Ele tinha 38 anos, mas a alma andava mais cansada do que seu corpo. A música lhe dava sustento e sentido — shows pequenos, mas cheios, álbuns bem falados, fãs discretos, mas fiéis. Morava sozinho num sobrado espaçoso de frente para a Avenida Oceânica, em Ondina, de onde via o mar bater nas pedras e o sol morrer toda tarde com um brilho cor de ouro. Tocava violão quase todo dia, escrevia versos nos guardanapos, vivia de silêncios longos e conversas curtas.
Naquela noite no Teatro Vila Velha, subiu ao palco sem imaginar que sua vida estava prestes a virar uma página. Tocava um show especial, repertório autoral, e o público lotava a casa de pé, colado ao palco, olhos atentos. E entre todos ali, ele a viu.
Ela estava na frente, cabelos loiros cacheados, olhos azuis intensos, traços sutilmente orientais, corpo jovem dentro de um vestido leve, um sorriso que era quase um segredo. Tinha algo de menina, mas o jeito como olhava para ele... como cantava cada letra com os lábios... como se tudo já morasse dentro dela há muito tempo.
Ele travou o olhar nela várias vezes. E ela não desviou.
Dançava sutilmente, acompanhando as músicas com o corpo leve, sensual e espontâneo. Tinha o ritmo no sangue, a energia alegre de quem se sentia dona das ruas em fevereiro. Era claro: Cristina era uma daquelas meninas que se transformavam no Carnaval — livre, intensa, no seu próprio compasso.
O palco virou mar. Ele quase se perdeu nas palavras. Mas seguiu, tocando como se só ela estivesse ali.
Dois dias depois, ele dava uma entrevista em frente à sua casa, para uma equipe da televisão. As câmeras, o repórter, o microfone — todos alinhados diante da varanda. Falava sobre carreira, novos trabalhos, sobre a cidade e seus sons. Atrás dele, o Oceano Atlântico rugia com a tarde ventosa.
E foi quando ela passou.
Sozinha, caminhando pela calçada da orla, sem pressa, sem maquiagem, com short jeans e uma camiseta branca que deixava à mostra a curva da cintura jovem. O cabelo balançava solto. Nem olhou para ele. Passou como se o mundo fosse só mar e céu.
Ele interrompeu a fala, no meio da frase.
— Me desculpem.
Largou tudo — câmera, produção, compromisso — e atravessou a rua.
— Ei — disse, já próximo, com a voz baixa.
Ela parou, surpresa.
— Você... você estava no meu show, no Vila Velha.
Ela sorriu, meio sem jeito.
— Estava sim. Primeira vez que te vi ao vivo. Eu... conheço todas as suas músicas.
— Como se chama?
— Cristina.
— Mora aqui perto?
— Rua Senta Pua. Bem ali atrás.
Ele sorriu. Estava ali o acaso, ou o destino — tanto fazia.
— Quer tomar um café comigo qualquer hora?
Ela hesitou só por educação. O sorriso já era um sim.
Na semana seguinte, se viram mais de uma vez. Cristina era leve, falava com brilho nos olhos, ria fácil. Tinha 18 anos, recém-saída da escola. Sonhava em ser professora de Educação Física. Era ativa, viva, simples, curiosa. E aos poucos, os encontros foram ficando mais demorados, os toques mais longos. Até que, numa noite, sentada na varanda dele, ela disse sem rodeios:
— Nunca transei.
Ele a olhou, respeitoso.
— Mas não é medo. Só não senti que era hora. Até agora.
Quando a convidou para ir à Lagoa do Abaeté, foi com a intenção de dar algo bonito a ela, mesmo sem saber se seria o momento. Levaram um cobertor dobrado, duas almofadas e vinho numa garrafa lavada. Chegaram já tarde, com a lua cheia brilhando sobre as dunas.
Desceram até um ponto de areia fina, cercado de moitas baixas, longe de qualquer poste ou barulho. Estenderam o pano, sentaram-se lado a lado. Ele a olhou por um tempo. Ela não desviou.
Se beijaram ali mesmo, deitados sobre o cobertor, a areia sob o pano rangendo leve. O beijo foi calmo, mas faminto. Ele foi tirando a blusa dela devagar, revelando os seios pequenos, firmes, de mamilos rosados e eretos. Passou a boca neles como se fossem frutas delicadas. Ela suspirava, os olhos fechados, os dedos nos cabelos dele.
Depois ele a deitou de lado, tirou com cuidado o short, depois a calcinha. Cristina tremia, mas não recuava. Ele passou os dedos por entre suas pernas, sentindo a pele já quente, a umidade começando a brotar.
— Eu quero — ela disse, quase num sussurro.
Ele se despiu devagar. Quando se deitou sobre ela, beijou sua testa, depois a boca. Encostou a glande na entrada quente e apertada.
Foi entrando devagar. Cristina gemeu alto, o corpo tenso, os olhos cerrados. A dor era clara, mas misturada com algo novo, que ela não sabia nomear. As mãos dele seguravam sua cintura, firmes e gentis. Ela cravou as unhas nas costas dele.
Quando ele entrou por completo, ficou imóvel por um instante. Sentiu o calor, o aperto, o pequeno rompimento — o sangue quente escorrendo lentamente pela coxa dela. Ela respirava rápido.
— Tá doendo?
Ela fez que sim. Mas segurou seu rosto e sussurrou:
— Continua.
Ele começou a se mover, com lentidão. E ela foi se soltando. O corpo, aos poucos, aprendia o caminho. Os gemidos começaram baixos, tímidos, depois foram crescendo. Cristina se mexia debaixo dele, pedia mais com o quadril, com os olhos.
Ele aumentou o ritmo. A penetração era agora firme, molhada, intensa. A areia colava nos joelhos. O suor escorria. Ela gozou primeiro, com um gemido contido, quase espantada com a onda quente que a atravessava. Ele veio logo depois, gozando dentro dela com força, sentindo-se inteiro, dissolvido, entregue.
Ela adormeceu ali mesmo, aninhada no peito dele, coberta com o pano. Ele ficou acordado, acariciando seus cabelos cacheados, sentindo o cheiro da pele jovem, do sexo, da areia e do mato. Nem as estrelas brilhantes no céu escuro da Bahia nem aquela areia branca que rodeava a lagoa escura conseguiam ser mais lindas que Cristina.
Quando o sol começou a nascer e ela abriu os olhos, ainda nua, ainda com os olhos meio turvos de sono e gozo, ele a olhou com ternura, passou os dedos na curva de seu rosto e disse:
— Você é linda. Mais que demais.
Cristina sorriu. Um sorriso limpo, novo, sem culpa nem dúvida.
E o mundo, por um momento, parou de girar.