Se aproximava o mês de junho e nossas vidas ainda carregavam as incertezas que o vírus insistia em trazer. Milena e Kaique, apesar de toda a criatividade, estavam reclamando bastante de ficar dentro de casa. Júlia, por outro lado, parecia determinada a transformar cada canto do nosso lar. Quase todos os dias surgia com uma ideia nova. Quando eu chegava do hospital e a encontrava com uma trena na mão, já sabia que em breve eu estaria subindo em uma escada, pendurando quadros, mudando móveis de lugar ou até pintando mais um cômodo.
Com as queixas dos nossos filhos aumentando, Júlia decidiu montar um verdadeiro cronograma de brincadeiras para fazermos juntos. Tinha cabanas de lençóis na sala, piqueniques no quintal, noites de cinema no quarto deles, contação de histórias com lanternas e muito improviso, partidas de imagem e ação, rodadas intermináveis de Quem Sou Eu? De acordo com meus horários, fazíamos o possível para driblar ao menos parte do tédio. Ainda assim, era impossível não perceber o quanto eles sentiam falta da escola, dos amigos, das idas ao parquinho, das tardes na praia, do jiu-jítsu, do futebol… Da vida que estavam acostumados a levar!
E, em um desses dias, quando conversávamos em um piquenique, Kaique de repente ficou se encarando na câmera.
— Quero cortar o cabelo. — Ele disse, enfático.
— Oxe, mas você ama seu cabelo grandinho. — Falei, rindo.
— Quero mudar, pode, mãe? — Kaká perguntou.
Olhei para Juh, e ela deu os ombros.
— Pode, mas tem certeza, não é? — Eu quis saber.
— Mih, você acha que fica bom? — Ele questionou.
— Vai ficar lindo, deixa tipo um topete na frente. — A irmã sugeriu.
— Tenho certeza! — Kaique confirmou, sorridente.
Na manhã seguinte, saí mais cedo para o trabalho e o levei até uma barbearia. Ele descreveu com entusiasmo como queria o corte: os lados bem curtinhos e a parte da frente mais comprida, para fazer um topete. Sentei-me ao lado enquanto o barbeiro começava o trabalho e senti o coração apertar ao ver os primeiros cachinhos caírem sobre o chão. Aos poucos, Kaique foi se transformando diante dos meus olhos. Agora ele tinha o belo rosto mais à mostra, havia sido uma ótima decisão. Quando terminou, ele estava com carinha de rapaz e um sorriso orgulhoso estampado no rosto.
No caminho de volta, Kaique me perguntou:
— Mãe, será que algum dia eu posso colocar brinco?
Dei uma risada, surpresa com a ideia.
— Eita, mas o que é isso? Mudança de visual completa agora? — Brinquei.
— Estou enjoado de tudo. — Ele disse, chacoalhando a cabeça para dar movimento ao cabelo.
— Vou conversar com a mamãe, mas acho que mais pra frente pode ser. — Respondi, achando graça daquela pressa em crescer.
A resposta bastou para ele abrir um sorriso enorme, claramente satisfeito com a possibilidade.
Deixei Kaique em casa e segui para o trabalho, sem ver a reação de Mih e Juh, que estavam no banho se preparando para a rotina. Alguns minutos depois, meu celular vibrou. Era uma mensagem da minha gatinha, com fotos de Milena toda carinhosa com o irmão, que exibia um sorriso lindo, todo orgulhoso do novo visual.
Eu estava há alguns meses com uma sensação estranha dentro de mim, porém, naquele dia, sentia uma piora significativa no meu estado. Eu estava completamente inquieta e sem saber o porquê. Era como se algo estivesse por acontecer, mas nada acontecia. Um aperto constante no peito, quase imperceptível a quem me visse de fora, mas incômodo o suficiente para me fazer controlar a respiração de tempos em tempos.
Eu só queria chegar em casa!
Iury e Lana já estavam sendo acompanhados pelos novos médicos. Eles vinham sozinhos direto para nossa casa, e de lá Juh os levava. A relação entre eles estava mais fria; a gatinha resolveu dar um tempo em suas tentativas depois daquele último episódio. Se fosse para haver uma aproximação maior, teria que partir deles.
Ela dizia que estava tudo bem, mas eu sabia que Júlia tinha tomado essa decisão por necessidade e não por vontade. Havia desejo em construir um laço mais forte, porém havia também cansaço. Apesar de terem se acertado, ela decidiu que precisava se preservar um pouco.
Achei que encontraria a casa barulhenta, mas não. Ela estava em repleto silêncio. Somente Juh sovando uma massa com toda a força que tinha.
— Amor! — Ela exclamou.
— Oi, linda... Banho e já volto para ti... — Falei, soltando um beijo, e a gatinha assentiu.
Queria entender o que havia acontecido. Júlia não tinha uma feição boa. Talvez as crianças tivessem aprontado ou seus irmãos a irritado. Era bem mais provável a segunda opção, então não demorei muito, pelo menos não o quanto eu precisava para relaxar e me acalmar.
— Sabia que você ficou uma gracinha espancando essa massa? — Brinquei, abraçando-a por trás e encaixando meu rosto em seu pescoço. — Agora me diz quem mexeu contigo. — Pedi.
— Não foi comigo... — Juh iniciou, virando-se para mim. — Pera, você tá bem? — Ela perguntou ao fitar meus olhos.
Parece que a mesma facilidade que tive para notar que algo saiu do eixo, Júlia também teve. Na verdade, isso não me surpreendeu, visto que ela tem uma sensibilidade aflorada em relação ao próximo.
— Não tá bem de novo, não é? — Juh questionou, e eu assenti.
— Queria colocar meu cérebro pra descansar igual você está fazendo com essa massa. — Disse-lhe, em um suspiro, e sentei na banqueta à sua frente.
— Aconteceu alguma coisa em específico? O que você acha que temos que fazer? — Juh me perguntou, enquanto eu repousava minha cabeça sobre o balcão.
— Nada, tudo normal... Não sei, talvez eu precise me dedicar mais. Com esse vírus aí mudando tudo, sinto que deixei muita coisa que eu deveria ter melhor atenção de lado. — Falei, e a gatinha juntou o rosto ao meu, depositando um beijo na minha testa.
— E hoje, o que rolou por aqui para a pobre daquela massa apanhar tanto? — Perguntei, fazendo-a rir.
— Eu só não estava conseguindo resolver nada, aí comecei a preparar um pão, porque pão eu sei finalizar. — Juh disse, em tom bem-humorado.
— Mas o que houve, amorzinho? — Questionei carinhosamente, acariciando aquele rostinho lindo tão próximo ao meu.
— Depois a gente fala sobre isso. É melhor você descansar um pouquinho. Quer deitar no sofá? — Ela me disse.
— Não, estou adorando olhar você desse ângulo, tão de pertinho. — Falei com um sorriso de canto. — Conta, tá tranquilo. — Garanti.
— É besteira, coisa que vai se resolver... — Júlia disse.
— Mulher, desembucha, eu sou curiosa! — Exclamei.
— Não sei quem foi, porém zoaram o corte de Kaique no chat da aula, compararam com algum bicho e, desde então, ele não tira o boné para nada. Está lá, emburrado, com um mau humor terrível, pirraçando... Nem banho quis tomar... Eu tentei de tudo, perdi a paciência e agora ele está todo fechado pra mim — Juh me falou, visivelmente triste.
— Coloca de castigo — falei, de imediato.
— Ele está fazendo isso por estar machucado, amor... — ela justificou.
— E te desobedecer ajuda em quê? Coloca de castigo, é bom que ele usa esse tempo pra reorganizar as ideias. Depois, conversamos com ele sobre a comparação que fizeram — disse-lhe.
— Você o manda tomar banho. Se ele for, a gente só conversa depois — Juh sugeriu.
— Você manda então, amor. Quando ele desobedece uma ordem sua e ainda faz pirraça, ele está indo contra sua autoridade. Se eu chego lá resolvendo o problema, ele vai entender tudo errado e você sabe disso — falei.
— É... Tá, eu tento, mas me ajude — ela disse.
— Claro! — garanti e dei um beijinho nela.
— E Iury chegou do endócrino e ainda não colocou o sensor. Chegaram hoje, o médico explicou tudo, e até agora nada... Falou que ia te esperar — Júlia me informou.
— Ué, por quê? — perguntei.
— Não sei também — ela disse.
— Eu não faço a mínima ideia de como põe. Sei que é fácil e o próprio paciente faz a aplicação, mas, fora isso, ele deve entender até mais do que eu — falei, rindo.
— Me dá agonia pensar que vai ficar um negocinho dentro de mim o tempo inteiro, ui — Júlia comentou.
— Pelo que eu sei, é bem mais prático, não incomoda e acostuma fácil. Vai ajudá-lo a acompanhar melhor — disse-lhe.
— Parece melhor do que ficar furando os dedos toda hora — Juh disse, e eu assenti.
— Vamos encarar as feras? — a chamei, e de maneira desanimada, ela levantou, me acompanhando.
A cena no quarto de Milena era ela, Lana e Iury jogando Uno, e Kaique deitado sobre o colo da irmã, o rosto enfiado na barriga dela e agarrado em um travesseiro, virado para a parede.
— Kaique, banho! — Juh falou.
— Bora, rapaz, obedece sua mãe — disse, com um tom mais sério do que o normal.
A contragosto, ele levantou-se e foi.
Falei com meus cunhados e dei um beijinho em Mih.
— Mãe, não briga com ele... Ele tá triste... — Milena pediu.
— Eu só brigaria se ele não fosse tomar banho. Estou disposta a ouvir e ajudar, assim como a mamãe fez... Mas não acho que a postura dele foi correta com ela. Você concorda? — perguntei, e ela balançou a cabeça positivamente.
— Ele foi um pouquinho grosso mesmo... Mas é porque ele tá ferido. Falaram que ele tá parecendo o Piu-Piu monstro — Milena disse.
~ Pqp, me deu uma vontade absurda de rir, porém me controlei. Comparação desgraçada... 🤣
— O que é isso? — eu quis saber.
Em uma rápida pesquisa, ela me mostrou e eu entendi. O bichinho é feio.
— Ele vai pedir desculpas, eu aposto — Mih disse, convicta.
— Eu acredito — disse-lhe.
Fui dar uma olhada no material de Iury que havia chegado e fomos, enfim, aplicar o sensor de glicose. Assim, meu cunhado poderia ter um monitoramento mais detalhado, sem tantas picadas.
Enquanto eu lia sobre, ele me olhava com expressões confusas.
— Tu não é médica? — ele questionou.
— Não de verdade — brinquei, olhando para Mih.
— Ah, mãe, eu falei brincando — ela disse de forma dramática, porém acabou rindo.
— Eu sou médica, contudo, entendo disso aqui igual entendo de futebol americano... E eu não entendo nada de futebol americano... — brinquei, e eles riram.
— Você prefere lidar com os doidinhos — Lana zoou.
— Sim, por isso estou aqui com vocês — zoei de volta.
— Ai, que ótimo... — Iury comentou, preocupado.
— Parece simples. Não vou te transformar em um alienígena... Relaxe, homi! — exclamei.
Pedi para Iury pegar um algodão em uma determinada gaveta do meu quarto e ele retornou para a cama bem estranho.
— Isso tudo é medo? — perguntei, e ele riu sem graça.
— Vem logo — Lana o chamou, segurando a mão dele.
— Ahhhhhh, que fofo — brinquei, rindo, e vi Juh rindo de canto também.
— Se você quiser colocar uma luva, eu não ligo — meu cunhado disse, em tom baixo.
— Não precisa, você sabe que não — falei, olhando em seus olhos tímidos.
Foi bem rapidinho. Um clique e lá estava. Testamos e funcionava bem. Agora todas as informações estariam no celular dele, e só usaria o ponta de dedo quando precisasse ter mais precisão.
Kaique saiu do banho, já de boné, mas suas expressões agora eram de quem tinha chorado. Ele foi direto para o colo de Juh e a abraçou.
— Desculpa... Eu fui bobo e joguei minha raiva na senhora... — Kaká disse, em tom baixo.
— Desculpo... — a gatinha respondeu e deu um beijo em seu rosto.
— Muito bem, lindo. A gente te conhece e sabia que você ia reconhecer isso. Porém, não podemos deixar de pontuar que são atitudes que a gente não quer que se repitam. Estamos aqui para te ajudar, te apoiar e te defender sempre. Você entende o que eu estou dizendo? — perguntei, e ele confirmou de leve com a cabeça.
— Meu Deus, eu não quero ser mãe nunca — Lana comentou. — Só consigo pensar que ele é só um bebezinho e não precisa falar assim — minha cunhada finalizou, esticando as mãos para que ele fosse até ela.
— É fofinho, né? Mas se não colocar limites, já era — falei, enquanto observava a carinha de coitadinho da silva de Kaká recebendo dengo.
— A gente vai descobrir quem foi, tá? — Mih disse, chegando mais próxima deles.
— Kaique, pega aquela xícara branca pra mim — pedi, apontando para a mesinha de estudos de Milena.
Ele levantou, olhou tudo e ergueu uma xícara preta.
— Só tem essa, mãe — me respondeu.
— É essa branca mesmo — disse-lhe, e ele ficou confuso.
— Mãe, é preta — Kaique tentou me corrigir, conferindo enquanto trazia.
— Na minha opinião, é branca — falei, rindo dele.
— Também acho que é branca — falou Juh, entendendo onde eu queria chegar.
— Eu tô enxergando preta!!! — ele falou, desesperado.
— Vocês são loucas — ouvi Iury comentar.
— Será que eu sou daltônico ou não enxergo bem? — Kaká questionou, coçando os olhos.
— Filho, você percebeu o que acabou de acontecer com a xícara? Você teve certeza absoluta de que era preta, não foi?
Kaique assentiu, ainda confuso.
— Pois é... Mas nós, que estamos vendo do mesmo ângulo e na mesma luz que você, estávamos tão convencidas de que ela era branca quanto você estava de que era preta. E quer saber? Essa xícara não mudou de cor. O que mudou foi a forma como cada um de nós percebeu a mesma coisa. Isso acontece o tempo inteiro, principalmente com a gente mesmo. Quando alguém te compara com algo ofensivo, como fizeram no chat... o que essas pessoas estão fazendo é jogar a percepção delas sobre você. É como se dissessem que a xícara é branca só porque elas veem assim. Mas se você olha no espelho e gosta do que vê, se você sente que a mudança te fez bem, então a opinião dos outros é só... ruído. Não muda o fato. Você continua sendo você, esse guri inteligente, criativo, lindo e com um corte massa. Às vezes a gente fica tão afetado pelo que o outro enxerga, que começa a duvidar do que os nossos próprios olhos estão vendo. Isso é muito comum, até em adultos. Mas é perigoso. Porque se você não confia na sua visão, nos seus sentimentos, nas suas escolhas, qualquer pessoa pode te desmontar com um comentário. A nossa autoestima precisa nascer de dentro. Não do reflexo dos outros. Não do que dizem que você é. Isso não significa que a gente vai ignorar tudo. Mas significa que antes de aceitar ou se ferir com a opinião alheia, a gente precisa se perguntar: isso faz sentido pra mim? Isso é verdade? Porque se a xícara é preta... não importa quantas pessoas digam que é branca. Ela continua preta. — Disse-lhe, e, em um movimento repentino, ele atirou o boné para longe, com um sorriso lindo no rosto.
O abracei bem forte e o levei para frente do espelho.
— Nada muda o fato de que você é um gatão! — exclamei, apontando para o seu reflexo.
Depois Juh o ajudou a secar o cabelo que estava úmido e finalizou. Ela conseguiu deixá-lo mais bonito do que quando ele saiu da barbearia, e eu brinquei que a obrigação agora era deixar a câmera aberta a aula inteira, porque todos precisavam contemplá-lo.
Nesse período, quando Lana e Iury vinham para cá, eu os levava de volta. Porém, nesse dia, Júlia disse que os levaria para que eu pudesse descansar. Fiquei mais um pouco com as crianças, mas me despedi deles mais cedo. Precisei me recolher; minha cabeça latejava forte e eu desejava dormir um pouco... Infelizmente, não foi possível. Eu não consegui. A gatinha chegou e eu ainda me revirava de um lado para o outro, inquieta.
— Foi tranquilo? Sem surpresas? — perguntei, quando senti o seu abraço.
— Foi engraçado — ela respondeu, rindo.
— Tentei dormir, mas não consegui... Me conta... — pedi, virando de frente para ela.
— O que tem na gaveta que fica o algodão? — Juh questionou.
Tentei lembrar, mas nada além do nosso kit deplorável de primeiros socorros veio à memória.
— Não vai me dizer que tinha um brinquedinho? — perguntei.
— Não, não, não — Júlia negou várias vezes. — Teste de gravidez! — ela exclamou, rindo.
— Iury achou que uma de nós estava grávida? — perguntei, rindo.
— O que mais fez sentido na cabeça dele foi eu estar te traindo com um homem... Ele me encurralou no caminho, dizendo que você não merecia isso — Juh disse, gargalhando.
— Muito bom saber que tenho aliados — brinquei, também rindo.
— Você precisa de um beijinho? — Juh perguntou, segurando meu rosto de forma carinhosa.
— Hunrum... — respondi, já me aproximando.
Seus dedos deslizaram pela minha pele, nossos olhos se encontraram por um breve instante, e seus lábios tocaram os meus devagar, com suavidade. O beijo era calmo, lento e doce. Senti sua mão subir para o meu cabelo, afagando-o com carinho, e eu me deixei levar por aquele contato, sentindo meu peito finalmente aliviar. Beijei-a de volta com a mesma serenidade, saboreando cada segundo, cada suspiro trocado. Não havia urgência, apenas a vontade de morar naquele beijo.
— Acho que meu remédio tem que ser ficar te beijando o dia inteiro — brinquei.
— Eu ia adorar!!! — Juh exclamou, animada.
— Hoje foi terrível... — desabafei.
— Não tem como aliviar? Não sei... Fala com seu chefe... Amor, se trata do seu bem-estar... — Júlia disse.
— Não... Preciso me dedicar mais à terapia... O erro está em mim... — concluí.
— Queria poder te proteger disso tudo, amor — a gatinha disse, me abraçando.
— Assim eu peço outro beijinho — brinquei, e novamente Juh tomou os meus lábios, dessa vez, brevemente.
— Foi muito lindo o que você disse pro Kaká. Você tem uma calma, uma sensibilidade... Eu fico besta te olhando com eles. Você sempre sabe o que falar, como falar. Não é só sobre o que você disse, mas o jeito... Tão acolhedor e tão firme ao mesmo tempo. Dava para perceber nos olhos dele quando ele foi entendendo o que você queria dizer. Você conseguiu devolver a confiança para ele... Foi lindo! — Juh me disse, encarando-me bem de perto.
— Ainda bem que resolveu... Brincadeirinha chata, viu?! — falei.
— Não muda o rumo da conversa, amor... Eu aprendo tanto com você... De verdade. Eu tentei de tudo, tudo mesmo, e você resolve com uma xícara branca que era preta — Juh riu baixinho, encostando a testa na minha.
— Eu te amo, gatinha — falei e roubei um selinho.
— Você tem um dom, amor. Não só como profissional, nem como mãe, mas como pessoa. É lindo demais te ver e te perceber no mundo... Eu amo amar você! — ela disse e me deu alguns selinhos.
— Definitivamente, meu remédio é passar o dia inteiro assim — falei, rindo e a abraçando.
— Agora vamos dormir. Amanhã é um novo dia e, com fé em Deus, você estará muito melhor — Juh falou, se encaixando mais ainda em mim.
— Amém, amor, amém... — disse, torcendo para que as palavras dela se realizassem, mas sem muita esperança.
E, nisso, o celular dela tocou.
— É aquela advogada da adoção — Júlia disse, ao olhar para a tela.
— Atende! — exclamei, sentando rapidamente na cama.
Continua... 🫠