Os Jogos Começaram

Um conto erótico de Lore <3
Categoria: Lésbicas
Contém 3629 palavras
Data: 10/07/2025 19:17:28
Assuntos: Lésbicas

~ Alguém lembra quantos quartos tinha na casa dos meus sogros e a quem eles pertenciam? 😏

Eu deitei para dormir e, logo, Kaique e Milena bateram na porta. Deixei que eles entrassem, já imaginando a solicitação dos meus senhores.

— Mãe, deixa a gente dormir aqui para a senhora não sentir falta da mamãe na cama — Mih falou.

— A mamãe não me chuta, não me empurra... Acho que consigo suportar a saudade que estou — ironizei.

— A gente também dá beijinho — Kaká falou.

— Tá bom, só pelo beijinho — falei, rindo, e eles se juntaram a mim.

Fizemos o combinado do dia seguinte. Os dois iriam seguir a rotina de aulas e estudo, brincar durante a tarde e, à noite, eu partiria para o trabalho, retornando durante a madrugada. Eles prometeram se comportar e não ultrapassar os horários combinados enquanto eu estivesse na filial.

Tudo correu bem. Assim que a aula terminou, Juh me ligou. Perguntei como estavam meus sogros e ela disse que ainda estavam bem ruinzinhos e, naquele momento, dormiam.

— Estou me sentindo super mal — ela disse.

— Eita, gatinha, gripou? — perguntei.

— Não... É porque aconteceram tantas coisas hoje — Juh me falou.

— Conta, amor — pedi em um tom carinhoso.

— A gente estava tomando café da manhã bem cedo e Iury não levantava. Minha mãe foi até o quarto dele e começou a chamar, mas ele não respondia e parecia lento... Aí Lana disse que devia ser uma hipoglicemia e foi uma correria... Fiquei morrendo de dó. Meu pai abriu uma latinha de refrigerante e virou na boca dele e, aos poucos, ele foi voltando... Aterrorizante — Juh falou.

— Putz, que horrível... Ele está bem agora? — perguntei.

— Sim... Mas acho que ele não se cuida direitinho, não — Juh observou.

— Poxa, acho que é isso que meu sogro quer conversar com a gente — disse-lhe.

— Não... É outra coisa... — a gatinha falou em tom mais baixo.

— Ele já conversou contigo? — perguntei.

— Foi porque, depois disso tudo, eu fiquei querendo entender como Iury descobriu, desde quando toma insulina e como era o acompanhamento médico... E do nada todos ficaram em silêncio. Parecia que eu tinha tocado em um assunto proibido. Meu pai perguntou se eles queriam prosseguir naquele assunto e, se sim, como. Eu comecei a perceber que era delicado e disse que não tinha problema se não quisessem, não precisava, eu só estava curiosa para compreender e tentar ajudar se fosse preciso. Porém, entendo perfeitamente que era algo íntimo e os dois tinham total direito se não fosse confortável — a gatinha iniciou.

— Continua, amor — pedi, um pouco impaciente, e ela riu discretamente.

— Iury disse que, por ele, estava ok, e Lana assentiu. Então ele começou a contar. Os dois têm apenas onze meses de diferença e, assim que meu irmão nasceu, a genitora os entregou em uma unidade de atendimento e deixou avisado que eles já viviam com HIV... — Juh falou.

O silêncio reinou entre nós. Confesso que nem sequer imaginei. Por si só, ser deixado em um abrigo e passar parte da vida pulando de instituição em instituição já não é fácil; enfrentar uma infecção viral crônica e, no caso de Iury, lidar também com uma doença autoimune crônica... A vida não havia sido gentil com os meus jovens cunhados.

— Putz, amor... Que difícil... — falei após algum tempo.

— Eles parecem entender muito bem sobre isso. Me explicaram que estão de um jeito que não transmite, mas como não existe uma cura, fazem uso de uma medicação... Senti que eles têm vergonha — Júlia continuou.

— Já devem ter sofrido bastante com isso... Mas que bom que a carga viral está indetectável... — pontuei, sentindo grande tristeza no coração.

— Dei um abraço neles, acho que o primeiro de verdade... E senti que, de alguma maneira, nós nos conectamos hoje — a gatinha disse, com uma felicidade aparente na voz.

— Fico feliz por vocês, amor... Sabia que esse convívio ia fazer bem — falei.

— Ahhh, esqueci de falar sobre a diabetes... Quando Iury tinha uns cinco anos, aconteceu alguma coisa que eles não quiseram contar. Só sei que Iury foi parar no hospital e os exames mostraram... Mas acho que ele não segue à risca os cuidados que tem que tomar, acho que vou ficar de olho nisso — Juh disse de forma lenta.

— Nossa, como ela está tooooda irmã mais velha, responsável — brinquei.

— Não é nada disso, quero somente que ele se cuide, ué — Juh se explicou.

— Seeeeeei, tá rendida já — continuei zoando.

— Ai, amor, você eu não sei, não — ela disse, e eu aposto que sorria.

— É brincadeira, porém é bom perceber uma aproximação entre vocês. Torço para que dê certo e que seja só um começo — falei.

— Eu também. Daqui a pouco, nós três vamos na cachoeira — Juh disse, animada.

— Vida boa retada — brinquei novamente.

— Quer saber uma coisa fofa? — ela perguntou, toda manhosa.

— Diga, meu amor — falei.

— Aqui era a minha casa, morei quase a minha vida inteira e agora não faz o mínimo sentido vir sem você e as crianças. Fico falando algo... — a gatinha disse de forma meiga.

— Ahhhhhh, eu vou ter que ir te buscar agora, fodam-se os meus cunhados — falei, completamente apaixonada.

— Parece que eu vim e deixei meu coração — Juh continuou.

— Eu te amo muito, sabia? Estou morrendo de saudade do meu grudinho oficial... Os genéricos dormiram comigo, Mih lutou comigo a noite inteira — disse-lhe, e ela riu.

— Também te amo muito... Amor, eu tinha certeza que eles iam parar na nossa cama — Júlia comentou.

Desligamos a ligação e, enquanto Juh conversava com nossos filhos, comecei a refletir sobre a situação de Lana e Iury. Sabia que, em breve, meus sogros provavelmente me pediriam indicações de bons profissionais para garantir que eles recebessem o acompanhamento necessário. Resolvi me adiantar: comecei a pesquisar referências em Salvador, selecionando e avaliando com cuidado, com o desejo sincero de proporcionar aos meus cunhados uma experiência acolhedora e tranquila.

A gatinha não retornou mais, e as mensagens estavam sendo entregues, mas não cheguei a me alarmar. De vez em quando, o sinal some na pousada, então considerei algo normal.

Coloquei meus anjinhos na cama, reforçando os combinados que já havíamos feito. Avisei que, se precisassem de qualquer coisa, podiam ligar para o Lorenzo ou para a Sarah, que estavam de sobreaviso. Pedi apenas que evitassem acionar meus pais, a menos que não conseguissem falar com os tios. Nesse caso, tudo bem recorrer a eles também.

Os dois estavam radiantes, sentindo-se super adultos, e eu, com o coração apertado, via meus bebês crescendo diante dos meus olhos. Ainda assim, me sentia tranquila em saber que podia confiar neles.

Fui direto para a filial e, como de costume, mergulhei nas demandas que me aguardavam. A madrugada foi intensa, entre prontuários, reuniões com a equipe de plantão e decisões administrativas que não podiam ser adiadas. Mal percebi o tempo passar. Estava tão imersa na dinâmica, lidando com casos específicos extremamente delicados e garantindo que tudo funcionasse bem, apesar das circunstâncias, que só me dei conta das horas quando o céu começou a clarear.

Depois de uma reunião matinal, voltei para casa. Kaique e Milena já estavam em aula, mas consegui acenar discretamente para eles me verem antes de ir tomar um banho. Depois, passei para dar um beijinho em cada um e me preparava para descansar um pouco, mas fui surpreendida por uma bandeja com suco e sanduíches, preparada com todo carinho pelos meus filhos, que estavam eufóricos porque havia dado tudo certo.

— Só me acorda se a mamãe ligar. Preciso falar com ela — disse-lhes.

— Ela nem apareceu pra gente hoje. Ontem ligou a câmera — Mih comentou.

Juh passava de turma em turma, conferindo se as aulas estavam acontecendo conforme o planejado e, como de costume, fazia isso de forma ágil, quase sempre com a câmera desligada. Por isso, achei uma graça saber que ela ligou a câmera só para que nossos filhos pudessem vê-la. Um gesto simples, mas cheio de carinho, que só poderia vir da gatinha.

— A internet deveria estar ruim — pontuei.

— É... Na verdade eu nem vi o nome da mamãe entrando hoje — Kaká observou.

— Putz, será que ferrei com o trabalho da mamãe? — perguntei, e eles apenas riram.

Acabei pegando no sono quando eles retornaram para a aula e só acordei pouco antes do almoço. Os chamei para que me ajudassem e ficamos conversando sobre a noite passada e o comportamento deles. Se eu tivesse tempo, teria conferido nas câmeras, mas foi até bom não ter feito isso, porque ouvir da boca dos meus guris que só conversaram um pouquinho, dormiram, acordaram, tomaram banho, se alimentaram e foram assistir à aula foi bem mais interessante.

Após o nosso almoço, tentei ligar para Júlia, mas caiu direto na caixa postal. Acabei dormindo mais um pouco enquanto as crianças faziam suas atividades. Despertei com eles reclamando que estavam entediados e fomos para a varanda brincar com Brad.

— A mamãe não ligou hoje — Milena reclamou.

— Acho que lá está sem sinal — falei.

— O dia todo? — ela questionou.

— É o que parece, amor — tentei.

— Tô com saudade — Kaká disse melancolicamente, se jogando no meu colo.

— Eu também. Mas ela tá cuidando da saúde dos seus avós e conhecendo melhor os irmãos... Não foi importante o seu tempo com a Mih quando você chegou? É a mesma coisa... — expliquei, e ele assentiu.

— Queria que tivesse sinal — Mih voltou a lamentar, chateada, e se juntou ao irmão.

— Calma, vai passar rapidinho — tentei consolá-los enquanto me consolava também, rindo sem graça.

O outro dia chegou, e seguimos da mesma maneira: nem sinal da minha gatinha. Então, tomei a decisão de que, se ela não me respondesse, eu iria até lá à tarde. Na pousada até fica sem sinal, mas não por tanto tempo... Meu inconsciente começou a acusar que havia algo de errado acontecendo.

Foi o que ocorreu. Deixei Milena e Kaique com Lorenzo, peguei o carro dele e fui para a casa dos meus sogros. Chegando lá, os encontrei sentados na varanda, bem agasalhados e com uma notável diferença visual. Pareciam melhores.

— Vim buscar minha muié. Tá demorando demais — brinquei e os abracei.

— Foi dar um passeio a cavalo, cansou da maresia — minha sogra disse.

Imediatamente pensei: “Ufa, pelo menos ela está bem.”

— E Iury e Lana, foram juntos? — questionei.

— Não, estão aí dentro — meu sogro respondeu.

Os dois pareciam satisfeitos.

— Pelo que eu estou vendo, vocês estão bem melhores — comentei.

— Júlia montou um verdadeiro cronograma com remédios e não deixou a gente fazer nada... Não estava gostando, mas deu certo. Ela tinha razão e não era exagero — minha sogra concluiu, rindo.

— E como foi... Eles três? — perguntei, curiosa.

— Lore... São altos e baixos... Assim que chegamos, eu achei que ia ser a maior confusão... A casa vai ser ampliada, nós já sabemos até como ficará, mas claro que ainda nem começamos... Lana está dormindo no quarto de Kaique e Milena, e Iury está no de vocês... Juh ficou toda triste, falou que ia dormir na pousada porque lá era o quarto dela, mas nós conversamos e deu tudo certo. Está cada uma em uma cama — dona Jacira disse.

— Depois tivemos uma conversa bem... esclarecedora... Sobre a saúde dos meninos. Ela disse que até comentou contigo, e eu queria mesmo falar com você, porque com certeza entende e poderá nos ajudar — seu Zé pontuou.

— Eu me adiantei e já trouxe o nome de uns centros especializados, alguns médicos... Vamos dar o melhor tratamento para eles. Com certeza já sofreram muito nessa vida e, no que eu puder ajudar a suavizar daqui para frente, podem contar comigo — falei, e os dois abriram o maior sorrisão e me agradeceram.

— Eles deram um passeio ontem, foram até a cachoeira. Houve uma confusão, porém se resolveram logo... Ahh, estou gostando de ver como as coisas estão indo... Por mais que não seja fácil, sinto que o nó que existia está se desfazendo — minha sogra falou, com um ar aliviado.

Juh não tinha voltado, então entrei para falar com os pestinhas. Eles estavam distraídos, e eu os assustei com um grito.

— Não sabia que você vinha — Lana disse, animada.

— Trouxe os crias? — Iury perguntou, tentando olhar atrás de mim.

— Não, eles ficaram... Vocês alugaram minha muié e eu fiquei com saudade de cheirar o cangote dela. Tive que vir atrás — brinquei.

— Quanto grude — Iury ironizou.

— Que passeio demorado esse, hein? — falei, olhando no relógio.

E eles se entreolharam. Foi então que eu notei algo… Estávamos no quarto onde Juh deveria estar dormindo e não havia nem sinal das mochilas dela.

— Tá acontecendo algo que eu deveria saber? — perguntei, de maneira séria.

— Então… — Iury começou a dizer, me puxando para dentro e fechando a porta.

Aparentemente, meus sogros não poderiam ouvir.

— Cadê Júlia? — perguntei, sentindo o coração acelerar.

— Ela disse aos nossos pais que ia andar a cavalo, mas nós vimos ela entrar na pousada — Iury continuou, quase em um sussurro.

— Nós não somos X9, né? Então não falamos nada — Lana finalizou.

— Mas por que isso? — questionei.

— Lore, a gente até tentou, mas não vamos nos dar bem nunca. Somos completamente diferentes. Ela não sabe brincar, não sabe se divertir… E ontem ela dormiu lá depois que voltamos da cachoeira — Iury falou, tranquilo.

— Poxa, ela estava tão feliz por estar se conectando com vocês… — comentei.

— Até achei que ia dar certo, porém… Não deu — Iury disse.

— Nunca achei que isso fosse funcionar — Lana falou, com sinceridade.

— Vou até ela — disse-lhes.

Eu nem pedi, não estava a fim de brincar de esconde-esconde, mas, para que meus sogros não soubessem que a gatinha estava na pousada, Lana os chamou.

Entrei já me direcionando até o quarto, abri a porta devagar para não assustá-la, e lá estava meu amor. Deitadinha, abraçada ao travesseiro, acompanhada de lenços de papel e uma garrafa de água.

— Toc, toc — falei, dando duas batidinhas na porta.

E só então fui notada. Juh parecia estar longe.

— Amor? — ela disse com uma voz rouca, visivelmente confusa, como se não acreditasse que eu estivesse ali.

— Você não responde seu amô, aí eu tive que vir atrás do meu neném — falei, indo ao seu encontro.

— Sem sinal… Desculpa — Juh disse, e eu a abracei bem forte, me juntando a ela na cama.

— Saudade… — falei, sentindo o cheiro da pele dela e começando uma sequência de beijinhos.

Júlia começou a apertar o abraço mais e mais. Senti suas lágrimas molhando meu colo e não tive coragem de dizer nada.

— Eles são malvados, amor… — foi a única coisa que ela me disse, após algum tempo.

— Te machucaram? — perguntei, preocupada, cessando o carinho para prestar atenção em seu corpo, e notei seu pé machucado.

— Eles são malvados… — Juh repetiu, me agarrando ainda mais.

— Vamos embora, gatinha — falei, decidida.

Seja lá o que eles tivessem feito, visivelmente machucou minha mulher. Júlia estava em prantos nos meus braços, e eu me sentia extremamente culpada por ter sugerido a ida dela à pousada.

— Espera um pouco — Juh disse, insistindo no abraço.

Recomecei o carinho, agora percorrendo suas costas com as mãos, torcendo para que ela se acalmasse, e ficamos mais ou menos uma hora naquela mesma posição.

— A gente foi pra cachoeira de quadriciclo e estava tudo bem. Fomos brincando, jogando mamonas uns nos outros pela trilha. Como não dá pra chegar na cachoeira, estacionamos lá naquela parte estreita e o clima entre nós estava bem gostoso. Eu achei de verdade que ia dar certo e que todo aquele caos tinha sido apenas uma primeira má impressão — nesse momento, a gatinha voltou a chorar.

— Você não precisa contar nada agora. Se quiser, a gente só vai embora, amor. E desculpa… Não era pra eu ter sugerido nada disso e sim esperar acontecer naturalmente… — falei, depositando alguns selinhos em seus lábios.

— Quero contar. E não pede desculpas por isso, suas intenções foram boas e quase deu certo… O problema foram eles… — Juh disse de forma manhosa.

— Tá bom, amor… — não quis contrariá-la, mesmo ainda me sentindo culpada.

— Nós chegamos lá, eles ficaram bem no raso e eu um pouco mais para o meio, mas a gente ainda conversava. Não sei quem puxou o assunto, porém voltamos a falar sobre o passado deles. Aí Iury foi contando que eles chegaram a conhecer a genitora porque ela os visitou uma vez e, depois, eles começaram a fugir do abrigo para tentar encontrá-la novamente. A única vez que deu certo, quando ela os avistou, se atirou na frente de um carro para não falar com eles… Foi fatal, bateu a cabeça e eles presenciaram a morte da mãe biológica — Júlia relatou, enxugando o rosto.

— Puta que pariu… — foi como consegui reagir.

— O namorado dela avançou em cima deles, os culpando e dizendo que ia matá-los. O pessoal que passava na rua os protegeu, mas Iury começou a passar muito mal e chamaram o SAMU… Lá, contataram o abrigo, veio o diagnóstico de diabetes e, pela primeira vez, os remanejaram para outro lugar — Juh continuou.

— Cada novo fato que sei sobre a vida deles me assusta ainda mais — falei, em um lamento.

— Teve outras coisas pesadas também, mas eles não detalharam. Não é a primeira vez que eles são adotados, já aconteceu antes, porém foram devolvidos. Os dois já foram agredidos de todas as formas e abusados sexualmente. Pelo que eu entendi, foi pela mesma pessoa. Fora as milhares de confusões que eles arranjaram, o que fez com que fossem transferidos inúmeras vezes, nunca tendo estabilidade — a gatinha finalizou.

Respirei fundo, tentando processar cada palavra.

— É surreal pensar que eles sobreviveram a isso tudo e ainda assim conseguem sorrir, brincar… Eles são fortes demais… Dá uma vontade absurda de proteger… — comentei, extremamente triste.

Meu peito doía só de imaginar a vida que eles levaram.

— Eu estava exatamente assim, querendo pegar os dois e enfiar em um potinho, para que nenhum mal chegasse até eles novamente… — Juh começou a dizer. — Sentei no meio deles e falei que eu senti muito ciúme porque, pela primeira vez, estava dividindo meus pais com outras pessoas. Fiz questão de deixar claro que passei uma borracha nisso e que, a partir de agora, seria um prazer dividir esse amor e que, se dependesse de mim, nada de ruim ia mais afligir os corações deles e que meu coração estava aberto para que eles pudessem morar… — Júlia disse-me, emocionada.

— Ninguém pode dizer que você não está tentando, amor… Ninguém… — pontuei, intensificando o carinho.

— Estava tudo indo bem, tudo mesmo. Consegui convencê-los a avançar um pouco na água e eles perguntaram como te conheci. Riram bastante com a história e confessaram que, logo quando meus pais falaram que éramos um casal homoafetivo, eles não acharam legal, mas que, desde o início, você foi muito legal e os dois perceberam que era bobagem se importar com isso. Nós tiramos muitas fotos bem bonitas — nesse momento, a gatinha pegou o celular e foi me mostrando.

Realmente, fizeram belos registros. Dava para perceber que algum sentimento bom havia brotado ali. Fotos dos três abraçados, fazendo careta, rindo um do outro… Estavam espontâneas, e isso foi o que mais deixou lindo para mim.

— O que aconteceu para mudar o clima drasticamente? — perguntei, tirando alguns fios de cabelo da sua face.

— Então… A gente ainda estava tirando foto quando um bicho muito grande e feio apareceu nas pedras, e Lana o pegou. Eu falei para ela jogar longe porque eu tinha medo, e nisso ela começou a me olhar estranho… À medida que ela se aproximava, mesmo morrendo de medo e sem conseguir pensar direito, eu ia me afastando. Fiquei com mais medo ainda de imaginar a Lana se afogando por minha causa, aí saí correndo e eles dois me perseguiram. Achei que eu teria vantagem porque eles ainda ficaram recolhendo nossos pertences, mas, cada vez que eu olhava, eles estavam mais próximos… Já próximo de casa, tropecei em uma pedra e caí. Eu comecei a gritar de dor, contudo, quando me alcançaram, comecei a gritar de horror. Entrei em pânico com Iury me segurando e Lana enfiando aquele bicho nojento no meu rosto — Júlia relatou, completamente arrepiada e começando a soluçar.

— Eles passaram de todos os limites… Não foi só uma brincadeira de mau gosto. Eles te viram chorando e decidiram continuar… O nome disso é crueldade… — pontuei, decepcionada.

— Eu implorei para pararem, eu gritava por socorro, me debatendo, e em nenhum momento eles deram sequer um passo para trás… Meu pai ouviu e acabou vindo. Eu nem consegui explicar, só me agarrei nele chorando muito enquanto ele brigava com os dois… Fui desesperada tomar um banho, totalmente suja, e quando me perguntaram o que houve… Eu disse que a gente se resolvia depois… Arrumei minhas coisas, esperei meus pais dormirem e vim para cá… Não queria interagir com eles e também estava com medo de aprontarem outra coisa enquanto eu dormia — ela enfim finalizou.

— Por que não contou tudo que ocorreu? Meus sogros precisam saber ou isso pode se repetir, amor… — perguntei.

— Não sei, eu queria esquecer, fugir, pôr um fim naquele dia… Se eu pudesse, ia embora logo, mas ainda estava estabelecendo os horários dos remédios, essas coisas… — Júlia disse.

Eu não quis mais questionar. Ela já tinha revivido tudo aquilo ao me contar, e eu podia ver o quanto estava exausta. Então, apenas fiquei ali, oferecendo o que meu coração mandou: colo, carinho e presença.

Acomodei Juh melhor, trazendo-a para cima de mim, afaguei seus cabelos com calma e beijei de leve sua boca algumas vezes.

— Descansa um pouquinho antes de irmos — falei, e ela concordou, acenando positivamente com a cabeça, encaixando-se contra o meu pescoço.

Aos poucos, senti o seu corpo relaxando ainda mais sobre o meu. Seus ombros perderam a rigidez, a respiração dela agora era profunda e constante, e seu coraçãozinho batia tranquilo. Em contraste, meus pensamentos tamborilavam mais do que as mãos de um percussionista em tempo de carnaval… Pelo menos, dentro dos meus braços, Júlia estava segura.

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Foto de perfil de Lore Lore Contos: 124Seguidores: 43Seguindo: 4Mensagem Bem-vindos(as) ao meu cantinho especial, onde compartilho minha história de amor real e intensa! ❤️‍🔥 (sou casada e completamente apaixonada por uma mulher ciumenta, mantenha distância ✋🏽💍)

Comentários

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Quando Lore apareceu (EXTREMAMENTE LINDA) na porta eu me senti taaaaao aliviada... JURO! ❤️

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