Após o episódio no armário, Elijah se retirou para seu quarto, fechando a porta com firmeza.
O rubor e a confusão ainda marcavam seu rosto, mas agora havia algo mais profundo: medo de si mesmo e de Edgar. Ele se encolheu na cama, abraçando os joelhos ao peito, e se recusou a sair.
Dias se passaram. Ele não comia, não bebia, apenas permanecia em silêncio, trancado em seu quarto, mergulhado em pensamentos e em um misto de vergonha e ansiedade.
O tempo parecia arrastar-se, cada minuto aumentando seu isolamento e sua sensação de fragilidade.
Enquanto isso, Edgar começou a perceber a ausência de Elijah. A casa, antes preenchida pela presença constante do garoto, estava estranhamente silenciosa. O cheiro das refeições esquecidas permanecia no ar, mas ninguém se aproximava da mesa. Ele passou a notar o vazio, a sensação de que algo vital havia sumido de seu cotidiano. A rotina de cuidar, de vigiar, de simplesmente dividir o espaço com Elijah, desapareceu, e um incômodo crescente se instalou em seu peito. Edgar sentiu pela primeira vez a falta do garoto não apenas como uma companhia, mas como algo que incomodava sua própria respiração, seu próprio corpo.
O silêncio da casa tornou-se mais pesado a cada dia, e cada objeto, cada rastro de Elijah, lembrava Edgar de que a barreira entre eles havia se intensificado. Ele percebeu que não bastava apenas esperar; precisava agir, mas não sabia como se aproximar sem quebrar ainda mais a distância criada pelo medo e pelo constrangimento de Elijah.
Naquela noite, Edgar recebeu uma nova mensagem cifrada: Jonas havia sido capturado na cidade vizinha, preso e sob investigação. Um alívio imediato percorreu seu corpo, mas os homens de Jonas ainda circulavam pelas ruas, e cada sombra podia ser um perigo.
Enquanto revisava os documentos de Elijah, Edgar sentiu um aperto no peito. A verdade era clara: ele poderia libertar o garoto. Novos documentos, identidade sem rastros, um começo seguro e anônimo. Mas havia um dilema que o consumia.
— Se eu disser a verdade… ele vai querer ir embora — murmurou para si mesmo, a voz baixa e tensa. — Mas se não disser… ele continuará preso à minha presença… mesmo que agora segura.
O conflito cresceu dentro dele: proteger Elijah mantendo-o perto ou confiar na força do garoto e permitir que a liberdade o alcance, mesmo que isso significasse deixá-lo ir.
Ele se aproximou do quarto, hesitando antes de bater na porta.
— Elijah… posso entrar? — disse, a voz firme, mas carregada de cuidado.
Do outro lado, silêncio absoluto. Edgar sentiu o peso da ausência do garoto, do vazio que se espalhava pelo apartamento. Cada refeição não consumida, cada movimento não feito por Elijah parecia gritar a própria dor do garoto — e a culpa de Edgar por não ter resolvido tudo antes.
Ele respirou fundo. Cada passo em direção à porta parecia levá-lo mais perto da verdade e, ao mesmo tempo, de seu dilema. Dizer ou não a Elijah que ele poderia ser livre? Que podia ir embora e recomeçar?
O coração de Edgar batia rápido, misturando adrenalina, desejo de proteção e medo da decisão. Pela primeira vez em dias, ele sentiu que a escolha não era apenas sobre segurança, mas sobre confiança — confiar que Elijah podia escolher seu próprio caminho, mesmo que isso significasse que ele, Edgar, perderia algo que também começava a valorizar mais do que queria admitir.
Edgar engoliu em seco, o aperto no peito aumentando enquanto se aproximava da cama. A febre de Elijah não era apenas um sinal de doença física, mas um reflexo de tudo que vinha carregando — do medo, da tensão, da solidão dos últimos dias.
Ele pousou a mão na testa do garoto, sentindo o calor intenso que contrastava com a pele antes tão fria e tensa.
— Droga… — murmurou, a voz carregada de preocupação. — Como você conseguiu ficar assim sem que eu percebesse?
O garoto estava deitado, respirando com dificuldade, o corpo pequeno quase afundando nos lençóis. Edgar, pela primeira vez, sentiu que sua própria força não era suficiente para afastar todo o perigo do mundo, nem proteger Elijah de si mesmo.
Com cuidado, ele se abaixou, ajeitando a manta sobre o corpo do rapaz e pegando um termômetro da gaveta do criado-mudo. Cada gesto era feito com delicadeza, como se temesse que um toque mais brusco pudesse quebrar algo frágil dentro de Elijah.
Enquanto observava o garoto febril, Edgar sentiu um conflito interno ainda maior: ele poderia deixá-lo livre, dar-lhe documentos, identidade nova… mas naquele momento, Elijah precisava dele. Precisava de cuidado, de presença. A liberdade poderia esperar algumas horas, mas a febre do garoto não.
— Fica comigo, Elijah… eu não vou deixar nada te machucar — murmurou baixinho, sentando-se à beira da cama, segurando a mão do garoto, sentindo o corpo pequeno estremecer de vez em quando.
O silêncio do quarto agora tinha outro peso: não era apenas a ausência de resposta, mas o som da preocupação, do desejo de proteger, e de um laço que crescia silencioso entre os dois. Edgar sabia que, por enquanto, não havia escolha fácil — a liberdade poderia esperar, mas o cuidado e a proximidade eram urgentes demais para ignorar.
Edgar permaneceu ali, sentado à beira da cama, observando cada respiração do garoto. Cada estremecimento, cada suspiro deixava claro o quanto Elijah estava fragilizado. O silêncio do quarto era pesado, mas reconfortante de certa forma: não havia intrusos, nem pressa, apenas o calor da presença de Edgar.
Com cuidado, ele pegou um pano úmido e delicadamente passou na testa de Elijah, tentando baixar a febre. Cada toque revelava o corpo pequeno e tenso do rapaz, e Edgar sentiu um aperto no peito ao perceber o quanto ele precisava de proteção.
— Você precisa beber algo… — murmurou, baixinho, tentando não assustar o garoto. — Só um pouco de água, Elijah.
Elijah não respondeu, apenas se encolheu sob o cobertor, quase se retraindo dentro de si mesmo.
— Está bem, Elijah… eu estou aqui — Edgar murmurou, sentindo o coração acelerar. — Ninguém vai te machucar enquanto eu estiver aqui.
O garoto, finalmente, relaxou um pouco nos braços de Edgar, e seu pequeno corpo febril se aconchegou, quase se entregando à segurança que sentia. Edgar fechou os olhos por um instante, absorvendo a sensação de poder cuidar dele, de estar perto sem precisar recorrer a armas ou estratégias.
Enquanto a noite avançava, Edgar permaneceu ali, atento a cada respiração, a cada movimento. A febre diminuía lentamente, mas o vínculo silencioso entre os dois se fortalecia a cada gesto, cada cuidado. E, naquele instante, Edgar entendeu que proteger Elijah não era apenas uma obrigação ou um dever — era algo que ele queria fazer, algo que ele precisava fazer.
Na manhã seguinte, Elijah abriu os olhos com dificuldade, sentindo um peso extra na cama. Atordoado pelo sono, viu Edgar dormindo sentado de forma desajeitada.
Elijah sutilmente moveu-se na cama, ainda confuso, mas qualquer mínimo movimento foi notado por Edgar. Sonolento, ele jogou o braço pesado sobre o pequeno corpo de Elijah e o agarrou, dormindo profundamente.
Elijah ficou imóvel por alguns segundos, sentindo o peso do braço de Edgar sobre si. Um misto de surpresa, calor e estranha segurança percorreu seu corpo. Ele queria se mover, se afastar, mas qualquer gesto mais brusco poderia acordar Edgar, e de algum jeito ele não queria quebrar aquele momento silencioso.
O corpo de Edgar, ainda pesado pelo sono, pressionava Elijah contra o colchão. O calor dele, misturado ao perfume sutil que sempre exalava, fez Elijah corar e se encolher levemente, inconscientemente buscando se ajustar para caber melhor sob o peso protetor.
— Humm… — murmurou Edgar sonolento, apertando levemente o pequeno corpo do garoto, quase como se estivesse reclamando do próprio peso, mas sem intenção de se soltar. — Fica aí… — disse, a voz arrastada pelo sono.