Capítulo 16 – A Ressaca Fria
Os dias após o sexo com Landim passaram estranhamente calmos. Mas não era a mesma calmaria de antes. Havia uma diferença no jeito de Nayra andar pela casa, no modo como ajeitava o cabelo, no olhar rápido que lançava a Jeffi. Era como se carregasse um segredo no corpo — no quadril, nos ombros, no sorriso breve.
A barreira do “certo e errado” já não era muralha. Era só tinta rachada na parede. Nayra e Landim transaram mais duas vezes, sempre sob o olhar de Jeffi. Nunca fora do script. E em todas as vezes, ela não foi figurante. Foi protagonista.
Quando Landim anunciou a partida, não houve adeus melodramático. Só silêncio prático. Jeffi apenas reforçou a regra, com aquela frieza educada que gelava mais do que grito:
— Se algo sair daqui... eu acabo com a sua reputação.
Landim não discutiu. Apenas assentiu. E sumiu.
A ausência dele deixou a casa pesada. O eco do que tinha acontecido ainda grudava nas paredes. E Jeffi sabia: era hora de falar, não de calar.
Numa noite qualquer, depois que a filha dormiu, ele se sentou ao lado de Nayra. O rosto sem acusações. Só atento.
— Agora que o calor passou… como você tá de verdade?
Ela demorou. Fitou a parede, como se procurasse palavras ali.
— Estranha. Não senti culpa. Isso já assusta por si só.
— E o que sentiu?
— Um tipo de… desconforto silencioso. Não é arrependimento. Nem tristeza. É como se... eu tivesse aberto uma porta que ainda tô tentando entender o que tem do outro lado.
Ela respirou fundo, como quem mede as próprias palavras.
— Durante, não tinha peso nenhum. Era só vontade, só tesão. Mas depois que acabou... veio um peso. Não de arrependimento, mas de realidade. As consequências só aparecem quando o corpo esfria.
Jeffi tocou de leve a mão dela.
— Você se sentiu usada?
Ela balançou a cabeça.
— Não. Senti que eu mandava. Mas depois fiquei me perguntando: “Essa sou eu? Ou virei isso por tua causa?”
Ele não a deixou escapar. Segurou o olhar dela.
— E o que o espelho respondeu?
— Ainda não sei. Mas… não me odeio pelo que fiz. E isso já muda muita coisa.
Jeffi não sorriu. Mas por dentro soube: a muralha tinha rachado. Não era ruína, mas era brecha.
Três semanas se passaram desde a partida de Landim. A casa voltou à rotina, mas o corpo de Nayra não. O corpo dela lembrava. No sexo, Jeffi sentia cada detalhe — a demora no gemido, o arrepio que surgia só de ouvir o nome dele em provocação. Era o fantasma de Landim, ainda presente sem estar.
Uma noite, Nayra estava nua sobre a cama, os cabelos espalhados no travesseiro. Jeffi a chupava devagar, sem pressa. Como quem queria ouvir a língua dela mentir e o corpo dela confessar.
— Engraçado... teu corpo não parece tão confuso quanto tua cabeça.
Ela soltou um gemido curto, mas retrucou com um sorriso cansado:
— Você sempre tem uma frase pronta, né?
Ele levantou o rosto, os lábios molhados.
— Eu só escuto. É teu corpo que fala. E ele fala de saudade.
Ela fechou os olhos, inquieta.
— E se foi só o momento? E se eu não sou essa mulher?
Ele subiu até o ouvido dela, a voz baixa:
— Então por que você treme toda vez que eu falo o nome dele?
Nayra respirou fundo. A pele arrepiada.
— Porque se eu não pensar… eu viro bicho.
Jeffi mordeu de leve sua orelha, sussurrando:
— Talvez esse bicho só esteja esperando tua permissão.
Ela estremeceu.
— Eu ainda não sei se esse tesão é meu… ou se você colocou isso dentro de mim.
Jeffi deslizou os dedos entre suas pernas, firme.
— Talvez eu só tenha regado o que já era teu.
Ela gemeu alto, a resistência quebrando. Virou o rosto, mas o corpo já estava entregue.
— Você quer que eu transe com outro de novo? — ela murmurou, quase sem ar.
Jeffi a encarou, firme, sem teatrinho:
— Quero ver você querer. Quero ver teu olhar depois. Só isso.
Ela não respondeu. Só gemeu mais fundo, o corpo traindo qualquer palavra.
O sexo abafou a conversa. Mas Jeffi já tinha o que precisava: a fissura estava lá. E cada vez mais larga.