois de um tempo, o cansaço venceu — o corpo relaxou, os olhos pesaram — e o quarto mergulhou num silêncio confortável. Pegamos no sono sem perceber.
Às oito da manhã, Karina despertou e me acordou com um toque leve no braço. Ela foi direto pro banheiro tomar banho. Eu, ainda meio sonolento, fui até a cozinha pegar um copo d’água. A casa seguia silenciosa, todos ainda dormindo. Só nós dois estávamos acordados.
Encostei na pia, bebendo devagar, sentindo o frescor da água tentando espantar o peso na cabeça. Foi quando ouvi a porta da cozinha se abrindo devagar. Era a Vanessa. Tinha acabado de voltar da corrida — o rosto suado, as bochechas levemente coradas, o cabelo preso num coque desfeito.
Ela me olhou com aquele olhar que sempre me desmontava. Mas naquele dia… tinha tristeza no olhar dela. O Arrependimento bateu forte. Um nó no estômago. A culpa veio no mesmo passo do silêncio.
Ela foi até a geladeira, abriu, pegou uma garrafa d’água, evitando me encarar. Eu continuei só olhando. Mas não aguentei.
— Foi mal… por ter falado contigo daquele jeito ontem — soltei, com a voz um pouco rouca.
Ela parou por um segundo e depois respondeu, ainda olhando pro chão:
— Relaxa… eu mereço. Eu devia ter contado. — A voz dela era baixa, arrastada. — Não vou mais te incomodar. Se você quiser me ouvir, tudo bem. Se não quiser… tudo bem também.
Ficamos em silêncio. Só o som da geladeira e do meu copo se encostando na pia. Suspirei fundo, tentando decifrar aquele momento. Nossos olhares se cruzaram de novo. Ali, sem dizer mais nada, ela deu dois passos na minha direção e me deu um selinho rápido. Um toque breve, quase tímido.
— Eu nunca quis te machucar — sussurrou.
Ficamos nos encarando por mais um tempo. Vi quando os olhos dela começaram a marejar. Não disse nada. Apenas se virou e saiu devagar.
Quando chegou no corredor que dava pros quartos, ainda olhou pra trás e tentou forçar um sorriso — mas saiu aquele sorriso triste, de quem tá segurando o que sente. Em seguida, foi pro quarto onde o Paulo dormia com as meninas.
Mais tarde, eu e Karina estávamos no nosso quarto com a porta entreaberta, e vimos quando ela entrou no banheiro pra tomar banho. O barulho do chuveiro logo preencheu o silêncio da casa.
— Eu ia lá na cozinha, mas vi vocês lá… resolvi nem ir — falou Karina, encostada no batente da porta, olhando pra mim com uma expressão curiosa. — E aí… o que vocês estavam falando?
— Nada demais… — respondi, coçando a nuca. — Só pedi desculpa por ter tratado ela mal. Aí ela falou que, se eu quisesse ouvir, tudo bem. Se eu não quisesse, tudo bem também.
Ficamos ali no quarto conversando, rindo de vez em quando, até que a casa começou a despertar. O cheiro de café fresco veio da cozinha e logo se espalhou pelo ar. Levantamos e fomos tomar café com os outros.
Depois disso, alguns foram pra piscina, outros começaram a preparar a comida. Paulo e Vanessa ficaram na beira da piscina, trocando carícias enquanto as meninas nadavam.
Da varanda, eu tentava não olhar. Mas não conseguia evitar. Abaixava a cabeça, encarava o chão. Depois olhava de novo. E abaixava de novo. Aquilo me corroía por dentro, como se cada gesto entre eles apertasse um pouco mais o que já doía.
Até que não aguentei mais. Me levantei e saí andando sem rumo pela estrada de terra. Caminhei sozinho por quase duas horas. Quando olhei no relógio, já passava de uma da tarde. Foi aí que vi, de longe, o carro do meu tio vindo. Era Karina, me procurando.
— Ô tonto… onde você tava? Saiu sem avisar ninguém. Minha mãe tava quase tendo um troço de preocupação — ela disse assim que parei ao lado do carro.
Entrei em silêncio. Ela virou o carro de volta pro sítio. A gente voltou sem trocar uma palavra. Karina entendia. Sentia no ar o motivo do meu silêncio. Ela sempre percebia, mesmo quando eu não falava nada.
Quando chegamos no sítio, nem almocei. Fui direto pro quarto, tomei banho, me joguei na cama e fiquei ali o resto da tarde vendo série, respondendo mensagem, conversando com a Rafa.
Foi no meio dessa conversa que chegou uma mensagem da Andressa.
Andressa: Oi, tudo bem?
Eu: Oi, tudo 👍
Andressa: Como tá o clima aí entre você e a Vanessa?
Eu: Tá foda, viu 😞 Ontem, antes de levar você e a Mayara, eu ainda tinha uma esperança, sabe? Mas aí, na volta, passei no mercado… vi ela e ele. De casalzinho. Depois, quando cheguei no sítio, a Karina confirmou que eles tinham voltado mesmo 💔
Andressa: Sério? E aí… como você ficou com isso?
Eu: Fiquei mal pra caralho 😔 Acabei bebendo demais, entrei na piscina no frio. Ela veio pedir pra eu sair e eu acabei maltratando ela… e me doeu ver o jeito que ela me olhou. Por mais que dói o que ela fez…
Andressa: Poxa... imagino como deve ter sido foda ver aquilo 💔
Eu: Foi, mano… de verdade. Eu me senti um lixo. Tipo… descartável.
Andressa: Não fala isso 😞 Você não é lixo nenhum.
Eu: Eu sei… é que quando você acredita que é recíproco… que existe algo de verdade. Eu acreditava na gente. Mesmo ela nunca tendo prometido nada. Acho que é porque eu sonhava com ela desde a minha adolescência, sabe? Então acabei depositando esperança demais na gente.
Andressa: Eu sei… 😢 não deve estar sendo fácil pra ela também.
Eu: E o pior… é que agora eu fico lembrando da Camille. sempre me tratou bem, que se importava comigo. Eu dispensei ela, achando que tinha algo real com a Vanessa. Fui duro, deixei a menina mal. E agora fico pensando: talvez, se eu tivesse dado uma chance pra Camille… eu não tava passando por isso agora.
Andressa: 🥺 Ai, Carlos… queria poder te dar um abraço agora. Real.
Eu: Eu tô tentando ser forte, mas tem hora que pesa, viu. Eu olho pra eles e me sinto um nada. Me dá vontade de sumir.
Andressa: Não fala isso… 😔 Você é um cara bom. E tem muita gente que enxerga isso. Eu enxergo.
Eu: Obrigado, de verdade. Você tá me apoiando desde ontem… acho que se você não tivesse vindo pra cá esses dias, eu teria desabado quando eu fiquei sabendo. Tem a Karina, sabe… ela me ajuda muito, mas sei lá… com você, eu sinto que é mais sincero.
Andressa: Sempre que você precisar. Sempre.
(Alguns minutos de silêncio entre as mensagens)
Andressa: Ó… não sei se vai ajudar, mas… tô aqui. Agora você sabe onde eu moro. Tá super de boa, só eu e meus pais. Se um dia você sentir que não tá aguentando mais aí… vem pra cá. Passa uns dias aqui. Dá um tempo pra sua cabeça, pro seu coração… respira. Eu ia gostar muito da sua companhia 🌻
Ah, e fica tranquilo. A Mayara não vai estar por aqui, ela vai viajar. Se quiser até passar o Ano Novo aqui… vai estar só eu, meu pai e minha mãe. Sei que não vai ser fácil pra você ver os dois passando o ano juntos…
Eu: Sério? Você ia curtir que eu aparecesse aí? Não vai ser mesmo fácil ver os dois passando o ano juntos. Saí pra caminhar agora, sabe… e me deu vontade de ir, pra vila. Pegar o primeiro ônibus que eu achasse pra capital, deixar tudo pra trás. Até minhas roupas.
Andressa: Claro que ia, bobo 😌 Você precisa se afastar um pouco disso tudo. E eu prometo cuidar bem de você.
Eu: Tá… vou pensar com carinho. Porque vontade não falta.
Andressa: Então pensa com carinho mesmo. Tô aqui, viu? 😘
Eu: Tchau. Se eu for aí, eu te aviso. Mas provavelmente eu vou sim, viu.
Andressa: Tá bom. Pede pro seu tio ou alguém te trazer na vila, aí eu e meu pai vamos te buscar lá. Tchau, fica com Deus.
Naquela noite eu não saí mais do quarto. Não almocei, não jantei. Nem tentei forçar nada, porque sabia que não ia conseguir comer.
— Carlos? — minha tia bateu de leve na porta, abrindo devagar. — Tá tudo bem, filho? Você não apareceu nem pra almoçar, nem pra jantar.
— Tô bem, tia… só tô meio sem fome.
— Mas você tá doente? Pegou um resfriado, foi? Entrou naquela piscina gelada, meu Deus do céu…
— Não, tia… foi só um mal-estar. Já já passa, fica tranquila.
Quando deu umas dez da noite, coloquei o celular pra carregar e fui deitar. Mas antes de pegar no sono, eu ainda ouvia lá fora… eles rindo, cantando no karaokê, se divertindo. E o pior é que eu queria muito estar ali com eles. De verdade. Mas não consegui.
Os dias foram passando, foi chegando a virada do ano e eu fazia de tudo pra fugir. Saía pra andar de cavalo, às vezes ia a pé mesmo, sem rumo, pela estrada. Me escondia no cantinho do barracão onde ficam guardadas as tralhas e me fechava num mundo só meu. Nem a Karina eu deixei se aproximar muito. Não queria que ela deixasse de curtir o fim de ano por minha causa.
O dia 30 chegou pesado. A virada estava perto, mas eu me sentia cada vez mais distante de tudo.
Estava todo mundo ocupado com alguma coisa dos preparativos para o dia 31. Meu tio, o Paulo, e o tio da Mayara, que morava no sítio, passaram a manhã indo e voltando do quintal, com roupas sujas e facas na cintura. O cheiro forte no ar e os panos ensanguentados diziam tudo sem precisar mostrar nada. Lá fora, o clima era de festa, mas também de correria.
Minha tia, junto com a outra irmã dela, estavam na cozinha, se revezando entre panelas, temperos e caixas com enfeites de plástico. Karina ficava na piscina com as meninas, tentando entreter as duas pequenas enquanto o sol batia forte.
E eu, socado no quarto, trancado no meu canto, só ouvia os barulhos da casa funcionando lá fora como se eu fosse um estranho ali dentro.
Foi aí que minha tia bateu na porta, sem cerimônia:
— Carlos? — chamou, a voz abafada pela madeira. — Vem cá rapidinho.
Abri a porta só o suficiente pra vê-la parada no corredor, com a mão ainda no batente. Ela me olhou firme.
— A Vanessa vai descer na vila pra resolver as coisas da ceia. Cê vai com ela.
— Não tô a fim de sair — respondi, seco.
— Mas vai ter que ir, ué — ela rebateu, cruzando os braços. — Tem muita coisa pra carregar, muita coisa pra resolver. Ela não vai dar conta sozinha.
— Arruma outra pessoa. — Dei de ombros, tentando encerrar ali.
Minha tia bufou leve, sem insistir muito. Só balançou a cabeça, como quem diz depois não reclama, e se afastou pelo corredor. Fechei a porta de novo, me joguei na cama.
Minutos depois, ouvi batidas leves. A porta não estava trancada, e antes que eu respondesse, ela entrou. Encostou a porta atrás de si com cuidado, sem fazer barulho. Quando levantei os olhos, vi Vanessa ali, com o cabelo ainda molhado, solto, os fios pingando nos ombros. O cheiro de sabonete fresco tomou o quarto na mesma hora, misturado com algo do perfume dela que ainda grudava na pele. Estava com o corpo úmido, recém-saída do banho. E por mais que eu estivesse mal, por mais que tudo tivesse desabado entre nós, meu corpo reagiu. O cheiro, a pele, a lembrança… tudo bateu de uma vez, um nó entre raiva e saudade.
Ela ficou me olhando por uns segundos antes de falar, num tom mais calmo do que o normal:
— Eu acho melhor você ir comigo. Vai parecer menos esquisito. A gente não se fala mais… minha outra irmã até veio perguntar o que tá acontecendo.
Me mantive em silêncio.
— Eu deixei ela achar que é por causa do Paulo — continuou, num tom mais baixo. — Que ele é ciumento e eu me afastei de você por isso. Melhor assim.
Aí, deu um sorriso fraco, meio de lado.
— Eu prometo que vou tentar não te encher o saco. Se arruma aí. Tô te esperando no carro — disse ela, antes de sair.
Não respondi nada. Só acenei com a cabeça, curto, quase sem levantar o queixo.
Ela me olhou por um segundo, deu um sorriso meio sem graça e foi embora.
Fui até o banheiro, tomei um banho rápido, o mais mecânico possível. A água gelada ajudou a me desligar um pouco. Voltei pro quarto, me troquei devagar, e saí. Quando cheguei na varanda, Karina estava entrando.
— Ué, tonto… você vai com a Vanessa?
— Vou — respondi, com uma cara que entregava bem o quanto eu queria estar em qualquer outro lugar.
— Ah, tá… minha mãe falou que você não ia. Aí eu ia no lugar.
— Vai então — falei, parando um instante ao lado dela.
— Não, eu preciso cuidar das meninas.
— Ué, se eu não fosse, quem ia ficar cuidando das meninas?
— Minha mãe só que ela, já tá muito ocupada.
— Sério? Karina vai me livra dessa.
— Bem que eu queria, mas aquelas meninas são umas diabinhas, não dá para ir. Minha mãe tem muita coisa pra fazer.
Buffei, não falei nada.
Quando eu estava chegando no carro, Vanessa já estava dentro e Paulo debruçado na porta do motorista falando com ela. Quando ele terminou, deu um beijo rápido na boca dela — que me fez doer por dentro —, me olhou e sorriu. Ela me olhou meio sem graça, e ele disse, com aquele tom provocando um nó no peito:
— Ei, Carlinhos, cuida bem da minha garota, viu?
O apelido “Carlinhos”, vindo da boca do Paulo, bateu em mim como uma faca invisível. Era o tipo de coisa que só ela fazia, só ela sabia usar. Aquela palavra carregava tudo o que eu não era mais para ela — ou talvez nunca tivesse sido. E o beijo que eles trocaram, tão tranquilo e familiar, me deixou um peso no peito, uma mistura de mágoa e impotência que nem consegui disfarçar.
Ela deu uma risadinha sem graça, muito sem graça, e eu tentei forçar um sorriso, mas só saiu meio torto. Assenti com a cabeça e entrei no carro.
Saímos do sítio em silêncio, um silêncio pesado que parecia carregar toneladas. Cada minuto no carro fazia o ar ficar mais denso, a distância entre nós parecia crescer sem que ninguém dissesse uma palavra.
O caminho até a cidade parecia uma eternidade. A paisagem passava devagar: plantações de milho, árvores secas, bois se arrastando na beira da estrada. O sol batia forte e tudo ardia — o silêncio, o tempo, a lembrança. Dentro do carro, a tensão entre nós era espessa, quase sufocante. Não trocamos uma palavra além do necessário. Passamos no mercado, na lojinha de 1,99, no depósito de bebida. Pegamos tudo o que precisava e voltamos.
Na volta, o silêncio continuava firme. Ela com os olhos na estrada, eu olhando para o lado, tentando me distrair com o verde, com os montes, com os cavalos pastando. Mas por dentro, a memória me corroía. Aquele carro ainda cheirava a ela. A nossa penúltima transa tinha sido ali mesmo, e meu corpo ainda lembrava: o calor dos nossos corpos misturados, o cheiro da pele dela suada, o gosto da saliva com suor. Lembrava da respiração dela quente no meu ouvido, dela arranhando minhas costas com força, gemendo baixinho. Aquele banco tinha a marca da gente. E agora, tudo era só silêncio.
Num dos poucos momentos em que ousei olhar pra ela, vi uma lágrima cair dos olhos dela. Respirei fundo, engoli seco. Então, de repente, ela virou o volante e entrou numa estradinha de terra no meio da plantação de cana. Parou o carro e ficou ali, olhando pra frente, com os olhos marejados.
— Chega. Eu falei que não ia falar, mas eu não aguento! — explodiu, a voz embargada.
— Vanessa, não... você prometeu.
— Carlos... olha pra mim, por favor.
Eu continuei olhando pra fora, travado.
Mesmo assim, ela tirou o cinto, se virou devagar, veio em minha e puxou meu rosto com as duas mãos. A voz saiu num sussurro firme:
— Por favor... olha pra mim.
Quando olhei, outra lágrima escorreu pelo rosto dela. Ficamos assim, encarando um ao outro. Só o som das nossas respirações e o barulho da plantação mexendo ao vento. O cheiro da terra.
Ela se aproximou mais. Eu senti o calor do seu corpo, o hálito quente. Antes que eu percebesse, minha mão já estava na cintura dela, puxando devagar até sentir seu peso por cima de mim.
O beijo veio urgente, quente, molhado. As pernas dela se ajeitando ao redor das minhas, o corpo encaixando no meu. Ela se deitou sobre mim no banco, as mãos no meu peito, me prendendo ali. E eu deixei. Deixei ela tomar conta, deixei ela me devorar com os olhos fechados. Tudo voltou como um soco: o gosto, o toque, a saudade. Ali, entre o cheiro de cana e a dor no peito, a gente se reencontrou do jeito mais antigo: pele contra pele.
Ela estava prestes a falar de novo, mas eu a puxei com força, fazendo seu corpo tombar sobre o meu. Ela caiu com um suspiro, as mãos se apoiando no meu peito, e ficou ali, olhando dentro dos meus olhos. Por um segundo, eu pensei que ela fosse recuar, mas não. Ela só respirou fundo e então me beijou.
Veio outro beijo longo, quente, com gosto de tudo que a gente não falou. Eu segurei forte sua cintura e ela se acomodou sobre mim, encaixando o corpo, os joelhos de um lado e do outro das minhas pernas, a saia subindo, o quadril colando. Meu coração disparou. Aquilo era mais do que tesão. Era lembrança. Era a porra de uma dor boa.
Senti seu cheiro se espalhar — aquele perfume misturado com o cheiro da pele dela, do pescoço, do cabelo, da saudade. As mãos dela apertavam minha nuca como se não quisessem soltar mais. E a respiração… a respiração dela se acelerava contra minha boca, como se dissesse tudo que ela não sabia dizer com palavras.
Quando nos separamos por um instante, ela encostou a testa na minha e falou baixo, quase como um pedido de desculpa:
— Eu te juro que eu queria que fosse diferente.
Mas eu calei com outro beijo. Não queria falar sobre isso agora. Não ali.
Desci as mãos por suas coxas, por baixo da saia, sentindo o calor da pele. Ela gemeu baixinho, escorando o corpo no meu e roçando o quadril no meu pau já duro por baixo do jeans. Aquele atrito lento, com roupa e tudo, me tirou o fôlego.
Por um segundo, me veio a imagem dela sentada na calçada, rindo com um picolé na mão, do jeito que só ela ria. Eu ainda era um moleque, mas lembro do jeito que meu peito apertou. Eu nem sabia o nome daquilo ainda.
Ela se contorceu só o bastante pra tirar a calcinha por baixo da saia, jogando num canto do carro. Depois abriu minha calça com pressa, mas não urgência. Era como se estivesse fazendo aquilo pela última vez. Porque era. E os dois sabiam.
Eu escorreguei os dedos por entre suas coxas e ela mordeu o lábio, os olhos marejados ainda. Estava quente, molhada, pronta. Só de tocar, ela arfou. Desceu o quadril devagar, encaixando-se em mim com um gemido abafado na minha boca. Era quente, úmida. Eu fechei os olhos por um instante. O corpo dela inteiro me envolvendo. As mãos no meu peito, os quadris grudados.
Ela começou a se mover, devagar, como se quisesse guardar cada segundo dentro de si. E eu deixei. Apenas segurei sua cintura e a senti deslizar. O carro balançava levemente, abafado, úmido, como se o mundo lá fora tivesse sumido.
Lembrei de quando ela me chamou de bobo depois do meu primeiro beijo — e foi com outra menina. Ela tirou sarro de mim a tarde inteira. Mas no fundo, eu só queria ter beijado ela.
Minhas mãos subiram por baixo da blusa dela, toquei as costas suadas, a pele quente, e ela retribuiu com beijos no meu pescoço, na minha orelha, arfando, sussurrando meu nome como se aquilo fosse a coisa mais certa que já existiu.
— Carlinhos — ela disse, e a voz quebrou no meio.
Mas eu não respondi. Só abracei com mais força, a mão deslizando sem pressa pelo corpo dela até encontrar o botão ao lado. Sem parar o que fazia, apertei com o dedo e ouvi o estalo abafado enquanto o banco descia devagar. O couro rangeu sob nossos corpos. Senti o calor dela se espalhar ainda mais. Me ajeitei com cuidado, o corpo girando até ficar por cima. Ela me deixou virar, os olhos úmidos presos nos meus, o cabelo solto pelo banco, a boca entreaberta — como se pedisse, em silêncio, pra eu tomar conta de tudo.
E eu tomei.
Entrei de novo devagar, afundando nela até o fim, e o gemido dela veio forte, contido, mas intenso. Comecei a meter com mais firmeza, sem pressa, mas com força. Nossos corpos se encaixavam como se tivessem sido feitos um pro outro. As mãos dela arranhavam minhas costas, e eu adorava aquilo. Os dois suando, o calor do carro, o cheiro do sexo no ar, e os sons abafados da natureza lá fora.
Lembrei da primeira vez que ela me defendeu. Eu era só um moleque, e ela apareceu do nada no meio de uma briga de rua, do jeito que sempre foi: firme, corajosa, com fogo nos olhos. Gritou com os garotos, me puxou dali, e depois que tudo passou, me sentou num degrau, limpou meu machucado com a barra da blusa e ainda assoprou, como se aquilo fosse apagar a dor.
E foi ali. Exatamente ali, naquele instante besta e quieto, com ela ajoelhada na minha frente e o rosto perto do meu, que alguma coisa dentro de mim virou. O mundo ficou pequeno, o som sumiu, só existia ela. O cheiro do cabelo dela, a mão quente no meu braço, a calma na voz.
Foi ali que eu me apaixonei. Por ela.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, traindo o que eu tentava esconder.
Ela viu. Encostou os dedos com cuidado no meu rosto e limpou a lágrima que escorria devagar. Depois deixou a mão ali, acariciando com a ponta dos dedos, como quem não queria soltar. Os olhos dela estavam molhados também, me olhando de perto, em silêncio. Não disse nada. Só fez aquele carinho leve, quase desesperado, como se quisesse guardar meu rosto na memória. E doía. Doía nela. Doía em mim.
Cada estocada era uma lembrança, cada gemido, uma despedida.
Ela cravou as unhas nas minhas costas, envolveu as pernas nas minhas costas e gemeu meu nome de novo, mais alto dessa vez, com um choro preso na garganta. Eu senti que ela estava quase.
— Vem comigo... — ela sussurrou. — Por favor... junto...
Eu acelerei, os dois colados, o ar quente, nossas respirações misturadas, as palavras já sem sentido. E então ela estremeceu, apertou meu corpo com tudo, o gozo vindo forte, intenso, tremendo. Eu gozei junto, sem conseguir segurar, fundo dentro dela, agarrado, ofegando como se minha alma tivesse ido junto.
Ficamos ali, abraçados, suados, colados um no outro, o mundo parado por alguns segundos.
Ela passou a mão no meu cabelo, em silêncio. Eu encostei a cabeça no peito dela, ouvindo o coração acelerado que batia como o meu.
Lembrei do dia que eu descobri que ela ia embora. Chorei escondido. E nunca tive coragem de contar.
Aquela era a nossa despedida. E os dois sabiam. Só que ninguém teve coragem de dizer isso em voz alta.
"Se você curtiu a leitura, não esquece de deixar suas estrelinhas! Elas me motivam a continuar escrevendo e trazer novos contos cada vez mais quentes pra vocês."