O internato - Capítulo 24

Um conto erótico de Bernardo, Daniel e Theo
Categoria: Gay
Contém 2576 palavras
Data: 10/07/2025 20:28:58

Capitulo 24 - Novo amigo!

...

Daniel!

Acelerei a moto pela cidade sem rumo, desejando, no fundo, que um carro surgisse do nada e acabasse com aquilo de uma vez. Pode parecer sombrio, talvez até dramático demais, mas naquele momento nada fazia sentido. Eu tinha entregado tudo por ele. Me expus, enfrentei minha família, meus medos, tudo para provar que o amor que sentia era real — e ele me traiu.

Não me importava com seus traumas, com sua história ou suas feridas. Eu o amava. Só isso importava pra mim. Mas ser traído... isso era imperdoável. Saber que ele beijava outras bocas, que se entregava a outro cara, enquanto dizia que me amava... isso me destruía.

Joguei a moto na garagem e entrei no elevador. Estava encharcado, mas só notei ali que minha camiseta estava do avesso. As lágrimas não paravam de cair, cada uma queimando mais que a anterior. Quando a porta do elevador se abriu, corri até meu apartamento e entrei de uma vez, batendo a porta com força, assustando Théo que assistia TV na sala.

– Que foi isso, Daniel?! – Théo levantou, preocupado – Você tá acabado. O que aconteceu?

Fiquei olhando pra ele por alguns segundos. Será que ele sabia? Será que o fim do namoro dele também teve a ver com isso?

– Você sabia! – apontei o dedo pra ele com a voz falhando de tanta dor – Você sabia o que eles estavam fazendo!

– Eles quem? – Théo arregalou os olhos – Do que você tá falando?

– Bernardo e Nick estavam transando enquanto a gente achava que éramos especiais pra eles! – joguei tudo de uma vez. O rosto de Théo ficou branco na mesma hora.

A reação dele me confirmou que ele não sabia de nada. Eu devia ter confiado. Se ele soubesse, teria me contado. Théo não ia me deixar no escuro.

– Foi ele que te contou? – Théo tentou manter o controle, mas a raiva já subia na sua voz.

– Foi – respondi ofegante, tentando respirar em meio ao caos – Eles nos enganaram o tempo todo.

– Isso explica tudo... – Théo caiu no sofá, atordoado – Por isso ele se afastou. Por isso o Nick terminou comigo. E eu ainda me culpei por não ter sido um bom amigo pro Bernardo. Que otário eu fui.

– O otário foi ele! – gritei – Ele não foi amigo nem namorado. Só um filho da puta egoísta.

Me joguei no sofá ao lado dele, com os olhos fixos no ventilador girando no teto, como se aquilo fosse me distrair da enxurrada de imagens que invadiam minha mente. Bernardo e Nick juntos. Rindo. Mentindo pra gente. Nos enganando como dois idiotas apaixonados.

– Onde o Nick mora? – perguntei, com a voz seca.

– Eu te mostro – Théo respondeu firme – Mas eu vou junto.

...

Théo

Desci da moto assim que Daniel parou em frente ao condomínio onde Nick morava. Olhei para a guarita, de onde o segurança saiu com um rádio em uma das mãos e uma pistola presa na cintura. Por um instante, me bateu uma vontade de desistir de tudo e simplesmente ir pra casa... chorar por ter sido tão idiota por tanto tempo.

— Viemos visitar a família Fisher — Daniel disse tentando soar o mais natural possível. — Somos amigos do Nickolas Fisher.

O segurança lançou um olhar desconfiado de Daniel para mim, antes de responder:

— A família Fisher está viajando, estão nos Estados Unidos. E o Nick saiu mais cedo e ainda não voltou. — Ele consultou o relógio. — E, garotos... já são duas da manhã.

— A gente sabe que é tarde, mas é um assunto urgente — Daniel respondeu, sem esconder a tensão na voz.

— Parece que deram sorte — disse o segurança, apontando para um Porsche vermelho que estacionava atrás da moto.

Daniel olhou para o carro. Sabia que Nick estava ali dentro, mesmo com os vidros escurecidos. Ele desceu da moto, caminhou até o carro e, assim que a porta do passageiro se abriu, Nick saiu cambaleando, com um sorriso bêbado estampado no rosto.

— Seu filho da puta! — Daniel gritou, acertando um soco no rosto de Nick, que caiu no chão sem tempo nem de reagir. — Seu desgraçado!

Em seguida, Daniel desferiu um chute que fez Nick se encolher de dor.

— Solta ele! — gritou uma garota que parecia ter uns dezoito, vinte anos, saindo do banco do motorista e agarrando o pescoço do meu irmão. — Você tá maluco?!

— Me solta, vadia! — Daniel a empurrou com força contra o carro. Ela perdeu o equilíbrio e caiu no chão, mesmo que não estivesse tão bêbada.

— Esse desgraçado traiu meu irmão com meu namorado!

— Então o viadinho contou — Nick riu alto, mesmo sangrando pelo corte na boca. — Não imaginei que aquela bicha tivesse consciência.

— Cala a boca! — Daniel acertou outro soco nele, e Nick só não desabou porque se apoiou no carro.

— Se encostar nele de novo, eu atiro! — gritou o segurança, apontando a arma para Daniel.

Mas ele não parou. Se aproximou do segurança com um olhar tão vazio e carregado de dor que me deu medo também.

— Então atira! — Daniel disse, com lágrimas caindo. — Vai, me livra dessa merda toda!

— Você tá fora de si, garoto! — o segurança disse firme. — Seja lá o que ele fez, não vale sua vida.

— Vamos embora, Daniel — falei me aproximando devagar, com medo de qualquer movimento brusco que assustasse o segurança. — Ele já teve o que merecia.

— Já teve, né? — ele me olhou.

— Teve sim. Vamos pra casa.

Daniel respirou fundo e voltou para a moto. O segurança abaixou a arma e a guardou no coldre. Eu me preparava pra ir atrás quando ouvi:

— O que foi isso, amor? — disse a garota, ainda tonta.

Naquele momento, meu coração se partiu de vez. Entendi que o Bernardo não tinha sido o único. Me virei e vi a menina ajudando Nick a se levantar, abraçando-o com carinho.

— Ele é seu namorado? — perguntei, com a voz embargada, enquanto as lágrimas começavam a cair.

— O que te interessa? — ela cuspiu, com ódio. Mas pelo jeito como envolvia Nick, eu já tinha minha resposta.

— Eu também era namorado dele... até ontem — disse, limpando o rosto. — Ele terminou comigo do nada, e só agora eu entendi o porquê. Descobri que ele me traiu com o meu melhor amigo, que também era namorado do meu irmão. Mas, pelo jeito, você não foi a primeira, nem eu fui o último. Ele te traiu comigo. E me traiu com você.

Ela arregalou os olhos e olhou para Nick, chocada. Era óbvio que não sabia que ele também ficava com caras.

— Isso é verdade? — ela perguntou.

— E daí? — Nick deu de ombros. — Eu não dou a mínima pra esse viadinho. Nem pro amiguinho dele.

Dizer que aquilo doeu seria pouco. Eu realmente tinha amado esse cara.

— Só me responde uma coisa — falei, quase sem voz. — Em algum momento você gostou de mim?

— Sinceramente? Sim — ele respondeu, debochado. — Mas foi só no começo. Logo você ficou insuportável. Te traí várias vezes, com homens e mulheres, mas mantive você por perto porque era bom de cama. Se não fosse isso, já teria te chutado faz tempo.

Não pensei duas vezes. Acertei um soco no meio do rosto dele. Nick caiu sentado no chão e o sangue jorrou do nariz. Eu suspeitei que o tivesse quebrado. Sorri.

— Vai se foder — falei, me virando e caminhando até a moto. Daniel me olhava com um sorriso orgulhoso.

— Me ajuda, Maria? — Nick pediu, com a voz fraca.

— Eu devia ter percebido antes o babaca que você era — ela disse voltando para o carro e deixando-o estirado no chão.

Subi na moto e fomos embora. Eu ainda estava magoado, claro. Mas depois de tudo... me sentia infinitamente mais leve.

...

Bernardo

– Sinto muito pelo fim de vocês – disse Giovana, enquanto tomávamos café da manhã naquela segunda-feira nublada, sentados à mesa do refeitório. – Mas você demorou demais pra contar.

– Eu sei – murmurei, brincando com o misto quente no prato, sem sequer tocar nele. Na verdade, eu não comia nada desde aquela madrugada – Só consegui contar quando já não aguentava mais olhar na cara dele. Pena que foi tarde demais.

Giovana colocou a mão no meu ombro e o acariciou com delicadeza.

– Vai dar tudo certo – ela falou, me dando um beijo na bochecha. – O Daniel vai te perdoar. Ele só precisa de um tempo.

– Você não viu o olhar dele – disse, passando os dedos sobre o hematoma roxo no meu braço, bem onde ele me segurou. – Ele nunca vai me aceitar de volta.

Ela olhou para o meu machucado e vi um leve desconforto em seu rosto.

– Mesmo que ele não queira mais, você vai encontrar outra pessoa – tentou ser otimista. – Você é bonito. Muita gente adoraria estar com você.

– Mas eu não quero outra pessoa – murmurei num desabafo.

Logo os outros chegaram, e percebi que, pela primeira vez desde o começo do meu namoro com Daniel, nosso grupo estava dividido. Na minha mesa estavam Alice, Fábio, Giovana e eu. Na outra, do outro lado do refeitório, estavam Marcelo, Leonardo, Théo e Daniel. Foi estranho. Eu tinha me acostumado a sentar ao lado dele, trocar carinhos, rir das nossas piadas internas. Agora, mesmo rodeado, o café da manhã parecia solitário.

– O que aconteceu com você? – Alice perguntou espantada.

Olhei para trás e vi Nick entrando no refeitório com o lábio inchado e uma tala no nariz.

– O namorado de alguém ficou putinho – Nick provocou, mandando a indireta diretamente pra mim.

– Com razão – Giovana rebateu, séria. – Você ficou com o namorado dos outros. Isso não é só sem vergonha. É mau-caratismo.

– O Bernardo também não é nenhum santo nessa história – ele respondeu com raiva contida.

– Vocês dois ficaram? – Fábio perguntou, meio chocado, meio rindo. – Agora entendi por que estão separados.

– Ficamos sim – Nick respondeu, encarando todos com desdém – Mas o viadinho ali não soube manter a boca fechada.

– Cala a boca, porra! – gritei tão alto que todo o refeitório se virou. – Você mereceu levar aquela surra, assim como eu! Então cala essa merda dessa boca e para de me culpar! A culpa foi nossa, seu filho da puta!

– Tá tendo crise de consciência agora, Bernardo? – Nick se levantou, igualando o tom. – Porque consciência você não teve quando deu pra mim no carro do meu pai!

Um burburinho começou entre os alunos.

– Vai se foder, seu babaca – levantei, cuspi no chão perto dele e saí da mesa, ignorando os protestos de Giovana.

Antes de sair, olhei para a mesa de Daniel. Nossos olhares se cruzaram por um segundo. Mas não havia mais brilho, nem conexão. Só a decepção que eu mesmo plantei.

Nas semanas seguintes, eu apenas existia. Ia às aulas e depois voltava pro quarto, onde chorava horas a fio por ter traído quem mais me amou. Me sentia um lixo jogado na calçada. Os dias perderam a cor. Fiz tudo no modo automático. Acho que cheguei a esquecer de tomar banho por dois dias.

Via Daniel de longe. Ele parecia bem, até feliz. Sorria, contava piadas, bebia nas festas. Vi fotos no Facebook — ele com uma garrafa de vodca na mão e amigos ao redor. Sentia ciúmes de todos. Mas não tinha mais direito algum.

Era uma quinta-feira. Senti tanta falta dele que parecia que minha pele ardia. Não o vi o dia inteiro. Talvez estivesse me evitando. Era tolice pensar assim, porque ele simplesmente não se importava mais. Passava por mim no corredor como se eu fosse invisível. Aquela chama que existia nos nossos olhos, já não estava mais ali.

No fim da tarde, fui até a piscina. Sabia que ele estaria lá. Mesmo à distância, vê-lo já mudava meu dia. Me escondi sob a arquibancada e, pelo vão dos bancos, o vi sair do vestiário usando apenas uma sunga preta. Meu coração disparou. Aquele corpo, aqueles braços, o peito onde tantas vezes adormeci… era tudo tão familiar, mas agora distante.

– Eu também venho aqui quando quero ficar sozinho – disse uma voz perto de mim. Era Lorenzo, sentado num canto, lendo um livro. – Ninguém nunca me encontra aqui.

– Desculpa, não te vi – falei, surpreso com a presença dele.

– Tudo bem – ele respondeu, marcando a página com o dedo e fechando o livro. – A maioria das pessoas nem me vê, e às vezes é melhor assim.

– E seus amigos? – perguntei, lembrando da galera gótica de maquiagem escura.

– Onde estão os seus? – devolveu ele, sem rodeios.

Franzi o cenho. Aquele garoto era intrigante. Pensei nas horas que já passei observando ele na sala, no corredor, no refeitório. Antes do fim com Daniel, é claro. Agora, minha mente só girava em torno do que eu tinha destruído.

– Estão por aí… estudando, se divertindo. – respondi.

– Os meus devem estar na cabana do zelador lendo poesia – deu de ombros – Eu costumo ficar aqui até escurecer. Gosto de ler e ver os treinos de natação.

– Você assiste sempre?

– Sempre. Inclusive vi seu namorado hesitar no primeiro treino, querendo desistir por causa das piadinhas.

Corei. Lembrei da cena, do quanto o abracei e encorajei.

– Eu lembro disso.

– Gostei da história que você contou pra ele – comentou Lorenzo. – Não que eu quisesse ouvir, mas vocês estavam bem em cima de mim.

– Sem problema – disse, reparando no delineador e na sombra escura que ele usava. – Não é segredo nenhum.

– Assim como o fato de você ter traído ele com o outro garoto – comentou, direto. – Você parece estar sofrendo.

– E estou – admiti, voltando a olhar Daniel nadar. – É como se tivesse um buraco no peito. Tem dias que até respirar dói.

– Sei como é – ele se levantou e sentou do meu lado. – Senti o mesmo quando perdi minha mãe e meu irmão gêmeo.

– Sinto muito – falei, percebendo que minha dor era bem menor que a dele.

– Eu também sinto – suspirou. – Mas a dor me manteve vivo. É ela que me move. Sem ela, eu não seria nada.

Fiquei em silêncio por um tempo, até não resistir à curiosidade.

– O que aconteceu?

– Minha mãe foi buscar a gente na escola. Um ônibus fechou o carro. Ela e meu irmão morreram na hora. Eu fiquei só com essa lembrança – ele levantou a manga do casaco e mostrou uma cicatriz em alto relevo no braço. – Isso foi há dois anos.

– Foi quando você virou gótico?

– Foi – ele passou a mão no cabelo preto, tirando-o do rosto. – Conheci a Irina. Ela me mostrou como transformar dor em força. Hoje somos amigos. Ela também estuda aqui, no segundo ano. Vim pra cá por causa dela. O ano em que estudamos separados foi horrível.

– Por que escolheu viver com a dor em vez de superá-la?

– A dor nunca some – ele respondeu. – Só muda de forma. Ela me lembra que estou vivo. E isso já é alguma coisa.

– E não liga para o que falam de você?

– Não – respondeu seco. – Mesmo se eu usasse roupas da moda, iam arranjar outro motivo pra me criticar.

– Faz sentido – murmurei, voltando a olhar Daniel falando com o técnico.

– Acho que vou nessa – Lorenzo se levantou. – Vou encontrar o pessoal.

– Posso ir com você? – perguntei, surpreso com meu próprio interesse.

– Não se importa de ser visto com o esquisito? – perguntou ele, abraçando o livro, que agora vi se chamar “O Gato Preto”, de Edgar Allan Poe.

– As pessoas sempre vão falar mal. Além disso, se eu não for, vou acabar me trancando no quarto e chorando de novo.

Ele sorriu.

– Então vamos – disse. – A Irina vai gostar de você.

Olhei uma última vez para Daniel, justo no momento em que ele mergulhava de novo. Me levantei e segui Lorenzo até o que, na minha cabeça, chamei de “culto das trevas”Continua...

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