Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu - Parte 05

Um conto erótico de Érico
Categoria: Heterossexual
Contém 7645 palavras
Data: 10/07/2025 20:17:28
Última revisão: 10/07/2025 22:35:40

AVISO: Este capítulo não tem cenas de sexo porque ficou tão extenso que quebrei em dois e a cena de sexo ficou na próxima parte. Em compensação, todos os próximos capítulos terão cenas de sexo bem maiores.

Boa noite, leitores. Eu me chamo Érico, tenho 28 anos e trabalho como analista em uma grande empresa de tecnologia. Minha esposa, Sarah, tem 27 anos e é engenheira com doutorado. Esta é a história das confusões e puladas de cerca que aconteceram durante uns meses muito loucos e de como nós lidamos com isso.

No capítulo anterior, eu e a Sarah fomos para encontros com pessoas que conhecemos no Tinder. Enquanto o contatinho da Sarah furou o date e ela acabou assistindo um filme com um dos nossos amigos, eu encontrei com a Natália, uma professora ruiva bunduda. Começamos com o pé direito e eu comi ela. Até enrabei.

Por causa da nossa aposta, eu poderia escolher qualquer homem para que a Sarah tentasse seduzir e transar. Ela topou a ideia desde que fosse comigo assistindo ela dar pro outro cara. Então, eu escolhi o cara mais feio e depressivo que conhecíamos, seu Roberto (o marido dominado, e psicologicamente quase castrado, da megera ultraconservadora do condomínio, dona Marieta).

Por um momento, achei que tinha pegado demais e estava para voltar atrás. Mas a Sarah matou no peito e topou o desafio de levantar esse defunto.

O sábado amanheceu com aquele cheiro de café que só a Sarah sabia fazer. Forte, muito doce, nada amargo, exatamente como ela era. Eu estava na mesa da cozinha com uma caneca fumegante nas mãos, pensando no detalhe perigoso da noite que ainda não havia digerido bem: a Natália morava aqui no nosso prédio.

Ao meu lado, a Sarah estava sentada de pijaminha de moletom e cabelo bagunçado, descascando uma banana.

— Amor... — comecei, tentando parecer casual. — Preciso te contar uma coisa chata sobre ontem, sobre a Natália...

Ela ergueu uma sobrancelha e me encarou com aquela cara de quem imaginava errado para onde aquilo iria.

— Não é porque arrebentou as pregas dela que eu vou liberar o meu c...

— Ela mora aqui no prédio.

A Sarah parou de descascar a banana.

— Como assim “aqui no prédio”? Tipo... no nosso prédio?

— Uhum. Eu entrei no elevador da garagem, e quando a porta tava fechando, ela apareceu correndo. A gente se viu. Um olhou pro outro. Não deu tempo de mais nada.

— VOCÊ TÁ BRINCANDO, ÉRICO?!

A banana caiu no prato. Ela levantou num pulo, como se eu tivesse dito que a Natália ia invadir a casa com uma equipe de black-ops.

— Amor... calma, por favor...

— Como assim calma? Como você NÃO PERCEBEU ISSO ANTES? Tipo... ela não falou? Não comentou nada?

— Sarah, pelo amor de Deus, você acha mesmo que uma mulher vai sair dando endereço pra um desconhecido do Tinder no primeiro encontro?

— Ai meu Deus... Ai meu Deus... — Ela andava de um lado pro outro da cozinha. — Nós vamos virar os tarados do prédio. O casal tarado! Tipo a Odete e o Carlos! Ou pior... Vão achar que EU sou uma CORNA MANSA! A corna chifrada com as vizinhas gostosas! Vão me olhar no elevador com aquela cara de pena que olham pro pobre do Carlos!

— Ninguém vai saber, amor... — tentei, me levantando. — Ela não é do tipo que vai sair contando por aí.

— Ainda. Porque agora a Natália deve pensar que você é um stalker maníaco que descobriu que a viu no corredor e caçou ela no Tinder! Agora mesmo, ela deve estar com medo de tu bater na porta dela com uma sorriso de assassino slasher! Aí ela vai contar pra alguma vizinha para se proteger de você. Aí pronto. Acabou.

— Amor...

— Eu preciso descobrir onde ela mora.

— Não.

— Eu preciso descobrir o número do apartamento dela e falar com ela. Explicar que a gente não sabia. Que foi uma coincidência bizarra.

— Sarah. Amor. Escuta. Essa é, sem sombra de dúvida, a pior ideia que você já teve nesta manhã. Quero dizer... Para evitar que ela ache que estou caçando ela, você quer caçar ela você mesma, bater na porta dela e falar: “Oi, eu sou a esposa do cara que te comeu, só queria dizer que a gente não sabia que você mora aqui também e não somos malucos.”

Ela ficou me olhando.

— Quando você coloca assim, parece bem idiota mesmo...

— Porque é. A única forma de parecer mais creepy que isso é se a gente fizesse um PowerPoint com setas indicando os andares.

Sarah suspirou, caiu de volta na cadeira e apoiou a testa nas mãos.

— Merda...

— Só tem uma solução, amor. Fingir que nada aconteceu. A gente não reage, ela não reage. Todo mundo fica bem.

— E os meus chifres, como é que eles ficam quando ela descer com aquele shortinho de academia no mesmo elevador que a gente?

— Aí eu te beijo e ela vai saber que você é a sortuda que conquistou meu coração. Problema resolvido.

Sarah deu uma risada.

— Você é um idiota.

— Sim. Mas sou o SEU idiota.

Ela me olhou com um sorrisinho, mesmo que contido.

— A gente é muito ruim nesse negócio de relacionamento aberto ainda... — Ela se levantou, deu a volta na mesa e se enfiou no meu colo. — Me promete que, quando a Natália nos ver, você não vai fingir que não me conhece.

— Amor, quando ela nos ver, vou dizer que você é a minha esposa, a minha melhor amiga e o meu plano de fuga caso o apocalipse comece.

— Idiota...

Beijei o cabelo dela e senti aquele cheiro de creme de baunilha e café. Foi um final de semana com muito amor, cafunés e uma relação bem fechadinha.

Combinamos que íamos deixar o lance do seu Roberto só para a semana seguinte. A oportunidade veio na terça de noite. Por sorte, peguei o elevador com o seu Roberto. Um homem abatido pela vida, pela idade e, principalmente, pela esposa dominadora. Ele parecia menor do que realmente era, não por estatura, mas por energia. Ombros caídos, olhar perdido, barriga protuberante apertada naquela camisa social já meio amarelada nas axilas. Falava devagar, andava devagar, respirava devagar. Tinha o cansaço de quem já desistiu de tentar mudar qualquer coisa.

Puxei assunto com ele, como quem joga conversa fora, e logo achei a deixa perfeita.

— Lembrei que preciso te entregar aquele carregador portátil que te prometi outro dia. Tá lá em casa. Aproveita que tamos aqui e vamos lá.

— Ah, não precisa se incomodar não, Érico... — disse ele, arrastado, com um suspiro no final.

— Incômodo nenhum. Só um minutinho lá e você já vai pra casa. É rápido.

Ele hesitou, olhou para o painel do elevador. Sorri com naturalidade. Ele cedeu com um suspiro.

— Tá.

Abri a porta do apartamento, já sabendo que a minha esposinha estaria ali e como ela costumava ficar quando sozinha neste horário.

A luz natural da sala me atingiu primeiro. Sarah estava ali, no sofá, assistindo TV com as pernas cruzadas. Ela usava uma regata branca extremamente larga nas cavas, quase rasgada, que deixava completamente à mostra a lateral dos seios, e por onde se via nitidamente que ela estava sem sutiã. As laterais e o tecido fino revelava os mamilos duros. Um shortinho jeans desbotado, caseiro, completava o conjunto, deixando grande parte da coxa e um pedaço da bunda à mostra.

Ela me viu entrar e abriu um sorriso natural, mas quando viu o seu Roberto atrás de mim, estranhou por alguns segundos.

— Opa... boa tarde, seu Roberto — disse, ajeitando-se no sofá, mas sem fazer nenhuma intenção de esconder o mamilo direito saindo pela regata.

— B-boa tarde, dona Sarah — respondeu ele, mas a voz saiu mais baixa, como se estivesse tentando se convencer de que estava realmente ali. Os olhos tentavam desviar, mas falhavam.

Eu fingi naturalidade.

— Vou pegar o carregador. É rapidinho. Pode sentar, seu Roberto. À vontade.

Entrei no escritório e deixei a porta entreaberta. Do lado de fora, não ouvi nenhum barulho de sentar. Provavelmente ele estava de pé, nervoso, ou simplesmente hipnotizado. Abri a gaveta devagar, dando tempo pra minha esposa entender o plano. E ela entendeu.

Ouvi a voz da Sarah. Doce, provocante.

— Nossa, tá calor, né? Esse apartamento é uma estufa. O senhor quer uma água?

— N-não, não... tá tudo bem. Eu... já vou, só vim pegar um negocinho...

— Relaxa. O Érico já volta. Fica tranquilo. E me chama de Sarah, vai... “Dona Sarah” me faz parecer velha.

Ouvi um riso dela. Leve, quase inocente. Mas eu conhecia bem aquele tom.

— O senhor parece tenso... tudo bem? Quer sentar um pouquinho? Quer uma massagem? Sou boa de massagem...

Um silêncio desconfortável. Quase pude ouvir o som seco da saliva descendo pela garganta dele.

Peguei o carregador com toda a calma do mundo. Quando voltei para a sala, a Sarah estava em pé agora, de frente pra ele, a regata escancarada nos lados, exibindo boa parte dos seios de perfil e o mamilo direito. Ela fingia olhar a TV, mas os olhos estavam atentos a ele.

O seu Roberto estava estagnado, mas diferente de antes. As mãos nos bolsos, sim, mas havia algo novo no rosto dele. Um rubor discreto, um brilho nos olhos cansados. Como se por um instante, uma fagulha de vida tivesse reacendido ali. O volume na bermuda já era visível. E não era pequeno.

— Aqui, seu Roberto — estendi o carregador, contendo o sorrisinho interno.

— O-obrigado, Érico. Eu... preciso ir. — A voz ainda arrastada, mas agora com algo preso na garganta. Os olhos focados no corpo da minha esposa indicavam o que era.

— Claro, claro.

Ele saiu quase tropeçando nos próprios pés. Não falou mais nada. A porta bateu.

Sarah e eu ficamos nos encarando por dois segundos.

— Eu nem precisei me esforçar, viu?

Sorrimos.

Naquela noite, estava deitado ao lado da Sarah. Ela usava uma camiseta velha que adorava, e eu só de cueca, meio virado pra ela, com o travesseiro enfiado entre o pescoço e o ombro. Estávamos ali, em paz, mas traçando um dos planos mais esquisito do nosso casamento.

— Vamos colocar algumas regras — iniciei. — Se ele disser “não” por qualquer motivo ou deixar claro que não vai rolar porque ele não quer, esse plano tá anulado.

— E se ele só se ficar muito tímido, travado, enrolado e sem atitude, então continua valendo? — confirmou Sarah. — Porque duvido que o Roberto vá topar assim de cara.

— Ué... Ele é homem. Ele tem um pau. Tá vivo. Tá infeliz. Você é linda. Tá tudo aí.

— Não é tão simples assim, Érico. O cara é casado, é evangélico, parece depressivo e, definitivamente, é casado com a maior megera do bairro. Você acha mesmo que ele vai simplesmente aceitar uma proposta de sexo do nada? Vai parecer um sonho.

— Justamente por isso. Todo mundo sabe que não é um casamento feliz. Se fosse, eu nunca iria sugerir ele. Ele tá completamente dominado e tá mais carente que não sei o quê. Para ele, você vai parecer um milagre?

— Ou uma passagem direta pro inferno, né? Esqueceu que eu sou casada, homem? Ele vai desconfiar demais!

— E se a gente fingir eu que sou um corno manso e submisso que tem fetiche em ver a mulher transando com outros?

— Por que a gente precisaria fingir se isso é verdade? — brincou Sarah, rindo alto e me deixando com cara de tacho e sem argumentos.

— Sem graça...

Ela cruzou os braços sob os seios.

— Esse seu plano de “Oi, Roberto, quer me comer? Meu marido deixa” funcionaria se ele fosse um Enéias da vida.

— Você tem um plano melhor?

— Tenho dois — disse, apontando para os seios.

Era dois belos planos. Bem apertáveis e mamáveis.

— Se ele for mesmo um homem infeliz e reprimido, meus dois amigões vão desmontar qualquer defesa dele. Só preciso de algumas semanas.

— Você não disse que precisaria criar um clima?

— As semanas serão para isso — justificou. — Mas só vou fazer esse sacrifício se você assistir à transa todinha.

— Vou assistir tudinho, amor.

Ela me chamou de “tarado”, deu uma risadinha safada e me deu um beijo na bochecha.

— Então deixa comigo. Eu vou fazer isso funcionar. Do meu jeito.

Não discuti mais. Sabia que ela ia tentar do jeito dela. Mas também sabia que a libido do seu Roberto estava tão bem enterrada que até mesmo para Sarah, isso seria um trabalho bem complicado.

As primeiras tentativas da Sarah começaram na mesma semana. Teve uma tarde em que ela teve que descer até a portaria com um shortinho jeans minúsculo e uma blusinha branca de alça que estava colada ao corpo pelo calor, os seios grandes empinado. Enquanto, ela subia de volta pela escada, encomenda na mão, se deparou com o Roberto no segundo andar. Ele subia devagar, ofegante, camisa de malha bege empapada de suor na região da barriga e das axilas.

— Opa, senhor Roberto! Que surpresa boa... — disse ela. Deixou os ombros caídos propositalmente, empinando os seios e cruzando as pernas.

— Tudo bem?

— Melhor agora... — Ela riu baixinho, dando uma ajeitada nos cabelos, inclinando o busto para frente sem pressa. — Subindo na escada assim... o senhor é corajoso.

— O elevador... teve problemas.

A Sarah sabia disso, claro. Ela passou para o lado dele, se abaixando lentamente como se fosse amarrar a sandália. A blusa desceu um pouco, deixando parte dos seios saltarem. O seu Roberto desviou os olhos, vermelhíssimo.

— Tudo certo? — perguntou ela, com um sorrisinho enviesado.

— Tudo. Tudo sim. — Ele olhava para o corrimão.

— O senhor está com uma carinha tão séria... Não pode sorrir um pouquinho pra mim, não? Só um tiquinho?

Seu Roberto esboçou algo entre sorriso e soluço, desconcertado. A Sarah deu dois passos mais para cima e virou de leve o quadril, como quem se espreguiça. Ele olhou para o chão, sem saber onde colocar as mãos.

Mas apesar de todos os esforços dela até chegarem em seus andares, ele não pareceu estar realmente tentado.

Duas noites depois, a Sarah apareceu frustrada em casa enquanto eu jantava em frente à tv, de bermuda e sem camisa. Assim que ela entrou, percebi pelo jeito como bateu a porta que não tinha dado certo de novo. Veio andando até mim, largando a bolsa no chão com força exagerada e tirando os chinelos no meio da sala.

Ela vestia aquele vestidinho azul claro de botão na frente, com um decote que fazia meus olhos agradecidos esquecerem de piscar. Batom rosado, e um perfume que eu reconheceria mesmo em sonho. Se o seu Roberto não caiu nisso, ou ele é um monge ou tá com algum problema hormonal.

— Nada? — perguntei, tentando não rir da cara emburrada dela.

— Esse homem é uma rocha, Érico. Numa hora dessas eu já teria me dado, se fosse eu sendo seduzida por mim mesma.

— Tem certeza de que ele entendeu que você tava tentando seduzir ele? Porque o seu Roberto é meio devagar.

— Érico, eu fiquei um 20 minutos conversando com ele no hall. Eu sentei de perna aberta na frente dele. Cruzei e descruzei as pernas três vezes. Falei que tava com calor. Encostei a mão no ombro dele. O homem levantou e foi pra casa orar.

Ou bater punheta antes que a esposa chegasse.

— Talvez ele ache que é armadilha. Sei lá, que você e a dona Marieta tão tramando alguma coisa.

Ela jogou a cabeça pra trás no encosto do sofá, bufando.

— É possível. Ou ele tá tão acostumado a dizer “não” pra qualquer impulso que já perdeu a capacidade de sentir tesão.

Ela bufou.

— Agora, ficou pessoal! Eu vou dar praquele desgraçado nem que seja a última coisa que ele faça! PELO MEU EGO!

Ficamos um tempo em silêncio. Eu comendo, ela quieta com cara de inconformada. Aí falei:

— Deixa eu te perguntar uma coisa... Lembra quando a gente começou a sair? Eu era meio tapado também. Ficava todo envergonhado, achando que você não queria nada comigo...

— Lembro. Parecia que eu tinha que desenhar.

— Então... Foi por isso que você parecia tão decidida a transar comigo no décimo encontro? Tipo, “ah é? agora é questão de honra!”

Ela virou a cara, tentando não rir.

— Claro que não. Que bobagem, Érico — disse com uma voz que soava tão falsa que dava vontade de apertar a bochecha dela.

— Aham...

— Não foi isso, não! Já tava afim — respondeu desviando o olhar.

— Foi questão de honra, sim.

Ela soltou um risinho, deu um tapa na minha perna e falou:

— Cala a boca.

Mas oportunidades não faltavam para ela encontrar o Roberto pelo condomínio ao longo das semanas. Dias depois, voltando da academia, a Sarah decidiu passar no salão de festas para pegar uma garrafa de água esquecida. Estava com um top preto apertado que mal continha seus seios volumosos e uma legging que colava nas coxas grossas e na bunda empinada.

Lá dentro, viu o seu Roberto sentado numa cadeira de plástico, mexendo no celular, uma garrafinha de refrigerante na mão.

— Eita... só o senhor aqui?

Ele levantou os olhos devagar.

— Sarah? — Ele sorriu, pela primeira vez espontâneo.

Ela entrou rebolando levemente, exagerando o andar, e foi direto pegar a garrafa. Depois, virou-se de frente para ele e bebeu em goles lentos, deixando um pouco escorrer no canto da boca, que ela limpou com o dedo e lambeu.

— Tá com sede também, senhor Roberto?

— Não... Já bebi. Refrigerante.

— Refrigerante engorda... Mas eu gosto de homem com... sustância. — Ela se aproximou e se apoiou na mesa, o busto a centímetros do rosto dele. — O senhor tem sustância.

Seu Roberto olhou para ela e depois desviou o olhar, como se tentasse lembrar o que estava fazendo ali.

— Sustância é bom.

Sarah parou por um segundo, confusa. Respirou fundo. Ajeitou o top como quem tenta recarregar a autoestima.

— Sim. E tem coisa que só melhora com o tempo...

— Vinho? Não bebo álcool há décadas — respondeu, suspirando como lamento.

O homem parecia um bunker emocional. Mesmo com o decote escancarado a dois palmos da cara dele, não parecia ver o óbvio.

— Bom, vou deixar o senhor aí esperando a dona Marieta em paz. — disse ela, se endireitando e dando meia-volta.

— Tá bom. Vai com Deus, viu? — respondeu ele, simpático.

Sarah saiu do salão com a garrafinha d'água na mão e um sorriso desacreditado no rosto. Mesmo assim, enquanto caminhava, sentiu que ele olhava a sua bunda rebolando. Pelo menos, desta vez, um avanço mínimo.

Os dias passaram até o domingo de manhã. A piscina do condomínio fervilhava de vida: casais conversando nas espreguiçadeiras, gente entrando e saindo da água com aquela preguiça mansa de fim de semana. Eu tava na minha, andando calmamente pela beirada da piscina, como quem não quer nada.

A Eliana estava sentada numa das cadeiras de ferro, as pernas cruzadas com elegância e o biquíni branco meio molhado grudando nos seios grandes. Ela dava risada de alguma besteira que o marido, Leandro, falava.

Do outro lado, a Jéssica saía da piscina. A água escorria pelo corpo magro e definido dela. O maiô preto com recortes laterais deixava a cintura fina ainda mais marcada. Os seios pequenos não precisavam de volume pra serem bonitos, e a bunda redondinha e firme, cada passo dela era uma visão.

A prima da minha esposa, Carolina, estava sentada numa espreguiçadeira, Kindle na mão, óculos escuros no rosto. O biquini azul-marinho realçava os seios grandes e naturais, quase derramando pelas laterais. A parte de baixo cavada deixava as coxas bem à mostra e a bunda, mesmo pequena, parecia arrebitada. As pernas estavam levemente abertas, numa posição que parecia casual.

— Bom dia, Carolina.

Ela levantou os olhos por cima dos óculos, sorriu de leve.

— Érico... Bom dia. Aproveitando o sol também?

— Só de passagem. E você? Leitura leve ou pesada?

Ela virou o Kindle um pouco, como se quisesse mostrar sem mostrar. Pelas frases, eu saquei rápido: era um livro sobre lesbianismo. Ela tentou esconder, mas leitura dinâmica era meu forte.

— É do Carl Sagan, “O mundo assombrado por demônios”.

Assenti, mas por dentro ri. Sabia que ela estava mentindo. Não era Sagan coisa nenhuma. Mas deixei quieto e preferi não comentar. Ela se virou de barriga pra baixo na espreguiçadeira, ajeitando o biquini com calma.

— Antes de ir, poderia passar protetor pra mim? — disse, entregando o frasco com a mão pra trás.

Fiquei imóvel por um segundo. Mas depois pensei que não tinha nada demais.

Ajoelhei do lado dela e comecei nos ombros. A pele bronzeada dela estava quente do sol. Espalhei o creme com movimentos lentos, tentando ser respeitoso. Mas o biquini era cavado nas laterais. Os dedos encostaram de leve na lateral dos seios, e aquilo já me deixou em alerta. Comecei a me concentrar mais do que nunca. Cada toque precisava ser calculado. Mas, ao mesmo tempo, ela tinha um corpo tão gostoso...

Logo, racionalizei que eu considerava a Carolina gostava pelo único motivo de ser prima da Sarah. As duas tinham o corpo parecido, os mesmos tipos de curvas nos mesmos lugares. Não era uma atração física à Carolina em si. Ao mesmo tempo, eu tava passando protetor numa mulher com o corpo parecido com aquela que era, para mim, a mulher mais linda e gostosa do mundo.

Era complicado não ter reações na cabeça de baixo.

— Faz tempo que não conversamos.

— A gente jantou junto ontem de noite.

— Lembrei que você disse que tava namorando e...

— Não estou namorando. Não exatamente. — O tom dela foi neutro, sem se virar. — Estou só conhecendo alguém.

— É o Ené-

— Não.

Continuei passando o protetor pelas costas, depois desci para a lombar. A ponta do biquini descia fundo. Aí foi impossível não encostar um pouco mais do que o necessário na bundinha redonda dela. Tensa e suave ao mesmo tempo. Por dentro, uma guerra. Tentei manter os toques discretos. Profissionais, quase. Mas os dedos traíam de leve.

Ela virou a página do Kindle com um toque.

— A Sarah está bem? — perguntou sem olhar pra mim.

— Sim.

— Ela anda bem frustrada — disse. — Tentei saber o que era, mas ela só disse que tinha um plano que tava dando errado o tempo todo. E andou me perguntou sobre uma ex-colega de faculdade minha. Queria quase um Globo Reporter dela: o que come, onde vive, o que gosta.

Terminei de espalhar o protetor, aliviado. Tinha mantido o controle. Quase. Só um toquezinho a mais aqui e ali. Nada demais. Respirei fundo e levantei.

— Pronto.

— Obrigada. — Ela disse sem tirar os olhos da tela.

Dei um passo pra sair dali, aliviado. Meu pau já tava começando a dar sinais de vida na bermuda. Mas aí, quando achei que tinha escapado...

— Ê, Érico! — gritou uma voz familiar.

Virei pra ver. Era a Andréia, deitada na espreguiçadeira do outro lado, óculos escuros e um sorriso sacana no rosto. O biquíni verde realçava ainda mais aquele corpo feito pra tirar a sanidade de qualquer homem: os peitos fartos no minúsculo. A barriga cheinha com os quadris largos e a bundona empinada e aquele par de coxões.

— Vem cá, bonitão. Passa protetor aqui também — disse, batendo na própria coxa com a palma da mão.

Na mesma hora, vi Carolina e ela trocarem um olhar cheio de cumplicidade, com um risinho breve no canto da boca, como se compartilhassem uma piada interna. Eu não entendi, mas senti que tinha coisa ali.

— Claro... tô virando especialista já.

A caminho da Andréia, tentei me ajustar, puxar a bermuda discretamente pra frente antes que mais gente notasse algo apontando demais ali embaixo.

A Carolina não disse nada, mas juro que vi ela virar a cabeça e me olhar passando protetor na Andréia com um sorriso de canto de boca.

Mais tarde, naquele mesmo domingo, era a vez da Sarah levar nossas roupas para lavar. A lavanderia do condomínio era um espaço simples e funcional. Um ambiente de azulejos brancos, com quatro máquinas de lavar encostadas na parede do fundo e quatro secadoras ao lado. Uma pequena bancada de plástico duro servia para dobrar roupas, e havia algumas cadeiras. O ar ali dentro era morno, impregnado do cheiro de sabão em pó e amaciante barato.

Lendo seu Kindle, a Sarah vestia uma calça de moletom cinza clara e uma camiseta branca simples. Seus olhos passavam pelas linhas do livro, ouvindo ao fundo o zumbido constante da secadora. Foi quando a Natália entrou carregando um cesto de roupas sujas. Usava uma calça jeans escura de corte reto, tênis brancos e uma blusa de tricô bege. Os cabelos ruivos estavam presos num rabo de cavalo alto, e seu rosto trazia um brilho leve.

Era a primeira vez que a Sarah via a Natália pessoalmente. Antes disso, era apenas fotos bem selecionadas no Tinder, um perfil apenas para seguidores no Instagram e a imaginação. A minha esposa não queria admitir, mas a Natália era ainda mais bonita e atraente ao vivo. Tinha uma presença natural, um ar leve, uma beleza quase irritante de tão casual.

— Oi — disse Natália, com um sorriso simpático ao ver Sarah.

— Oi.

— Tá usando a secadora? — perguntou Natália, se aproximando de uma máquina de lavar livre.

— Sim — respondeu Sarah, voltando os olhos para o Kindle.

— Nossa, nunca lembro qual sabão é melhor pra tirar cheiro de cachorro. — Natália começou a tirar as roupas do cesto e organizá-las na máquina com calma. — Minha cadela adora deitar na minha cama depois do passeio.

Sarah ergueu uma sobrancelha, mas manteve o tom neutro.

— Já tentou vinagre branco? Coloca um pouco no enxágue final.

— Jura? Não sabia disso! Nossa, obrigada! — Natália sorriu de novo. Um sorriso genuíno, aberto. — Eu sou nova aqui.

A Sarah fechou o Kindle e se levantou, andando até a secadora.

— Mora em qual a andar?

— 503. E você?

— Mais pra cima — respondeu Sarah, sem olhar para ela.

— Ah, legal. Eu sou Natália. — Estendeu a mão.

A minha esposa hesitou meio segundo, depois apertou.

— Sarah.

— Prazer. Gosto de conhecer gente do prédio. Às vezes, parece que todo mundo se esconde.

— É. Tem isso mesmo.

— Você me lembra muito uma amiga minha que mora aqui também. O nome dela é Carolina. Eu diria que vocês são irmãs.

— Primas.

A menção à Carolina meio que desarmou a Sarah. Enquanto a secadora ainda girava lentamente, as duas começaram a conversar mais naturalmente. A Natália era leve, sabia rir de si mesma, comentava sobre as dores nas costas depois de montar um armário sozinha. A Sarah foi baixando a guarda. Era quase impossível não simpatizar com a ruiva. Ela era calorosa sem ser invasiva, divertida sem forçar a barra. E, mesmo contra a vontade inicial, Sarah começou a rir de algumas histórias, a engatar perguntas, a comentar da convivência no prédio.

— E você? Mora faz tempo aqui? — perguntou Natália, jogando uma mecha de cabelo ruivo para trás.

— Um tempo já. — Sarah tirava as roupas da secadora e as colocava no cesto com movimentos automáticos.

— Gosta daqui?

— Sim.

— Isso é bom. Eu morava num prédio que parecia novela. Acredita que todos os casais faziam swing e rolou o maior escândalo quando descobriram que o porteiro comeu todas as casadas e diaristas? — Natália riu, e Sarah não pôde evitar um leve sorriso.

— Esse tipo de coisa não acontece aqui — garantiu Sarah.

— Ainda bem — respondeu Natália com bom humor. — Sai de lá antes que eu fosse a próxima a ser comida por aquele porteiro tarado.

Quando a Sarah colocou a última peça no cesto, pronta para sair, a Natália inclinou a cabeça de leve, como se lembrasse de algo.

— Ah, rapidinho... Você conhece um cara chamado Érico? Acho que ele mora aqui. A gente se encontrou uma vez, mas foi meio por acaso...

A Sarah congelou por dentro.

— Conheço, sim. Ele mora aqui. Inclusive, vi ele no elevador mais cedo.

— Ah, então é ele mesmo. Obrigada pelo papo, Sarah. Foi bom conhecer alguém legal aqui.

— Você também.

A Sarah saiu da sala com o cesto nas mãos e duas certezas: a Natália tava caçando seu marido e ela agora tinha o endereço dela.

Os dias passaram. A Sarah continuou provocando o seu Roberto sempre que podia e fracassando a cada tentativa.

Uma noite, ela entrou em casa com um humor tão soturno que parecia que tinha chovido só em cima dela. Usava uma saia jeans curtinha, blusinha branca colada, e um batom vermelho de guerra. Guerra perdida, pelo visto.

Sentou na cadeira da cozinha e ficou calada, olhando pro vazio.

— Deu ruim de novo?

Ela assentiu, devagar. Não tinha nem expressão. Parecia atordoada.

— O que eu tô fazendo de errado, Érico? Eu não sou bonita? É a minha cara? Eu tô fora de forma? Eu não sou gostosa? Por favor, seja sincero comigo! Por que parece que nenhum homem quer me comer?

Ela perguntou de um jeito sincero, quase quebrado. Me deu um aperto no peito. Fui até ela, ajoelhei na frente da cadeira e segurei as mãos dela.

— Sarah, você é maravilhosa. Não tem nada de errado com você. O seu Roberto é que é um cara travado. Ele te vê e deve ficar duro na hora. Não deve sabe lidar com o desejo.

Ela me olhou com os olhos cheios d'água, mas não de choro. De frustração misturada com afeto.

— É por isso que eu me casei com você.

Sorri e beijei a mão dela.

— Foi porque eu te incentivo a transar com outros?

Ela riu, balançou a cabeça.

— Não. Porque você sempre está do meu lado para me consolar quando eu fracasso.

— Ah, então se eu parar de consolar você, você me troca por um terapeuta?

Ela me puxou pela camisa e me beijou.

— Se você parar de me consolar, você vai ser obrigado a me consolar por ter parado de me consolar.

— Isso foi um trava-língua ou uma ameaça?

Ela deu risada, encostando a testa na minha.

— Foi um aviso.

Ali, ajoelhado entre as pernas dela, eu não sabia se ria, se beijava, ou se agradecia a Deus. Então fiz os três.

As quatro noites seguintes tiveram amor gostoso e muito sexo satisfatório para ambos.

E a Sarah não desistiu, claro.

Apesar do que ela disse, ela nunca fracassa. É perseverante demais para isso.

Três dias depois, a Sarah estava com um vestidinho azul decotado no elevador. Estava para apertar o botão do andar quando o seu Roberto apareceu com uma sacolinha plástica do supermercado. Suado. Camisa social branca, meio amarrotada. Triste, como sempre.

Ela o recebeu com um sorriso quando a porta do elevador se fechou, deixando ambos a sós.

— Boa tarde, senhor Roberto.

— Boa tarde, Sarah... — respondeu ele, com a voz sonolenta.

Sarah encostou-se na parede oposta a ele, cruzando os braços e fazendo com que os seios saltassem ainda mais no decote. Ele olhou por quase cinco horas antes de voltar os olhos para o visor do elevador.

— Quente hoje, né? — comentou ela, abanando-se com a mão.

— Uma sauna.

Empolgada, a Sarah sorriu mais, inclinando-se ligeiramente para frente. O elevador subia devagar, como se o universo quisesse dar tempo pra ela.

— Não sei por quê, mas toda vez que esbarro com o senhor, meu dia melhora.

— Hã... melhora?

— Melhora. Deve ser sua energia — disse, pousando uma mão no corrimão ao lado dele, o corpo quase tocando o dele. — O senhor tem uma presença que acalma.

Roberto arregalou os olhos. Ficou pálido, depois vermelho. Depois pálido de novo. As mãos apertavam a sacola como se ela fosse explodir.

— Posso contar um segredo? — disse ela, baixinho.

— Pode...

— Eu... sempre achei charmoso esse seu cabelinho branco nas laterais. Me lembra aqueles galãs antigos.

Roberto deu uma risada nervosa.

— Galã eu? Sarah... Você tá me tirando...

— Tô não. — Ela falou firme, mas doce. — Por que eu faria isso?

O elevador parou em um andar que não de nenhum dos dois. Silêncio. Ela sentia a respiração dele mais rápida. Ele também.

Ele a olhou com mais firmeza, demorando-se no decote, depois no rosto. O rosto dele mudou. Suavizou. O rosto dele foi se aproximando do dela. Parecia que ele finalmente tomaria uma atitude.

Então, a porta do elevador se abriu.

— Eita! — disse a voz animada da Jéssica. — Boa tard... opa!

Devido à interferência da Jéssica, o seu Roberto saiu do elevador, naquele andar errado mesmo, tropeçando nos próprios pés.

Sarah ficou estática. Já ia bufar, mas disfarçou com um sorrisinho contido. Por sua vez, a Jéssica discretamente levantou um dos braços, cheirou a própria axila e fez uma careta leve, se perguntando se estava fedida.

Depois de quase três semanas, a Sarah já estava quase desistindo. Cada provocação era ignorada ou recebia uma falta de atitude de um virgem voluntário. Até que, naquela quinta-feira à noite, tudo mudou.

Ela subia as escadas voltando do mercado, sacola leve numa mão, celular na outra, quando dobrou o lanço do terceiro andar e deu de cara com o seu Roberto. Camisa polo listrada, calça de tactel azul-marinho, sandália de couro surrada. Suando. Como sempre.

— Olha só quem eu encontro — disse ela, com aquele sorrisinho que já estava virando marca registrada.

Seu Roberto deu uma olhada de cima a baixo nela. Pela primeira vez, sem disfarçar. A Sarah estava com um vestidinho floral leve, quase transparente contra a luz da escada. Por baixo? Nada. Ela sabia. E agora ele também sabia.

— Sarah...

— Hm?

— Você quer me matar, é?

— Se for de prazer, aceito a culpa.

Ele deu um passo à frente, encostando-a levemente contra a parede. Sarah sentiu a respiração dele quente, carregada de cafezinho velho e algo que parecia sardinha. O nariz quis reclamar, mas o plano exigia foco.

— Você tá brincando comigo... é isso?

— Não tá vendo? Tô levando bem a sério — sussurrou, olhando direto pra boca dele.

O seu Roberto não respondeu. Avançou de vez. O corpo gordinho empurrou o dela contra a parede com uma força que a pegou de surpresa, não agressiva, mas cheia de urgência. A Sarah deu uma leve cabeçada na parede e soltou um risinho nervoso, já sentindo os cabelos se desgrenharem na nuca.

Ele parecia um homem faminto, como se o que ela tinha por baixo do vestido (ou, mais precisamente, o que ela não tinha) fosse uma miragem que ele precisava confirmar com as próprias mãos. As mãos de Roberto começaram a apalpar a lateral dela, descendo pela cintura com movimentos desajeitados, quase de inspeção. Quando ele alcançou a curva da bunda, o toque era mais de “ver se está lá mesmo” do que de carinho.

E então veio o beijo. Ou melhor, o ataque bucal. Uma lambida de língua grossa e quente que buscava espaço onde não havia, misturada com um bafo de cebola, café requentado e talvez um pouco de doritos vencido. Sarah tentou se concentrar, tentou encontrar um canto do beijo que fosse aproveitável, mas era como beijar um liquidificador morno no modo pulsar.

Por um segundo, considerou simplesmente deixar ele terminar ali mesmo, na escada. Mas, considerando que o seu Roberto tinha libertado o tarado que existia dentro de si e já estava levantando o vestido dela para ver sua nudez, ela logo percebeu que, se não interrompesse, estaria pelada nos próximos segundos. Ele estava com os olhos fechados, suando, arfando, a mão tentando erguer a perna dela como um descoordenado.

Ela encostou a palma no peito suado dele.

— Ei, ei, calma. Assim, o senhor me desmancha aqui mesmo na escada... — disse ela, empurrando-o de leve. — Que tal a gente fazer isso direito? Tipo no meu apartamento. Sábado.

— No seu apartamento? — arfou ele, olhos esbugalhados.

— Uhum. Eu, o senhor e o meu maridinho corno e submisso assistindo. — Ela falou num sussurro quente no ouvido dele, controlando com todas as forças a gargalhada que ameaçava subir. — Vai ser divertido.

Roberto arregalou os olhos. Depois ficou vermelho. Depois deu aquele sorriso tenso de quem estava à beira de um ataque de testosterona.

— Você tem certeza?

— Nunca tive tanta certeza de nada.

Ele grunhiu um “tá” e deu outro beijo nela, ainda mais molhado e desconjuntado que o primeiro. A Sarah teve que colocar a mão no meio do peito dele.

— Guarda isso pro sábado — disse, ainda sorrindo, mas com os olhos pedindo socorro.

Realizado o seu Roberto desceu os degraus com a velocidade de quem acabou de ganhar na loteria. A Sarah ficou parada, respirando fundo, sentindo o batom borrado e o cabelo grudando na testa.

— Missão dada, missão cumprida... — murmurou. — Eu sou gostosa pra caralho! Levanto até defunto!

E, em seguida, fez uma careta ao lembrar do beijo horroroso e, triunfante, subiu os últimos lances de escada com um passo leve, doida para me contar seu sucesso.

Sábado seria o gran finale dessa mistura de plano e penitência e a Sarah já tinha em mente o que ia querer de prêmio em seguida: poder dar para o homem solteiro mais gostoso que ela achasse. E como acordos são acordos, eu teria que ajuda-la nisso.

Na sexta de noite, fomos ao supermercado aproveitar uma promoção de mês cheio, e acabamos exagerando. Era arroz, feijão, leite, papel higiênico, uns ingredientes para um almoço especial pro seu Raimundo, produto de limpeza... Ao chegarmos no estacionamento do condomínio, notamos o exagero. Eu carregava duas sacolas em cada mão, e a Sarah vinha atrás de mim, bufando, tentando equilibrar mais quatro.

Quando estávamos quase na porta de entrada da torre, o seu Geraldo apareceu. Ele estava com o uniforme meio amarrotado, boné afundado na cabeça e o crachá já pendendo torto. Claramente, fim de turno.

— Ô, casal! — falou, se aproximando com aquele sorrisão de sempre. — Isso aí é pra um mês ou pra um batalhão?

— Pra um mês — respondi, com um sorriso cansado. A sacola do amaciante quase rasgava entre meus dedos.

— A gente não calculou direito... — disse Sarah, limpando o suor da testa com o braço. — E agora a gente vai ter que fazer umas três viagens pra dar conta.

O seu Geraldo olhou pra gente, depois pras sacolas, e deu uma risadinha.

— Eu tô indo embora agora mesmo. Posso dar uma força até lá em cima, ué. Não custa nada.

— Ah, seu Geraldo, imagina... — começou Sarah, mas ele já pegava as sacolas maiores do chão com uma facilidade que me envergonhou um pouco.

— Que isso, moça. Melhor ajudar do que ver vocês penando. E depois, é bom que eu já faço meu exercício do dia.

A Sarah e eu nos entreolhamos. O seu Geraldo era sempre assim. Gente boa, prestativo. Nunca vi aquele homem de mau humor. Sempre com uma resposta espirituosa, sempre disposto a ajudar.

— Valeu demais — falei. — Sério mesmo. Você é o melhor.

Com ele, conseguimos fazer tudo numa viagem só. Subimos juntos pelo elevador. A Sarah tentava manter o equilíbrio sem derrubar o sabão em pó, e o seu Geraldo ainda soltava piadas.

A presença dele tornava tudo mais leve. Parecia um tiozão daqueles que a gente encontra em festinha de família e sempre tem uma história engraçada pra contar. Na época, a gente não sabia que o “família” quase se enquadrava, já que ele era o mais próximo de um “namorado” que a Carolina tinha.

Chegando ao nosso andar, ele ajudou a colocar todas as sacolas dentro do apartamento. Quando largamos tudo na cozinha, a Sarah ficou ofegante, as mãos nos quadris, e olhou pro seu Geraldo com gratidão.

— Peraí um pouquinho — disse ela, indo até a bolsa. Pegou a carteira, abriu e tirou duas notas de vinte. — Isso aqui é só um agradecimento. Não é nada demais.

Ele fez aquele gesto clássico com as mãos, como quem empurra o dinheiro de volta sem tocar.

— Ih, moça... não precisa disso não. Eu ajudo porque gosto de ajudar. Meu pagamento já vem lá na folha do mês.

— Mas é só um mimo, seu Geraldo. Pela boa vontade mesmo — insistiu.

— E eu agradeço o carinho, viu? Mas se eu começo a aceitar de um, vou ter que aceitar de todo mundo. Daqui a pouco tô que nem garçom, esperando gorjeta. Melhor não — disse, com aquele sorriso cheio de rugas sinceras.

A Sarah deu uma risadinha.

— Tá bom... mas saiba que a gente aprecia muito.

— Eu sei disso. E eu também gosto muito de vocês. Qualquer coisa, é só chamar. Mas agora vou que vou, que a minha novela já tá quase começando. Um abraço pros dois!

Ele saiu, acenando com a mão. A porta se fechou, e ficamos olhando um pro outro, exaustos e rindo da situação.

— Ele é incrível, né? — Sarah comentou.

— É, ele é. Um cara de ouro.

Mas o que eu não sabia naquele momento era que, em pouco tempo, o seu Geraldo iria comer a minha esposa.

E o pior? Iria deixar ela com um sorriso no rosto.

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CENA PÓS-CRÉDITOS NÃO-CANÔNICA:

Érico estava sentado no sofá com o notebook apoiado nas coxas, concentrado, quando ele sentiu uma sombra se projetar sobre a tela. A Sarah, com os braços cruzados, lia a parte 5 da série deles por cima do ombro do marido.

— Eu não estava subindo as escadas sem calcinha e sutiã não, viu? Tô louca, por acaso? Primeiro, bastava alguém um pouco mais abaixo de mim que eu virava notícia no grupo do condomínio. Segundo, não é porque a gente tem um relacionamento aberto que eu saio por aí igual personagem de conto erótico.

— Amor, é ficção... Às vezes, a gente precisa exagerar pra deixar mais picante. Não teve cena de sexo neste capítulo. Achei que precisava de um algo a mais...

Sarah bufou, e sem dizer nada, puxou a alça do sutiã bege e sem-gracinha, exibindo com orgulho.

— Pois então anota aí, escritor: eu estava com esse sutiã aqui. E mais, olha a calcinha também.

Ela levantou o vestido floral na altura dos quadris, revelando uma calcinha de algodão azul-clarinha, com elástico largo, levemente desbotada, com umas bolinhas brancas que pareciam ter sido mais vivas em outra década. Uma roupa íntima mais funcional que erótica.

— Essa aqui. Confortável, cobre tudo, nada de fetiche.

Érico fixou os olhos na calcinha com olhos brilhando e o volume crescendo na bermuda.

— Deixa eu ver mais um pouco. Preciso anotar os detalhes. O formato, as cores, a textura, essas bolinhas aqui...

Sarah deu um passo para trás e baixou o vestido.

— Tarado!

— Amor... não é culpa minha se até a sua calcinha de bolinha me excita...

— Continua sendo tarado.

— Vai ser essa a calcinha que você vai dar pro seu Geraldo?

— Só se eu lavar antes e tiver a usando na hora. Acho que sim, ainda faltam alguns capítulos para isso.

A Sarah se sentou ao lado dele e rolou a página do texto com o dedo.

— E essa parte aqui do beijo do Roberto? Você botou “bafo de cebola, café requentado e talvez um pouco de doritos vencido”. Não foi assim que eu descrevi.

— Ué, deixei claro que o beijo foi ruim.

— Ruim?! Você aliviou demais o beijo! A boca dele parecia uma esponja de lavar banheiro que caiu no chão do terminal rodoviário.

— Eu não quis ser muito repulsivo pros leitores, senão estragava o clima...

— Clima? Que clima, Érico? Era justamente pra ser horrível. A graça era essa.

— Mas, amor, mesmo com comédia, isso tem que ser um conto erótico ainda.

Sarah apontou pra outra parte do texto:

— Agora isso aqui: “eu não sabia naquele momento que, em pouco tempo, o seu Geraldo iria comer a minha esposa”.

— Isso é um foreshadowing.

— Foreshadowing o escambau, Érico. Isso é spoiler! Foreshadowing tem que ser sutil. Isso aí é entregar o prêmio antes da rifa.

— Você tem razão. Mas já tô com problema suficiente porque nem sei como vou escrever esse capítulo do seu Geraldo te comendo. Eu nem tô na cena! Como vou narrar um troço que não vi?

— Um problema de cada vez. Primeiro, você deveria se preocupar com os leitores que vão reclamar que esse negócio de relacionamento aberto parece um truque seu para você poder comer as gostosas, enquanto eu tenho que dar para um monte de velho gordo.

— Gostosas? Você me proibiu de comer 90% do elenco feminino!

— Ainda assim, você vai pensar num jeito de comer umas gostosas. É isso que os leitores querem.

— Tem leitores querendo é que a gente seja enrabado pelo Jonas.

— Querer isso, eu não quero, Érico. Mas você sabe que se os leitores pedirem muito isso nos comentários, a gente vai acabar cedendo e dando pro vilão. Conto de homem comendo um casal costuma fazer sucesso e, como a gente não tem a proteção editorial do Rogério e da Jéssica, somos os protagonistas que podem ser comidos por um vilão.

— Os leitores podiam pedir para eu conseguir um milagre e comer alguma aquela outra vizinha ruiva dos primeiros capítulos, a que deu pro Enéias.

— Eles nem lembram mais dela. Eu sei que os leitores vão realmente querer é que eu dê para um dos gostosos da nossa idade. Tem o Enéias, o Antônio, o Pedro, aquele cara que vai namorar a Lorena... Cuckold sempre faz sucesso e a maioria deles é mais pausudo que você.

Érico suspirou e olhou para o notebook como se ele tivesse acabado de perder uma discussão com a própria tela. No fundo, sabia que Sarah tinha razão.

— Tudo bem. Eu me dei bem com a Natália. Você pode escolher um dos caras gostosos da nossa idade para quem você vai dar na parte 8 ou 9. Só não vale o Rogério.

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Pois bem, leitor. No próximo capítulo, vamos ter a transa da Sarah com o seu Roberto e a continuação da nossa confusão com a vizinha Natália. O que o futuro nos aguarda?

Respondam nos comentários qual o homem da nossa idade com quem a Sarah deve transar: Enéias? Pedro? Leandro? Antônio?

NOTA DO AUTOR: Sinto que errei a mão no capítulo anterior pelo fato do Érico e da Sarah parecerem competitivos demais um com o outro. A graça desta série para mim é que eles sejam um casal fofinho, que realmente se ame, e que, apesar das suas inseguranças, sejam cooperativos nas maluquices em que se meteram. Este capítulo foi uma grande correção de rota para deixar claro que eles são assim.

Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Daqui a duas semanas, teremos a continuação.

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