No sábado de manhã já eram 10 horas, eu tinha preparado o café da manhã e ainda estava tentando processar tudo que tinha acontecido.
Quando minha mãe lavanta vai ao banheiro e minutos depois, aparece na cozinha já de shorts e camiseta, o cabelo ainda úmido caindo pelos ombros. Ela parecia mais leve, mas havia algo no jeito dela… uma tranquilidade exagerada, quase como se escondesse alguma coisa.
— Dormiu bem? — perguntei, tentando parecer natural enquanto mexia no café.
Ela sorriu de canto, aquele sorriso que não entrega nada:
— Dormi… mas podia ter dormido melhor. A noite foi longa.
Tentei não parecer curioso demais, mas era impossível não pensar onde ela tinha estado até tão tarde. O cheiro de vinho e erva da madrugada ainda estava na minha memória.
— E você? — ela perguntou, abrindo um pacote de pão como se nada tivesse acontecido. — Foi divertido ontem com o Allan e o Diego?
— Foi… mais ou menos. — respondi, sentando à mesa. — Balada não é muito minha praia.
Ela riu, aquela risada leve que fazia parecer que a vida era sempre mais simples pra ela do que pra mim. E, enquanto passava manteiga no pão, olhou pra mim com um brilho nos olhos que me deixou sem jeito.
— Bom, pelo menos você saiu um pouco… já tava na hora — disse, como quem esconde um pensamento por trás das palavras.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu fiquei imaginando como seria ela vestida com aquela peça de renda vermelha, mas não consegui.
Ela tomava o café devagar, olhando pela janela como se o dia lá fora fosse mais interessante que qualquer coisa dentro daquele apartamento. Eu queria perguntar onde ela tinha estado na noite passada, por que chegou daquele jeito, por que foi direto para o banho e depois deitou sem dizer nada.
Eu sentia a pergunta engasgada, mas ela falava de coisas banais — sobre o preço do pão, uma série nova na TV, uma vizinha que sempre reclamava do barulho. Eu respondia com monossílabos, tentando disfarçar que minha mente estava em outro lugar, presa nos detalhes que eu não conseguia ignorar: a roupa dela na cesta, o cheiro, o jeito como ela se deitou pelada sem dizer nada.
Minha mãe me olhou e sorriu, como quem lê um livro aberto.
— Você tá muito calado hoje. Tá tudo bem? — ela perguntou, com uma naturalidade irritante.
Eu apenas assenti, mesmo sem saber se estava.
O toque da campainha cortou o silêncio da manhã. Abri a porta e lá estava o entregador do Mercado Livre, com uma caixa enorme nos braços. Assinei rápido e levei aquilo para dentro, sem nem saber direito o que era.
Minha mãe apareceu na sala, de shortinho curtos que não lhe caberia fazia tempos, mostrando as dois poupas da bunda e camiseta larga sem sutiã e o cabelo ainda meio bagunçado e húmido. — Ah, chegou! — disse ela, animada.
Abri a caixa e vi as peças espalhadas, parafusos, suportes… nada montado. Era o tal do hack pra televisão que ela tinha comprado faziam três semanas.
— E aí, você sabe montar? — ela perguntou, me olhando de um jeito que eu já sabia que ia decepcionar.
Balancei a cabeça, meio sem jeito.
— Ela me alertou: Olha… você não foi criado com seu pai por perto, e nunca aprendeu nada dessas coisas de homens como ferramenta, furadeira e já passava da hora aprender.
Minha mãe deu uma risadinha curta, sem maldade. — Então a gente vai ter que pagar alguém pra montar, porque eu também não sei fazer nada disso.
Ela pegou o celular, já procurando no whatsapp alguém que montasse móveis. Eu fiquei ali, olhando as peças todas espalhadas pelo chão, me sentindo meio inútil, mas tentando não demonstrar.
Minha mãe estava ali, ainda com o celular na mão, quando comentou de repente:
— Acho que não vou precisar pagar ninguém, não. O Caio já trabalhou como marceneiro com o pai dele… ele pode montar pra gente.
Aquilo me pegou desprevenido. Eu nem sabia desse detalhe da vida dele, e fiquei me perguntando como ela sabia. Ainda mais depois de tudo que vinha rolando no colégio… o jeito que os dois interagiam, as risadinhas, os abraços, os toques inapropriados.
— Ah… você sabia disso dele? — perguntei, tentando soar natural, mas a curiosidade estava na cara.
Minha mãe apenas deu de ombros. — A gente conversa lá, né? Ele comentou uma vez.
Fiquei em silêncio, mas por dentro a cabeça já estava fervendo. Desde quando eles tinham esse papo tão solto assim? Será que ele contava tudo pra ela? Ou era ela que puxava assunto?
Minha mãe destravou o celular e, sem pensar duas vezes, começou a procurar um número na agenda. Eu fiquei olhando de canto de olho. Quando vi ela apertar o botão de chamada, uma coisa me incomodou: desde quando ela tinha o telefone do Caio?
Quando ele atendeu, a voz dela mudou — ficou mais leve, quase brincalhona:
— Oi, Caio… tá ocupado? — perguntou, num tom carinhoso demais pra algo tão simples.
Do outro lado, dava pra ouvir a risada dele. E ela continuou:
— Chegou o meu hack da sala… mas tá toda desmontada. Será que você vem salvar a gente?
Ele falou algo que eu não consegui ouvir direito, mas ela deu uma risadinha curta, daquele jeito que a gente percebe que a pessoa tá sorrindo de verdade.
— Ah, para… você sabe que eu confio em você pra essas coisas. — A voz dela ficou mais baixa, quase cúmplice. — Então tá… te espero, tá bom?
Quando desligou, ela tava sorrindo sozinha. E eu… tentando entender se era só amizade ou algo a mais.
Uma hora depois o interfone toca.
Caio chegou primeiro, trazendo consigo aquele cheiro marcante de tabaco e mato, estranhamente o mesmo aroma que senti na noite anterior . Sempre com o cabelo raspado nas laterais, olhar relaxado e jeito contido que parecia esconder mais do que mostrava.
Dessa vez, não estava sozinho. Ao lado vinham seus dois primos:
O primeiro, Rafael, 25 anos, corpo de academia, braços largos, camiseta justa e postura ereta. A pele negra brilhava no sol da manhã, e o olhar dele era firme, quase intimidador.
O segundo, Davi, 23 anos um moreno magro , estilo cantor de rap, tatuagens descendo pelos braços, cabelo em tranças curtas e sorriso fácil, daquele tipo que sempre tem uma resposta pronta e engraçada.
Minha mãe abriu um sorriso enorme ao ver os três e cumprimentou cada um dos primos com abraços exageradamente carinhosos, demorando um pouco mais do que o necessário, rindo das piadas rápidas de Davi e trocando palavras curtas com Rafael, que só observava tudo calado.
Assim que os abraços terminaram, os três não demoraram a reparar na roupa de Minha mãe : os shorts curto demais apertados quase mostrando a bunda toda, camiseta leve, cabelo solto de qualquer jeito — mas com aquela beleza natural que chamava atenção sem esforço. Davi até chegou a apertar no pau, mal disfarçando sua excitação, e Rafael deu aquele sorriso quase imperceptível, mas cheio de malícia.
Caio então se virou pra mim, sério, quase sem emoção, e disse num tom frio:
— E aí… tranquilo?
Antes que eu respondesse, Davi me olhou de cima a baixo e, meio debochado, perguntou:
— Esse aí é teu filho, Dona Paula?
Rafael soltou uma risada curta e completou:
— Porque, olha… cê tá muito nova, hein. Tá inteiraça. Difícil acreditar que tem filho desse tamanho.
Minha mãe só ria, um pouco sem jeito, mas sem negar os elogios. Davi balançou a cabeça e ainda disse:
— Tá de parabéns, viu. Coisa rara hoje em dia.
Caio chegou mais perto e, sem cerimônia, passou o braço firme em volta da cintura de minha mãe, puxando-a pra um abraço intenso, quase possessivo, como se não ligasse pra quem estava assistindo. Ela retribuiu o abraço, rindo meio sem graça, mas sem afastá-lo.
Davi, o mais velho, o fortão de academia, ergueu a sobrancelha e perguntou, com aquele jeito debochado:
— Peraí… então cê que dá aula de química para ele na escola?
Minha mãe assentiu, sorrindo simpática:
— Dou sim.
Rafael, o tatuado com pose de rapper, deu uma risadinha e disse:
— Rapaz… até dá vontade de voltar a êpoca do colégio só pra assistir uma aula sua . Deve ser uma aula e tanto.
Davi completou, rindo junto:
— Pois é… cê fala bonito igual é bonita? Porque aí não tem aluno que presta atenção em mais nada, não.
Eles riram, Caio também, enquanto mantinha a mão na cintura dela como se fosse dono da situação. Eu só observava tudo, tentando disfarçar o incômodo.
Davi e Rafael deram uma olhada rápida na sala, nos móveis simples e no hack desmontado no chão. Davi soltou um assobio irônico:
— Rapaz… essa casa aqui tá precisando é de um homem pra resolver as coisas, viu? — disse, pegando no pau denotando um volume na calça jeans.
Rafael riu alto, pegando a furadeira:
— Eita, parece até aquelas casas de novela… só mulher e menino perdido sem saber nem por onde começa.
Eles me chamaram pra ajudar, mas foi daquele jeito grosseiro, sem paciência.
— Segura aqui, ô campeão, não deixa cair, não… — falou Davi, como se estivesse falando com um moleque de dez anos. — Isso aí é pra aprender, viu? Homem tem que saber dessas coisas.
Enquanto isso, Caio e minha mãe ficaram na cozinha, cochichando e rindo baixo, como se estivessem sozinhos. A cada risada deles, Rafael dava uma olhada de canto e ria sozinho também.
— Tá vendo, Davi? — falou ele, meio alto de propósito. — A gente ralando aqui e tem gente que tá resolvendo outro tipo de serviço ali na cozinha. — Ele riu, maldoso, e Davi acompanhou.
— É… pelo jeito, a aula de quimica é em casa também, né? — completou Davi, debochado, enquanto encaixava uma peça com força.
As risadas ecoavam, Caio e Paula nem disfarçavam, e eu ali, segurando a peça, sem ter muito o que falar.
Depois de alguns minutos, o móvel começou a tomar forma. Davi, com o braço grosso cheio de veias à mostra, encaixou a última prateleira com força, enquanto Rafael apertava os parafusos como se estivesse consertando um carro de corrida.
— Pronto, campeão — disse Rafael, limpando o suor da testa e me olhando com aquele sorriso torto. — Aprendeu aí, né? Ou quer que eu desenhe também? — A risada dele era seca, sem um pingo de simpatia.
Caio apareceu da cozinha com Paula ao lado, os dois ainda com aquele jeito de cumplicidade irritante. Davi não perdeu a chance:
— Ô, Caio… a aula aí foi boa ? — disse, rindo, enquanto apontava pra ele e pra Paula. — A gente aqui ralando e vocês dois dando risadinha na cozinha.
Minha mãe , sem graça, agradeceu pela ajuda, mas Rafael foi além, batendo na lateral do hack recém-montado:
— Esse aqui vai aguentar até tempestade, viu? Mas essa casa… — ele olhou ao redor e depois pra mim — tá precisando de homem pra mais coisa, não só pra montar móvel, né não?
As palavras ficaram no ar, carregadas de deboche. Davi e Rafael trocaram um olhar rápido e começaram a rir como se soubessem de algo que eu não sabia. Caio só deu um meio sorriso e puxou Paula pelo ombro pra mostrar pra ela o trabalho pronto, como se fosse ele quem tivesse feito tudo.
Eu fiquei parado, sem jeito, assistindo aquilo tudo, tentando entender onde é que eu me encaixava naquela história.
Davi e Rafael, terminaram o trabalho e foram direto pro sofá, como se estivessem em casa. Davi se largou de lado, ocupando metade do espaço com aquele corpo largo de academia, enquanto Rafael, com a camiseta meio caída mostrando as tatuagens no braço, puxou o celular e começou a mexer, relaxado.
Paula apareceu com um pano na mão e começou a juntar o pó e os restos de papelão que tinham ficado pelo chão. Ela usava aquele short curto, quase esportivo, e uma camiseta velha, mas que marcava bem o corpo. Cada vez que ela abaixava pra pegar alguma coisa, eu via os olhos dos primos seguindo o movimento, disfarçando mal.
— Tá ficando tudo limpinho aí, professora — disse Rafael, meio rindo, com aquele jeito folgado. — A senhora é rápida, hein?
Davi deu uma risada baixa, olhando pra Rafael e depois pra ela:
— É… ágil demais. Nem parece que tava só coordenando lá da cozinha enquanto a gente ralava.
Paula só respondeu com um sorriso curto, continuando a limpar como se não tivesse escutado a provocação. Caio, encostado na parede, só observava, com aquele ar de dono da situação, conversando baixo no celular enquanto olhava pra ela de vez em quando.
Davi continuava largado no sofá, suado depois de ter ajudado a montar o móvel. Passou a mão pela testa e soltou um riso curto.
— Rapaz, aqui dentro tá quente demais… — disse ele, já puxando a camisa pela gola e tirando com um movimento só.
Ele não parecia ligar pro fato de estar no meio da sala, com todo mundo ali. Ficou de torso nu, os músculos marcados pelo treino de academia e algumas gotas de suor descendo pelo peito. Pegou a camisa e usou pra enxugar a nuca.
Minha mãe, que ainda estava limpando a sala, parou por um instante e olhou na direção dele. Não disse nada — nem uma bronca, nem uma piada — só continuou fazendo o que fazia, mas os olhos dela voltavam discretamente pra ele de vez em quando.
— Tá vendo? — Davi falou, rindo, mas com um tom meio malicioso. — Nem ventilador tem aqui. Qualquer um sua nesse calor.
Rafael riu junto, dando um tapa no braço do primo:
— É… ele só quer desculpa pra ficar mostrando esse peito aí.
Minha mãe , que ainda estava limpando o rack, não disse nada… mas também não desviava o olhar. Passava o pano devagar, como se estivesse tentando fingir costume, mas a atenção dela ia e voltava pro Davi o tempo todo.
Rafael percebeu e soltou uma risada debochada:
— Ihhhh… olha só, Davi, acho que alguém tá curtindo o show, hein? — disse alto, só pra provocar.
Davi riu e piscou na direção dela, tirando onda.
Eu, sentado no canto, só observava a cena, com aquele nó no estômago crescendo. A cozinha, a sala, tudo parecia menor com eles ali.
Foi então que Caio, recostado na bancada com aquele sorriso de canto, entrou na conversa:
— Ah, deixa eles, ué… — disse, olhando direto pra mim, como quem quer cutucar. — O clima aqui tá bom demais pra estragar.
Ele sabia o que tava fazendo. Cada risadinha, cada cochicho com a minha mãe enquanto os primos faziam piada… parecia que ele queria ver até onde a corda esticava.
Rafael deu mais uma gargalhada e completou:
— Tá faltando é homem nessa casa pra aguentar o tranco, só isso.
Eles riram juntos, e Caio nem tentou disfarçar que tava gostando daquilo tudo.
Caio ficou um tempo encostado na pia por um tempo observando, até se sentar na mesa da sala de janta , que ficava do lado do sofá onde estavam seus primos, pegou a sacolinha do bolso e começou a bolar uma baseado de maconha ali mesmo, na mesa, como se estivesse na casa dele. O cheiro logo da erva tomou conta do ambiente.
Eu,encostado na parede , só observava. Tinha certeza que a minha mãe iria reclamar , ela sempre dizia ser contra esse tipo de coisa dentro de casa. Mas, pra minha surpresa, ela não falou nada. Só passou de um lado pro outro, de shorts curtos, limpando a poeira da montagem, às vezes jogando o cabelo pra trás, às vezes parando pra olhar o trabalho finalizado.
Davi ainda sem camisa j, suado, reclamando do calor como se fosse de propósito:
— Caraca, tá quente demais aqui… — disse, passando a mão pelo peito e rindo pra ninguém em especial.
Pude notar que minha mãe olhou de canto, não disse nada, mas também não tirou os olhos dele por uns segundos.
Caio, ainda bolando o cigarro, soltou um riso curto e completou:
— Relaxa, mano, a gente só tá ajudando… não é, Paula? — disse, olhando pra ela, que fingiu não ouvir, mas deixou escapar um sorriso discreto.
Rafael cutucou Davi e apontou pra Paula limpando a sala.
— Imagina a galera do colegio vendo essa cena… i
Davi riu, pegou uma almofada do sofá pra secar o suor e completou:
— Cê tá doido… nem parece professora, parece modelo.
Minha mãe só balançou a cabeça, mas não parecia nem um pouco incomodada com os comentários.
Enquanto isso, Caio acendeu o baseado na cozinha, deu a primeira tragada e começou a conversar baixo com minha mãe, rindo junto dela, como se compartilhassem uma piada que ninguém mais entendia. Os primos perceberam e jogaram lenha na fogueira:
— Ihhh… tá ficando bom esse negócio aí — disse Rafael, rindo e olhando na minha direção como quem cutuca só pra ver a reação.
Caio só fez um gesto com a mão, mandando eles ficarem na deles, mas sorrindo, adorando a provocação.
Caio deu a segunda tragada no beck antes de estender pra minha mãe.
— Vai — disse ele, com aquele sorriso meio desafiador.
Minha mãe hesitou por um segundo, mas pegou. Deu uma tragada rápida e logo começou a tossir, os olhos lacrimejando.
— Meu Deus… — ela disse, rindo, tentando recuperar o fôlego. — Como vocês aguentam isso todo dia?
Davi e Rafael caíram na risada.
— Passa aqui, professora — disse Rafael, pegando da mão dela. — Deixa que a gente mostra como faz.
Eles tragaram sem dificuldade, rindo e conversando, e parecia que ninguém lembrava que eu ainda estava na sala. Caio voltou pra perto de minha mãe , cochichando alguma coisa que a fez sorrir de canto de boca, enquanto os primos continuavam falando alto.
— Até que ela manda bem — disse Davi, rindo. — Só falta aprender a não tossir.
O baseado ia passando de mão em mão, sempre ignorando completamente a minha presença. Eu só assistia, sentindo o clima cada vez mais leve pra eles… e mais estranho pra mim.
O sofá agora parecia território dos primos de Rafael e Davi, ainda sem camisa e brilhando de suor, estava largado como se fosse dono da casa, os músculos saltando toda vez que ele mexia o braço para beber água. Rafael, com aquele jeito de cantor de rap, ria alto de qualquer coisa, a voz grave enchendo a sala.
Caio, sentando na mesa, só ria e dava aquela olhada de cumplicidade para os primos, como quem dizia “continua”. Ele estava ali, enrolando outro baseado, e parecia se divertir vendo o clima ficar cada vez mais leve… e mais provocativo.
Eu ainda estava encostado na parede com o celular na mão, fingia estar distraído, mas ouvia tudo. Via minha mãe rir das piadas, via os primos jogando charme demais, e Caio só incentivando, como se fosse um jogo em que só ele sabia as regras.
Aos poucos, os primos foram abrindo espaço no sofá, chamando minha mãe com gestos exagerados, pegando nela e provocando:
— Vem logo, professora! A gente não morde… — disse Davi, rindo.
Ela só olhou para eles, com aquele ar de quem não se deixava levar fácil, mas também não cortava a brincadeira.
Minha mãe ficou um instante parada, segurando uma almofada que tinha pegado do chão, como se estivesse avaliando se valia a pena entrar na onda ou não. Os primos de Caio continuavam fazendo piada, exagerando nos gestos, batendo no sofá para chamar:
— Aí, professora, vem descansar! — disse Rafael, com aquele sorriso de canto, o tom mais brincalhão que sério. — Cansou a gente com esse móvel aí…
Caio, do outro lado, só ria, soprando a fumaça do segundo baseado, devagar, como se estivesse gostando da cena e incentivando tudo sem falar muito.
Minha mãe suspirou, fingindo estar de saco cheio, mas o sorriso entregava que estava se divertindo. Então, com um “tá bom, tá bom”, ela atravessou a sala e sentou no meio do sofá, entre Davi e Rafael.
— Aí sim! — comemorou Davi, batendo palmas como se fosse uma vitória.
— Demorou, professora — disse Rafael, jogando o braço por trás do encosto, encostando nela, mas com postura de quem queria se mostrar à vontade.
Rafael, rindo das próprias brincadeiras, tirou a camisa dizendo que estava quente demais ali. Ele revelou seu corpo tatuado, com aquele jeito descolado de quem canta rap nas horas vagas, e parecia adorar chamar atenção. Aproximou mais ainda ao lado de Paula, colocando as mãos sobre seus ombros, que só balançou a cabeça, rindo da situação e sem demonstrar incômodo.
— Tá calor demais mesmo — ele disse, pegando o baseado que Caio tinha acendido e soltando a fumaça devagar.
Rafael assoprou a fumaça bem no rosto de minha mãe, oferencendo para ela com um sorriso provocativo:
— Vai, professora, mostra que você é raiz também.
Paula hesitou por um segundo, olhou para Caio — que apenas riu e fez um gesto de “vai lá” — e então pegou, tragando pela primeira vez. Tossiu na hora, o que fez todo mundo rir, inclusive os primos.
— Calma aí, não é competição não — Caio disse, rindo e dando um tapinha no ombro dela.
Ela devolveu para Davi, o primo mais forte e de academia, que estava pingando de suor por causa do esforço para montar o móvel. Ele começou a reclamar do calor, passando a mão na testa, e Paula, em tom de brincadeira, pegou um pano ali perto e disse:
— Vem cá, senão você vai encharcar o sofá.
Enxugou o braço dele rindo, sem nenhuma pressa, e isso só aumentou as provocações dos outros dois, que começaram a rir e a dizer que Davi estava fazendo cena só para ser mimado.
Enquanto isso, Caio, recostado na cadeira, observava tudo com aquele sorriso de canto de boca, claramente gostando da bagunça e jogando mais lenha na fogueira com os comentários dele:
— Ih, olha lá… já, já o Davi pede massagem também.
Pude notar que quando acabou o segundo cigarro de maconha todos estavam chapados, rindo atoa, minha mãe quase apagando de tão chapada que estava.
Nisso Davi pegou o controle e sugeriu:
— Bora inaugurar esse negócio com um filme, né? — disse, com um sorriso largo.
Minha mãe concordou na hora:
— Acho justo. Pelo menos a gente testa se tá tudo funcionando certinho.
Todo mundo começou a se ajeitar na sala. Rafael, que até então tinha falado pouco, olhou pra mim e soltou, num tom seco:
— Ô, irmão… por que tu não vai pro teu quarto, hein? A gente assiste aqui de boa.
Ficou um silêncio por um segundo. Eu olhei pra ele sem entender, mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Caio cruzou os braços e falou, de jeito frio, mas com uma pontinha de provocação:
— Deixa o cara, pô. Se ele quiser ficar, pode ficar sentado aí. Não tem problema nenhum.
O jeito que ele falou parecia menos uma defesa e mais um desafio, como se quisesse ver até onde aquilo ia.
Paula então completou, meio sorrindo, tentando quebrar o clima:
— Claro que pode ficar, né. Se ele quiser assistir, é só sentar no chão aqui mesmo, tá todo mundo junto.
Davi ligou o filme, Rafael só deu de ombros e Caio se jogou no sofá ao lado de minha mãe, como se nada tivesse acontecido.
Depois de dez minutos de filme.
Minha mãe se levantou devagar, espreguiçando os braços, e olhou para mim com aquele sorriso que eu nunca sabia se era de deboche ou chapada mesmo.
— Faz o seguinte — disse ela, andando até a cozinha —, vai ali na venda e compra uma Coca bem gelada. Vou fazer uma pipoca pra gente.
A forma como ela falou “pra gente” deixou todo mundo olhando de rabo de olho, como se estivesse subentendido que iam transformar a sala em uma bagunça só deles. Até Davi riu:
— Ihhh… quando a Paula fala assim é porque já tá armando alguma coisa.
Caio acendeu outro cigarro, encostado na parede, e soltou de lado:
— É, mano… acho que hoje a coisa vai ser animada.
Rafael apenas sorriu, mexendo no controle da TV.
Eu fiquei ali, com a chave na mão, sem saber se saía logo ou se era melhor ficar para ver onde aquilo ia dar.
Saí de casa com a chave na mão e a sensação de que estava sendo empurrado para fora da própria sala. Lá dentro, dava pra ouvir as risadas deles misturadas ao barulho da pipoca começando a estourar.
Enquanto descia as escadas, minha cabeça estava um caos. A forma como a minha mãe pediu a Coca, o jeito que o Caio falou “vai ser animado”... parecia tudo ensaiado, como se estivessem combinando alguma coisa só no olhar.
No caminho até a padaria da esquina, eu andava rápido, mas a mente não parava. Imaginava a minha mãe na cozinha, os caras sentados no sofá, o Caio provavelmente com aquele jeito debochado de sempre. Era estranho demais pensar que eu estava ali, mas ao mesmo tempo fora de tudo.
Peguei a Coca, bem gelada, e voltei sem pressa. A cada passo, mais perguntas pipocavam: e se eles estavam só brincando comigo? E se não?
Quando voltei, a garrafa de Coca gelada já suava na minha mão, mas a primeira coisa que notei foi o silêncio diferente na sala.
Minha mãe não estava lá. Nem sinal dela nem do Rafael. Só o Caio e o primo Davi no sofá, a TV já ligada num filme qualquer, enquanto a fumaça do baseado criava uma névoa leve no ambiente.
Caio pegou a Coca da minha mão sem nem agradecer, tragou mais uma vez e soltou a fumaça devagar, com aquele sorriso frio.
— Senta aí, pô — disse, batendo no sofá ao lado dele. — Vai ficar de pé por quê? O filme tá só começando.
O jeito que ele falou parecia simples, mas o olhar dele era outra coisa. Tinha um peso, quase uma ordem. Como se ele quisesse ter certeza de que eu não ia sair dali.
— Senta aí, mano — reforçou Davi, com um sorriso estranho. — A gente tá em casa, né não?
Acabei me sentando, meio sem escolha. A sensação era de estar no lugar errado, na hora errada, mas sem saída. A TV passava uma cena qualquer, mas ninguém ali parecia de fato prestar atenção.
E lá no fundo, a pergunta que não saía da minha cabeça: onde estavam a Paula e o Rafael?
Do canto do sofá onde eu tinha me sentado, não dava para ver o corredor que levava até o quarto da Paula. A parede fazia uma curva que deixava tudo fora do meu alcance.
E foi impossível não imaginar que Rafael e Paula poderiam estar lá. Sozinhos.
A televisão estava no volume mais alto possível, quase estourando as caixas de som. Parecia proposital, como se quisessem abafar qualquer outro som que pudesse vir do corredor. Aquilo me deixou inquieto, mas prendi a expressão para não dar o braço a torcer.
Caio tragou mais uma vez o baseado, olhou para o primo Davi e disse algo baixo demais para eu entender. Os dois riram, aquele riso curto e abafado que parecia carregar veneno.
— Tá se divertindo aí, mano? — Caio virou para mim, a voz seca, rispida, como se eu fosse um intruso na minha própria casa. — Tá com uma cara estranha… tá tudo certo?
Davi riu de novo, olhando para a TV mas sem disfarçar o tom de deboche:
— Relaxa, pô… aproveita o filme.
Eles trocaram mais umas palavras baixas, cochichando entre si, e eu senti claramente que a conversa tinha a ver comigo — e não era nada amigável
A sala parecia sufocante, cheia de fumaça da maconha que eles tinham acabado de bolar, e o riso deles, antes leve, agora parecia mais abafado.
Foi então que, no meio do barulho do filme, começaram a vir uns sons estranhos do corredor. Baixos, mas o suficiente para chamar atenção. Caio, que estava largado na outra ponta do sofá, trocou um olhar rápido com o primo Rafael. Eles escutaram também.
— Fica na tua aí — Caio disse, a voz seca, quase como uma ordem.
O primo riu de canto, um riso curto, debochado, e cochichou algo no ouvido dele. Não deu pra entender, mas os dois riram de novo, abafado, enquanto a TV parecia de propósito estar cada vez mais alta, quase gritando.
Eu só fiquei ali, parado, sentindo o clima estranho. Quanto mais o filme passava, mais parecia que eles queriam me manter preso naquele sofá, como se não quisessem que eu fosse ver nada.
— Relaxa aí, parceiro — o primo falou, mas o jeito não era nada amigável. — Só assiste o filme.
Uns quinze minutos se passaram. O filme seguia passando alto, mas ninguém realmente prestava atenção na tela
Foi aí que Rafael voltou. Ele apareceu do corredor suado, a camiseta jogada no ombro, o peito brilhando com o suor. Se jogou no sofá com um sorriso discreto no canto da boca, mas não disse nada pra ninguém. Só olhou para Davi, que estava na outra ponta, e fez um sinal com a cabeça.
— Vai lá — ele cochichou, quase como se estivesse dando permissão.
Davi levantou sem pressa, os passos pesados ecoando pelo chão enquanto sumia pelo corredor.O barulho dos passos de Davi desapareceu no corredor, e a porta do quarto se fechou com um clique abafado. Rafael riu sozinho, baixinho, antes de puxar a garrafa de coca da mesa e dar um gole longo, os olhos na tela, mas a mente claramente em outro lugar.
O clima ficou ainda mais estranho. Caio, na outra ponta, só observava tudo, quieto, como se estivesse se divertindo com a situação sem precisar dizer uma palavra.
Rafael, ainda suado, a garrafa e coca na mesa. Ele se encostou no sofá, respirando fundo, e olhou pra Caio com aquele sorriso malicioso.
— Tá vendo? — disse ele, baixo, mas sem nem tentar disfarçar muito. — Eu falei que ia ser fácil.
Caio deu uma tragada no baseado e riu pelo canto da boca, olhando pra televisão mas falando só com Rafael:
— É… e pelo jeito ela tá curtindo. — Ele falou isso quase sussurrando, mas alto o suficiente pra eu ouvir.
Os dois riram entre si, aquele riso cúmplice, como se eu não estivesse ali, como se minha presença fosse irrelevante. Rafael ajeitou a camisa no ombro, ainda com o peito suado à mostra, e completou:
— E o Davi… mano, esse vai se apaixonar, certeza.
Rafael, ainda largado no sofá, pegou o controle da TV e falou sem nem me olhar:
— Ei… pega uma água lá pra mim, vai.
O tom não era de pedido. Era ordem. Ríspido. Como se ele estivesse em casa, e eu fosse só alguém ali para servir.
Fui até a cozinha, respirando fundo pra não perder a paciência. No caminho, passando pelo corredor, ouvi… barulhos. Passos rápidos. Um rangido de porta. Risos abafados. Era tudo muito baixo, mas estava lá. Não dava pra fingir que não ouvi.
Peguei a água, tentando não imaginar o que estava acontecendo, e voltei pra sala. Rafael pegou a garrafa, bebeu direto do gargalo e me olhou com aquele mesmo sorriso cínico de antes.
— Tua… mãe é gente boa, viu? — disse, em tom cheio de intenção, como se quisesse provocar. — Educada… simpática demais.
Caio deu um sorriso de lado, sem nem olhar pra mim, só confirmando com a cabeça. — Ah… mas isso aí eu já sabia. — Ele tragou, soltando a fumaça devagar. — Ontem mesmo ela já tinha mostrado que sabe receber bem… muito bem.
Os dois riram baixo, daquele jeito que parecia esconder algo. Meu estômago embrulhou. Foi a confirmação que eu queria , ela saiu com o Caio na noite anterior.
Rafael tava largado no sofá, as pernas abertas, o copo na mão, agindo como se a casa fosse dele. De vez em quando olhava pra mim com aquele meio sorriso, meio deboche.
— Ô, parceiro… pega mais água pra mim, tá? — falou sem nem tirar os olhos da TV, como se fosse natural me dar ordens. — E vê se traz um copo limpo dessa vez, beleza?
Levantei sem dizer nada, o estômago embrulhado. Quando voltei, ele pegou o copo da minha mão como se eu fosse empregado dele.
— Valeu, chefia — falou, meio rindo, e virou pra Caio. — Rapaz… e o Davi, hein? Sumiu lá no fundo… Será que ele perdeu o caminho do quarto? — Rafael soltou uma risada curta, provocativa. — Ô Caio, por que tu não vai lá dar uma força pro coitado? Vai que ele tá enrolando…
Caio soltou a fumaça devagar, parecia pensar por um segundo e então se levantou, ajeitando a camisa. — Quer saber? Vou lá mesmo. Esse povo acha que a gente não tem mais nada pra fazer hoje, né? Tem mais serviço pra adiantar.
Rafael deu uma risadinha maliciosa, olhando pra mim como se soubesse de algo. — É isso aí… adianta lá, mano. O dia ainda é longo.
Caio deu um tapinha no ombro de Rafael e foi em direção ao corredor, sem pressa, mas com aquele jeito de quem sabia muito bem o que estava indo fazer.
A sala estava mergulhada naquela luz fraca da TV, o som alto abafando tudo o que vinha do corredor. Caio tinha acabado de sumir lá pra dentro para ajudar o primo a comer minha mãe, e ficou só eu e Rafael, espalhado no sofá como se a casa fosse dele.
Ele pegou o celular, rindo sozinho de alguma coisa. Balançava a perna, relaxado demais.
— Ô, parceiro — disse ele, sem nem olhar pra mim — você leva tudo muito a sério, sabia?
— Como assim? — perguntei, desconfiado.
Rafael soltou uma risadinha, mexendo no celular. — Ah, mano… tem coisa que a gente tem que saber levar na esportiva.
Ele virou o celular de lado, só por um segundo. Um vídeo curto. Minha mãe , rindo, chupando o pau do rafael equanto ele batia com aquele membro na cara dela que devia ter na faixa de uns 20 cm, mas não tão grosso.
— safada, né? — Rafael disse, guardando o celular no bolso, com um sorriso de canto. — Ela sabe se divertir.
Falou como se eu fosse só um espectador daquilo tudo, e voltou a encarar a TV, como se não tivesse mostrado nada demais.
Rafael abaixou o volume da televisão de maneira sádica como se fosse para ouvirmos o barulho que vinha do quarto.
Ele me olhou de lado, com aquele sorriso torto que não dava pra entender se era de deboche ou de diversão.
— Tá quietão, hein? — disse ele, batendo o dedo na própria perna, impaciente. — Cê tá achando ruim, né?
— Não falei nada — respondi, sem olhar pra ele.
— É… não falou. Mas a cara entrega. — Ele soltou uma risada seca, balançando a cabeça. — Relaxa, mano. Isso aqui é só gente curtindo, tá ligado?
Ele pegou o celular de novo, mexeu, e a tela brilhou rápido demais antes dele travar outra vez. Só deu tempo de ver um flash do seu pau , mas ele fechou sem deixar perceber direito.
— Sabe o que eu acho? — continuou Rafael, se virando pra mim. — Acho que você fica aí, todo certinho, mas deve morrer de curiosidade.
Falou baixo, quase num tom de desafio, e voltou a rir sozinho, batendo o pé no chão como quem se diverte só em me ver desconfortável.
Depois de um tempo, finalmente ouvi passos no corredor. Primeiro surgiu Davi, ajeitando a camisa como se nada tivesse acontecido, e logo atrás veio Caio, com aquela expressão calma demais para alguém que tinha sumido tanto tempo. Eles voltaram para a sala rindo baixo, falando algo entre eles que não deu pra entender direito.
O clima mudou na hora. Rafael abriu um sorriso malicioso, olhando para os dois como quem já sabia da história inteira.
— E aí, demoraram, hein? — disse Rafael, cruzando os braços. — Tava começando a achar que vocês tinham esquecido da gente aqui.
Caio apenas deu um sorriso de canto, pegou a garrafa de Coca na mesa e virou um gole, sem explicar nada. Davi se jogou no sofá ao lado, suado, mas com aquele jeito folgado de sempre, como se nada demais tivesse acontecido.
— Tá caladão, hein? — Rafael me cutucou com o pé, aquele sorriso maldoso no rosto. — Parece até que tá com medo.
— Medo do quê? — perguntei, sem olhar muito pra ele.
— Sei lá… — ele deu de ombros. — Do que acontece quando você não tá olhando.
Davi riu por trás, e Caio só lançou aquele olhar rápido, como quem se divertia sem precisar abrir a boca.
O clima ficou mais pesado quando Rafael pegou o celular, mostrou a tela pra Davi e os dois riram baixo. Eu não consegui ver o que era, mas eles faziam questão de cochichar e rir, quase de propósito.
Depois de uns 5 min el a surgiu com o cabelo todo bagunçado, a blusa um pouco torta no ombro, como quem tinha se vestido às pressas. Parou no meio do caminho quando me viu sentado no sofá. Os olhos dela arregalaram, surpresa.
— Você… tá aqui? — perguntou, a voz meio falha, tentando parecer casual, mas dava pra sentir que não esperava me encontrar ali.
Rafael e Davi riram baixo, trocando olhares cúmplices. Caio só puxou outra tragada no baseado, olhando pra ela com aquele sorrisinho de canto de boca, como se tudo estivesse sob controle.
Minha mãe, por um instante, pareceu perdida — ajeitou o cabelo, tentou arrumar a blusa, e forçou um sorriso, como se nada tivesse acontecido.
— Eu… fui só ver umas coisas ali no quarto com os meninos… — disse, desviando os olhos.
Mas ninguém respondeu. O clima falava por si.
Eu continuei no meu canto, sentindo aquele desconforto crescendo. A risada deles, as trocas de olhares… p
— Relaxa, pô — disse Davi, percebendo meu silêncio. — Aqui tá só alegria.
Paula ficou parada, ainda perto do corredor, e o silêncio pesava mais do que qualquer palavra. Rafael deu uma risadinha debochada e se recostou no sofá, cruzando os braços, sem esconder a malícia no olhar.
— Que foi, Paula? — ele disse, com aquele tom carregado de ironia. — Parece até que tá com culpa de alguma coisa.
Ela forçou outro sorriso, mas não respondeu. Tentou se mover pra cozinha, mas dava pra ver que as mãos tremiam levemente enquanto ajeitava o cabelo.
Caio, largado na poltrona, tragou devagar o cigarro e soltou a fumaça pelo canto da boca, o olhar fixo nela. — Relaxa — murmurou, como se fosse só entre os dois, mas todo mundo ouviu. — Tá todo mundo em casa, ninguém aqui vai te julgar.
Eu, encostado no sofá, sentia o coração acelerado, um calor estranho subindo. Queria perguntar, queria entender… mas a cena, o jeito como eles olhavam pra ela e como ela evitava me encarar, me deixavam sem reação.
Rafael quebrou o silêncio de novo:
— Bora terminar o filme, ué. — E olhou pra mim com aquele meio sorriso, quase provocativo. — Ou o mocinho aí vai querer fazer um interrogatório?
Fiquei ali, imóvel, com o filme rodando na tela e as risadas ocasionais dos caras ao fundo, mas a minha cabeça estava a quilômetros dali. A cena da Paula chegando descabelada, evitando meu olhar, ainda rodava na minha mente como um disco riscado.
Era impossível não pensar no que tinha acabado de acontecer — ou no que eu imaginava que tinha acontecido — naquele quarto. Não era só ciúme. Não era só raiva. Tinha algo mais, algo confuso, sujo, que eu não queria admitir nem pra mim mesmo: uma excitação estranha, quase doentia, de imaginar a minha mãe ali… e com os três.
O Rafael, sempre com aquele jeito debochado.
O Davi, que não parava de suar, como se cada movimento fosse intenso demais.
E o Caio, frio, calado, que parecia controlar tudo sem nem precisar falar.
Três caras. Um clima que eu nunca tinha presenciado antes. E ela… a minha mãe, que parecia outra pessoa quando estava com eles.
Parte de mim queria levantar, gritar, exigir respostas. Outra parte… queria ficar ali, calado, imaginando cada detalhe, mesmo que isso me consumisse por dentro. Era um nó na garganta misturado com um calor estranho no estômago, um veneno que eu não sabia se queria cuspir ou engolir até o fim.
O silêncio desconfortável na sala só foi quebrado quando o Caio olhou para o relógio no pulso e fez um sinal com a cabeça para os primos.
— Ei, vocês tão esquecendo que a gente tá atrasado, né? — disse ele, num tom sério, como se de repente lembrasse que tinha vida lá fora. — Tem outro serviço pra hoje. O resto do filme fica pra outro dia.
O Davi, ainda sem camisa, resmungou alguma coisa e começou a recolher as coisas dele jogadas pelo chão. O Rafael, claro, não perdeu a chance de lançar mais um sorriso debochado pra mim antes de levantar, como se quisesse deixar uma provocação no ar.
— É, outro dia a gente termina o filme… — falou ele, quase rindo sozinho, o jeito malicioso não disfarçava nada.
Minha mãe respirou fundo, como se voltasse ao normal só agora que Caio lembrou do compromisso. Com aquele jeito natural dela, foi até a porta acompanhar os três.
Começou pelo Davi, que ainda estava sem camisa e suado. Como ele era grande, envolveu ela contra o seu corpo deixando ela molhada com o suor dele, ela abriu um sorriso retribuindo aquele carinho com aquele sorriso cúmplice que parecia dizer algo só pra ele, e ele falou baixo, fazendo piada que eu não consegui ouvir direito.
Depois foi a vez do Rafael. Ele, com aquele jeito folgado de sempre, abriu os braços como se fosse dono da situação. Minha mãe deu um beijo rápido no rosto dele, e os dois riram juntos de algo que também ficou só entre eles.Quando de repende ele pega o celular mostra algo na sua tela. Minha mãe só ri e bate nos ombros dele. Rafael sem perder tempo aguarra em sua bunda com as mãos dentro do short dela forçando contra a parede. Nessa hora vi ela empurrar ele e fazer um sinal em minha direção. Ele ainda na frente dela ajeita o seu pau na calça e força um selinho na boca dela, saindo em direção a escada.
Os dois primos de Caio estavam descendo da escada.
Na hora da despedida, quando chegou a vez de Caio, ele lançou um olhar rápido para mim e falou num tom firme:
— Vai lá na cozinha, pega uma água pra gente — disse, como quem não aceitava resposta.
Fui, mas não sem antes perceber o jeito como ele se inclinou para falar com minha mãe, a voz baixa, quase num sussurro, mas alta o bastante para que algumas palavras chegassem até mim:
— Sempre que eu quiser... — ele disse, deixando a frase no ar, como se quisesse que eu completasse o resto na minha cabeça.
Eu estava indo em direção a geladeira tentando ouvir que o Caio estava tentando dizer a ela.
Foi nesse momento ouvi um estralo de um tapa.
Quando voltei da cozinha, o sorriso satisfeito de Caio e o jeito nervoso de minha mãe me deixaram com um nó no estômago. Tinha um misto de raiva, ciúmes e uma estranha excitação que me fazia sentir ridículo — como se eu fosse apenas um espectador da minha própria casa.
— Até a próxima, professora. — E piscou para ela com aquele jeito cínico dele.