PAIXÕES PROIBIDAS – CAPÍTULO 02

Um conto erótico de Nassau e Luiz
Categoria: Heterossexual
Contém 7861 palavras
Data: 08/07/2025 22:10:57

Essa é a continuação do conto que fizemos para participar do Desafio 15. Quem ainda não leu, está disponível, bastando acessar a série no perfil de NASSAU.

Duas semanas depois da fatídica festa de aniversários dos dois rapazes o ambiente naquele local que antes se assemelhava a um paraíso já estava se desintegrando e Cristina se sentia desamparada com os problemas que a afligiam.

Ela sentia falta da presença constante de Michael ao seu lado e essa falta não se resumia apenas aos elogios e agrados que ele lhe fazia, mas também ao fato de que ela não conseguia mais aliviar o tesão que sentia quando usava os brinquedinhos e imaginava ser ele a transar com ela. Não que ela deixasse de tentar. O que acontecia é que quando o orgasmo se aproximava e lhe vinha a imagem do rapaz, não era aquele jovem belo, alegre e gentil que estava sempre ao seu lado. Em vez disso, era um jovem amargurado, revoltado e embriagado.

Isso porque ele passou a consumir álcool diariamente e o distanciamento dele com Erick fez com que se aproximasse dos colegas que eram considerados os maus elementos do colégio e a necessidade que sentia em se embebedar agora encontrava incentivo da parte de quem trata a coragem de ficar bêbado como uma grande vantagem.

Também era um martírio ver seu filho sempre triste, andando pela praia com um olhar perdido ou ficar sentado no sofá da sala de casa com o controle remoto do aparelho de televisão na mão enquanto sua expressão revelava que ele não seria capaz de dizer o nome do programa ou filme que aparecia na telinha. Somando-se isso ao estado de Cecília, que deixou de ser a mulher viva, disposta e até autoritária que era, permanecendo a maior parte do tempo deitada em sua cama, era o suficiente para que Cris percebesse que havia muito mais coisa envolvida na situação do que a história que Cecília lhe contara e Erick confirmara a respeito do que acontecera entre os dois rapazes que, sempre tão amigos, agora sequer se falavam quando estavam juntos.

Cristina podia parecer a mulher frágil que crescera à sombra de Cecília, sempre sendo protegida por ela, coisa que ela não só admitia como demonstrava apreciar. Também havia o seu lado distraído o que dava motivos para que seus colegas, e muitas vezes a própria Ceci, rissem dela e atribuíssem essas distrações ao fato de ser loira, o que ela aceitava de uma forma tranquila e chegava até mesmo a fazer comentários engraçados a respeito disso, sem nunca citar que sua amiga também era loira.

Entretanto, essa era uma postura que ela adotava por comodismo. Ela justificava esse fato usando o argumento de que seria uma perda de tempo se estressar ou tentar se defender quando tinha ao seu lado a Cecília que sempre se encarregava disso. No fundo, Cristina era dotada de uma sabedoria que poucos enxergavam nela. Além disso, ela era muito capaz de se defender sem a ajuda da amiga e chegou a demonstrar isso várias vezes quando foi preciso que fosse ela a segurar as rédeas de alguma situação quando, por algum motivo, Cecília estivera ausente ou em um momento de fragilidade. Nesses momentos, ela virava uma leoa e muitos de seus colegas sentiam a energia que emanava dela.

Decidiu então que era sua vez de agir e tomar as rédeas. Resolveu começar desvendando a mentira de Cecília e Erick. Pensando nisso, foi até a casa da amiga e depois de trocar com ela algumas palavras amenas, entrou no assunto sem fazer rodeios. Primeiro ela comentou que estava preocupada com Erick. Ela sabia que se falasse de Michael sua amiga ficaria retraída e a conversa seria mais difícil. Depois de comentar sobre a tristeza de seu filho e sua recente falta de interesse por coisas que antes ele adorava, como o surfe, por exemplo, ouviu Ceci dizer que ele devia estar assim por causa da briga com o Michael.

Cristina percebeu que, se continuasse naquela direção, Michael passaria a ser a figura central daquela conversa e não era isso que pretendia, então foi direto ao ponto dizendo:

– Olha Ceci. Eu entendo que vocês estão passando por problemas e sinceramente quero ajudar. Só que, para fazer isso, antes preciso saber o que realmente aconteceu entre os dois.

– Como assim? Eu já te falei o que aconteceu! – Falou Cecília desconfiada. Ela conhecia a amiga e sabia que Cris tinha soltado um balão de ensaio para sondar o caminho a percorrer e esperava com essa resposta desestimular a ela de continuar com aquele assunto.

– Você falou o que queria que eu acreditasse e não o que aconteceu. Agora me fale a verdade.

Bastou essa frase para Cecília perceber que estava certa. Ela se lamentou por não ter dado um jeito de mudar de assunto antes de responder, mas agora já era tarde. Disfarçando o seu descontentamento, falou:

– Eu já disse. O Michael chegou em casa completamente bêbado e começou a me ofender. O Erick foi me defender e foi agredido.

– Sei. Só que falta uma informação aí. Por que ele continua magoado? O normal seria que, depois que a bebedeira passasse, ele voltasse a agir normalmente e, conhecendo seu filho como conheço, tenho certeza que a primeira coisa que ele faria seria pedir desculpas.

– Eu também penso assim. Mas ele não fez isso. Acho que é porque ele não parou mais de beber.

– Para Ceci. Eu não sou boba. Eu acompanho a vida do Michael desde que ele nasceu. Para mim é como se fosse meu filho. Ele não procuraria refúgio na bebida se não tivesse acontecido algo grave.

– Você acha que ele agredir o Erick não é grave?

– Acho que é grave sim. Mas não para ter esse tipo de comportamento. Eu acho que o problema não é por ele ter agredido o Erick, mas sim o motivo que o levou a fazer isso.

Cecília sabia que o rumo que aquela conversa estava tomando era escorregadio, mas já era tarde. A cada frase de Cris ela se sentia mais acuada. Arrependida por ter deixado a conversar chegar naquele ponto, fingiu lembrar-se que tinha um compromisso urgente e foi saindo de perto da amiga dizendo que tinha que se preparar, sendo impedida por Cristina que falou:

– Sem essa Cecília. Fique aí e vamos continuar nossa conversa.

– Bem que eu gostaria, Cris. Mas me lembrei de que marquei com um cliente para visitar um apartamento e não posso perder essa comissão.

– Mas vai perder. Senta aí.

Cecília sabia que não era comum Cristina agir com tanta autoridade, mas sabia também que nas poucas vezes que fez isso, mostrou sua força interior. Mas mesmo assim insistiu:

– Não. É sério. A gente não pode perder essa venda. A comissão é muito boa.

– Fique aí Cecília. Eu sei que você não tem nenhum compromisso. Eu te conheço há muito tempo para saber que se tivesse já teria trocado de roupa e já estaria pronta para sair quando cheguei aqui.

– Juro, eu tinha me esquecido mesmo.

– MENTIRA! SENTA AÍ. ANDA LOGO.

O fato de Cristina se exaltar significava que ela tinha certeza que estava sendo enganada e que a história que lhe contara não era verdade. Isso, para Cecília, só podia terminar com uma de duas possibilidades. Sua amiga ia voltar no assunto e continuar insistindo até que elas tivessem uma discussão feia, ou então ela ia pegar a sua bolsa e ir junto com ela na imaginária visita ao apartamento. No final, tudo daria na mesma, pois ela acabaria tendo que revelar a verdade. Pensando nisso, voltou e se sentou, mas ainda tentou a última cartada:

– Tudo bem. Se é assim que você quer. Que seja. Só fique sabendo que você vai ficar me devendo uma comissão polpuda e ainda vai ter que me pedir desculpas.

– Estou disposta a correr o risco. Agora vamos lá. Desembuche.

– O que você quer saber?

– Só a verdade. E não me venha dizer que seu filho agrediu o meu por causa da bebida. Conheço bem o Michael e sei que ele não faria isso se não estivesse realmente descontrolado. Mas não pela bebida e sim por alguma coisa que aconteceu que o deixou fora de si.

– Está bom. Aconteceu algo, mas eu não sei se posso te contar.

– Você vai dar um jeito. Porque não tenta?

Um silêncio prolongado tomou conta do ambiente. Cecília engolia em seco olhando para Cris que a encarava. Então ela viu que na expressão séria de sua amiga, havia um olhar de bondade e compreensão, como se quisesse dizer a ela que, independente do que tivesse acontecido, ficaria ao seu lado e que ambas encontrariam uma solução. Foi esse olhar que encorajou Ceci que disse sem preâmbulos:

– Eu transei com o Erick e o meu filho nos flagrou.

– Você o que? Não acredito. Você seduziu o meu filho? Que doideira é essa Cecília?

– É uma longa história. Nem sei por onde começar.

– Tente começar do início. Costuma dar certo. – Falou Cristina se sentando diante da amiga e adotando uma postura de que estava pronta para ouvir uma longa história.

E foi o que Cecília fez. Levou mais de uma hora contando cada detalhe de tudo o que acontecera entre ela e Erick desde o dia em que ele começou a assediá-la. Cristina ouviu tudo sem interromper uma única vez. Só falando quando a história chegou aos últimos acontecimentos:

– Quer dizer que o Erick conseguiu! Mas que safado. Quer dizer, eu não duvido nada da capacidade dele em convencer as pessoas. Aquele ali quando quer uma coisa vira uma verdadeira sarna. O que me surpreende é que você, uma mulher madura, inteligente e tão segura tenha se deixado vencer.

– Deus é testemunha que tentei mantê-lo afastado. E como tentei!

– Eu imagino. O Erick é meu filho, tá lembrada?

– Então. Agora que você já sabe de tudo e tem todos os motivos para ficar com ódio de mim, pode ir para a sua casa enquanto eu fico aqui imaginando o que posso fazer para resolver essa bagunça.

– Antes me diga uma coisa. E depois?

– Depois o que?

– Você e o Erick? Vocês continuam transando?

– Deus me livre Cris! O que você acha que eu sou? Acha que do jeito que as coisas estão eu tenho condições de transar com alguém? Faça-me o favor, eu hein!

– Desculpe. Eu só queria saber. – Cristina ficou pensativa por alguns segundos e depois comentou: – Estou preocupada amiga. O Erick fica por aí, andando pelos cantos e não se parece com aquele rapaz ousado e atrevido que conhecemos.

– Eu sinto muito por isso. Não sei o que fazer para ajudar.

– Por enquanto é melhor não fazer nada. Deixe a poeira baixar. Erick é forte e até podia ser seu filho, pois se parece mais com você do que comigo. Não fosse o fato de ele ser tão parecido com o pai dele, eu ficaria imaginando que ele talvez fosse seu filho e não meu.

– E agora? O que vamos fazer, minha amiga?

– Não sei. Por enquanto, o mais importante é trazer Michael de volta. Ele está se afastando da gente e não podemos perdê-lo.

– Você gosta muito dele, não gosta?

– Mais do que você imagina! – A resposta de Cris veio acompanhada de um sorriso amargo. No fundo, ela sentia uma ponta de inveja de Cecília por ter cedido aos desejos de Erick.

Depois dessa conversa Cristina se retirou, indo para sua casa. Em sua cabeça a ideia de que tinha a obrigação de encontrar uma forma que fizesse com que Michael se recuperasse de sua dor e parasse de andar em más companhias.

Em parte, ela conseguiu. De uma forma muito sútil ela começou a se fazer presente na vida de Michael, chegando a se dar ao trabalho de ficar esperando por ele na saída do colégio e, quando ele saiu, foi ao seu encontro como se fosse uma coincidência estar ali justo no horário em que as aulas deles estavam se encerrando. Inventou uma desculpa de que precisava da ajuda dele com um problema na rede elétrica de sua casa. Embora sem o entusiasmo de antes, o rapaz aceitou acompanhá-la.

O plano deu certo. Não por haver algo errado em sua casa, pois quando lá chegaram e Michael foi testar, estava tudo funcionando perfeitamente. Ela inventou então uma desculpa que ele fingiu acreditar e passaram um longo período conversando. Quando Michael informou que estava na hora de ir embora, ela sugeriu que ele dormisse em sua casa e ele aceitou, porém, quando estava se preparando para se deitar, Erick chegou e ele, sem pronunciar uma única palavra, mudou de ideia e saiu indo ocupar o quartinho da área de lazer que passara a usar, pois evitava dormir em sua casa. Lá chegando, se embriagou como se tornara o costume até que fosse dominado pelo sono.

Cristina não desistiu e quase todas as noites ia até a área de lazer para conversar com Michael. Isso funcionava porque, nos dias em que ela comparecia, ele não bebia. Ela conversava com ele pensando se não seria melhor se revelasse a ele o seu interesse, porém, devido à reação dele ao ver a transa de sua mãe e o Erick, ficou receoso que essa revelação pudesse funcionar como um gatilho que fizesse com que Michael tivesse uma recaída. Se ele estabelecesse um elo entre o que aconteceu com Cecília e a repentina revelação de Cristina, poderia ter uma recaída.

Apesar dos cuidados de Cris, a recaída aconteceu. Não porque ela se insinuou para o rapaz, mas por um motivo que ela jamais poderia imaginar que aconteceria. Michael já estava voltando ao seu estado normal e até mesmo se permitia ficar próximo de Erick e não ofendia mais à sua mãe quando esta se dirigia a ela. Cristina inventou um jantar em sua casa onde estariam apenas os quatro.

Durante o jantar, tudo correu bem e depois de saciados Cris sugeriu um jogo de baralho e, espertamente, formou dupla com o Michael. Tudo estava normal até que em um lance de sorte a Cecília bateu dando a vitória a dupla que formava com Erick e ele, sem pensar, esticou o braço e tocou com carinho no rosto dela que retribuiu aquele carinho com um sorriso.

Aquele gesto inocente foi o suficiente para que Michael se irritasse e, surpreendendo a todos, olhou para sua mãe e disse:

– Que porra é essa? Você não vai parar nunca de agir como uma vadia?

Ele se dirigiu especificamente à sua mãe, pois ainda se recusava a falar com Erick. Aquela frase serviu para que o ambiente que até então estava tranquilo ficasse tempestuoso e o amigo resolveu intervir dizendo:

– O que foi Michael? Para com isso cara. Sua mãe não está fazendo nada demais.

Revoltado, Michael resolveu agir para acabar logo com aquela situação e tinha esperança que Cristina o apoiaria, pois ela também tinha sido traída pelo filho e pela amiga naquele episódio ridículo em que sua mãe se entregou a um homem com menos da metade de sua idade. Dirigindo-se a ela, falou:

– Você sabia que esses dois estão fodendo, Cristina? É uma mulher que já está velha e não tem vergonha na cara dando a buceta para um garoto.

Cristina ficou embaraçada com o que ouviu. Não esperava que Michael agisse dessa forma e tampouco que ele usasse aqueles termos. Isso fez com que ela trocasse um olhar com a Cecília como se estivesse buscando a ajuda dela e ao fazer isso deu ao revoltado rapaz a certeza de que ela já estava sabendo de tudo. Sem conseguir controlar a sua raiva, falou antes que a mulher tivesse a chance de dizer alguma coisa:

– O que? Quer dizer que você já sabia disso? – Mas que porra é essa? Quer dizer então que temos aqui uma biscate, um aproveitador de idosas vagabundas e uma cafetina? Você estava cafetinando o seu próprio filho, Cris? Quanto essa vadia está te pagando pra isso?

– Não fale assim, Michael. Olha, sente aqui ao meu lado e vamos conversar. – Falou Cristina se sentando no sofá e batendo com a palma da mão no espaço de sofá que ela liberou para ele sentar.

Não adiantou. Nesse momento Michael já estava de pé e se dirigindo para a saída da casa. Cristina ainda tentou fazer com que ele voltasse dizendo com voz meiga:

– Michael, volte aqui. Não faça isso querido. A gente precisa conversar.

– Conversar o caralho. Eu quero é distância dessa sacanagem. – Disse sem parar de andar, mas quando chegou à porta, parou, se virou para trás, deu alguns passos em direção à Cristina e falou:

– Ah! Agora estou entendendo. Você também vive a perigo. Vai ver está abrindo as pernas para o seu filho te foder também. Que sacanagem! A mãe procurando alívio pela falta de homem na cama do próprio filho.

Todos ficaram boquiabertos. Ninguém esperava por essa reação violenta vinda da parte de Michael e a Cris, com muito custo, conseguiu falar. Ela estava irada com a acusação do jovem e gritou com ele:

– NÃO FALE ASSIM COMIGO. O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO QUE EU SOU?

Já era tarde. Michael já tinha saído de casa. Entretanto, deixou claro que ouviu a reprimenda de Cristina quando ouviram-no falar enquanto se retirava:

– Eu penso que você é uma vagabunda incestuosa.

A raiva e a decepção de Cristina foram tão grandes que suas pernas tremeram e ela, que tinha se levantado, caiu de joelhos sobre o tapete da sala e depois se sentou sobre suas pernas, enfiou a cara no assento da poltrona e começou a chorar.

Já se distanciando dali, Michael andava sem saber aonde ir enquanto pensava:

“Que porra é essa. Eu estava no fundo do poço e achava que não podia ficar pior. Agora vêm essas vadias e me tiram todo o poço”.

Aquela frase foi profética. A partir daquele dia, Cecília não viu mais o seu filho. Ele não voltou mais para a casa e tampouco visitou Cristina. Erick também não tinha notícias dele porque simplesmente parou de ir ao colégio. Como não vivia seus melhores dias porque Cecília não permitia mais que se aproximasse dela, não fez nada porque culpava o amigo por sua situação.

Entretanto, foi Cristina que decidiu que seria ela a resolver aquela situação e assim, todas as noites, depois de regressar do emprego, ia para a área de lazer e ali permanecia por um longo tempo alimentando a esperança de que Michael iria aparecer.

O que ninguém naquele condomínio sabia é que Michael foi morar nas ruas e vivia da caridade alheia e, com as novas companhias que encontrou, não demorou a passar do álcool para as drogas. Esse novo vício, para ser mantido, precisava de dinheiro e ele não tinha o perfil necessário para ficar pedindo esmolas, pois seu orgulho ainda falava alto, passando a cometer pequenos furtos que logo evoluíram para assaltos.

Essa nova atividade do garoto permitiu que ele fosse encontrado por Cristina. Isso porque o delegado de polícia que atuava na delegacia central da cidade era um antigo colega dos tempos de colégio que tinha curtido uma paixão não correspondida por ela e, ao saber que um garoto ainda menor de idade tinha sido preso em flagrante durante um assalto, colheu as informações e descobriu que se tratava do filho de Cecília, também sua conhecida.

Luigi, um descendente de italianos que pertencia à segunda geração de brasileiros, viu naquilo a oportunidade de rever Cristina, a mulher que outrora povoou os seus sonhos de adolescente. Em vez de ligar para a mãe do preso. Ele passou por cima das normas conseguindo descobrir o número do telefone de Cristina e ligou para ela usando a prisão de Michael como pretexto.

O telefonema recebido por Cristina foi tenso. Ela ficou apavorada com a informação sobre Michael e, para a felicidade de Luigi, perguntou se havia como não falar nada para Cecília por enquanto e que ela mesma iria até a Delegacia. Era tudo o que Luigi queria.

Quando o delegado viu Cristina entrando na sua sala foi invadido pelas mesmas sensações que sentia na época de adolescente, pois apesar de estar com uma aparência de abatimento, ela estava linda. Usando um vestido azul turquesa justo até a cintura e depois se abria em pregas que lhe chegavam à altura dos joelhos e sandálias de saltos médios que acentuavam sua elegância. Usando uma maquiagem leve que acentuava seus pontos fortes e a deixavam com uma aparência jovial. O único senão era a expressão de abatimento e cansaço, porém, a emoção de Luigi ao vê-la foi tanta que ele sequer notou esse detalhe e passou a lhe dedicar toda sua atenção.

Do ponto de vista legal, Luigi cometeu várias irregularidades para manter a ficha de Michael limpa. A primeira delas foi não fazer o encaminhamento dele para a delegacia especializada no atendimento de menores infratores e a segunda foi a de cometer um erro proposital ao preencher os formulários escrevendo outro sobrenome. A terceira foi a de atender ao pedido de Cecília para que permitisse que Michael saísse dali na companhia dela sem prestar nenhum depoimento.

Ao saírem da delegacia, Cristina perguntou para Michael onde ele estava morando e sentiu uma pontada no coração quando ele apenas moveu os ombros e sussurrou:

– Por aí.

Sem dizer mais nada, Cris dirigiu até sua casa e, chegando lá, enfiou Michael no banheiro e foi preparar alguma coisa para ele comer. Já era quase meia noite e ela preferiu não avisar Cecília, mesmo porque, nos últimos tempos, aquela força que mantinha a amiga na liderança fora substituída por uma fraqueza de espírito e era notório que estava procurando se refugiar no álcool. E isso fazia com que se sentisse obrigada a tomar a frente na maioria dos assuntos.

Quando Michael saiu do banheiro enrolado na toalha, Cristina sentiu um calafrio descer por sua coluna ao mesmo tempo em que se assustava com o estado dele. O rapaz estava muito magro e com vários hematomas no corpo, o que indicava que tinha se envolvido em brigas. Mesmo assim, o que falou mais forte foi o desejo que sentia por ele.

Diante da situação, controlou a vontade que tinha de abraçá-lo e lhe dar todo o carinho que tinha para lhe oferecer, se limitou a pegar um short de Erick e entregar a ele que o vestiu. Ela sentiu seu coração sangrar ao notar que, mesmo sendo mais encorpado que seu filho, ele perdera tanto peso que a roupa ficara grande nele.

Depois de esperar que Michael se alimentasse, ela o acomodou no sofá da sala, mesmo existindo uma cama extra no quarto de Erick. Ela não achava aconselhável deixar ambos no mesmo recinto. Em seguida foi se deitar, porém, não conseguia dormir e ficou se mexendo na cama. Inquieta, resolveu fazer algo que ela já tinha desistido há tempos. Foi até o armário, pegou a caixa onde guardava seus acessórios sexuais e escolheu um pênis de tamanho médio.

Naquela noite Cristina conseguiu finalmente ter um orgasmo com o pau artificial enfiado em sua buceta. Quando a explosão de sensações a atingiu, em sua mente as imagens de Michael se alternavam entre o que ele era antes e a sua aparência atual. Depois de gozar, ficou deitada de lado, deixando que as lágrimas que escorriam de seus olhos molhassem o travesseiro.

Na manhã seguinte, acordou cedo. Ela pretendia ir até a casa de Cecília falar com ela e pegar roupas limpas para o Michael, porém, ao sair do seu quarto, encontrou os lençóis e cobertores que tinha ele tinha dobrado. Procurou em vão por toda a casa até se convencer que o rapaz tinha fugido mais uma vez. Quando Erick finalmente veio ter com ela que estava na cozinha, a encontrou chorando, mas ele já estava acostumado com isso, pois tudo o que via nos últimos tempos era ver sua mãe e Cecília chorando pelos cantos. Cristina tinha resolvido não contar a ninguém a no envolvimento de Michael com a polícia e disfarçou procurando falar de outros assuntos, o que não foi difícil, pois a situação criada por Erick e Cecília tornara isso normal.

Apesar do desânimo que a dominava, Cristina se preparou para mais um dia de trabalho. Ela estava sobrecarregada por causa da atitude de Cecília que raramente comparecia no serviço, fazendo com que se desdobrasse para cobrir a ausência da amiga. Além disso, fazia questão de dividir com ela as comissões que recebia

A partir daquele dia, outro problema inconveniente começou a assombrar Cristina. Luigi não parava de ligar para ela e insistia para que se encontrassem e jantassem juntos. Ela sabia o que o delegado queria. Isso ficava claro quando ele, mesmo usando de muita sutileza, a lembrava de que lhe devia um favor.

Luigi era um homem bonito. Loiro, olhos castanhos esverdeados, alto e com um físico de quem pratica esportes. Além disso, era muito educado, porém, na avaliação que era feita dele ainda no tempo de estudante, lhe faltava romantismo. Ele era muito direto em suas cantadas e isso fazia com que suas investidas ficassem mais parecidas com assédio do que com uma conquista. E agora havia mais um agravante. Ele era casado, o que não era problema porque não tinha nenhum interesse nele, mas poderia se tornar um porque a garota com quem se casara era aluna do mesmo colégio e, se não bastasse isso, sempre fora rival dela e de sua melhor amiga com quem manteve uma disputa pela liderança do grupo.

Cristina vivia apregoando que se envolver com homens casados era o mesmo que mexer em uma caixa de abelhas. Agora lhe ocorreu que, no caso específico daquele homem, não se tratava das comuns, mas sim abelhas africanas.

Menos de dois meses depois, durante uma madrugada chuvosa, Cristina foi acordada com seu celular recebendo uma chamada. Era Luigi avisando que Michael tinha sido preso novamente. Correu para a delegacia e descobriu que dessa vez era mais grave, com a denúncia de assalto a uma garota com a utilização de uma faca e ele se apropriara do telefone celular e um cordão de ouro que, para complicar ainda mais, foi encontrado em seu poder. O celular já tinha desaparecido.

Mais uma vez Cristina se viu às voltas da insistência de Luigi que dessa vez estava disposto a jogar duro. Para livrar Michael de ser encaminhado a uma instituição de acolhimento de menores infratores, ela se prontificou a ressarcir a vítima pelo prejuízo pelo celular.

Entretanto, ainda havia o problema do cordão de ouro. Segundo Luigi, o mesmo ficaria sob custódia da polícia por ser prova de um crime. Entendendo que estava num sem saída, e com Luigi jogando duro, ela não teve outra alternativa senão a de concordar em se encontrar com ele.

Dessa vez ela foi mais severa com Michael. Severa e também esperta. Tomou as mesmas providências que da vez anterior, com a diferença que dessa vez ela colocou as roupas dele na máquina de lavar e foi dormir. Nessa noite ela não foi acometida de nenhum desejo, pois estava transferindo a raiva que sentia por ter sido obrigada a aceitar o convite do delegado para o Michael.

Na manhã seguinte, ao acordar, a primeira coisa que deparou foi com as reclamações de Michael. Ele desejava ir embora e ela se limitou a informar que as roupas dele tinham sido lavadas durante a noite e foi até a lavanderia para estendê-las. Depois de preparar o café da manhã, foi até a casa de Cecília pegar roupas limpas para ele. Saiu de lá com uma mala cheia de roupas, já prevendo que aquela situação se repetiria. Voltou sentindo o peso, não da mala, mas sim da revolta que sentia ao ver a amiga não demonstrar nenhuma preocupação com o próprio filho. Atribuiu isso ao fato de que, antes das nove horas da manhã, Cecília já estar embriagada.

Mal chegou em casa, Michael vestiu a primeira roupa retirou da mala, desaparecendo em seguida e deixando Cristina perdida em suas preocupações. Ela estava aflita com as consequências futuras que o rapaz enfrentaria se continuasse se drogando, revoltada por causa da atitude da mãe dele e com muita raiva dela mesma por ter aceitado sair com Luigi. Mais revoltada ainda ficou ao perceber que não tinha tempo para pensar em algo que evitasse esse encontro que já estava marcado para aquela noite.

Cristina cumpriu a sua parte. Foi ao encontro de Luigi que a levou no melhor restaurante da cidade e depois, sem sequer consultá-la, dirigiu-se a um motel. Foi talvez a pior noite da sua vida.

No restaurante, Luigi agia como se estivesse exibindo um troféu. Ele fazia questão de que todos o vissem na companhia da mulher e agiu com um verdadeiro cavalheiro. Entretanto, o tempo no motel foi um verdadeiro martírio fazendo com que Cristina percebesse que o homem não sabia agradar a uma mulher, fazendo com que sua postura no restaurante parecesse algo decorado ou algo sobre o qual fora orientado.

Sua primeira reação foi a de rir quando viu o tamanho do pau de Luigi. Era muito menor do que o de Michael ou de qualquer outro entre os poucos que conhecera. E qual não foi a sua surpresa quando, ao ser penetrada por ele, sentiu dor. Logo se deu conta que essa dor não era provocada pelo tamanho, mas sim pela falta de iniciativa do delegado para quem preliminares não fazia parte do dicionário. Ele não a tocou, não beijou e sequer chegou com a boca próxima a sua xoxota. A transa se resumiu a ele arrancar as roupas dela e com as calças abaixadas até a altura do joelho, forçar aquela coisinha minúscula em sua xoxota que, pela total falta de estímulos, estava completamente seca, o que lhe provocou o incômodo.

Tudo piorou quando ele gozou em menos de um minuto não lhe dando tempo sequer para fingir um orgasmo.

Luigi, que entrou no motel se sentido a pica da galáxia, saiu com sua autoestima rastejando. Ele podia ser insensível, porém, não era desprovido de inteligência. Ele percebeu que a única coisa demonstrada por Cristina além da dor foi a indiferença e isso ficou evidente na conduta dela.

Frustrado e nutrindo ódio por Cristina, o delegado tentou se vingar quando Michael foi preso pela terceira vez, fazendo jogo duro. Cristina percebeu isso assim que a conversa entre eles teve início, com ele dizendo:

– Desiste desse cara, Cris. Ele só te dá dor de cabeça. Peça para a mãe dele se virar. Eu que não vou mais me arriscar por quem não merece.

Cristina entendeu que a alegação quando a não merecer era destinada a ela. Ainda assim, tentou ser educada e conseguiu se controlar até que percebeu que ele não iria liberar o Michael dessa vez. Então, com muito tato, ela resolveu que tinha que entrar no jogo e usou o fato de ter sido levada por ele a um motel, ameaçando-o de fazer com que esse acontecimento chegasse ao conhecimento de sua esposa. Quando ele usou o famoso argumento de que seria a palavra dela contra a dele, Cristina mentiu dizendo que tinha tirado algumas fotos deles, tanto no restaurante como no motel e que, bastaria sua esposa ir ao restaurante com aquelas fotos que alguém se lembraria que eles estiveram no local. Isso seria fácil diante da ostentação dele que agiu para exibir a todos que estava ao lado de uma linda mulher.

Cristina foi a vencedora. Mais uma vez ela conseguiu livrar o Michael e o levou para a sua casa, só que dessa vez não fez qualquer movimento para que se sentisse confortável. Entretanto, para a sua própria surpresa, ele permaneceu dois dias e ela teve a chance de ter uma conversa com ele. Não foi nada revelador ou que avançasse no sentido de afastar aquele rapaz de uma vida perigosa. Mas pelo menos ele estava lá por vontade própria e isso era importante.

A partir daquele dia Cristina adotou outra postura com relação ao Michael. Ela sabia que ele não podia mais ser preso e pensou em usar isso, passando a fazer uma verdadeira peregrinação. Toda a semana ela ia até os locais onde os moradores de rua se concentravam e, quando o encontrava, lhe entregava roupas limpas e algum dinheiro para que ele não se visse obrigado a roubar. Ela sabia que estava sustentando o vício do rapaz e justificava isso tentando se convencer que assim ele não seria preso. Seu temor era que o tempo passado em uma cela junto com outros criminosos, por menor que fosse, acabaria por fazer com que ele se transformasse em um deles.

O tempo foi passando sem que Michael fosse preso novamente até que uma situação enquanto cada um dos integrantes daquela tragédia se entregava à sua dor e iam se afundando no poço de dor e desespero em que foram atirados.

Cecília representava a maior decepção para Cristina. Amargurada e afogada na culpa de ser a principal responsável pelo que aconteceu, desistiu de vez. Tinha deixado de comparecer ao emprego, não se cuidava e cada vez mais tentava encontrar uma saída no fundo de uma garrafa. Erick era a sombra do rapaz alegre e ativo de antes, vivia cabisbaixo e levava a vida como se viver fosse uma obrigação penosa. Não tinha amigos e passava o tempo curtindo a dor de ver a mulher que amava descendo a ladeira. Michael, continuava na sua jornada de autodestruição, afundando-se em drogas.

O sofrimento também era o companheiro inseparável de Cristina. Mas ela não procurava alívio para a sua dor no álcool e mantinha a sua compostura, sem falar que tinha que agir no sentido de ajudar os outros três. Ajudava o Michael tentando pelo menos mantê-lo fora da prisão, atendia Cecília em suas necessidades, inclusive, continuava a dividir as comissões que recebia com ela e sua revolta residia no fato dela agir como se fosse a coisa mais natural do mundo, o que indicava a sua rendição. Não bastasse isso, ela se ressentia da falta do sexo, com a diferença que o desejo que sentia tinha um alvo específico e era invadida pela dor quando se lembrava que esse alvo não existia mais. Ou seja, existir existia, mas não havia nada nele que lembrasse o homem que conhecera antes.

Quando faltava cerca de um mês para o aniversário de Michael, ela recebeu uma chamada em celular que a deixou contrariada antes mesmo de atender ao ver o nome de Luigi aparecer na tela do aparelho. Seus receios, entretanto, estavam focados no motivo errado. O delegado não estava ligando para tentar um novo encontro e agiu com frieza. Então ela ficou aflita ao imaginar que Michael tinha sido preso novamente. O que o homem queria era avisar a ela que uma força conjunta da polícia civil e militar estava preparando uma operação para retirar os moradores de rua do centro da cidade. A ordem tinha vindo do alto comando, o que provocava a suspeita que havia motivos políticos naquela operação.

Desejando saber quais seriam as consequências, ela recebeu como resposta a informação de que era para aprender todos os que fossem encontrados e que a operação não se limitaria a uma única missão, com várias outras para evitar que aqueles que não tivessem motivos para ficarem presos, voltassem a ocupar aquele espaço. Foi preciso que o delegado explicasse qual era o fator mais preocupante no caso de Michael, pois com os policiais prendendo a todos em várias ocasiões, o tempo poderia se estender por mais de um mês e, se acontecesse do rapaz ser preso depois de completar dezoito anos ele seria fichado, com o risco de ser considerado traficante ou assaltante por algum dos policiais que entendiam que a única solução para acabar com o tráfico de drogas era eliminar a clientela e colocar a todos na cadeia.

No dia seguinte Cristina tinha um compromisso que ocupou todo o período da manhã e depois do almoço ficou presa na imobiliária para ajudar na preparação dos documentos da venda de um terreno valorizado e que lhe renderia uma polpuda comissão, fazendo com que só ficasse livre depois das quatorze horas. Saiu da imobiliária e dirigiu-se ao centro da cidade, começando a procurar por Michael. Rodou a tarde inteira e só quando a noite chegou o encontrou. Michael estava embaixo da marquise de um prédio abandonado, caído no chão em meio ao seu próprio vômito e, apesar de não estar desacordado, era visível que estava drogado.

Foi preciso que ela oferecesse dinheiro a dois homens que estavam por ali para que eles transportassem o corpo inanimado do jovem até o banco traseiro de seu carro. Saindo dali foi diretamente para a sua casa onde precisou da ajuda de Erick que, mesmo protestando, decidiu ajudá-la a levar Michael até o banheiro, o que só aconteceu depois que ela radicalizou dizendo:

– Está na hora de você assumir a sua responsabilidade. Afinal, grande parte da culpa de Michael estar nesse estado é sua.

Não precisou que ela dissesse mais nada e Erick também evitou fazer algum comentário. Ele simplesmente aceitou prestar ajuda. Michael foi levado até o banheiro onde Cristina o despiu. A roupa que ele usava estava em estado deplorável, toda rasgada e coberta de vômito, o que fazia com que o cheiro fosse insuportável. Cecília não teve outra alternativa senão a de mandar Erick colocar fogo na roupa. Em seguida arrastou o corpo desacordado para baixo do chuveiro e começou a lavá-lo.

A cada parte do corpo de Michael que ia sendo mostrado quando ficava livre da sujeira, o coração de Cristina batia descompassadamente. Ele apresentava escoriações e ferimento por quase todo o corpo, o que indicava que ele levara uma surra. Cristina examinava cada ferimento ou hematoma com cuidado para verificar se não havia fratura, ficando aliviada ao descobrir que não.

O banho serviu para reanimar Michael, o que tornou o banho mais fácil e permitiu que ele fosse vestido sem a ajuda de Erick. Depois ela o conduziu para a sala, porém, sabendo o quanto aquele móvel era desconfortável, mudou de ideia e o levou para o seu próprio quarto.

Nos três dias que se seguiram as atividades de Cristina se resumiram em cuidar do rapaz e aguentar as reclamações de Erick. Ela passara a dormir na cama extra que tinha no quarto dele que dizia ser aquilo um absurdo e o melhor que tinham a fazer era expulsar o viciado de sua casa.

Na manhã do quarto dia, num raro momento de lucidez, Michael se dirigiu a Cristina enquanto ela separava roupas pra ele vestir naquele dia:

- Eu não aguento mais. Por favor, me ajude. Faça o que for necessário.

Cristina fez com que a porta do quarto de hóspedes que havia no quarto de lazer fosse reforçada e pediu urgência, tendo sido atendida naquele mesmo dia. Depois fez com que tirassem de lá todos os móveis e demais objetos ali guardados, deixando apenas a cama. Ela tinha medo que, em seus momentos de desespero, Michael começasse a quebrar tudo, sabendo que com isso ele poderia ficar gravemente ferido.

Foi necessário que ela usasse todo o seu poder de persuasão, mas foi beneficiada por um momento de lucidez dele e fez com que ele se mudasse para lá. A partir daí, passou a agir como se fosse sua enfermeira e ao mesmo tempo carcereira, mantendo-se firme e não o deixou fugir mesmo quando ele, nos momentos mais desesperadores, implorava por isso.

Dias e noites se confundiam. Os delírios e alucinações causados pela abstinência se alternavam com momentos de profunda depressão. Comer e até beber água eram suplícios para Michael, mas Cristina estava determinada e permanecia ao seu lado em todos seus momentos de angústia.

Ela não saia do quarto enquanto ele não comesse pelo menos um pouco do que ela lhe havia levado. O espaço não tinha móveis além da cama. Cristina sabia que se deixasse algo por ali, Michael o quebraria em seus momentos de mais desespero.

Seus esforços não foram em vão. Algumas semanas depois, Michael já estava melhor e recuperando sua forma. Isso fez com que ela concordasse em que ele saísse de sua improvisada prisão, mas quando ele informou que estava pronto para ir embora, ela aproveitou para tocar no assunto da maioridade que estava prestes a acontecer e o surpreendeu perguntando:

– Michael. Quantos dias faltam para você completar dezoito anos.

– Sei lá Cris. Você sabe disso melhor que eu.

– Como assim?

– Não se faça de boba. Você sabe a idade de seu filho, não sabe? E sabe também que nós nascemos com uma semana de diferença. Então é só calcular. A não ser, é lógico, que o seu filho tenha sumido da sua vida e assumido de vez o papel de explorador de idosas safadas e você se esqueceu que ele existe.

Cristina engoliu em seco e descartou a resposta de Michael. Isso porque em parte ele estava certo. Ela não precisava perguntar quando ele atingiria a maioridade e se lamentou por não ter lembrado disso. Então passou ao assunto que realmente pretendia levantar:

– Então. O delegado me falou a respeito disso. Ele disse que depois que você completar dezoito anos as coisas serão diferentes. Se você for preso, vai direto para a cadeia e não vai ser fácil tirar você de lá.

– E daí? Cadeia foi feita pra homem!

– Não. Cadeia não foi feita para homem. Mesmo porque, segundo eu sei e você deve saber também, muitos homens que são presos perdem a humanidade. Lá é o lugar onde as pessoas têm que escolher abrir mão disso ou então...

Cristina não conseguiu completar a frase, mas foi forçada por Michael que perguntou:

– Ou então o que? Então viram mulherzinhas dos outros prisioneiros? Eles que tentem. Estou pronto para matar o primeiro que tentar.

– Muito bem. Eu não tinha pensado na parte em que os mais fracos são abusados sexualmente. Mas, embora isso faça sentido, estou falando da parte de se tornar um criminoso. E pelo jeito acertei em cheio. Veja o seu caso. Já está falando em matar.

– Que se foda. Eu não estou nem aí.

– Pois devia estar. Tem gente no mundo sofrendo por você. Pessoas que te amam e se preocupam com o seu destino. Você acha isso justo? Você acha que essas pessoas vão ficar felizes quando coisas ainda piores acontecerem com você?

– Nada vai acontecer comigo, Cris.

– Isso é o que todos dizem. Cada criminoso se acha invencível até que outro criminoso ou a polícia acabe com a vida dele. É isso que você quer? Como você acha que as pessoas que te amam vão ficar quando você for morto?

– Pare de falar asneira Cris. Minha mãe não me ama. Se me amasse não teria aberto as pernas para aquele filho da pu... Ops! Desculpe. Bom, você entendeu o que eu quero dizer.

– Mas eu não estava falando de sua mãe. Sim, ela te ama e vai sofrer muito se acontecer alguma coisa. O Erick também sente muito sua falta. E para os dois é ainda pior, pois se sentem culpados por tudo que está acontecendo.

Michael sequer ouviu a última parte do argumento de Cris. Sua mente ainda estava tentando assimilar a primeira parte do que ela disse. Se ela não estava falando de Cecília e de Erick, de que então seria? Ficou pensando nisso enquanto Cristina continuava a falar até que ela percebeu que suas palavras não estavam sendo ouvidas por ele. A cabeça do rapaz parecia estar em outra dimensão, o que fez que ela reclamasse:

– Você nem está me ouvindo, não é? Falar com você ou com uma porta dá no mesmo. Só que eu quero que você saiba de uma coisa. Eu não vou desistir de você. Ouviu bem? Vou repetir para deixar bem claro. Eu. Não. Vou. De-sis-tir, De. Vo-cê. Se não entendeu ainda avisa que vou fazer um mapa com legendas explicativas.

– Pensei que você estava falando das pessoas que me “amam”. – Michael fez o sinal de aspas com os dedos quando pronunciou a palavra amam.

– E estou.

– Mas você não me ama. Quer dizer. Pode me amar como filho da amiga que você tanto estima. Mas não do jeito que é amar de verdade.

– E como é amar de verdade? Defina isso para mim.

Michael ficou pensativo imaginando se deveria falar o que lhe passava na cabeça. Uma mudança que a sua vida de morador de rua provocou foi a de ser mais direto e, embora tímido, ele não ficava mais travado quando precisava falar alguma coisa e não se preocupava mais que isso pudesse chocar, magoar ou irritar alguém. Ele pensava, falava e pronto. Foi isso que lhe deu coragem de responder:

– Amar de verdade é como eu amo você. Sim, como sempre te amei. Cada gesto, cada sorriso seu ficou gravado em minha mente e só me livro dessas lembranças quando estou bêbado ou drogado. Acho até que é por isso que me tornei um bêbado viciado.

– Que você me ama eu já sabia. – Falou Cris com suavidade no intuito de melhorar o clima que estava se formando entre eles.

– Não. Você não me entendeu. Lógico que te amo desse jeito e você sempre foi uma segunda mãe para mim. Mas o meu amor vai além disso. Eu te amo e te quero como mulher. Meu sonho sempre foi poder te abraçar, beijar e ficar fazendo carinhos quando você estivesse triste.

As palavras de Michael foram se esvaindo enquanto ele falava, o que queria dizer que ele estava a ponto de chorar. Por outro lado, Cristina ficou sem palavras ao ouvir isso. Ela sempre notou os olhares que Michael dava para seu corpo e a forma como ele estava sempre a sua volta tentando ser útil ou agradável. Aquilo mexia com ela de uma forma estranha, pois muitas vezes ficava a sonhar que aquele garoto, caso fosse mais velho, teria sido o marido ideal. Agora, porém, ao ouvi-lo confessar que a queria como mulher, a diferença de idade se esvaiu e sentiu seu corpo esquentar enquanto sua respiração se alterava. Ela ficou admirada com o efeito que as palavras de Michael provocaram nela, pois sentiu-se invadida pelo tesão.

Nesse momento, olhou para a rede onde Michael estava e viu lágrimas escorrendo de seus olhos. Num ímpeto que não sabia explicar, curvou o corpo e beijou suas faces sentindo o gosto salgado daquelas lágrimas e, num gesto carregado de erotismo, as colheu com sua língua. Depois afastou o rosto alguns centímetros e eles ficaram se encarando. Olhos nos olhos e as respirações cada vez mais ruidosas.

Foi Michael que tomou a iniciativa. Levando a mão até a nuca dela, puxou seu rosto para ele até que suas bocas se colaram em um beijo intenso, com as línguas se revezando uma na boca do outro enquanto Cristina movimentava a mão para fazer carinhos nos cabelos do jovem. Quando finalmente se separaram, ficaram se encarando até que Cristina falou:

– E agora? O que nós vamos fazer?

– Agora eu quero você. Quero mais do que queria ontem e menos do que vou querer amanhã. Por favor. Beije-me novamente.

– Não. Aqui não. Vamos para o meu quarto. Eu quero te beijar como nunca beijei ninguém e não quero ser interrompida. Vem!

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