A APOSTA - CAPÍTULO 3

Da série A APOSTA
Um conto erótico de Rô Ardent
Categoria: Gay
Contém 2113 palavras
Data: 18/07/2025 18:25:49
Assuntos: Gay, Romance, Primo

Olhei para a cara de ambos. Não disseram nada.

— Me dá a chave! — disse a Anderson, que prontamente me entregou.

Completei com a frase:

— Esse cabeção é doido. Se falamos que a mina foi embora sozinha agora há pouco, é porque foi.

Segui e entrei no carro.

Não sei se consegui agir naturalmente, como meu primo havia pedido, mas estava preocupado com o que estava acontecendo lá fora.

Anderson e Cabeção estavam com a cara de poucos amigos. Eles não gritavam, mas claramente estavam discutindo. Anderson falava com uma expressão de raiva — era nítido. Cabeção, por ora, ria, olhava e apontava o dedo na minha direção... Até que, por volta de uns dez minutos (imagino eu), Anderson deu as costas. Ao se aproximar do carro, apenas ouvi ele dizer:

— Vai se fuder!

Entrou, bateu a porta com força e arrancou com o carro de uma maneira que preferi não me manifestar.

Ele dirigia balançando a cabeça negativamente:

Anderson: Filho da puta! Por que aquele peste apareceu? Caralho! Renato, o combinado era ele aparecer mais tarde, quando não tivesse ninguém lá na parada.

Não é nada com você, mas aquele desgraçado não ficou convencido. Ele sabe que é uma mentira. Agora não sei o que fazer, o que falar...

Eu: Calma, deve haver um jeito...

Anderson: Calma? Ele vai me zoar o resto da vida, isso se ele não falar pra geral! Olha, vou te deixar em casa. Não dá pra você dormir lá na minha, porque tô com a cabeça a mil. Qualquer coisa, fala que passei mal.

Assim ele fez. Me deixou em casa. Nem foi preciso dizer nada, porque geral estava dormindo.

Tomei banho e tentei dormir... Mas o sono não vinha. Eu estava preocupado com o Anderson. Fiquei imaginando como estava a mente dele.

O cara relutou com a aposta, me rejeitou dizendo que não era viado e, quando me beijou, me bateu na cara.

Ele estava desesperado — e com razão — porque tudo aquilo que ele não queria que acontecesse estava acontecendo.

Acordei... Já era meio-dia! Nem lembro a hora que fui dormir.

Tomei meu banho, escovei os dentes, peguei o telefone e liguei pra casa da minha tia.

Chamou, chamou... Até que alguém atendeu. Era a Amanda.

Perguntei como ela estava. Ela respondeu dizendo que estava tudo bem. Daí, pra não estender, perguntei por Anderson e pedi pra chamá-lo.

Ela levou o telefone até o quarto dele e bateu na porta:

Fala cara!

— E aí, como você está?

— Tô na mesma. Acho melhor eu dar uma sumida... Você também, se é que me entende. Tô preocupado real.

Mas, Anderson, somos primos! Não tem nada demais nos vermos.

O que a gente fez é normal dois primos fazerem? Responde-me?!

Não.

Anderson desligou o telefone na minha cara.

Fiquei chateado com toda essa situação, mas resolvi respeitar a decisão dele. Ele tinha os motivos dele pra isso. E, consequentemente, a raiva que eu sentia do Cabeção — mesmo sem conhecê-lo direito — só aumentava.

Semanas se passaram. 09 de setembro.

Todo mundo lá em casa estava se arrumando para o aniversário do Anderson. Ia rolar churrasco, parte da família ia, a galera da capoeira, e outros amigos dele também.

Resolvi não ir.

Inventei que não estava legal e pedi que dessem um "feliz aniversário" e um abraço por mim.

Meu coração ficou pequenininho, mas era necessário. Afinal, eu só estava fazendo o que ele havia me pedido: dar uma sumida.

Quando minha família voltou pra casa, meu irmão disse que Anderson ficou chateado com a minha ausência, perguntando até por que eu não fui.

Minha mãe comentou que minha tia reclamou horrores na cabeça dela.

Reforcei a ideia de que eu estava passando mal e perguntei se a festa tinha sido boa.

Sim — eles responderam.

Pedi licença e fui para o meu quarto.

No fundo, fiquei feliz pra caramba. Afinal, ele notou minha ausência. Ele sentiu minha falta.

No dia seguinte, estávamos na sala assistindo TV quando o telefone tocou. Minha mãe atendeu e disse:

É o Anderson. Quer falar com você!

Fiz sinal de "não" com a cabeça. Ela entendeu e respondeu pra ele:

— Ah, o irmão dele disse que ele tinha saído. Ela desligou o telefone meio sem graça.

Todos me olharam com reprovação.

— O cara só queria saber por que você não foi no aniversário. E isso ele — e vocês — já sabem.

Ninguém disse mais nada.

Meses se passaram... Natal chegou!

Todo ano a gente alugava um sítio com piscina, campo de futebol, e ficávamos por três dias: 23,24 e 25.

Amigos também eram permitidos, desde que ajudassem na vaquinha das comidas e bebidas.

A distribuição dos quartos era simples:

Os pais dormiam nos quartos principais, os meninos num varandão enorme, e as meninas na sala de jogos.

Chegamos!

O sítio era o mesmo de sempre, mas a cada ano parecia mais lindo ainda.

Meu irmão mal chegou, colocou o short de banho e pulou direto na piscina. Chamou-me, mas eu disse que ainda estava cedo.

Peguei um livro que havia começado a ler e, ao passar por minha prima Amanda e o namorado dela, cumprimentei os dois com um aceno.

Sentei em um banco ali perto e comecei a leitura.

Passou algum tempo... e percebi que uma sombra cobria as páginas do livro. Levantei os olhos pra ver quem era...

Anderson: Ué, você tá vivo? Nunca mais te vi.

Eu: Pois é... Eu precisei sumir. Você também, se é que me entende.

Anderson: A ponto de não ir ao meu aniversário, cara? De não atender meus telefonemas?

Eu: Apenas fiz o que você pediu. E, de verdade, eu entendi e respeitei isso. Agora... Vamos mudar de assunto?

Anderson: Pensei que você também não viria passar o Natal com a gente, mas perguntei pro seu irmão e ele confirmou que você viria.

Enquanto conversávamos, notei que mais gente da família chegava — e alguns desconhecidos, que imaginei serem amigos convidados.

Anderson: Mas e aí, você tá bem? Tá namorando?

Eu: Sim, tô bem. Quanto a estar namorando... Nem vou te responder, porque você sabe a resposta.

Ele sorriu e respondeu:

Anderson: Ué! Vai que, nesse seu sumiço, você tenha encontrado alguém? Acontece! Eu: Não! Não acontece, Anderson. Eu não sou assim.

Anderson: Preciso te falar uma coisa...

Antes que ele pudesse continuar, um tio meu — de Resende, RJ — surgiu do nada e se juntou à gente, mudando totalmente o rumo da conversa.

Tio Júlio: E aí, rapazes? E as namoradinhas?

Olhei pro Anderson, que olhou pra mim.

Anderson: Tô namorando não, tio. Pego umas minas por aí... O Renato sabe da minha fama com a galera. Né, Renato?

Eu: Pega nem vento... Zueira, tio! Ele realmente tem essa fama de pegador. Fama tem. Se ele pega, é outra história.

Meu tio riu.

Anderson: Renato também... Esse aí é come-quieto. A última vez que saímos ele estava com uma mina da hora.

Meu tio emendou contando que, quando era novo, pegava as meninas do bairro — e mais um monte de baboseira. Depois disse que mais tarde a gente batia um papo e saiu em direção à galera que estava bebendo.

Mal ele saiu meu irmão — de dentro da piscina — começou a chamar o Anderson pra entrar na água.

Anderson: Calma, pô! Tô conversando com o vacilão do seu irmão aqui. Eu: Vai lá. Outra hora a gente se fala.

Anderson saiu... Mas voltou de sunga!

Tinha até esquecido de como aquele cara era gostoso.

Ele estava com uma sunga branca. Por alguns minutos, esqueci que estávamos em família e fixei meu olhar naquele corpo — acompanhando cada movimento dele até a piscina.

E, claro! Ele olhou pra mim, sorriu... e entrou na água. Até me animei a entrar também.

Fui até o varandão onde estavam minhas coisas.

Vesti minha sunga vermelha, peguei meus óculos de sol...

Enquanto passava protetor solar, meu tio Josival (pai do Anderson) apareceu e me pediu:

Tio Josival: Renato dá uma força pro Manuel se ajeitar ali na varanda. Ele é amigo do Anderson.

Quando me virei para ajudar o Manuel com as coisas, disse:

Cabeção?! Cabeção: Você...

Tio Josival: Ah, que bom que vocês se conhecem! Manuel, seja bem-vindo. Ajuda ele aí, Renato. O cara é gente boa.

Eu: Sei... Meu tio se foi.

Cabeção: Você não é o...

Interrompi, completando:

Primo do Anderson.

Eu: O que você tá fazendo aqui? Cabeção: Fui convidado.

Eu: Duvido que o Anderson tenha feito isso... Não depois daquele dia em que você pensou que ele tinha me comido.

Cabeção: Não fui convidado por ele, mas pelos seus tios. No dia do aniversário do Anderson. Nesse momento, Anderson chegou onde eu e Cabeção estávamos. Ele me viu de sunga.

Anderson: Cabeção, já se alojou? O que tá falando com ele? Cabeção: Calma! Seu primo está me ajudando.

Eu: Você sabia que ele viria, Anderson?

Anderson: Tentei te avisar agora há pouco, mas o tio Júlio apareceu... Eu: Devia ter dito mesmo assim.

Cabeção: Por que você não disse que ele era seu primo, aquele dia?

Anderson: Não ia adiantar nada. Você já chegou falando, perguntando da mina, e me acusando de ter feito aquilo.

Eu: Agora me responde... Ia mudar alguma coisa se o Anderson te dissesse que eu era primo dele?

Cabeção: Vocês acham que eu sou bobo? Acham que eu sou burro? Eu: Viu...

Cabeção: Qual o seu nome mesmo, primo? Anderson: O nome dele é Renato! Por quê?

Cabeção: Sabe por que eu sei que você deu pro seu primo, Renato? Disse ele, olhando pra mim.

Eu: Lá vem ele com a imaginação dele...

Cabeção se descontrolou depois da minha fala. Jogou um colchão qualquer no chão, sentou e mandou a gente sentar também, dizendo que não ia ser taxado de doido, não.

Cabeção: Vocês vão ficar nesse papo, nessa historinha mesmo? Anderson já não se manifestava.

E, ao olhá-lo, vi aquela mesma cara de desespero que ele fez no dia em que entrou no carro — depois que Cabeção nos acusou.

Cabeção: Resolveram ficar mudos agora, porra? Diante do silêncio de Anderson, resolvi me manifestar.

Eu: Já falamos o que aconteceu, Cabeção! A mina foi embora antes. Ela tinha combinado com alguém de buscá-la em outro lugar, pra não ficar tão óbvio.

Cabeção: Mentira! Eu: Mentira por quê?

Cabeção: Sabe por que é mentira? Porque eu cheguei lá muito antes de vocês saírem e não vi nenhuma mina saindo.

E antes que você diga que eu estava te espionando, Anderson, já adianto: não estava. O que rolou foi que eu bati boca com meu pai por ele ter emprestado a chave da casa pra você foder sem falar comigo. Ele disse que você deveria ter perguntado primeiro, porque ele não sabia se ia precisar da casa ou não.

Então me mandou buscar a chave. E como eu sabia que você estava lá "se divertindo", resolvi esperar. Cheguei cedo pra caralho, vi o carro do seu pai lá e estacionei o meu numa vaga perto

mas não tão perto — pra não parecer estranho se a mina saísse contigo. Cabeção (continua): E não vi porra de mina nenhuma saindo.

Anderson: Por favor... Esquece essa história, Cabeção! O cara é meu primo. Estamos em família. Vamos aproveitar o sítio, mas esquece disso, pelo amor de Deus!

Eu já não tinha mais argumentos. E Cabeção não parava.

Cabeção: Só vi vocês dois saindo. Quando foram embora, entrei na casa. Fui ao banheiro e vi a camisinha amarrada no lixo. Isso só reforçou a minha ideia de que alguém ali estava dando o cu.

Mas eu quero ouvir a verdade.

Porque até agora, quem tá sendo o louco e o mentiroso aqui sou eu!

Olhei para o Anderson. Ele ainda estava apavorado, paralisado. Abaixei a cabeça — não queria encarar aquele olhar perdido.

Cabeção: Eu podia ter contado pra alguém, Anderson! E você sabe... Com a fama que você tem com as mulheres, aquilo teria acabado na hora.

Mas, cara, em nome da nossa amizade, eu deixei passar. Nem toquei no assunto. Tanto que fui à tua festa, de boa.

Se eu quisesse te ferrar, já tinha feito isso.

Só não sabia que o cara que estava com você era o seu primo. Agora ele tá aqui...

Silêncio.

Eu só olhava para o chão. Não queria ver o Anderson daquele jeito. Cabeção: Última vez que eu peço...

Quero a verdade!

Ouvi um suspiro pesado. Anderson: É isso mesmo.

A verdade é que... Naquele dia, eu comi ele.

Levantei a cabeça, chocado, encarando Anderson.

Ele negava com a cabeça, em desespero. Como se dissesse: "não era pra eu ter dito isso."

Cabeção: Renato, né?

Renato, você pode dar licença? Quero conversar com ele a sós. Eu: Mas...

Anderson (explodindo): Vai, porra! Não piora a situação!

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