COMO NOS CONHECEMOS: UMA LEMBRANÇA DE OTÁVIO
Minha família era dona de uma pousada no interior do estado, numa cidade chamada Ponte Negra. Tem esse nome por conta do rio que a banha. É uma cidade muito bonita, mas só ganha vida no verão. Durante o resto do ano, ela fica às moscas, sobrevivendo à base de alguns feriados prolongados. Meus pais pediram ao meu tio Aluísio, irmão do meu pai, que morasse com ele até que eu terminasse os estudos. Eles achavam a estrutura de ensino da cidade muito fraca. Foi muito estranho chegar à capital; eu me sentia muito deslocado. Primeiro, que eu era - e ainda sou - uma pessoa que demora a se socializar. Segundo, que achava que eu não ia demorar muito tempo lá. "Os meus pais vão mudar de ideia logo, então não preciso fazer amizades" era o que eu pensava. Com isso, o ano se passou.
Meu tio percebeu que eu ficava muito sozinho, então teve uma ideia. Resolveu me matricular numa escolinha de natação. Eu, por incrível que pareça, não sabia nadar. Mesmo tendo nascido num lugar rodeado de igarapés. Foi nessa escola que eu conheci o garoto que viria ser meu melhor amigo, e o amor da adolescência. Marcos, foi o primeiro menino que despertou algum interesse em mim, não foi uma paixão à primeira vista. Estava mais para uma primeira briga. Ele fazia as piadas mais bestas que existiam, e a galera da natação ria. Eu não via graça nenhuma nele, tipo: "Quem aquele magricela de canela fina, pensa que é?".
Mas houve um dia que eu falei com os meus pais, mais uma vez pedindo para voltar para casa, e recebendo a mesma resposta: "Se acalma, meu filho, nas férias você vem". Era sempre isso que eu escutava. Não entendiam que eu me sentia diferente aqui, meu tio morava em um bairro de classe média alta, na rua eu era único garoto do interior. Aquela gente provavelmente nunca nem tomou um banho de rio. Tudo isso fazia eu me sentir muito deslocado, me fazia pensar: "Que eu 'tô' fazendo aqui? Um garoto negro do interior, um menino que só passou na frente de um aeroporto, aqui não é o meu lugar". Minha família tentava me fazer entender os motivos de estar naquele lugar, mas como um pré-adolecente, eu não queria entender.
Os dias seguintes após a conversa com meus pais foram os mais tristes naquele lugar. Eu ficava emburrado por qualquer coisa, na escola eu não dava atenção à aula, em casa não saía do quarto e tudo isso deixou meu tio muito preocupado. Na quinta-feira daquela semana, eu tinha aula de natação. O instrutor havia nos avisado para tomar cuidado na borda da piscina, mas eu dei pouca atenção e acabei caindo. Com muita rapidez o instrutor me resgatou, antes que eu me afogasse, mas com severidade me chamou a atenção pelo ocorrido. Como eu não estava numa semana boa, respondi com ignorância. Ele me tirou da piscina. Pediu para eu me sentar no banco e esperar a aula acabar, mas estava com tanta raiva que saí de lá, rumo ao vestiário.
Quando entrei no vestiário, fui direto à minha bolsa. Queria trocar de roupa e ir embora. A casa do meu tio não era muito longe, dava para ir andando. Peguei minha toalha e fui para uma das cabines tomar um banho para tirar o cloro do meu corpo. Eu estava abaixando a sunga, quando aquele garoto abriu de uma vez a porta da cabine onde eu me trocava. Marcos nunca teve um senso de privacidade.
- AAHH, TÁ FICANDO MALUCO SEU MERDA?! - Aquela "exposição" tão repentina foi o motivo que me fez explodir. Naquela época eu já era uma pessoa estressada.
- Desculpa, Otávio, mas ainda bem que tu ainda não foi - disse ele, com a mesma pressa que ele à abriu, fechou a porta. Pude escutar entrando na cabine ao lado da minha, ligando o chuveiro - Cara, vim na maior pressa atrás de ti.
- E o que tu quer comigo? - Passando o choque da intromissão, consegui tirar a sunga e ligar o chuveiro. Queria tirar logo aquele cloro do meu corpo e ir para casa.
- Mano eu queria saber se tu estavas bem. Sei tu és mó caladão, mas eu nunca te vi explodir daquele jeito - Fiquei parado embaixo do chuveiro escutando ele falar. Me perguntava: "Desde quando ele repara em mim?" - Tipo, lá na escola tu fica muito sozinho...
- Espera, tu estudas na mesma escola que eu? - Perguntei saindo da cabine com a toalha enrolada na cintura.
- Claro, duas salas depois da tua, salaFalou enquanto saía com a toalha em volta da cintura. A notícia que deu a seguir veio com um sorriso de orgulho - Nossa turma ganhou o campeonato de futebol do interclasses, tu viu o jogo?
- Não, eu não participei - Dei as costas e segui em busca da minha bolsa - Mas me fala o que você quer comigo.
- Como eu estava dizendo: fiquei preocupado contigo - ele foi falando enquanto abria a mochila para pegar sua roupa - Ontem durante o jogo, perguntei para o seu Aluisio se estava tudo bem contigo.
- Meu tio? Cara, tu tá me seguindo? Dá onde tu conheces o meu tio? - Nesse momento eu me virei em sua direção, ele começou a rir, como se tivesse escutado a coisa mais engraçada do mundo. Aquilo me irritou tanto que o empurrei - Tenho cara de palhaço por acaso? Tá rindo do que?
- Primeiro: se tu me empurrar de novo, a gente vai cair na porrada - ele me olhou com muita seriedade - Segundo: eu conhe-.
- Eu não tenho medo de briga, não - Eu fui para cima dele, mas ele foi rápido, não pude prever o movimento. Fui jogado no chão, só pude agradecer a Deus, por ter amarrado bem a toalha na cintura. Na mesma velocidade que ele me jogou no piso frio do vestiário, ele montou em mim, prendendo os meus braços.
- Quer brigar? Vamos!
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História já também está sendo postada no wattapad, já com 6 capítulos.
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