Cara… acho que nunca senti esse misto de emoções na minha vida.
Estava dentro do carro, em completo silêncio, e pela primeira vez o caminho de volta pra casa parecia interminável.
Sabe quando alguém te diz algo tão absurdo que você simplesmente não consegue acreditar que seja verdade?
Era assim que eu me sentia.
Minha mente voltava sempre para aquele corredor… para as vozes abafadas…
E, como num filme pornô censurado, minha imaginação preenchia o resto.
Uma parte de mim — a safada, claro — só conseguia imaginar meu pai e Don Fabrizio se agarrando com fome, encostando corpos grandes e suados contra a parede fria, sussurrando pecados que eu nem queria decifrar.
Mas a outra parte… a racional…Não conseguia ver meu pai ali.
Aquele homem fechado, sempre tão no controle, tão sério, sendo dominado? Ou dominando alguém como Fabrizio? Era loucura! Porém…
Se tem uma coisa que eu aprendi vivendo no mundo da Máfia...
É que ninguém é exatamente o que aparenta ser.
E isso — essa dúvida, essa rachadura na imagem que eu fazia dele — só instigava ainda mais a minha curiosidade.
Quem era realmente o homem que estava calado ao meu lado?
….
O carro deslizava pela estrada de volta como um animal silencioso — preto, blindado, luxuoso. Lá fora, o mundo dormia. Aqui dentro, o silêncio era uma sentença.
Eu estava no banco de trás, ao lado de meu pai.
Mas poderia estar ao lado de um estranho.
Ele mantinha o corpo ereto, olhar fixo na escuridão além da janela escurecida. As mãos — grandes, firmes — estavam apoiadas nos joelhos, como se controlassem algo invisível.
O motorista à frente não dizia uma palavra. Sabia o lugar dele. E nós dois... não sabíamos o nosso.
Eu queria perguntar. Queria gritar. Queria fingir que nada tinha acontecido.
Mas a única coisa que fiz foi encostar a cabeça no vidro frio e deixar a mente me torturar.
A imagem do corredor voltava em flashes:
O som abafado da voz de Fabrizio.
O tom tenso do meu pai.
O suspiro rouco.
A respiração presa.
E minha mente, claro, fazia o trabalho sujo: completava as lacunas com cenas que me deixavam duro e enjoado ao mesmo tempo.
Um gemido? Um beijo? Um toque escondido?
Eu não sabia o que havia acontecido...
Mas sabia que queria saber.
E essa era a parte mais perigosa.
Quando chegamos ao portão da mansão, meu pai apenas disse:
— Pode ir direto pro quarto. Amanhã conversamos.
Mas eu não me mexi. Esperei ele sair primeiro. E quando a porta se abriu e ele cruzou o corredor silencioso, fiquei ali sentado no banco de couro, com o coração disparado, e uma ereção teimosa apertando meu jeans.
Como se o desejo... não fosse mais algo que eu escolhia.
….
Subi as escadas como se cada degrau fosse um desafio físico.
Minha respiração estava curta, o jeans apertado demais. A ereção latejava — incômoda, insolente.
Como se meu corpo quisesse confessar tudo que minha mente ainda negava.
A casa estava em silêncio absoluto.
Nenhum som, nenhum respiro.
Só eu, meus passos abafados e a culpa que começava a se infiltrar pelas bordas do meu desejo.
Fechei a porta do quarto com calma. Tranquei.
Encostei a testa na madeira fria por um segundo, tentando organizar o caos que girava dentro de mim. Mas era inútil.
Ele sabia de alguma coisa.
O jeito como falou. O olhar.
Não precisava dizer com todas as letras.
Bastava ser... ele.
Tirei a camiseta e fui até o espelho.
Meu reflexo me encarava com a mesma pergunta que eu evitava:
O que você está sentindo?
Minha pele ainda queimava.
E não era só pelo calor abafado da noite.
Abri o zíper com pressa, deixando o jeans cair junto da cueca. O pau pulou pra fora, ainda duro, como se me desobedecesse.
Entrei no banheiro e liguei a água quente.
Queria me lavar. Esquecer.
Mas era impossível esquecer o que eu nem tinha certeza se aconteceu.
O vapor começou a subir e cobriu o espelho devagar, como se quisesse esconder quem eu era.
Ou quem eu estava me tornando.
Fechei os olhos.
E, mesmo sem querer, a imagem veio:
Meu pai.
Encostado contra a parede do corredor.
Fabrizio perto demais.
As mãos deles se tocando. A respiração tensa. O silêncio cheio de pecado.
Meu corpo respondeu antes da minha mente permitir.
Comecei a me tocar com força. Não como quem se masturba...
Mas como quem quer apagar um incêndio com gasolina.
Cada movimento era de raiva.
E desejo.
E dúvida.
Gozei rápido, quase com raiva de mim mesmo.
O jato quente escorrendo enquanto a água descia sobre meu peito.
Apoiei as mãos na parede. O corpo tremia.
E a verdade se arrastava como fumaça dentro de mim:
Eu não queria saber o que aconteceu naquele corredor.
Eu queria… ter estado lá.
….
Depois do banho, deitei na cama ainda nu, o corpo molhado de suor fresco, não mais de água.
A pele parecia sensível ao toque do lençol. Os olhos pesavam, mas a mente... nao deixava
descansar.
Fechei os olhos só por um instante.
E então...
Estava de novo naquele corredor.
Só que tudo era mais quente. Mais escuro. Mais... denso.
O papel de parede parecia úmido. O chão, levemente pegajoso sob os pés descalços.
Havia um cheiro no ar. Um cheiro de suor masculino, de couro gasto, de testosterona engarrafada e
derramada ali, como um vinho proibido.
E na minha frente...
Eles.
Meu pai. Don Fabrizio.
Nenhum dos dois dizia uma palavra.
Dante estava encostado na parede. A camisa entreaberta. O peito largo, suado. O olhar...
selvagem.
Fabrizio estava diante dele, ajoelhado, com as mãos nas coxas do meu pai, os dedos cravados na
carne dura, subindo devagar.
Os lábios roçavam a barriga dele, subindo até o peito. Depois desciam.
Meu pai soltava respirações profundas, abafadas.
O maxilar travado. Mas não havia recusa ali. Só fome contida.
De repente, era como se eles me vissem.
Não como invasor. Mas como parte daquilo.
Fabrizio se virou primeiro. Me encarou com os olhos azuis brilhando.
Você quer saber o que aconteceu aqui? ele perguntou, com a voz rouca.
Meu pai virou o rosto devagar. Me olhou com aquele olhar que fode por dentro.
Vem ver com seus próprios olhos.
E estendeu a mão.
Minha respiração travou.
Minha pele queimava.
Dei um passo.
Mais um.
A mão dele se fechou na minha.
E então acordei.
Ofegante. Coberto de suor. O lençol grudado na barriga.
Meu pau... pulsando. E um jato ainda quente escorrendo pela lateral.
Gozei dormindo. Só com o que minha mente inventou.
Passei as mãos pelo rosto. Fechei os olhos de novo.
Mas agora não havia mais sonho.
Só gosto dele na minha língua. Mesmo que ele nunca tivesse me tocado.
….
Acordei com a luz entrando pelas frestas da cortina.
O quarto ainda cheirava a suor e lençol quente.
Minha pele colava um pouco contra o tecido, e por um segundo... eu achei que ainda estava sonhando.
Mas não estava.
O gosto do sonho ainda escorria pela minha garganta como uma lembrança úmida.
E meu corpo — mesmo depois do gozo da madrugada — ainda reagia ao menor pensamento.
Levantei devagar, com os músculos preguiçosos e a mente confusa.
Puxei uma calça de moletom qualquer, nem me importei em vestir cueca.
Só queria descer, tomar um café… tentar fingir que o mundo ainda fazia algum sentido.
Ao pisar no corredor, o silêncio era diferente.
Não aquele silêncio tranquilo de uma casa rica. Era um silêncio denso, carregado, como se os cômodos sussurrassem o que não deveria ser ouvido.
Desci os degraus em silêncio.
Na sala de jantar, meu pai já estava sentado à cabeceira. Camisa branca, mangas dobradas, um copo de café escuro nas mãos grandes.
Ele ergueu os olhos quando me viu.
— Bom dia — disse, com a voz grave.
Só isso.
Mas aquele “bom dia” parecia... saber demais.
— Bom dia — respondi, tentando parecer natural.
Me sentei. O mordomo silencioso trouxe meu café, como sempre.
Mas o líquido queimando na minha boca não era suficiente pra apagar o calor que subia pelas minhas coxas.
Evitei olhar diretamente pra ele.
Mas sentia.
Sentia os olhos dele sobre mim.
Ou talvez fosse só culpa.
Ou talvez fosse desejo demais pra ser ignorado.
Por fim, ele disse:
— Dormiu bem?
Quase engasguei.
Demorei um segundo a mais pra responder.
— Dormi. Acho que... sonhei também. Mas já passou.
Ele sorriu. De leve.
Aquele sorriso contido que ele usava quando sabia mais do que dizia.
— Que bom. Às vezes, é melhor quando os sonhos ficam onde pertencem.
Silêncio.
E naquele silêncio, meu corpo gritou.
As palavras dele ecoaram com suavidade, mas pousaram sobre minha pele como lâminas frias.
Fiquei olhando pra minha xícara, tentando fingir que aquela frase não era exatamente sobre mim. Sobre o que eu tinha sentido, sonhado, gozado.
Ele levou o copo à boca devagar, observando por cima da borda.
Aqueles olhos… calmos demais. Como se soubessem.
— Vai passar na empresa hoje? — perguntou, casual, como se não houvesse um mundo inteiro nos separando naquela mesa.
— Vou — respondi, seco.
— Ótimo. Quero que você passe no meu escritório assim que chegar. Tem alguém lá que você precisa conhecer.
Aquela frase me paralisou por um segundo.
Ele não disse quem.
Nem por quê.
Mas o jeito como disse…
Era como se já soubesse que isso ia me causar algo. Como se tivesse escolhido as palavras com precisão cirúrgica.
Assenti com um leve aceno de cabeça.
Levantei da cadeira e ajeitei a camisa.
— Até mais tarde, então.
— Estarei te esperando — respondeu ele, sem tirar os olhos de mim.
Saí da sala sem olhar pra trás. Mas a sensação… a sensação de estar sendo observado permaneceu cravada na minha pele como um arrepio teimoso.
Eu não sabia quem era a tal pessoa.
Mas parte de mim já sabia.
E outra parte… já estava tremendo de vontade de reencontrá-lo.
…..
O elevador subiu com a mesma lentidão irritante de sempre.
As portas de aço cromado refletiam meu rosto, sério, tenso.
Mas o frio na barriga não vinha do trabalho.
Vinha do que meu pai tinha dito mais cedo.
Tem alguém que você precisa conhecer.
Quando as portas se abriram, o corredor estava vazio.
Somente o som dos meus passos preenchia o espaço.
Mas havia algo no ar. Um pressentimento. Um cheiro familiar.
Cheguei na porta do escritório de Dante. Bati uma vez e entrei sem esperar resposta.
Ele estava sentado atrás da mesa, como sempre. Impecável.
Mas não estava sozinho.
Encostado na parede, casual, de braços cruzados, estava ele.
O homem do corredor.
O mesmo olhar arrogante.
O mesmo corpo largo envolto por uma camisa que colava nos músculos dos braços.
Cabelo com aquele mesmo corte ousado.
Cavanhaque.
Olhos castanhos claros, e um sorrisinho de canto que me atravessou.
— Javier — disse meu pai. — Este é Matteo. Vai acompanhar você na missão de hoje.
Matteo descruzou os braços, deu um passo à frente e estendeu a mão.
— Prazer — disse com a voz grave. — Dessa vez sem empurrões, espero.
Segurei a mão dele. Firme. Olhos nos olhos.
O toque foi rápido, mas o calor… ficou.
— Depende de onde você estiver no caminho — rebati, com o mesmo sorrisinho dele.
Meu pai nos observava. Silencioso.
— Matteo é novo no grupo, mas tem histórico com a Família Castro — ele explicou. — Quero que vocês dois lidem com a situação no armazém. Um dos nossos homens parou de responder. Pode ser só erro… ou não.
Matteo ainda me olhava. Como se já soubesse o que me deixava desconfortável.
Ou excitado.
Ou ambos.
— Alguma objeção? — perguntou meu pai.
— Nenhuma — dissemos ao mesmo tempo.
Nos encaramos.
O mesmo sorriso nos lábios.
Mas por dentro…
a faísca já tinha virado brasas.
….
O motor do carro ronronava sob nós como um predador enjaulado.
Matteo dirigia com uma mão só no volante, a outra apoiada na janela aberta, os dedos longos tamborilando no ritmo de um jazz grave que escapava das caixas de som.
Silêncio.
Mas não era desconfortável.
Era denso.
Aquela tensão que se forma quando dois animais se reconhecem… e ainda não decidiram se vão lutar ou se comer.
— Então… — ele começou, sem tirar os olhos da estrada — você é o filho do chefe.
— E você é o cara que empurra os outros nos corredores.
Ele riu, de leve.
— Você ficou meio abalado com aquilo, não ficou?
— Você se acha demais — respondi, sem olhar pra ele.
— Eu me acho exato — retrucou. — E você... tenta disfarçar demais.
Virei o rosto.
— Disfarçar o quê?
Ele virou o rosto na minha direção por um segundo. Um segundo longo demais.
— Nada — disse, com um sorriso que mordia os cantos da boca. — Ou tudo.
Ficamos em silêncio de novo. Mas dessa vez, era diferente.
Meus olhos desceram sem querer até o antebraço dele: tenso, marcado, uma veia saltando da curva do bíceps.
Pelo leve. Pele quente.
Poder bruto.
Ele percebeu.
Claro que percebeu.
— Bonito o relógio — soltei, desviando rápido.
— Quer experimentar?
Ele disse aquilo com tanta naturalidade que por um instante achei que estivesse falando só do relógio.
— Tô bem assim.
— Uma pena — ele murmurou. — Tem coisas que só fazem sentido quando estão no seu pulso.
Ou no seu pescoço.
A frase ficou ali, suspensa, queimando o ar entre nós.
Chegamos ao armazém.
Ele parou o carro com um gesto rápido, desligou o motor e me encarou antes de sair.
— Vai na frente, príncipe — disse. — Mas cuidado…
Nem tudo que brilha quer te obedecer.
Saí do carro com o coração acelerado.
Não era medo.
Era raiva.
Desejo.
Ou os dois.
E no fundo, eu sabia:
Essa missão…
Era só o começo do jogo.
….
O portão do Armazém 17 estava entreaberto.
A tranca no chão. Nenhum vigia à vista.
— Isso já tá errado — murmurei, puxando a Glock da cintura.
Matteo fez o mesmo. Sem sorrir agora. Os olhos atentos, o corpo ereto, pronto.
— Eu entro pela frente. Você cobre pelos fundos — ele disse, sem hesitar.
Assenti. Não era hora de desafiar.
Nos separamos.
O interior do armazém estava escuro, abafado, cheiro de metal velho e óleo de motor.
O chão de concreto rangia sob as botas.
Cada passo meu era uma promessa de confronto.
Até que vi.
Um corpo.
De bruços.
Sangue seco ao redor.
Um dos homens da segurança. Conhecia ele desde criança.
— Merda — sussurrei.
Ouvi um estalo. Me virei com a arma erguida.
Era Matteo.
— Dois mortos nos fundos. Um enforcado. Outro… aberto. Como um recado.
— Um recado pra quem?
Ele me olhou. Sério.
— Pra você.
Senti o peso das palavras no estômago.
Abaixei o olhar pro corpo aos meus pés. Um papel amarrotado no bolso do morto.
Peguei.
"Sabemos o que seu pai esconde.
Agora é sua vez de decidir de que lado você está."
Mostrei a Matteo.
Ele leu. Cerrou o maxilar.
— Isso é pessoal — disse. — Não é só máfia.
— É guerra.
O som de metal sendo arrastado ecoou no fundo do armazém.
Nos viramos ao mesmo tempo, armas apontadas.
Um vulto correu pelas sombras.
— COBERTURA! — gritei, me abaixando atrás de um container.
TirosSilêncio.
Matteo correu até mim.
— Dois. Armados. Sumiram rápido demais. Isso aqui tava montado pra nos assustar…
Ou pra te testar.
— Quem faria isso?
— Alguém que te quer de joelhos. Ou morto.
Ou talvez… alguém que conhece o seu pai melhor do que você.
Respirei fundo.
O sangue zumbia nos meus ouvidos.
Meu dedo coçava no gatilho.
E dentro de mim, uma certeza crescia como um grito abafado:
Nada do que está por vir será limpo.
Nem justo.
Nem simples.
Mas eu nasci nesse mundo.
E agora…
estava pronto pra sangrar por ele.
….
O sol da manhã era pálido, seco, sem calor.
Javier chegou à garagem da sede da máfia pouco antes das 9h.
O corpo ainda doía da tensão da noite anterior, mas a mente… estava mais afiada que nunca.
Matteo já o esperava.
Encostado em um carro preto fosco, braço cruzado, cigarro apagado no canto da boca.
— Dormiu bem, príncipe? — perguntou, sem se mover.
Javier parou diante dele, encarando-o.
O olhar de Matteo era o mesmo: provocador, insolente, como se estivesse sempre dois passos à frente de todo mundo.
— Melhor que você, pelo visto. Ainda fedendo a fumo e testosterona vencida.
Matteo sorriu de canto.
Jogou o cigarro no chão sem nem ter acendido.
— O velho mandou a gente seguir a trilha do bilhete?
Javier assentiu.
— Quer que a gente descubra quem sabia da missão antes dela acontecer. Nomes. Movimentações. Informações internas.
— Então vamos brincar de rato e queijo.
Entraram no carro. Matteo ao volante, Javier ao lado.
Dessa vez, o silêncio era mais confortável.
Como se algo tivesse mudado desde o primeiro encontro.
Como se os dois já soubessem que estavam… presos no mesmo laço.
— Você leu aquele bilhete quantas vezes depois que saímos de lá? — perguntou Matteo, de repente.
— Quantas vezes você acha?
— O suficiente pra decorar, aposto. — Ele virou o rosto por um segundo. — Tem coisa ali que é mais pessoal do que parece.
Javier olhou pra ele.
— Você tá sugerindo que é sobre mim?
— Tô dizendo que se alguém quer te atingir por dentro, precisa te conhecer por fora também.
Silêncio.
Javier passou os olhos pelo braço de Matteo no volante. O músculo contraído. A tatuagem que subia da manga.
Por um segundo, pensou no toque dele.
No que aconteceria se o provocasse de volta.
Mas guardou. Por agora.
— Vamos começar por dentro. Gente da empresa. Informações vazadas — disse Javier, firme.
— Ou seja... mexer em vespeiro.
— Eu nunca tive medo de picada.
Matteo soltou um riso curto, seco.
— Aí é que tá, Javier. Às vezes…
é a vespa que gosta de ferroar.
…..
Voltamos ao galpão na manhã seguinte.
O lugar parecia mais morto do que antes — mas era justamente isso que incomodava. O silêncio excessivo, a poeira que já não se movia, como se tudo ali estivesse congelado no tempo... ou à espera de algo.
No canto do galpão, Matteo encontrou uma porta de metal enferrujada, parcialmente oculta por uma lona escura.
— Aqui. Parece uma antiga sala de segurança ou depósito de arquivos — ele murmurou, já puxando a porta com cuidado.
Era um cômodo apertado, do tamanho de um pequeno banheiro. Uma janela lacrada, sem ventilação. Estantes metálicas ocupavam as laterais. O ar era denso, abafado, com um leve cheiro de mofo e óleo velho.
Ambos entraram.
Assim que Matteo iluminou a parede do fundo com a lanterna do celular, a porta atrás deles se fechou com um estrondo.
CLANG.
— MATTEO?! — Javier girou, tentando puxar a maçaneta, mas ela já estava travada.
Nenhuma resposta de fora.
O espaço mal permitia que os dois ficassem em pé lado a lado.
Eles se entreolharam, e pela primeira vez, o sorriso de provocação de Matteo desapareceu.
— Que beleza — ele rosnou. — Agora sim estamos bem fodidos.
O calor começou a pesar no ar quase imediatamente.
O espaço era tão estreito que seus ombros se encostavam com cada respiro mais fundo.
E o silêncio…
era cortado apenas pela respiração dos dois.
— Ótimo lugar pra morrer sufocado — Javier disse, tentando quebrar a tensão.
— Ou pra perder o juízo — Matteo respondeu, virando de leve a cabeça, encarando-o no escuro.
As luzes do celular jogavam sombras nas bochechas, nos maxilares, nos olhos.
O rosto de Matteo estava perto.
Perto demais.
Javier desviou, encostando as costas na parede gelada.
— Para de me olhar assim.
— Assim como?
— Como se você soubesse de alguma coisa que eu ainda não sei.
Matteo deu um meio sorriso, baixo, quase sem querer.
— Talvez eu saiba.
— E o que seria?
Ele chegou mais perto.
A voz foi só um sopro:
— Que o jeito que você respira muda toda vez que eu chego perto.
O silêncio entre os dois vibrou.
O ar parecia ficar mais grosso.
E o espaço, menor.
Javier tentou manter a postura.
— Tá sonhando alto demais, Matteo.
— Não — ele respondeu. — Tô só observando.
Você treme… mas não recua.
O tempo parou por um instante.
A única coisa entre os dois era o som do próprio sangue correndo alto.
A pele suada, os braços que se tocavam sem querer — ou de propósito.
O calor que não vinha só do claustro.
Matteo não encostou.
Mas também não se afastou.
E Javier, pela primeira vez…
não queria mais sair dali.
Continua….
Nota: Opiniões para melhoras sempre são bem vindas! Bjss seus putos😘