AHHHHHH. QUE DIA DE MERDA.
Estou cansada, nervosa e irritada. Meu dia foi uma bosta. Não pior que uma bosta, foi o final perfeito para uma semana horrorosa, e o início de um fim de semana que vai ser pior ainda.
Tudo deu errado, o trabalho foi monumentalmente chato - fazendo e refazendo meu trabalho de conclusão. Meu chefe foi escroto o tempo todo, não me dando tempo nem para tomar um café entre pacientes babacas e só a ideia de que o fim de semana estava chegando já fazia com que minha janta – que comi fria, porque o micro-ondas do hospital quebrou - se rebelasse no estomago
É aniversário da minha vó e vou ter que ir para casa da minha família neste fim de semana. E vou ter que apresentar meu noivo para a família toda.... pois é aparentemente não dá para deixar para a sua família - por pior que ela seja- conheça o amor da sua vida no dia do casamento. Bem até dá, e eu bem que tentei, mas Felipe se recusou. O velhote tem a ideia de que tem que pedir minha mão a meu pai..... mesmo que a mão seja minha, o corpo seja meu, e a opinião daquele povo não signifique muito para mim – pelo menos eu tento me enganar pensando assim.
Se ele estivesse comigo esta semana, aposto que meu humor estaria melhor, ele sempre faz com que meus dias melhores, mas ele teve uma viagem á trabalho e eu não podia acompanhar. Agora estou aqui, sozinha e pensando merda a noite toda – todas as noites. Pelo menos ele chega amanhã de manhã, um pouco antes de termos que sair e pegar a estrada.
Me deito e começo a rolar na cama. Não tenho nada para me distrair hoje.. minha mala e a de Felipe já estão prontas e no carro, que já abasteci com gasolina e snaks saudáveis, e nem tão saudáveis assim, na tv não tem nada de útil, ou inútil passando, e até os guarda-roupas estão arrumados – graças a crise existencial de terça feira.
Penso em me masturbar, colocar a mão lá embaixo e tentar imaginar que é Felipe que me alisa, ou pegar um dos n vibradores que temos. Isso me anima um pouco e pego meu telefona para obter sua autorização.
" Senhor, boa noite. Posso me masturbar?" - enter - "Estou uma pilha de nervos e preciso de alivio, preciso gozar" - envio para ele, e nada de obter resposta..... "Senhor?" - "Por favor, não aguento mais" - e nada. “Senhor por favor me responda. Pode dizer que não, mas não me ignore”
Desde que ele saiu, há 10 dias, eu estou na seca. Engraçado imaginar que antes de o encontrar estava há 6 messes solteira e sozinha, e nunca tinha nem passado pela minha cabeça me dar prazer. Foi sob sua atenta supervisão que eu me tornei uma ninfomaníaca, rs, eu já até tive outros "senhores", mas nenhum chegou nem perto de me atiçar e enfeitiçar feito Felipe. Eram relações BDSM mornas, eu gostava de uma algema, um spanking, no máximo andar de 4 por aí, mas nunca atingi o nível de prazer e entrega que tive com meu SENHOR.
“Senhor, preciso para dormir, não aguento mais, me deixe gozar e relaxar”
“Senhor, não faça isso, não me abandone”
Espero alguns minutos, enquanto rearrumo os travesseiros na cama, garantindo que cada um esteja perfeitamente alinhado e fofinho. Checo novamente meu celular, esperando ver sua resposta e nada. Fico um pouco preocupada, não é típico de Felipe me deixar no vácuo.
Tento ligar, e vai direto para a caixa postal. Ele desligou o telefone? Por quê? oque está fazendo que é tão secreto que ele não pode deixar seu celular ligado? Ele nunca desliga o celular, nem quando está com outras mulheres.... será que está com outra?
"Felipe, estou preocupada amor, me responde"
"Fe?"
"É isso mesmo?"
Me levanto e vou tomar um chá, agora cansada, nervosa, irritada e preocupada.
Será que ele encontrou uma mulher melhor que eu? E agora está aproveitando a vida com ela tão intensamente que não quer ser incomodado? Mesmo quando estamos juntos, em cena ou em qualquer situação, seu celular fica ligada. Será que ela é melhor que eu? Mais importante que eu?
Vou deitar, com a cabeça a milhão e só consigo encontrar meu sono após tomar 2 comprimidos de melatonina e me cobrir com seu moletom
Acordo com um beijo na testa
- Cheguei amor – diz ele se aproximando dos meus lábios
Viro o rosto, e o olho brava, meio bêbada de sono. A única coisa que me vem é o sentimento de traição, minha cabeça gira, agora com certeza que ele estava com outra, sem me avisar.
- Qual o nome da vadia?
- Que?
- Qual o nome da vadia que você estava, que não me atendeu.
Ele me olha atravessado, surpreso pelo ataque repentino
- Que vadia Juliana?
- A que foi tão boa que você desligou seu telefone para fuder com calma e privacidade.
Ele pega o celular do bolso, e aperta o botão. Eu ouço o bip familiar e vejo a tela iluminando seu rosto com tons azulados. Ele passa os olhos na tela por alguns segundo e volta a me olhar
- Eu desliguei no voo, e esqueci de ligar.
- Conveniente.
- Juliana! – fala meio exacerbado
- Você não estava com outra? – pergunto com a voz tremida, e percebo que estou chorando. Desde quando? Quando acordei? Ou já estava assim em meu sono agitado e cheios de pesadelo, onde era abandonada de novo e de novo, vendo Felipe com diversas mulheres, me vendo sozinha em cada momento da minha vida?
- Não amor, não tava com ninguém, eu estava em um voo redyey Para chegar mais cedo, te surpreender, e poder dormir algumas horinhas abraçadinho com você.
- Jura?
-Eu não preciso jurar Juliana, você confia em mim, eu sei que confia. Então vai acatar a minha palavra agora e me dar um beijo direito
Ele se abaixa e me dá um beijo avassalador, que me acorda no instante e faz com que todas as minhas preocupações se distanciem por um momento.
Ele se afasta e afaga meu rosto com carinho.
- Boa puta. Agora se levanta e vai lavar este rosto, as únicas lagrimas que eu gosto em você são as causadas por mim.
(FELIPE)
Estou esperando a Juliana voltar do banheiro e pensando sobre qual foi o gatilho que causou este desespero todo nela, e o que eu posso fazer para ajudá-la. Ultimamente venho pensando mais e mais no fato de que seu bem-estar é tudo que me importa.....
Ser uma submissa/escrava – nós ainda não conseguimos determinar o que melhor se enquadra na nossa relação- coloca uma pressão grande nela – e em mim. Se antes eu tinha a mim mesmo como maior preocupação, agora tenho ela – sim, me preocupo mais com ela do que comigo mesmo. Eu me preocupo com sua saúde, com seu cansaço, se ela se alimentou direito, se está com frio ou calor, se bebeu água – que ela nunca bebe o suficiente-, e principalmente se ela está feliz, e bem psicologicamente.
Ela confia em mim para tudo, para a ter e para a cuidar. Ela se entrega a cada dia e a cada momento. Sabe, ou deveria saber, que quando está comigo sua cabeça pode ficar nula, sem pensamentos ou preocupações, que eu vou cuidar de absolutamente tudo.
Sei que isso é algo difícil, que é algo único, que eu devo me agarrar a sua confiança e a honrar a cada segundo. Eu me deleito no cuidado com ela. Meu melhor momento é ao seu lado, vendo o quanto ela se desprende e se entrega para mim.
Esta não foi a primeira vez que ela teve um ataque de ansiedade enquanto nos relacionamos – sim pelo seu estado quando cheguei, chorando em seu sono, sei que teve um mais cedo, e que estava em agonia – e saber que eu não estava com ela me traz agonia. Mas foi o primeiro que eu não sei a razão, e acho que nem ela sabe. Me quebro, pois sei que parte dele foi minha culpa, mesmo que sem intenção. Eu sabia que ela se preocuparia que eu desliguei meu telefone – ela sempre teve problemas com abandono, que pioraram quando um ex babaca, seu “antigo dono”, deu um gosting nela -, mas não imaginei que chegaria a tanto o seu desespero.
Eu movi meu vôo pensando em chegar mais cedo e conseguir dormir umas horinhas abraçado a ela, aproveitando sua surpresa, sentindo sua respiração acalentar meu corpo. Nestes dias que estive longe não consegui dormir direito, o seu calor faltava na cama de uma forma que eu estava sempre frio, não importando quantos cobertores eu colocava em mim. Mas agora estou pensando que foi um grande erro meu.
E não foi o único, porque se ela acha que eu sou capaz de ficar com alguém sem ela saber, que sou capaz de a trair e magoar, eu falhei. Falhei em lhe passar confiança. Se for honesto, desde que fiquei com ela pela primeira vez, soube que ela tinha me estragado para qualquer outra mulher. Me encontrei apenas com 2 outras subs neste tempo, 1 para acabar a relação on/off que tínhamos, e outra como um favor para um amigo dominador, que queria uma sessão dupla – que eu não aproveitei nada, para falar a verdade.
Já pensei em trocar nosso combinado, nos transformar em monogâmicos, mas algo me impede, um pensamento que eu não consigo ordenar propriamente. Hora eu penso que estaria perdendo parte do meu poder, que estaria e “enfraquecendo”, hora penso que se no futuro eu quiser fazer algo diferente, a confusão seria maior. Hora que Juliana precisa disso, que a mantém em um estado eterno de subserviência e que isso faz muito bem a ela, e hora nem sei direito o que penso.
Ouço seus passos leves saindo do banheiro, e vejo-a parada na parede me olhando com olhos cansados. Como de quem também passou os últimos dias sem dormir direito.
A dúvida do que fazer me atinge como uma bala. O que é melhor para aplacar os sentimentos ruins dentro dela? É minha responsabilidade fazer com que estes olhos voltem a brilhar. Não sei se devo me sentar e conversar com ela, ou a empurrar para um subespaço tão fundo que faça com que toda a preocupação que vejo em sua alma suma, e reste apenas ela.
O que vocês acham que aconteceu? Qual a decisão que Felipe tomou?
Estão torcendo pelo que?
