Na Calmaria do Controle - CAP 02

Um conto erótico de LAW
Categoria: Gay
Contém 1391 palavras
Data: 29/08/2025 20:12:56
Assuntos: Família, Gay, Homossexual

Com o passar das semanas, comecei a perceber alguns detalhes sobre Raul que, no início, eu não tinha notado. Ele era gente boa, sem dúvidas, mas tinha um jeito meio relaxado com certas coisas.

Quando se sentava no sofá, por exemplo, se largava todo, sem nenhuma postura. Às vezes arrotava sem se importar muito, e quando jogávamos videogame soltava alguns palavrões no calor da disputa.

O que mais me surpreendia, era a bagunça que trazia depois dos passeios de skate. Chegava, jogava a camisa suada no sofá, ia direto para a cozinha tomar água e, sem nem tirar os tênis, se jogava no sofá como se fosse algo normal.

Eu ficava no outro sofá observando, não vou negar que achava aquilo interessante, o seu jeito despojado chamava minha atenção, ver ele sentado no sofá sem camisa todo suado, suas pernas abertas tomando o espaço, alguns pelos loiros no peito, seus pés com aqueles tênis encima do sofá.

Curiosamente, Raul só começava a se organizar essas coisas quando percebia que minha mãe e Luiz estavam prestes a chegar.

Era estranho, porque ao mesmo tempo em que ele conseguia ser tão querido e espontâneo, parecia não ter a menor preocupação em manter um certo respeito pela casa — pelo menos quando não havia ninguém olhando.

Decidi não falar nada. Fiquei apenas observando, guardando tudo para mim. Talvez fosse coisa da minha cabeça, pensei no início. Mas, com o tempo, percebi que não era só impressão: Raul era realmente muito despojado.

Não que ele fosse uma má pessoa — longe disso. Ele sabia conversar, sabia se aproximar das pessoas. Mas no dia a dia, quando ninguém estava prestando muita atenção, se acomodava demais. Parecia não ter a menor pressa em respeitar o espaço que agora também era dele.

Enquanto minha mãe e Luiz continuavam achando que tudo ia muito bem, eu ia colecionando pequenas observações em silêncio, esperando para ver até onde aquilo ia.

Com o passar dos dias, comecei a pensar que talvez essa confusão toda fosse mais sobre mim do que sobre ele. Eu nunca tinha dividido a casa com ninguém, além da minha mãe, e estava acostumado a um jeito muito próprio de viver. Tudo tinha seu lugar, seu ritmo, sua ordem — e, de repente, apareceu alguém novo no meio disso.

Talvez eu estivesse esperando que Raul simplesmente se encaixasse naquilo que já existia, que fizesse as coisas como eu fazia, sem lembrar que cada pessoa é de um jeito. Ele não era mal-educado de verdade; só tinha um modo diferente de estar ali.

Aos poucos, fui entendendo que parte do incômodo vinha das minhas expectativas. E isso, eu percebi, era algo que eu precisava aprender a lidar.

Raul continuava com seus comportamentos folgados. Nada gritante, nada que fosse motivo para uma intervenção, mas detalhes que, pouco a pouco, iam se acumulando.

Chegava da rua e largava o skate no meio da sala. As vezes deixava o tênis jogado perto do sofá, a garrafa de água aberta na mesa, ou esquecia a camisa úmida de suor sobre a poltrona da sala. Pequenas coisas que, isoladas, não incomodariam tanto — mas que juntas formavam um padrão difícil de ignorar.

Eu continuava em silêncio, só observando. Não era raiva. Era mais uma estranheza crescente, uma sensação de que ele simplesmente não se preocupava em se manter um ambiente organizado, enquanto eu me sentia constantemente tentando entender seus modos de viver.

Aos poucos, aqueles pequenos detalhes que antes me incomodavam começaram a fazer parte da rotina. Um prato sujo deixado na mesa, uma garrafa de água esquecida na sala, um sapato largado no sofá, o banheiro virado de cabeça para baixo depois do banho… no início tudo isso me deixava irritado, mas fui deixando passar.

Não que eu tivesse me acostumado completamente, mas percebi que não valia a pena gastar energia com aquilo. A casa já não era só minha e da minha mãe — agora éramos quatro vivendo ali, cada um com seus hábitos, suas manias. E talvez o problema fosse eu querer que tudo continuasse igual.

Essas pequenas bagunças se tornaram um fundo constante, algo que simplesmente existia, sem que eu mais parasse para pensar tanto.

Era uma tarde qualquer, dessas em que a casa estava silenciosa e só a luz da sala iluminava o ambiente. Raul estava esparramado no sofá, meio deitado, os pés jogados de qualquer jeito, o controle do videogame na mão. A camisa ainda molhada de suor do skate estava pendurada na poltrona e o tênis, largado logo abaixo.

Algumas semanas atrás, isso teria me incomodado — cada detalhe desses era motivo para eu reparar e me sentir incomodado por dentro. Mas agora… era só parte da cena. E eu comecei admirar discretamente essa cena, dia após dia, aquele rapaz de corpo magro jogado no sofá seus cabelos loiros bagunçados, seus músculos parentes, suas veias percorrendo os braços, os cabelinhos pequeninos de um amarelo quase branco em seu abdômen, suas pernas abertas com aquela bermuda folgado.

Hoje em especial decidi sentar ao lado dele, peguei o outro controle e entramos no jogo sem muita conversa.

— Se prepara, hoje você não vai ter chance — ele disse, rindo.

— Quero ver — respondi, já rindo também.

Entre risadas, provocações e alguns palavrões escapando dele, a partida rolava solta.

Alguns dias atrás comecei a notar um padrão. Sempre que estava perto da hora da minha mãe e do Luiz chegarem do trabalho, Raul mudava o comportamento.

Ele vinha até mim, meio apressado, e pedia ajuda para arrumar as coisas que tinha largado pela casa: o tênis esquecido no canto da sala, a garrafa de água sobre a mesa, a camiseta no encosto da poltrona, a mochila largada perto da porta, alguns pratos sujos na cozinha.

— Ajuda aí rapidinho, senão eles vão pensar que a gente deixou a casa uma bagunça — ele dizia, quase como se fosse algo nosso.

No começo, eu ajudei sem da muita importância, só para evitar que Luiz brigasse com ele ou algo do tipo. Mas, depois de um tempo, percebi que era sempre assim: ele deixava o rastro dele pela casa toda e, pouco antes dos adultos chegarem, era eu quem ajudava a apagar as marcas.

Com o tempo, isso virou rotina. Eu já nem tinha mais surpresas. Raul espalhava suas coisas pela casa e, quando chegava perto da hora da minha mãe e do Luiz voltarem, vinha até mim com aquele jeito despreocupado:

— Me ajuda a dar um jeito nisso aqui? — dizia, como se fosse algo normal.

E, sem pensar muito, eu ajudava. Pegava a garrafa de água, recolhia o tênis, recolhia alguns copos. Era algo bobo, quase como se fizesse parte do dia a dia.

Não era exatamente um incômodo mais — tinha se transformado em um hábito.

comecei a pensar mais sobre o que vinha acontecendo. Não era só ajudar o Raul a arrumar as coisas — era como se, sem perceber, eu tivesse assumido um papel que não era meu.

Toda vez que eu recolhia uma garrafa, pegava uma camisa suada largada na poltrona ou tirava o tênis dele do sofá, sentia que estava cobrindo rastros que não eram meus. E ele, no meio disso tudo, continuava com aquele jeito despreocupado, quase confiante de que tudo se ajeitaria antes que minha mãe e Luiz chegassem.

Eu não falava nada. Talvez porque não queria criar um clima, talvez porque no fundo achava mais fácil assim.

Eu não podia negar: havia algo em Raul que me chamava atenção. Ele pedia minha ajuda para arrumar a bagunça sem nenhum constrangimento, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Não tinha vergonha, nem medo de incomodar.

Eu, por outro lado, nunca conseguiria ser assim. Sempre me preocupei demais com a imagem que passo, com o que as pessoas vão pensar. Evito pedir favores, tento resolver tudo por conta própria, mesmo que me complique para isso.

Era aí que ficava clara a nossa diferença. Raul parecia ocupar os espaços sem esforço, sem pedir licença. Era falante, espontâneo, cheio de energia. Eu era mais contido, discreto, quase invisível às vezes. Enquanto ele se jogava no sofá sem cerimônia, eu ficava atento a cada detalhe do ambiente antes de me acomodar.

E, por mais que essa diferença já tivesse me incomodado, comecei a perceber que parte de mim admirava essa liberdade que ele tinha — a capacidade de simplesmente ser, sem se prender tanto às expectativas dos outros.

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