Já fazia uma semana desde que chegaram à cabana. Elijah seguia meticulosamente sua rotina, cuidando da casa, lavando a louça, preparando as refeições e mantendo cada cômodo limpo e organizado. Cada detalhe parecia acalmar um pouco sua mente, ainda inquieta depois de tudo que havia acontecido.
Edgar, por outro lado, mantinha-se distante. Passava a maior parte do tempo trancado em seu escritório, revisando planos, monitorando rotas e reforçando a segurança do local.
À noite, frequentemente saía para beber, o som de garrafas sendo abertas e o tilintar do gelo ecoando pela casa. Às vezes, Elijah podia ouvir sua gargalhada rouca, intensa e inesperada, atravessando o corredor, antes que Edgar se entregasse ao álcool e acabasse desmaiando no sofá ou em sua cadeira de trabalho.
O contraste entre eles era claro: enquanto Elijah se mantinha contido e organizado, quase infantil em sua disciplina silenciosa, Edgar oscilava entre o controle extremo e a rendição às próprias fraquezas. E mesmo assim, em meio à rotina silenciosa da cabana, uma tensão invisível permanecia no ar, carregada de emoções que nenhum dos dois ousava admitir em voz alta.
Elijah permanecia na cozinha, sentado à mesa, observando o reflexo das luzes fracas no vidro das garrafas espalhadas pela sala. O cheiro de álcool ainda pairava no ar, misturado ao aroma mais leve de comida que ainda permanecia em alguns cantos. Cada risada rouca de Edgar atravessava o corredor e fazia Elijah estremecer, um misto de apreensão e estranha fascinação.
Ele sabia que não deveria se aproximar, que Edgar estava fora de controle, mas não conseguia evitar o olhar atento sobre o homem que, apesar de tudo, era sua proteção. A cada movimento desajeitado de Edgar, derrubando copos ou tropeçando nas próprias pernas, Elijah sentia um frio percorrer sua espinha, uma tensão estranha que misturava medo e curiosidade.
Edgar, por sua vez, cambaleava até o bar improvisado na sala, pegando mais uma dose de whisky. A bebida escorria pelo seu queixo em descuidos momentâneos, mas mesmo naquele estado vulnerável, havia algo em sua postura que mantinha Elijah hipnotizado: a força contida nos músculos, a aura de perigo e desejo, e aquela presença dominante que, de algum modo, não o deixava se sentir seguro de verdade, mas ao mesmo tempo protegido.
Elijah baixou os olhos para as próprias mãos, tentando afastar o pensamento que insistia em subir por sua mente: imagens de Edgar semi-nu, a tensão do corpo masculino, a força contida em cada gesto. Ele respirou fundo, um arrepio percorrendo sua espinha, e murmurou para si mesmo, quase como uma desculpa:
— Eu só… preciso cuidar da casa…
Mas mesmo essa justificativa parecia frágil diante do turbilhão de sensações que Edgar provocava, mesmo à distância, enquanto o homem se apoiava na mesa de bar, girando a bebida em seu copo, completamente alheio à presença silenciosa e observadora de Elijah.
Já era tarde e mais uma vez Edgar estava bêbado. Elijah aproximou-se de forma discreta, agarrando o copo pela metade das mãos de Edgar, que resmungou de forma bravia:
— Me devolva meu copo!! — rosnou Edgar, a voz embaralhada pelo álcool.
Elijah, em um ato de medo e coragem, recuou, fazendo Edgar olhar fundo em seus olhos.
— Por favor, senhor… — disse, a voz baixa e hesitante.
Edgar o interrompeu grosseiramente, exigindo o copo de volta. Elijah sabia que não ganharia aquela discussão e, num ato desesperado, virou o copo restante na boca, engolindo a bebida de uma vez.
Sua garganta queimou como nunca, o forte gosto lhe fez tossir desesperadamente. Seus olhos se encheram de lágrimas, a tosse o obrigando a recuar alguns passos, a mão cobrindo a boca.
Edgar arregalou os olhos, surpreso. Por um instante, o corpo pesado pela bebida pareceu vacilar, enquanto Elijah tentava recompor-se, ainda tossindo.
— Você… você bebeu tudo?! — balbuciou Edgar, a voz rouca, misturando irritação e incredulidade.
— Eu… eu não queria brigar… só… só não queria que você se machucasse… — respondeu Elijah, a inocência e o medo misturados, o corpo ainda tremendo levemente.
Edgar respirou fundo, apoiando-se na mesa. Por um momento, o ar entre eles ficou carregado, não só pelo cheiro do álcool, mas pela tensão que ia além da situação. Seus olhos, mesmo embotados pela bebida, fixaram-se em Elijah, percebendo a coragem silenciosa do rapaz, sua preocupação genuína.
— Idiota… — resmungou Edgar, a irritação dando lugar a algo mais contido. — Você não tem ideia do perigo que corre… nem do que está fazendo comigo… — disse, mas a voz perdeu parte da agressividade.
Elijah, ainda ofegante, baixou os olhos, sentindo o coração disparado não só pelo medo, mas pela proximidade do homem à sua frente, pelo calor da tensão que pairava entre eles.
Edgar respirou fundo, inclinou-se levemente e pegou o copo vazio da mão de Elijah, apoiando-o na mesa. Seus dedos roçaram os do garoto por um instante, rápido demais para ser consciente, mas suficiente para que Elijah sentisse um arrepio percorrer sua espinha.
— Você é impossível… — murmurou Edgar, misturando frustração, desejo e cansaço, enquanto se recostava no sofá, ainda meio bêbado.
Elijah permaneceu parado, tenso, o peito acelerado, olhando para o homem que, mesmo naquele estado, continuava dominando a situação com sua presença. O ar ao redor deles parecia carregado, cada movimento pequeno amplificado, cada respiração pesada.
Elijah nunca havia bebido antes, e agora suas bochechas, rosadas pelo álcool, escondiam seu verdadeiro rubor. A garganta ardia, o corpo tremia levemente, e cada respiração carregava o perfume doce de sua pele misturado ao leve resquício de álcool que ainda queimava em sua boca.
Edgar, por sua vez, não conseguia mais se controlar. O olhar pesado de desejo e frustração que carregava desde a noite anterior agora se intensificava, tornando impossível raciocinar. Num único movimento, ele prensou Elijah contra o armário, segurando-o firme.
— Edgar… — sussurrou Elijah, a voz trêmula, entre medo e surpresa, sem saber se deveria protestar ou simplesmente ceder.
O cheiro do álcool se misturava ao aroma doce que Elijah exalava, intoxicando Edgar. Ele já não respondia por si mesmo; cada instinto, cada impulso, parecia impulsioná-lo para frente, aproximando seu corpo do corpo do garoto.
Elijah tentou recuar, mas os braços de Edgar eram firmes, intransponíveis. O coração do rapaz disparava, o corpo reagindo de formas que ele não compreendia, entre a vergonha e uma estranha sensação de segurança mesmo na situação intensa.
— Eu… eu… senhor… — balbuciou, a voz quase sumindo enquanto tentava se recompor, mas a pressão e o calor do homem diante dele tornavam impossível qualquer pensamento racional.
Edgar, sentindo o corpo frágil de Elijah contra o seu, respirava pesadamente, tentando controlar-se, mas o desejo e a possessividade se misturavam de forma quase cruel. Cada movimento, cada cheiro, cada toque involuntário aumentava a tensão entre os dois, deixando o ar carregado de uma mistura de perigo, desejo e intimidade inesperada.
Edgar agarrou o rosto de Elijah, obrigando-o a olhar diretamente em seus olhos.
— Edgar… eu… — começou o rapaz, a voz trêmula, mas as palavras morreram no ar.
Era tarde demais. Edgar, ainda tomado pelo impulso e pelo desejo confuso, pressionou os lábios contra os de Elijah, enfiando sua língua quente e úmida na boca do garoto. Assustado e desnorteado, Elijah apenas cedeu, permitindo que o beijo quente e desajeitado acontecesse.
O calor era intenso, quase insuportável. Elijah sentiu seu corpo formigar, as pernas fraquejarem, e por pouco não caiu. Cada toque, cada respiração compartilhada, fazia seu coração disparar de uma forma que ele nunca imaginara.
Então, subitamente, Edgar recobrou parte do controle. Com o punho cerrado, acertou o armário atrás deles, que balançou com força.
— Caralho, Elijah… merda! — gritou, a voz misturando raiva, frustração e desespero.
Ele se afastou abruptamente, respirando pesado, e entrou em seu quarto batendo a porta com força, deixando Elijah sozinho, imóvel e atordoado.
O silêncio que se seguiu era esmagador. Elijah permanecia parado, encostado no armário que ainda tremia levemente, tentando entender o turbilhão de sensações — medo, vergonha, desejo e confusão — que agora o deixava completamente sem chão.