O Escolhido de Eldoria ☆ Capítulo 13

Um conto erótico de Tiago e Lucas
Categoria: Homossexual
Contém 1674 palavras
Data: 30/08/2025 08:34:34

✧ Ressonância de Coragem ✧

(Tiago)

Meu medo era um oceano vasto e revolto, mas a dor que emanava de Lucas, canalizada pelo nosso Vínculo, era uma lâmina afiada que perfurava meu peito. Eu não conseguia, nem queria, deixá-lo sangrar sozinho naquela escuridão. A zombaria da multidão fantasma, a imagem desprezível de um Lucas debochado e hostil, eram apenas projeções distorcidas, mentiras tecidas com os fios mais sombrios dos meus próprios pesadelos. A agonia que eu sentia dele, contudo, era palpável, inegavelmente real. Fechei os olhos, não para me esconder do terror iminente, mas para mergulhar em um silêncio interior e me concentrar. Reuní toda a minha coragem, todo o meu medo, toda a minha vergonha e humilhação, não para me afogar nesses sentimentos, mas para transformá-los em combustível. Eu não possuía músculos retesados, nenhuma espada cintilante em minhas mãos, mas eu tinha algo mais: esta conexão visceral que nos unia. “Lucas”, eu sussurrei para o vazio, projetando meu pensamento através do fio invisível que nos ligava, um farol de esperança na tormenta. “Eu estou aqui. Você não está sozinho. Deixe-me entrar.”

(Lucas)

A pequena luz bruxuleante dentro do Vínculo se intensificou, como um farol teimoso que se recusava a ser extinto pela escuridão que me consumia. A voz de Tiago, não uma reverberação nos meus ouvidos, mas um eco direto na minha alma, rasgou o trovão ensurdecedor dos insultos do meu pai. “Deixe-me entrar”. A ideia era desconcertante, uma invasão ousada na muralha de vergonha que eu mantinha erguida em torno de mim. Mas a alternativa era a rendição completa. A energia que me sugava, aquela força sinistra que me envolvia, tinha um cheiro inconfundível, um sabor amargo na minha língua. Era a magia sombria e parasítica de um ser que se deleitava com a dor alheia, que se nutria da dúvida e do desespero. Só havia um homem que eu conhecia capaz de tamanha crueldade. “Malakor”, sibilei para a figura imponente que se materializava diante de mim, a imagem cruel do meu pai. O nome soou como veneno em meus lábios, mas nomear o inimigo era o primeiro passo para enfrentá-lo. “Esta é a sua magia, seu cão covarde! Você não tem poder aqui!” A figura do meu pai sorriu, um sorriso gélido que não alcançou seus olhos de aço polido. “Sempre arranjando desculpas para a sua própria fraqueza, não é, Lucas?”

(Tiago)

Senti a resistência de Lucas, a muralha imponente de orgulho e dor que ele erguia ao seu redor, um escudo contra o mundo. Mas percebi também uma fresta, uma minúscula abertura criada pela fúria que acabara de despertar nele. Empurrei com toda a força da minha vontade, forçando minha consciência através do Vínculo, como um mergulho audaz em águas geladas e densas. Por um instante vertiginoso, o mundo se dissolveu em um turbilhão caótico de escuridão e desespero, e então, a imagem começou a se solidificar. Eu estava de pé, ofegante, na beirada de um pátio de treinamento assolanado por um sol cruel e implacável. Meus olhos encontraram Lucas, ajoelhado na poeira que se erguia ao seu redor, e diante dele, uma figura imponente que irradiava um desprezo palpável, uma aura tão densa que parecia sufocar. Meu coração se apertou dolorosamente. Ali estava a fonte da sua dor, o fantasma que o assombrava sem trégua.

(Lucas)

E então, ele estava lá. Não uma mera ilusão, não uma lembrança fugaz, mas Tiago, em sua própria essência. Ele parecia pequeno, quase frágil na vastidão desse meu tormento pessoal, mas seus olhos estavam fixos em mim, faiscando com uma determinação que eu jamais havia presenciado. A aparição do meu pai se virou lentamente, um esgar de nojo retorcendo seus lábios de mármore. “Ora, veja só”, ele zombou, sua voz ecoando com o poder da ilusão, uma arma afiada contra a minha sanidade. “Precisa que o verme venha te proteger? Você é ainda mais patético do que eu jamais imaginei.” As palavras foram projetadas para me quebrar, para me afogar em um mar de vergonha, e quase conseguiram. Senti meu espírito vacilar, a escuridão avançando novamente, ameaçando me consumir por completo.

(Tiago)

Ignorei completamente o espectro. Ele não era real; era apenas uma projeção da mente de Lucas, alimentada pela magia obscura. Mas a dor de Lucas era. Vendo-o vacilar, incapaz de reunir um contra-argumento, sabendo que palavras não seriam suficientes para salvá-lo naquele momento, eu fiz a única coisa que me vinha à mente. Corri. Atravessei o pátio poeirento, sentindo meu coração martelar descompassado contra as minhas costelas, e me lancei sobre ele. Envolvi meus braços firmemente ao redor de seus ombros largos e trêmulos, agarrando-me a ele com a força desesperada de um náufrago que se agarra a um rochedo durante uma tempestade furiosa. O contato foi elétrico, uma corrente que percorreu nossos corpos. Senti a torrente avassaladora de sua agonia, o gelo cortante de seu desespero, mas não recuei, não cedi àquela onda de dor. Eu o segurei com uma força nascida não de músculos tonificados, mas de uma compreensão súbita e avassaladora da sua batalha interior. “Eu estou aqui”, ofeguei contra seu cabelo suado, sentindo seus ombros tremerem sob o meu abraço. “Estou aqui. É mentira. Nada disso é real.”

(Lucas)

O calor do corpo dele contra o meu, a pressão firme de seus braços em volta da minha cintura… era real. Era um ponto de ancoragem na tempestade. Em meio ao turbilhão de autoaversão que me consumia, aquele abraço era a única verdade tangível. A voz do meu pai continuava a ressoar em minha mente, mas agora seus insultos pareciam mais distantes, o veneno em suas palavras diluído pela presença física e reconfortante de Tiago. A barragem que eu mantinha cuidadosamente erguida por toda a minha vida, a muralha que me impedia de sentir qualquer coisa além de raiva e um senso sufocante de dever, começou a ceder. Uma única confissão, trêmula e quebrada, escapou dos meus lábios, um suspiro de dor acumulada. “Ele nunca achou que eu era bom o suficiente”, sussurrei, minha voz embargada pela emoção, a dor de uma vida inteira contida naquela simples frase. “Não importava o quão forte eu ficasse, o quão duro eu treinasse… para ele, eu sempre fui uma decepção.”

(Tiago)

Aquelas palavras me atingiram com mais força do que qualquer golpe físico que eu já tivesse sofrido. Ali estava ele, o Guardião que eu sempre vira como uma montanha inabalável, um pináculo de força e arrogância, confessando o mesmo medo primordial que me corroía: o medo de nunca ser bom o suficiente. Naquele instante, ele não era o guerreiro Lucas, o protetor implacável; era apenas um filho que nunca recebera o amor e a aprovação do pai. Uma onda de empatia feroz e avassaladora varreu o meu próprio medo. Sua força não era a ausência de fraqueza; era uma armadura meticulosamente forjada para esconder uma ferida profunda que nunca tivera a chance de cicatrizar. E eu estava dentro daquela armadura, com ele, sentindo a dor que ela tentava ocultar.

(Lucas)

Ao sentir a empatia de Tiago fluindo através do Vínculo, não uma piedade condescendente, mas uma solidariedade profunda e inabalável, algo dentro de mim mudou irrevogavelmente. Eu não estava apenas recebendo sua força; eu estava sentindo a dele, compartilhando-a. A resiliência de um jovem que suportou o desprezo e a humilhação por toda a sua vida e, ainda assim, encontrou a coragem de entrar na minha mente para enfrentar meus demônios pessoais. Ele não possuía uma espada, mas seu espírito… seu espírito era feito da mais pura e resistente qualidade de aço. A vergonha que eu sentia por sua aparente fraqueza física se dissolveu completamente, substituída por um respeito relutante, mas profundo e sincero. “Tiago”, eu disse, minha voz mais firme agora, encontrando seus olhos castanhos cheios de uma nova compreensão. “Juntos. Nós temos que lutar contra isso juntos.”

(Tiago)

Eu assenti, meu rosto ainda pressionado contra seu ombro, sentindo o calor do seu corpo. “Juntos”. Fechei os olhos novamente e me concentrei no Vínculo, não mais tentando apenas dar, mas sim unir nossas essências. Visualizei minha própria luz, pequena e trêmula, e a entreguei à chama vacilante de Lucas, como um acendedor para uma fogueira. Senti quando ele fez o mesmo, canalizando sua fúria contida e sua força de vontade em nossa conexão crescente. Nossas energias se entrelaçaram, a minha calma e a dele feroz, criando algo novo e inegavelmente poderoso. Uma luz branca e ofuscante explodiu de nós, consumindo a escuridão. Ouvi um grito agudo e sobrenatural, um som de pura agonia, quando a imagem do pai de Lucas e o pátio de treinamento se estilhaçaram como vidro fino, a magia de Malakor se desfazendo sob a força inabalável da nossa vontade unida.

(Lucas)

A luz intensa se dissipou lentamente, e a realidade voltou a se formar ao nosso redor com a força de um soco bem aplicado. Estávamos de volta à tenda apertada, o cheiro de lona úmida e terra enchendo o ar. O frio maligno que nos envolvia havia sumido, substituído pelo calor reconfortante gerado por nossos corpos. E nós ainda estávamos abraçados, a conexão entre nós mais forte do que nunca após a batalha. Por um longo momento, nenhum de nós se moveu, presos na quietude da tenda. O eco da batalha mental ainda ressoava entre nós, e o abraço, antes um ato de desespero mútuo, agora era um refúgio silencioso e carregado de significado. Então, a plena consciência do que havíamos compartilhado naquele espaço mental, da vulnerabilidade crua que eu havia exposto sem reservas, caiu sobre mim como uma pedra fria. Senti um calor subir pelo meu pescoço, uma nova onda de vergonha, diferente de todas as que eu já conhecera. Relutantemente, como se lutasse contra uma força invisível, relaxei meu aperto, e Tiago fez o mesmo. Nós nos separamos lentamente, e o espaço de poucos palmos que passou a nos separar pareceu um abismo intransponível. Nenhum de nós ousava encontrar o olhar do outro, o silêncio na tenda agora pesado com o peso de segredos que não eram mais secretos, mas sim confissões silenciosas.

Continua…

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