O apartamento estava silencioso quando retornaram. A primeira ordem de Dantas foi direta:
— Não abra a porta para ninguém. Se alguém chamar, ignore. — sua voz firme não deixava espaço para dúvidas.
Elijah apenas assentiu, com os olhos grandes, obediente como sempre.
— Agora… vá tomar um banho e depois descanse.
Elijah foi para o quarto, enquanto Dantas se dirigiu ao banheiro da suíte. A água quente escorria por seus ombros largos, e por alguns instantes ele se permitiu relaxar. Estar em campo exigia manter-se constantemente alerta, mas naquele apartamento… havia uma distração que lhe rondava os pensamentos: Elijah.
Quando saiu do banho, por puro hábito e desatenção de quem sempre viveu sozinho, enrolou a toalha na cintura e seguiu em direção à sala.
Elijah, que ainda não tinha ido deitar, estava na cozinha improvisando um sanduíche. A cena era quase banal: o garoto magro, de moletom largo, mexendo nervosamente no pão e no queijo. Mas ao levantar os olhos e ver Dantas atravessando a sala apenas de toalha, congelou.
— A-ah… — deixou escapar, quase derrubando o prato.
Dantas parou, os cabelos ainda molhados pingando gotas pelo peitoral definido, músculos delineados pela luz suave da sala. Ele ergueu a sobrancelha, notando a reação do garoto.
— O que foi? — perguntou, em tom sério, mas com um brilho quase irônico nos olhos.
Elijah corou de imediato, os olhos azuis desviando rápido, mas sem conseguir evitar que voltassem a deslizar pelo corpo de Dantas. O coração acelerava e uma estranha pressão crescia em seu peito, descendo pelo ventre.
Ele não entendia. Nunca havia sentido aquilo. Mas estava claro: ver Dantas assim o deixava excitado.
— N-nada… eu só… — a voz falhou, e Elijah se atrapalhou ao cortar o pão, deixando escapar uma risada nervosa. — Eu pensei que… que você tinha ido dormir.
Dantas se aproximou lentamente, um predador estudando sua presa, cada passo firme ecoando no silêncio. O sorriso malicioso em seus lábios não deixava dúvidas de que ele havia percebido a inocência perturbada de Elijah.
— Está vermelho, garoto… — disse em voz baixa, inclinando-se para pegar um copo sobre o balcão, mas deixando o corpo próximo o bastante para que Elijah sentisse o calor dele. — Não está com febre, está?
O tom provocativo, quase cruel, fez Elijah prender a respiração. Seus dedos tremiam, e ele não sabia se queria fugir dali ou se afundar ainda mais na presença daquele homem que o confundia por completo.
Dantas ergueu o copo à boca, sem tirar os olhos do garoto, e completou:
— Vá dormir, Elijah. Antes que acabe se metendo em mais problemas do que pode aguentar.
Elijah ficou paralisado, corado até as orelhas, sem conseguir esconder a excitação que o dominava. Aquilo era um jogo, ele percebia, mas ainda não entendia as regras.
Elijah, ainda ruborizado, desviou os olhos e tentou se recompor. Com o prato mal montado entre as mãos, deu um passo para trás como se a proximidade de Dantas fosse perigosa demais.
— E-eu já ia dormir… — murmurou, quase engasgando nas próprias palavras.
Dantas, recostado no balcão apenas de toalha, o observava como quem disfarçava um sorriso maldoso. Havia algo de perverso no modo como ele percebia cada reação do garoto: os olhos azuis semicerrados, as mãos trêmulas, a respiração descompassada. Ele sabia exatamente o que aquilo significava.
— Vá, então. — respondeu com firmeza, sem retirar a intensidade do olhar. — Não quero te ver vagando pela casa no meio da noite.
Elijah apenas assentiu rapidamente, quase tropeçando nos próprios pés ao se afastar. O prato com o sanduíche foi deixado sobre a mesa como se tivesse perdido totalmente o apetite.
Antes de desaparecer pelo corredor, lançou um último olhar para Dantas. Um olhar rápido, tímido, mas carregado daquela mistura confusa de medo, curiosidade e algo novo, incontrolável, que o deixava ainda mais aflito.
Dantas acompanhou o garoto com os olhos até vê-lo entrar no quarto e fechar a porta. Então, soltou o ar que nem percebera estar prendendo.
Passou a mão pelo rosto e depois pela nuca, ainda úmida, e deixou-se cair no sofá.
Droga.
O disfarce exigia autocontrole, foco absoluto. Mas aquela inocência misturada com desejo involuntário de Elijah o estava corroendo por dentro. O garoto era uma vítima, e Dantas sabia disso. Cada hematoma, cada gesto submisso era uma lembrança de tudo o que ele precisava proteger.
Ainda assim, não podia negar: Elijah o atraía. De uma forma intensa, proibida, que o fazia lutar contra si mesmo.
Encostou-se melhor no sofá, fechando os olhos por um instante. O corpo reagia à lembrança da pele molhada, do rubor no rosto do garoto, da forma como ele quase derreteu sob seu olhar.
Mas ele não podia ceder. Não agora. Talvez não nunca.
Para se recompor, levantou-se e foi direto para o computador. Precisava revisar os relatórios da noite, organizar as informações da negociação com Jonas. Trabalho. Foco. Isso era o que o manteria no controle.
Enquanto isso, do outro lado da porta fechada, Elijah se encolhia na cama, abraçado ao travesseiro. O coração ainda martelava, e sua mente ingênua não conseguia explicar o que sentira. Só sabia que estava confuso… e excitado.
E que, de algum modo, a simples presença de Dantas era capaz de despertar nele algo que nunca havia experimentado.
Elijah rolava de um lado para o outro na cama, sem conseguir dormir. O corpo ainda lembrava do calor que sentiu ao ver Dantas quase nu, a toalha marcando o físico dele, a pele ainda úmida… e isso o fazia apertar os lençóis com força, como se assim pudesse controlar o que sentia.
Mas quanto mais tentava esquecer, mais seu coração disparava.
Do outro lado, na sala, Dantas ainda estava diante do computador, revisando cada detalhe do relatório sobre Jonas. Mas a mente… não estava totalmente ali. Em meio a cifras e nomes de contatos, a lembrança dos olhos azuis de Elijah o perseguia. Aquela pureza, misturada a uma chama involuntária, o estava enlouquecendo.
Quando se levantou para pegar um café, ouviu um estalo baixo vindo do corredor.
— Elijah? — chamou, a voz firme, mas sem levantar o tom.
Nenhuma resposta.
Dantas avançou em silêncio, pés pesados contra o piso frio, até parar diante da porta entreaberta do quarto. E então o viu.
Elijah estava sentado na beira da cama, abraçado aos joelhos, o rosto escondido, respirando fundo. Era claro que ele estava em conflito.
— Eu… não consigo dormir — confessou, sem levantar a cabeça.
Dantas apoiou-se no batente da porta, observando. Uma parte dele queria simplesmente ordenar que o garoto voltasse a deitar e se calasse. Mas outra parte, mais perigosa, queria entrar, sentar-se ao lado dele e descobrir o que se passava naquela mente confusa.
Ele se aproximou devagar, sentando-se na beira da cama. O colchão afundou levemente, fazendo Elijah levantar o olhar em surpresa. Seus olhos se encontraram, e por alguns segundos nenhum dos dois conseguiu dizer nada.
— Isso é normal — disse Dantas por fim, a voz grave e lenta. — Depois do que você passou… é claro que não consegue descansar.
Elijah mordeu o lábio inferior, nervoso. — Mas não é só isso… — deixou escapar, baixinho, quase se arrependendo no mesmo instante.
Dantas arqueou uma sobrancelha, inclinando-se um pouco, a sombra de um sorriso perigoso surgindo. — Não é? — perguntou, a voz carregada de uma malícia contida.
O rosto de Elijah corou imediatamente. Ele desviou o olhar, encolhendo-se como se quisesse desaparecer.
Dantas, vendo isso, passou a mão devagar pelo ombro dele, firme mas não agressivo, deixando claro que controlava a situação. — Você é inocente demais… — murmurou, quase para si mesmo, antes de se levantar de repente.
— Tente dormir. — disse de forma autoritária, voltando a ser o homem frio e implacável que Elijah conhecia. — Amanhã vai ser um dia longo.
E saiu do quarto, deixando Elijah com o coração disparado, o rosto em chamas e a mente ainda mais confusa do que antes.
Na sala, Dantas fechou os olhos por um instante, apertando a toalha contra o corpo. Ele mesmo já estava no limite.
Se continuasse assim, não saberia quanto tempo mais conseguiria se controlar.
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