No trote do peão - 11 e 12

Um conto erótico de Hollister
Categoria: Gay
Contém 4883 palavras
Data: 02/08/2025 21:16:13
Assuntos: Amor, Fazenda, Gay, peão, Romance

As roupas foram tiradas entre beijos, risos e mãos que já sabiam o caminho. Francisco me deitou na cama como se quisesse colar nossas peles pra sempre. O toque dele não era mais tímido, não era mais medroso. Era certeza. Era fome de amor e desejo acumulado.

Ele me possuía com os olhos, com a boca, com os dedos. Cada movimento era uma confissão: “eu sou seu”.

Nos entregamos ao desejo como dois homens que finalmente haviam se encontrado. O quarto virou calor em pleno inverno. O ar carregado, os corpos suados, as palavras sussurradas entre um gemido e outro. Francisco dizia meu nome como se orasse. E eu me perdi nele de novo — inteiro, sem medo, sem esconderijo.

Quando ele veio dentro de mim, eu fechei os olhos e senti. Senti que era ali, naquele exato momento, que o amor deixava de ser uma promessa e virava realidade.

E tudo o que ele prometeu, ele cumpriu. Eu fui castigado por toda a nossa distância, senti os centímetros do pau dele me invadindo de quatro pela segunda vez naquela tarde. A primeira foi calma, romântica, mas agora ele estava selvagem.

Francisco deu tapas na minha bunda quando eu tentei relaxar o quadril, me fazendo empinar novamente. Ele puxou o meu corpo contra o dele e grudou os seus dentes no meu ombro, mordendo enquanto me fodia. Mais uma vez o meu pescoço foi sugado e a cada nova lambida que eu recebia, eu arrepiava a minha pele.

— Que saudade eu estava do teu cheiro, da tua pele quente e desse cuzinho macio — falou no meu ouvido, com aquela voz rouca – O jeito como esse cu pequeno acolhe meu pau grosso é divino.

— Mais uns dias e você deixa ele largo. Tenho certeza – sussurrei entre os gemidos.

Ele gozou mais uma vez dentro de mim comigo de quatro. Deitou sobre o meu corpo e deixou a pica dentro, até ela sair de forma involuntária.

Eu estava exausto, tanto que cochilei e acordei com ele me puxando pro banheiro. Iniciamos o banho nos beijando, ele ensaboou todo o meu corpo com o cuidado de quem segura um diamante. A água caindo quente na pele, o vapor embaçando o vidro do box, tudo estava em câmera lenta. Eu senti uma leveza, estava no lugar certo, com a pessoa certa.

Senti o pau do Francisco ficando duro mais uma vez e por momento, meu cuzinho piscou preocupado, eu ainda não tinha me recuperado das duas primeiras vezes, ele me virou de costas, desligou o chuveiro e foi deslizando a língua pelas minhas costas até encontrar minha bunda.

Senti sua língua tocando meu cuzinho, estava levemente ardido e piscando a cada lambida que ele dava. Sua barba tocava as minhas nádegas causando arrepios por todo o meu corpo.

Ele estava me provocando.

Ele queria que eu implorasse.

E eu fiz, implorei pela pica dele dentro de mim, mas ele continuou me lambendo, mordendo a minha bunda e soltando risos em meio as provocações. Ele estava faminto.

Francisco enfiou sua rola dentro de mim novamente. Ardeu, queimou, mas eu queria ele ali, dentro de mim. Coloquei as mãos apoiadas na parede e empinei a bunda, ele segurou na minha cintura e penetrou com força, um vai e vem ritmado, com o barulho da sua virilha se chocando contra a minha bunda.

O tapa que eu recebi na bunda doeu mais que is anteriores pela água que ainda escorria da minha pele, mas aquela dor, junto a sua pica pulsando dentro de mim me fez arrepiar meu corpo inteiro novamente.

Ele tirou o pau de dentro se mim, me virou de frente e me beijou antes de me fazer ajoelhar e chupar a sua pica grossa. Francisco me fez engasgar na rola, bateu na minha cara com ela, deu tapas e afundou meu rosto no meio dos seus pentelhos.

Eu puxei todo o ar necessário quando ele afastou minha cabeça por alguns segundos. Engoli novamente a pica e em meio aos gemidos dele, senti o leite escorrer da minha língua até a garganta. Terminei limpando o pau dele, sugando até a última gota.

— Gostou? — me abraçou quando eu levantei.

— Delicioso — respondi com um sorriso.

— Pela sua cara, estava gostoso mesmo — riu.

— E estava, nunca fiz antes e posso dizer que seu gosto é muito bom — afirmei.

— E não vai fazer com mais ninguém. O único pau que vai entrar nessa boca linda é o meu — me beijou novamente.

— Vamos, antes que você se anime de novo.

O vapor ainda pairava no ar do quarto, mesmo após o banho. A toalha enrolada na cintura dele e o meu roupão solto nos ombros deixavam claro que a tarde tinha sido tudo, menos calma. Francisco passou a mão molhada pelos cabelos curtos e se sentou na beirada da cama, respirando fundo.

— Três vezes... — eu ri, sem fôlego. — Vai acabar me matando.

— Você começou, com esse cuzinho gostoso — respondeu, rindo também, puxando o tecido do meu roupão pra cobrir o ombro.

Antes que ele pudesse retrucar com outra provocação, ouvimos três batidas na porta e a voz conhecida:

— Vocês estão pelados? Porque eu vou entrar!

Bárbara não esperou resposta. Entrou com um sorriso debochado, os olhos brilhando de quem já sabia a resposta.

— Que cheiro bom... de sabonete, suor e libertação — disse, teatral. — Finalmente fizeram as pazes? Ou só estão no período da trégua quente?

— Bárbara — resmungou Francisco, puxando o lençol pra cobrir as pernas. Eu sorri sem graça.

Ela nos olhou com carinho e disse mais suave:

— Tô feliz por vocês, de verdade. Só queria avisar que o Diego tentou falar contigo o dia inteiro e não conseguiu. Parece que deu problema com uma das safras de grãos... e tem um cliente quase cancelando a compra. O Diego tá surtando.

Francisco ficou sério de repente. Pegou o celular na mesinha e o virou na direção do rosto, destravando a tela. A expressão dele mudou enquanto deslizava pelas ligações perdidas. Diego. Rafael. Diego de novo. Um número da cidade.

— Droga — murmurou.

Ele levantou num salto, indo até a janela. Ficou ali por alguns segundos, olhando o céu que já começava a escurecer com tons de roxo e azul profundo. Depois voltou pra mim, com os olhos tensos.

— Vou ter que voltar pra fazenda. Essa semana mesmo. Não posso deixar o Diego sozinho com esse pepino. E o Rafael deve estar tentando ajudar, mas não é a mesma coisa...

— Tudo bem — falei, mesmo antes dele continuar. Eu já sentia onde aquilo ia chegar.

Ele respirou fundo e segurou meu rosto entre as mãos.

— Vem comigo?

A pergunta saiu baixa, quase como um pedido.

Fiquei em silêncio por alguns segundos. Parte de mim quis dizer sim. Quis largar tudo, voltar pra cabana, pro cheiro do mato, pro calor dos lençóis em manhãs frias. Mas a realidade pesava mais.

— Eu não posso, Francisco — respondi, com doçura. — Tô no último semestre. Faltam poucos meses pra eu terminar. Não posso largar agora.

Ele assentiu, tentando disfarçar a decepção.

— Eu sei. Eu só... queria que você estivesse comigo lá.

— Eu tô com você — falei, tocando o peito dele. — Aqui. Mas a gente tem que aprender a viver o amor fora da bolha.

Bárbara, percebendo o clima, deu dois tapinhas na porta já aberta e disse:

— Eu vou sair antes que comece uma nova sessão de sexo emocional. Mas só pra constar, Samuel... você fez bem pra esse ogro.

Ela piscou e saiu, nos deixando com o silêncio que sempre dizia mais do que mil frases.

Francisco se sentou ao meu lado outra vez. Passou o braço pelos meus ombros e encostou a testa na minha.

— Promete que, quando eu resolver tudo lá, a gente vai dar um jeito? Que isso aqui... — ele segurou minha mão — não vai ficar preso só entre quatro paredes?

— Prometo — sussurrei. — Mas quero a mesma promessa.

Ele sorriu. Me beijou devagar. E pela primeira vez em muito tempo, o beijo teve gosto de futuro.

***

Passei mais uma noite ao lado do Francisco. A quarta vez que nossos corpos se buscaram como se fossem extensão um do outro. A madrugada inteira pareceu ter sido feita só pra gente: pele, suor, promessas sussurradas entre beijos e mãos entrelaçadas. Dormimos abraçados, com os lençóis embolados e os corações, enfim, alinhados.

Quando acordei, o sol já atravessava as frestas da cortina e o quarto estava silencioso. Estiquei o braço, mas o lado dele da cama estava vazio. Só o calor ainda morno nos lençóis e o cheiro dele no travesseiro.

Foi então que vi. Sobre o criado-mudo, repousava a corrente de prata que ele usava no pescoço desde que o conheci — e um bilhete dobrado com a caligrafia firme dele.

“Preciso ir resolver as coisas por lá. Mas eu volto.

Essa corrente sempre me lembrou quem eu era. Agora ela é sua, porque foi você quem me lembrou quem eu posso ser.

Espera por mim.”

Fiquei ali, segurando o papel entre os dedos, sentindo o peito apertar. Sorri. E doeu sorrir.

Depois da aula, fui direto pra biblioteca. Precisava focar, colocar as leituras em dia, tentar não pensar tanto. Mas claro, como sempre, Lucas apareceu.

— Posso? — perguntou, já puxando a cadeira em frente à minha.

Assenti com um gesto e ele se sentou. Trazia um café na mão, provavelmente o mesmo de sempre. Ele ficou me olhando por uns segundos, como se estivesse tentando montar um quebra-cabeça.

— Você tá diferente.

— Isso é bom ou ruim? — retruquei, fechando o livro que eu nem tava lendo de verdade.

— Sei lá… é estranho. Tá com uma cara meio… leve demais pra quem tava tão na fossa.

Ele sorriu, mas os olhos estavam sérios. Antes que eu pudesse responder, ele inclinou um pouco o corpo e apontou pra mim.

— Tem uma marca no seu pescoço.

Levei a mão instintivamente até o local, mas já era tarde.

— Então cê cedeu.

— Sim— confessei, sem rodeios.

Lucas não pareceu surpreso. Apenas deu um gole no café e olhou pela janela por um instante, antes de voltar a me encarar.

— Tudo bem. A gente é amigo. Eu sabia que isso podia acontecer.

Fiquei em silêncio. Ele continuou:

— Só quero que você não se machuque de novo, Sam. Porque, sinceramente? Eu não acho que o Francisco vai conseguir te dar o que você precisa.

Me encolhi um pouco na cadeira. Não porque ele tava errado — mas porque parte de mim também tinha esse medo.

— Mas é sua escolha — completou ele. — E eu respeito. Mesmo que doa um pouco aqui dentro.

Ele bateu de leve no peito e tentou sorrir, mesmo com os olhos dizendo outra coisa. Eu sorri de volta, fraco, grato por ele ser esse tipo raro de pessoa. E nesse momento ele me lembrou o Rafael.

A corrente no meu bolso parecia mais pesada de repente. Ou talvez fosse só o peso de estar entre dois mundos.

Ficamos ali, em silêncio, por alguns minutos. Ele bebendo o resto do café, eu encarando o tampo da mesa como se as respostas estivessem escondidas nas fibras da madeira.

— Você gosta dele, né? — ele perguntou, baixinho, como quem já sabe a resposta mas precisa ouvir mesmo assim.

— Gosto. — Respirei fundo. — Desde o começo. Mesmo quando ele só me olhava como quem não queria ver.

Lucas assentiu, sem drama. Sem mágoa aparente. Ele tinha essa coisa bonita de respeitar o tempo do outro, mesmo quando esse tempo doía.

— Então vai fundo, Sam. Só não esquece de si mesmo no processo.

Sorri. Um sorriso pequeno, carregado de culpa e gratidão.

— Obrigado por ser você, Lucas.

Ele se levantou devagar, ajeitando a mochila no ombro.

— E você, por mais que esteja com o coração dividido, é a pessoa mais intensa que eu já conheci. Por isso talvez seja tão difícil não gostar de você.

Fiquei olhando ele ir embora. Não me doeu tanto quanto imaginei. Acho que a dor maior era comigo mesmo — por tudo que vivi, por tudo que não vivi e por tudo que ainda me dava medo viver.

Cap 12 – Insensatez

Os dias foram passando rápido, Francisco ficou na fazenda. Ligava quase todos os dias. Às vezes com a voz cansada, outras vezes com aquela risada arrastada de quem passou o dia inteiro montado num cavalo ou discutindo sobre caminhões. Mas, invariavelmente, ele terminava cada ligação com um "tô com saudade" que me atravessava feito faca.

Eu respondia. Nem sempre com palavras. Às vezes com silêncio. Às vezes com um "eu também", sussurrado quando ele já tinha desligado.

Foi numa dessas conversas que ele descobriu que meu aniversário estava chegando. A surpresa dele foi sincera — e quase engraçada. Disse que tinha que me ver antes disso, que não queria perder essa data. Eu ri, desconversei. Achei que ele ia esquecer.

Enquanto isso, Lucas... bem, Lucas se afastou. De forma respeitosa, gentil, como sempre. Estava ali, mas não mais tão perto. Como se tivesse entendido que eu precisava de espaço. Ou talvez ele só estivesse cansado de esperar algo que eu não sabia dar.

E foi nesse intervalo estranho, que a Elisa surgiu.

Conheci ela por acaso, quando o professor Jorge me chamou no corredor e disse que eu seria mentor de um projeto. "Você tem jeito pra isso", ele falou. E ali estava ela: sorriso calmo, olhos atentos, um caderno abarrotado de anotações e uma caneta mastigada na ponta.

Nos demos bem logo de cara. Ela era divertida, gentil, com um senso de humor que encaixava perfeitamente nos meus dias. Ria das minhas piadas, fazia outras ainda melhores, e logo viramos uma dupla curiosa de se ver pela faculdade.

Lucas percebeu.

E com o clima mais leve, talvez até mais previsível, ele voltou a se aproximar. As brincadeiras voltaram. As provocações também. Ele cutucava, fazia piada com os livros que eu lia, com os desenhos que eu rabiscava nos cantos dos cadernos. E eu ria de volta. Não era tensão — era amizade. Sincera. Tranquila.

Numa sexta-feira, Lucas nos convidou pra um barzinho perto da praça central. Elisa topou de cara. Bárbara apareceu também, alegando que precisava socializar antes de virar planta de novo em casa. E lá estávamos nós: rindo, brindando com cervejas geladas e falando besteira como se o mundo lá fora não existisse.

Foi só quando cheguei em casa, já com o sorriso bobo de quem passou uma noite leve, que percebi as mensagens.

Francisco:

“Tá tudo bem? Liguei duas vezes.”

“Saudades.”

A tela ainda brilhava no escuro do quarto. Meu peito doeu um pouco — uma culpa leve, como quem esqueceu de regar uma planta que ama. Mas eu estava cansado. E, por alguma razão, não consegui responder naquela hora.

O celular vibrou logo cedo, no sábado, enquanto eu ainda tentava decidir se sair da cama valia o esforço. Era o nome dele. Francisco.

Atendi com a voz ainda rouca de sono.

— Oi — ele disse. Aquele jeito arrastado, carinhoso, com a voz levemente falha. — Ontem você sumiu. Fiquei preocupado.

Sentei na cama, ajeitando o travesseiro nas costas.

— Fui num bar com o pessoal da faculdade. Desculpa, acabei esquecendo do celular.

Ele ficou em silêncio por um segundo. Depois suspirou.

— Eu sei que você tá tentando seguir sua vida aí, e eu não quero parecer controlador. Mas é que... Eu tô me sentindo distante. Você sabe o quanto eu te amo, né?

— Sei — respondi. — E eu sinto o mesmo.

— Eu vou te ver no próximo final de semana — ele disse com convicção. — Prometo. Tô resolvendo umas coisas com o pessoal, mas eu vou.

Tentei acreditar. Mesmo com aquele fundo de voz cansada, com o tom de quem já prometeu outras vezes.

— Tá bem. Eu espero.

E eu esperei.

Esperei até o fim de semana chegar. O sábado começou nublado, um daqueles dias em que o vento te abraça pelos cantos da casa.

Mas ele não veio.

Nem no sábado. Nem no domingo.

A mensagem que chegou no fim da tarde de domingo foi curta:

“Não consegui sair daqui. Problemas com o gado. Estou desde ontem sem dormir. Me perdoa.”

Fechei o celular sem responder. Me deitei no sofá e encarei o teto. Não chorei. Mas o silêncio dentro de mim parecia mais barulhento que qualquer grito.

Naquela noite, o celular tocou de novo. Era ele.

Atendi depois de tocar algumas vezes, já preparado para o discurso de sempre.

— Você estava com o Lucas? — ele perguntou, direto, sem nem dizer boa noite.

— O quê?

— Vi uma foto no perfil da Bárbara. Vocês estavam juntos, rindo, pareciam bem próximos.

Bufei.

— E qual o problema nisso, Francisco? O Lucas é e vai continuar sendo meu amigo.

— O problema é que você disse que tava me esperando. Que sentia minha falta. E agora tá aí, com ele, sorrindo como se eu fosse um detalhe.

— Você tá brincando comigo? — minha voz subiu sem que eu percebesse. — Eu esperei você o fim de semana inteiro e agora você vem reclamar por eu ter ido a um bar com meu amigo?

— Eu tô fazendo o melhor que eu posso.

— Não, você tá fazendo o melhor que te convém. E quando eu tento viver, você aparece com ciúme, querendo me prender como se eu fosse um do seus bois.

Do outro lado, silêncio.

— Eu não sou seu brinquedo, Francisco.

— Eu não tô te tratando assim.

— Então para de agir como se tudo o que eu faço fosse uma ameaça. Você não pode ficar com ciúmes de todo mundo que se aproxima de mim.

Ele respirou fundo, os olhos fervendo, mas sem levantar a voz.

— É que o Lucas… ele não quer só ser seu amigo. Ele te olha como quem quer mais. Ele te toca como quem espera a hora certa. E isso me incomoda. Me incomoda porque ele esteve perto quando eu devia estar. Porque ele viu você sorrir quando eu te fiz chorar. Porque ele te teve nos braços quando eu te deixei sozinho.

Engoli em seco.

— E mesmo assim, ele nunca mentiu pra mim. Nunca desapareceu. Nunca fez promessas que não podia cumprir.

Francisco baixou silenciou.

— Eu tô tentando, Samuel. Tô tentando fazer isso dar certo. Mas tem dias que parece que eu tô sempre um passo atrás. Sempre tendo que correr atrás do prejuízo.

— Você não precisa correr atrás — respondi, mais calmo. — Só precisa caminhar do meu lado. Mas pra isso… precisa confiar. Em mim. E em você também — respirei. — melhor a gente conversar depois, vai descansar. Boa noite.

— tudo bem. Boa noite. Eu te amo.

Desliguei.

Os dias seguiram. Setembro chegou como quem não queria incomodar, com o vento começando a mudar o cheiro das manhãs, trazendo promessas de primavera — mas o frio ainda ficava ali, adormecido nos cantos da alma.

Francisco me mandava mensagens, mas menos frequentes. Sempre terminava com um "sinto sua falta", mas já sem os áudios longos ou as ligações durante a madrugada.

Lucas que continuava divertido, presente, cuidadoso. Ele e Elisa coloriam os meus dias, tornando tudo mais leve.

Na semana do meu aniversário, ele me chamou para almoçar no campus. Disse que tinha algo especial pra mim, mas que só entregaria no sábado. Brincou dizendo que esperava que eu não estivesse ocupado demais “recebendo declarações cafonas de um certo fazendeiro dramático”.

— E se eu estiver? — perguntei, sorrindo de canto, tentando soar leve.

— Aí você vai ganhar presente dobrado — respondeu, com aquele brilho nos olhos que sempre parecia um convite.

Na véspera do meu aniversário, recebi uma mensagem do Francisco:

“Não sei se vou conseguir sair daqui a tempo pro fim de semana. Deu problema com a entrega dos fertilizantes.

Mas queria estar aí. Você sabe disso.”

Sim, eu sabia. E também sabia que queria mais do que mensagens digitadas às pressas no meio de reuniões com fornecedores.

Na manhã do meu aniversário, acordei com minha mãe me abraçando com um bolo improvisado, e Bárbara rindo da cara amassada que eu fazia. O dia estava bonito. Céu limpo, temperatura amena. Um dia que pedia por alguma coisa boa.

Antônio me presenteou no café da manhã e logo saiu, prometendo voltar mais tarde para o jantar de comemoração.

Mais tarde, já perto do jantar, Lucas chegou.

— Tô entrando, hein — gritou da porta da frente.

Fui até ele e parei. Ele segurava um urso gigante de pelúcia, com um laço dourado no pescoço e um envelope preso à pata.

— Lucas, pelo amor de Deus — eu disse, rindo. — Isso é enorme.

— É proporcional ao tamanho do carinho que eu tenho por você — respondeu, exagerando o tom como se estivesse num comercial de TV. — Abre a carta.

Abri. Dentro, uma foto nossa em preto e branco, tirada por Elisa semanas antes em um café. A legenda escrita à mão dizia:

“Você merece um mundo com felicidades muito maiores que esse urso.”

Eu o abracei. Forte. Porque Lucas merecia isso.

Elisa chegou com um sorriso largo, carregando um pacote embrulhado em papel kraft com um laço vermelho feito à mão.

— Feliz aniversário, Sam — ela disse, me abraçando com força.

Senti o calor do gesto dela, genuíno, sincero. E mesmo assim, uma parte de mim seguia fria.

— Obrigado, Lê… Que bom que você veio.

Ela me entregou o presente, mas antes que eu pudesse abrir, minha mãe surgiu atrás de mim e apertou meus ombros com carinho.

— É seu dia, meu filho. Curte. Para de olhar esse celular como se ele fosse resolver tudo.

Forcei um sorriso, um daqueles que a gente dá mais pra tranquilizar quem ama do que pra expressar o que sente.

— Eu sei, mãe. É só costume.

A noite seguiu. Rimos um pouco, brindamos com vinho suave. Mas mesmo com todo esse afeto ao meu redor, eu me sentia incompleto.

Foi quando Bárbara se aproximou de mim, com um copo na mão e o olhar de quem sabe mais do que quer dizer.

— Posso falar contigo um minuto? — ela perguntou baixinho, me puxando pra um canto da sala.

Assenti e a segui até o corredor.

— Eu sei que você tá chateado com o sumiço do Francisco. E eu não vou passar pano, ele errou sim. Mas… as coisas lá na fazenda tão complicadas. Teve problema com a safra, cobrança dos clientes e até ameaça de processo. Ele tá tentando manter tudo em pé sozinho. Não queria ter te deixado esperando. Ele só… não soube como dividir isso com você.

Meus olhos arderam um pouco. Eu queria ficar bravo. Queria dizer que merecia mais. Mas a verdade é que eu sabia o peso que ele carregava. E talvez, saber que ele ainda não tinha aprendido a dividir fosse o que mais doía.

— Ele devia ter falado comigo, Bá. Era só isso. Não precisava de muito.

Ela assentiu, tocando meu braço com carinho.

— Talvez ele ainda esteja aprendendo como se ama em voz alta.

Fiquei em silêncio. O bolo estava quase sendo cortado na sala e Elisa chamava meu nome. Mas uma parte de mim ainda estava longe dali. Ainda estava com ele.

A campainha tocou e eu nem precisei me mover — minha mãe já estava a caminho da porta. Eu continuei sentado, conversando com os meus amigos.

Mas então ouvi a voz.

— E aí, aniversariante! Vim te dar um abraço antes que o dia acabe.

Meus olhos se arregalaram. Era o Rafael.

Ele entrou com um sorriso largo e um presente embrulhado em papel metálico azul. Veio direto até mim e me puxou pra um abraço apertado, do tipo que esmaga e aquece ao mesmo tempo.

— Caramba, você aqui? Eu achei que… — hesitei, ainda surpreso. — Achei que não nos veríamos mais.

— Pois é, mas a Bárbara me avisou do jantar. E bom... aniversário de amigo a gente não perde, né?

Reparei que ele estava mais bronzeado do que antes, com uma barba por fazer que o deixava ainda mais bonito. Soltei o abraço e apontei pra onde estavam Elisa e Lucas, entre petiscos e risadas .

— Ah, deixa eu te apresentar…

Rafael olhou pro fundo da sala, fixando os olhos em Lucas, que estava sentado em uma poltrona um pouco mais ao canto, com uma taça na mão, rindo de algo que Elisa dizia.

Ele se aproximou de Elisa e a cumprimentou com um beijo no rosto.

— E quem é aquele cara gato ali? — Rafael perguntou, em voz baixa, com um sorriso maroto no canto da boca.

Dei uma risada curta, meio sem graça, e o encarei de lado.

— Aquele é o Lucas. Um amigo da faculdade… a gente já se conhece há uns bons meses.

— Hum. E ele sempre vem tão bem assim nos aniversários ou hoje caprichou?

— Rafael… — ri, balançando a cabeça. — Você não perde uma.

Ele me cutucou de leve com o ombro, ainda sorrindo.

— Vai me dizer que eu tô mentindo?

Chamei o Lucas com um gesto, que se aproximou logo em seguida, com aquele ar tranquilo de quem prefere observar a se exibir.

— Rafael, esse é o Lucas. Lucas, esse é o Rafael.

Eles se cumprimentaram com um aperto de mão firme, rápido, mas com aquele olhar de leitura silenciosa entre dois homens que reconhecem um no outro um certo… território.

Rafael foi direto:

— Então você é o famoso Lucas — Disse com convicção, como se não tivesse escutado falar dele a meio segundo atrás.

— Famoso? — Lucas arqueou uma sobrancelha, divertido.

— Digamos que já ouvi umas histórias — continuou.

Lucas riu, sem se abalar:

— Bom, espero que as boas tenham sido verdadeiras. As ruins, talvez só 70% verdade.

Eu ri junto. O clima entre eles parecia amistoso, mas com um fundo que eu não sabia se era curiosidade ou competição velada.

Rafael estava solto, mais do que nunca. Ele ficava o tempo todo olhando o celular. Depois de mais uma taça de vinho, ele não economizou no charme e no bom humor.

— Você devia vir mais vezes — Elisa comentou, rindo de alguma piada dele.

— É só me convidar — ele respondeu, mas olhou direto para Lucas, com aquele sorrisinho que dizia mais do que qualquer convite.

Lucas sustentou o olhar, levantou a taça, como se brindasse, e respondeu com um meio sorriso, o tipo de expressão que pode ser lida como: “Se você quer brincar, eu também sei jogar.”

Rafael não recuou. Pelo contrário.

— Então, Lucas... é com “c” ou com “k”? — ele perguntou, se aproximando com aquele ar despreocupado que fazia qualquer frase soar como piada e cantada ao mesmo tempo.

— Com “c”. Mas quem sabe com “k” fique mais... exótico — respondeu Lucas, entrando no jogo sem nem piscar.

— Exótico eu já achei — disse Rafael, encarando descaradamente o rosto dele. — Tô só confirmando a grafia pra saber como salvar seu nome no celular depois.

Elisa tossiu um pouco, rindo. Eu só balancei a cabeça, enfiando a cara no copo pra esconder a expressão entre o riso e a incredulidade.

— Você sempre flerta assim? — Lucas perguntou, arqueando a sobrancelha.

— Não. Normalmente sou mais direto. Mas contigo eu tô me contendo — respondeu Rafael, piscando.

Lucas riu, dessa vez de verdade. A tensão suave entre os dois era quase palpável. Uma corda bamba entre a provocação e o convite.

— Bom saber. Então vou me preparar caso você pare de se conter — disse Lucas, antes de dar um gole no vinho.

Rafael encostou na parede, de braços cruzados, olhando pro Lucas como se estivesse avaliando uma obra de arte.

— Faz isso. Mas, sinceramente? Acho que você já tá pronto faz tempo.

A sala inteira pareceu ficar mais quente — e nem era por causa do vinho. Elisa me cutucou de leve e cochichou:

— Eu shippo. E muito.

Revirei os olhos, sorrindo. Lucas e Rafael. Quem diria.

Antes que a troca ficasse mais intensa, Rafael se virou pra mim e piscou.

— Ah, quase esqueci… aquele pacotinho que eu trouxe não é meu único presente.

— Como assim?

— Vem cá — ele disse, apontando com a cabeça em direção à porta. — É lá fora.

Franzi a testa, desconfiado.

— Você me trouxe outro presente?

— Não eu, exatamente. Mas vai. Confia em mim.

Atravessei a sala com ele, sentindo o coração acelerar como se eu soubesse — ou talvez apenas quisesse saber — o que estava prestes a acontecer.

Rafael abriu a porta e saiu primeiro. Dei alguns passos pra fora e parei no meio do caminho.

Ele estava lá.

Francisco.

De pé, encostado em um carro que eu nunca tinha visto antes. Um Hatch preto, brilhando sob a luz da entrada, como se tivesse acabado de sair da concessionária. Mas eu mal vi o carro. Ele era o que me chamou atenção.

Cabelo arrumado, camisa azul escura de botão, calça jeans que moldava o corpo forte. Lindo. Sério. E, pela primeira vez, com aquele olhar entregue. Sem máscara, sem pose de peão bravo. Só ele, como ele era pra mim.

— Feliz aniversário, meu amor — disse, com a voz baixa, mas firme. — Eu queria fazer uma surpresa. E agora eu tô aqui. Corpo, alma e tudo que você quiser de mim.

Fiquei sem palavras. Por um instante, tudo ao redor desapareceu. As vozes da festa, os passos no interior da casa, o som distante da cidade. Só ele, ali. Me olhando com um brilho nos olhos que eu não via há tempos.

Me aproximei devagar. Queria guardar cada passo, cada respiração. Quando cheguei perto o suficiente, não disse nada. Apenas o abracei.

Ele me envolveu com força, como se tivesse esperado esse toque por dias. Talvez tivesse mesmo.

E então nos beijamos.

Um beijo quente, calmo, cheio de verdades. Um beijo que dizia: “agora vai.”

__ Tem capítulos atualizados no wattpad todos os dias e história nova chegando. Vem conferir @ViictorCorrea

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Comentários

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MEU VC REALMENTE É UMA PUTA DESCARADA, QUER FRANCISCO, QUER LUCAS, QUER TODO MUNDO. IMAGINE O QUANTO É DIFÍCIL PRO FRANCISCO SE ACEITAR. MAS VC SÓ PENSA NO SEU UMBIGO. SE EU FOSSE FRANCISCO DAVA UM PÉ NA SUA BUNDA. E ESSE LUCAS EMPATA FODA. CLARO QUE FRANCISCO TEM QUE SENTIR CIÚMES. SE LIGA CARA. DEIXA DE SER BABACA.

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Você é demais cara! Sou seu fã 😉

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como te achar no wattpad? procurei ViictorCorrea e não achei

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Oi Xandão. Coloca o @ junto ao nome de usuário que logo aparece a história e o perfil.

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