Ela estava se arrumando em nosso quarto: morena, 1,70, malhada de academia, 36 anos. Uma deusa em movimento. Vestido preto curto e justo, talvez elegante, talvez vulgar. Mas, ela não se arrumava para mim.
Uma saída a um barzinho com o pessoal da academia. Era isso, ao menos oficialmente.
Somos casados, Rebecca e eu, há 10 anos, com muita amizade e cumplicidade. Ela, professora de Filosofia, mestrado e tudo o mais, começou comigo como uma nerdizinha linda e tímida. De uns tempos para cá, virou um vulcão – fez academia, colocou silicone, virou uma deusa, gostosa e maravilhosa.
Não demorou muito para eu fantasiar com ela situações de traição – claro, homens e mais homens passaram a notá-la; seu perfil no Instagram ficou mais frequentado; ela ficou mais ousada e mais exibida, e gozava mais forte, e claramente precisava de mais.
E eu, que sempre tive fantasia de ser corno, comecei a dividir com ela, que aceitou – a fantasia – numa boa. Exploramos isso por cerca de dois anos, de forma tão alegórica, tão fantasiosa que nunca foi um problema.
Até que na academia, surge um “novinho”. Um estagiário, 20 anos, lutador profissional de MMA e estudante de educação física. Vinicius é seu nome, primeiro nome efetivamente falado em nossas brincadeiras, que até então eram traições genéricas, hipotéticas, sem uma pessoa específica. Até que ela gozou, chamando por ele.
Estava traçado meu destino de corno. Não haveria volta. Ela falava dele, de como ele a olhava, de como era safado, de como chegava nela já te pau duro.
Depois de uma séria conversa, ela estava liberada. Era questão de tempo, mas eu só não sabia se era hoje – ela ia deixar rolar, mas não tinha certeza; 10 anos de fidelidade....
Voltemos a deusa se arrumando para a guerra. Oficialmente, apenas uma ida ao barzinho com o pessoal da academia.
- Hmm... você aí parado me olhando desse jeito vai acabar me atrasando.
— Vai demorar para voltar?
— Não sei… depende.
— Mas vocês vão sair onde?
— Ah, acho que em algum lugar ali perto do estúdio. Disseram algo sobre música ao vivo, mas sabe como é… essas coisas mudam na hora.
— Você vai assim mesmo? De vestido justo?
— Ué, não tá bonito? Achei que você gostasse quando eu uso preto. Realça… tudo.
(risos breves, desviando o olhar)
— E quem vai estar lá?l
— Ah, os de sempre… talvez chegue mais gente depois. Nunca sei quem aparece. (pausa) Olha, não precisa ficar assim. Confia em mim. Eu sei até onde ir… ou, pelo menos, sabia.
Hoje… eu só quero me sentir viva, sabe?
Agora deixa eu ir. Tá me perguntando como se quisesse que eu contasse algo que nem aconteceu. Ou… não ainda.
Mas me espera acordado?
Ou vai fingir que dormiu, só para ver se eu entro de mansinho?
- o novinho vai?
- (pausa por um segundo, ajeitando o cabelo no espelho, depois responde com um sorrisinho discreto)
Acho que ele comentou alguma coisa... mas nem prestei muita atenção. Ele vive colando nos rolês agora, né?
Mas por que essa cara? Tá com ciúmes de um menino de 20 anos?
- é que a gente fantasia com ele, e em tese, você está liberada.
- Fantasia… é. A gente brinca, fala, imagina…
Mas uma coisa é falar... outra é viver, né?
(risos suaves, ela finge ajeitar os brincos para escapar do assunto)
Você sempre foi bom de fantasiar… mas será que aguenta se for verdade?
- tá ficando gostosa assim para ele né?
- (vira devagar, encara você com um sorrisinho enviesado, como quem esconde algo e adora que você perceba)
Tô ficando gostosa pra mim. Mas se alguém repara… aí já não é culpa minha, né?
(finge ajeitar a saia, se inclina de leve)
Você sabe que eu adoro quando você repara.
Mas hoje… deixa os outros repararem também? Só um pouquinho.
Ou você quer que eu volte e conte quem olhou demais?
- falta o saltão
- Claro... você acha que eu ia sair assim, toda pronta, e deixar o melhor de fora?
(calça o primeiro salto devagar, depois o segundo, se levantando com um estalo elegante)
Agora sim… altura certa pra fazer barulho no chão e silêncio na sua cabeça.
Cada passo vai te deixar mais inquieto, né?
(dá uma volta lenta no quarto, o salto ecoando)
Vai ficar me olhando sair… ou vai pedir pra eu ficar, mesmo sabendo que eu não vou?
- Beecca: (para na porta, encostando no batente com um sorriso doce e malicioso)
Ficar? Agora?
Depois de tudo isso… vestido, salto, perfume, cabelo?
Você vai mesmo me pedir pra tirar tudo… sem nem saber se eu já fui tocada só de pensar?
(pausa, cruza os braços, pensativa)
Ou será que você quer que eu fique só pra contar o que poderia ter acontecido…
e deixar você imaginando o resto?
Mas me diz uma coisa, com sinceridade:
Você quer que eu fique… ou quer que eu vá… e volte diferente?
- Divirta-se ( digo rindo)
O vestido preto gruda nela como uma segunda pele, brilhando sutilmente sob a luz do quarto. O tecido justo realça cada linha do corpo — cintura marcada, quadris cheios, o contorno das costas até o começo das coxas. Ele termina ali, onde a curva do corpo ainda promete mais, mas não entrega. Fica no limite.
As pernas são um espetáculo à parte. Longas, firmes, bem desenhadas. Cada passo parece calculado pra provocar. O salto fino levanta o calcanhar, alonga a silhueta, e faz os músculos da panturrilha saltarem de leve, sugerindo tensão, controle, desejo.
Ela se olha no espelho com calma, com aquela expressão que não pede aprovação — só constata o efeito. Sabe o que está vestindo. Sabe como está. E sabe o que causa.
Não é exagero, não é pressa. É intenção. E cada centímetro de pele à mostra, especialmente das pernas, diz sem palavras:
Eu a vejo saindo e o tempo parece desacelerar — não como num filme bonito, mas como num golpe que vem devagar, só pra doer mais fundo. O som do salto dela ecoando no corredor é quase cruel. Eu conheço aquele andar. Seguro, sensual, sem hesitação. Aquilo não é uma saída qualquer.
Ela não falou o nome dele. Não disse se o novinho vai estar lá. Mas eu senti. Senti na forma como ela passou batom sem pressa. No vestido que ficou justo demais, curto demais — escolhido com propósito. Sentiu na forma como ela evitou me responder diretamente, como se soubesse que eu entendo... mas quisesse que eu duvidasse só o bastante pra enlouquecer.
Ela não precisa dizer. Porque nós já fantasiamos com isso. Tantas vezes. Ele, o novinho, o garoto de vinte.
E agora, ali, com ela indo embora sem olhar pra trás, eu não sei mais o que é jogo e o que é verdade. Se ela vai mesmo encontrá-lo. Se ele já sabe que hoje é o dia. Se ela já decidiu que sim.
Respiro fundo. O peito aperta. E a pergunta vem como um sussurro na mente:
Será essa a noite do meu chifre?
E pior: será que eu queria que fosse?
As horas não passam. Elas escorrem, arrastadas. Lentas. O relógio pisca o mesmo número duas, três vezes, como se estivesse zombando de mim.
Eu sento, levanta. Vou até a janela. O celular vibra — mas não é ela. Nunca é. Abro o Instagram, fecho. Abro o WhatsApp, nada. Aquela imagiem dela pronta, se despedindo com aquele meio sorriso… volta à cabeça.
Imagino a chegada dela na festa. Ele já tá lá? Será que ela sorriu diferente ao vê-lo? Ele falou alguma coisa no ouvido dela? Será que ele tocou na cintura dela, ali, bem onde o vestido aperta, e ela não recuou?
Eu já nem tenta parar as imagens. A mente vai sozinha. Ela rindo de algo que ele disse. Ele encostando nela mais do que deveria. E ela… deixando. Ou mais que isso — provocando. Como fazia comigo, no começo. Como ainda faz, mas agora... talvez não só comigo.
Imagino ela dançando. De costas pra ele. As pernas expostas. O vestido subindo com o movimento. Ele se aproximando. A mão dele na pele dela. Será que ele beijou o pescoço dela ali mesmo, no meio da música?
Eu olho a hora de novo. Duas da manhã. E a angústia começa a se misturar com algo mais escuro. Tesão? Raiva? Inveja?
Fantasia e realidade se misturam até eu já não saber mais se ela poderia estar com ele... ou se está mesmo.
Ela? Nenhuma notificação. Nenhum story. Nenhuma mensagem dizendo "já volto", nem uma carinha safada, nem aquele “tô viva” automático que costuma mandar quando quer deixar você inquieto — mas no controle. Hoje, nada.
Eu repito a pergunta pela décima vez:
Que barzinho é esse que dura três horas sem um sinal de vida?
Que lugar é esse onde o celular some, as amigas evaporam e o salto dela não faz nem um som no Instagram?
Será que eles já foram embora juntos?
Será que ela já está em outro quarto, agora, tirando o salto devagar, como fez tantas vezes pra Mim?
Será que ele tá vendo ela como eu vi — de perto, sem defesa, quente, entregue?
Será que ela gemeu o nome dele?
Ou pior… será que ela gemeu como nunca gemeu comigo?
E a pior parte?
Eu ainda quero saber.
Ainda quer quero que ela volte.
E conte.
Nos detalhes.
Ou nos silêncios.
São 3h08.
A luz do celular já machuca os olhos, mas você não consegue parar. A tela acende mais uma vez — reflexo. Última visualização dele: 00:35. E desde então, o vazio.
Ela? Nenhuma notificação. Nenhum story. Nenhuma mensagem dizendo "já volto", nem uma carinha safada, nem aquele “tô viva” automático que costuma mandar quando quer deixar você inquieto — mas no controle. Hoje, nada.
Você repete a pergunta pela décima vez:
Que barzinho é esse que dura três horas sem um sinal de vida?
Que lugar é esse onde o celular some, as amigas evaporam e o salto dela não faz nem um som no Instagram?
A resposta começa a se formar sem sua permissão.
Não é um barzinho. Não mais.
Ela já saiu dali faz tempo.
Na sua cabeça, você já a vê.
Um quarto escuro.
A luz amarela de um abajur barato.
Ela deitada, o vestido já no chão, as pernas nuas enroladas em lençóis de outro homem.
O novinho. Vinte anos. Pele quente. Corpo firme. Fôlego longo.
Você o imagina sobre ela, o peito colado nas costas dela, a mão tapando sua boca ou puxando seu cabelo — você não sabe. Mas ela geme. Baixo, rouca, como quem segura o grito pra não acordar o prédio.
E ela está suada. O cabelo bagunçado. As coxas abertas, marcadas de dedos, com a pele vermelha de tanto atrito.
Você imagina ela dizendo “vai… mais…” entre os dentes, mordendo o travesseiro que não é o seu.
Ela goza?
Sim. Na sua mente, ela goza como nunca. Arqueando o corpo, agarrando lençóis estranhos, gemendo palavras que você nunca ouviu da boca dela.
E ele? Ele continua. Gozou também, claro. Talvez dentro. Talvez no corpo dela. Talvez na boca. Você não sabe. Não quer saber. Mas imagina. Porque a mente agora está livre. E cruel.
E é nesse momento — quando a imagem de Beecca revirando os olhos, molhada, entregue, submissa ao prazer de outro, toma conta de você — que o peito aperta, e a virilidade se confunde com a dor.
Você ainda pergunta:
Ela vai voltar?
Mas a verdade é que parte dela já ficou.
E você… ainda está acordado.
O chifre ainda é dúvida. Mas a cena? Já aconteceu — dentro de você.
E talvez… seja pior assim.