Um homem quando ama

Da série CORNOS
Um conto erótico de Marquesa de Sade
Categoria: Heterossexual
Contém 1451 palavras
Data: 09/07/2025 17:55:21

Eu sei que ele sabe. Cada vez que volto pra casa com o perfume misturado, o cabelo fora do lugar, e a alma meio bagunçada, eu vejo nos olhos dele que não sou segredo algum. Ele me lê como quem decifra um livro antigo, e com paciência e desejo.

Mateus nunca pergunta. Nunca levanta a voz. Ele espera. Está sempre na varanda, camisa aberta, o copo de vinho deixado pela metade, como se soubesse a hora exata em que eu vou abrir a porta. Às vezes penso que ele sente quando estou sendo fodida por outro. E mesmo assim, ele me recebe com os braços abertos, como se eu ainda fosse dele.

E sou dele, de um jeito torto, mas sou. Naquela noite, o cheiro do outro ainda grudava na minha pele, e mesmo assim, Mateus me pegou pela mão com carinho. Me conduziu pela casa, como se eu tivesse voltado de uma viagem longa, e ele estivesse me esperando o tempo todo.

— Está com fome? — ele perguntou, com os olhos fixos nos meus.

Neguei. Eu queria outra coisa. Queria entender até onde ia a paciência dele. Ou talvez, até onde ia a minha.

— Cansada? — ele insistiu.

— Um pouco — menti, e deitei no colo dele, como sempre faço quando quero fingir que nada aconteceu.

Os dedos dele começaram a deslizar devagar pela minha pele, e chegaram na covinha da minha vulva. Subiram por debaixo da blusa, encontraram meus seios ainda sensíveis, e eu gelei. Os mamilos ainda duros pelas chupadas. Ele sabia que eu tinha sido tocada, preenchida, dominada por outro. E mesmo assim, não parava.

— Ele te tocou bem hoje? — ele sussurrou, com uma calma que me dava mais medo do que se gritasse.

Engoli em seco. Não respondi.

— Não precisa mentir pra mim — continuou. — Mas aqui, comigo... você vai me dar tudo. Sem esconder nada.

Quando ele me levou pro quarto, eu não me senti suja. Me senti pequena. Não pela culpa, mas porque, ali, deitada sob ele, era como se eu finalmente pertencesse a alguém. E esse alguém era ele. Mesmo que meu corpo passasse por outros, meu prazer mais verdadeiro, mais fundo, era dele.

Mateus me beijou como se estivesse agradecendo. A cada toque, eu esquecia todos os outros. Ele não tinha pressa. Sabia exatamente onde me desfazer. Eu gemia o nome dele, mesmo com o gosto do outro ainda na boca. Gozei forte, com culpa e alívio, como se meu corpo confessasse tudo num espasmo só.

Depois, deitada no peito dele, tremendo ainda, ouvi a voz baixa:

— Você pode dar seu corpo a quem quiser... mas teu prazer mais fundo, tua rendição... é só minha.

Achei controvérsias no dizer dele, tinha que ser, e consenti com um sorriso.

Achei que aquela noite ia acabar ali — minha pele colada à dele, o silêncio carregado de coisas que nunca dizemos. Mas a campainha tocou. E o jeito que tocou... não era qualquer um. Era insistente. Aquele tipo de toque que vem de gente que não quer esperar.

Mateus vestiu a calça com calma. Eu me enrolei no lençol, mas meu corpo gelou. Sabia exatamente quem era. Sabia que a minha vida lá fora, aquela que ele nunca perguntava, estava prestes a invadir o espaço dele.

Quando ele abriu a porta, três caras estavam ali. Dois deles, eu já tinha visto de perto demais. O terceiro... era o que realmente importava. Alto, camisa de botão aberta no peito, aquele sorriso torto de quem cobra sem levantar a voz.

— A noite foi boa, Carolzinha? — ele disse, olhando direto pra mim. — Mas parece que ficou coisa fora do combinado.

Mateus não disse nada. Só encostou no batente da porta, braços cruzados, o olhar frio. Mas não assustado. Ele queria ver o que eu diria.

— Isso não é com ele — eu falei firme, descendo as escadas, ainda com o lençol grudado no corpo, como se fosse escudo. — A dívida é minha. E eu vou resolver do meu jeito.

— Isso quer dizer o quê? — um deles perguntou rindo.

— Que eu vou sair com vocês... agora. Mas ele fica fora disso.

Eu vi nos olhos de Mateus um brilho escuro. Não de ciúmes — de algo mais profundo. Um tipo de dor que não é de quem perde, mas de quem entrega.

— Você não me deve proteção — disse ele, ainda firme. — Mas se sair por essa porta com eles, vai voltar diferente.

— Eu já sou diferente, Mateus. Você sabe. Sempre soube.

Ele se aproximou de mim. A mão segurou meu queixo com firmeza, me obrigando a encará-lo.

— Vai lá, Caroline. Paga sua dívida. Mas quando voltar, se voltar... eu vou te foder do meu jeito. Até você lembrar quem te faz tremer de verdade.

Eu engoli seco. Falou, falou, e não disse que me ama. O lençol escorregou do meu ombro, e ele nem piscou. Me despiu com os olhos pela milésima vez, mas dessa vez, com fúria contida.

Os caras já estavam impacientes no portão. Fui, totalmente nua, e com orgulho de estar daquele jeito. Cada passo meu ardia, porque eu sabia que o preço que teria que pagar de verdade, não era com eles. Era com Matheus.

Saí naquela noite como quem caminha pro castigo. Não pelo que faria — isso já era parte de mim —, mas pelo que perderia a cada segundo fora da casa dele. O corpo fez o que tinha que fazer. A dívida foi paga. Os gemidos foram reais, já que gosto de ser puta; estive no meio de dois, fazendo dupla penetração, em cada laçada envolvente; engoli muita porra, satisfazendo os fetiches de gozarem na boca. Mas em nenhum momento eu deixei de pensar nos olhos do Mateus. Estes sim, penetram profundamente, e não gosto de engolir.

Aquela promessa: “Se voltar, eu vou te foder do meu jeito.” Voltei.

O céu já clareava quando encostei o portão com cuidado. A casa estava em silêncio. A luz da cozinha acesa. A camisa dele jogada na poltrona. E então o vi: sentado à mesa, de costas, tomando café como se eu não tivesse passado a noite me perdendo em outros braços.

— Achei que não voltaria — ele disse, sem se virar.

— Eu disse que voltava — sentei toda nua, pegando e mordendo um pedaço de torrada.

— E eu disse que te esperaria. Mas não do mesmo jeito.

Fiquei ali na cadeira, esperando o que julgava ser justo. Queria correr pra ele. Queria pedir que me limpasse por dentro. Que arrancasse dos meus poros o cheiro que não era dele. Mas ele não se levantou. Apenas falou:

— Vai pro quarto. Põe uma roupa, que seja uma camisola. Fica de joelhos na beira da cama. E não diz nada.

A voz era baixa. Sem grito. Mas com uma autoridade que me atravessou como um arrepio quente.

Obedeci. Vesti uma langerie, me maquiei de leve. devagar, num misto de tesão por cornos e o sentimento de culpa.Me ajoelhei como ele pediu. As coxas trêmulas, e a respiração presa. O quarto todo carregado da ausência dele. Ele demorou a entrar.

Quando entrou, veio sem camisa, os olhos pesados. Me olhou de cima como se eu fosse uma dívida que ele próprio fosse cobrar. Parou atrás de mim. E ficou ali, respirando perto da minha nuca, sem me tocar.

— Eles gozaram em você? — sussurrou.

Assenti, baixando os olhos.

— E você gozou?

Demorei. Mas falei a verdade:

— Sim.

Pensei que ele fosse me puxar pelos cabelos, mas veio uma mão me fazer carinho. Pegou na minha cabeça, e veio girando-a para o seu lado. Era um anel de brilhantes.

— Carol, estamos fazendo 15 anos.

Peguei a peça, e passando no dedo, respondi:

— E há 17 eu te amo demais, professor, ainda que platonicamente no início.

Mateus me puxou pela mão, levantando-me, e me beijou, parecendo gostar do gosto de esperma misturado com batom.

— Quem é que te faz tremer? — perguntou depois.

— Você — sussurrei, com a voz arranhada de prazer.

— E de quem você é?

— Tua. Sempre fui. E pode confiscar o anel se quiser.

— Não quero. — disse ele — Mas retirou a langerie, jogando para a janela.

Empurrei-o para a cama, procurando o cacete com a mão direita. E ao pé do ouvido, perguntei:

— Essa é para o porteiro do térreo saber?

Desde aquela noite, nunca mais falamos sobre dívidas. Nem sobre os outros. A casa voltou a ser silenciosa, com o cheiro do café, os lençóis limpos, e o mesmo olhar dele que me atravessa sem precisar perguntar nada.

Continuo saindo às vezes, e ele nunca pergunta.

Mas toda vez que volto, encontro a luz acesa, a camisa dele jogada na poltrona, e a porta do quarto entreaberta, como se me esperasse. Ou como se soubesse que, um dia, eu talvez não voltasse.

Mas eu volto, por enquanto.

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Foto de perfil de Marqueza de SadeMarqueza de SadeContos: 85Seguidores: 31Seguindo: 0Mensagem Sou de Astorga, e qualquer título com nome de música de Chitãozinho e Xororó não é uma mera coincidência.

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