A Boceta de Pandora - Capítulo 5

Um conto erótico de Himerus
Categoria: Heterossexual
Contém 5571 palavras
Data: 08/07/2025 10:56:18
Última revisão: 08/07/2025 12:54:24

No capítulo anterior:

Um ano depois de reatarmos, quando já tínhamos certeza do nosso amor, em um jantar, pedi sua mão em casamento.

Apesar da oposição da quase totalidade da sua família — só sua irmã apoiou nossa decisão —, casamos e construímos uma vida diferente do padrão, mas feliz.

Agora, após dez anos compartilhando nosso dia a dia, teríamos que ficar separados. Chorei muito durante o voo para Nova York.

Capítulo 5

Não nos vimos presencialmente por sete meses, longos sete meses. Claro que nós falávamos por telefone e fizemos muito sexo virtual, mas o fuso horário – depois de um mês em Nova York mudei para San Francisco, na Costa Oeste – dificultou nosso contato.

Sendo franco, o distanciamento físico e as diferentes preocupações nos afastaram. Ela estava mergulhada no cuidado da mãe, enquanto eu trabalhava como um camelo. Nos últimos meses, os telefonemas começaram a diminuir, com dois ou três por semana, ligações curtas e superficiais. Eu estava preocupado; meu medo era perder a conexão com Ruth. Lembrava como meu relacionamento a três, durante o mestrado, não sobreviveu à ida para Campinas.

Tinha certeza que ela continuava com seus casos, como eu também tinha os meus nos Estados Unidos. Meu medo era que ela desenvolvesse uma ligação emocional com algum deles.

Acabei voltando ao Brasil antes que planejava. Meu sogro faleceu; voltei para seu enterro. Minha sogra, vaso ruim, mesmo com câncer, sobreviveu ao marido.

Apesar do motivo lúgubre, eu estava feliz com a perspectiva de rever minha esposa. Ruth foi me buscar no aeroporto. Suas olheiras mostravam o quanto estava abalada. Fomos direto ao velório, onde ela permaneceu o tempo todo com a mãe, que não parava de chorar. Foi triste. Depois do enterro, fiquei um pouco na casa de minha sogra e, com muito sono e fome, fui para nosso apartamento. Ruth ficou com a mãe.

O apartamento parecia abandonado; pelo volume de correspondências bancárias debaixo da porta, ela não vinha ao apartamento há meses. Pedi uma pizza, tomei um banho, comi e adormeci. Acordei às 21h com o telefone. Ruth avisou que não poderia deixar a mãe sozinha. Por mais que eu quisesse ficar com ela, eu entendi e apoiei. Combinamos de almoçar na casa da minha sogra no dia seguinte.

Sozinho e com fome, vesti uma roupa qualquer e fui a um restaurante japonês perto de casa. Enquanto esperava meu pedido, fui surpreendido por dois casais de amigos que entravam no restaurante. Foi uma feliz coincidência; eles não sabiam que eu havia voltado para o Brasil e também não sabiam da morte do pai de Ruth. Conversamos por horas. Contei detalhes curiosos da minha vida nos Estados Unidos e ouvi as novidades e fofocas dos amigos em comum. Em determinado momento, fui surpreendido por uma pergunta feita por Fabrícia:

- E a Ruth? Ela está gostando da vida nos EUA?

Levemente embriagado, ri da pergunta e respondi sem pensar:

- Ruth? Ela não viajou comigo; ficou no Brasil cuidando da mãe com câncer. Ela não te falou? Vocês vão à academia juntas todo dia!

Fabrícia ficou surpresa com minha resposta. Achou que eu estava brincando.

- Fala sério, Rodolfo. A Ruth não vai à academia há mais de quatro meses. Já tentei falar com ela várias vezes, e o número aparece como fora de área. Com certeza, ela está nos EUA com você.

- Não, Fabrícia, estou falando sério: ela ficou com a mãe. Foi ela quem me buscou no aeroporto e conversamos pelo celular direto; o número continua ativo.

Todos ficamos em silêncio. Bruna, que também treinava com Ruth e Fabrícia, tentou explicar o que poderia estar acontecendo:

- Eu também não consegui falar com ela; várias amigas comentaram sobre seu sumiço. Achei que ela tinha ido se encontrar com você. Provavelmente, ela está completamente focada no tratamento da mãe; Ruth, quando foca em algo, esquece o entorno.

Concordamos. Realmente, minha esposa tem uma capacidade espantosa de focar nos seus objetivos. Não pensei mais nisso. Pouco depois, já bêbado, despedi-me dos amigos e fui para casa dormir.

No outro dia, sou novamente acordado pelo celular. Sonolento, atendi achando que era Ruth:

-Bom dia, meu amor!

- Que é isso, Rodolfo? Virou viado? "Meu amor" é o caralho!

Identifiquei imediatamente a voz: era Chicão, marido de Bruna.

- Fala, Chicão. Achei que era Ruth; ela ficou com a mãe. O que te fez sair da cama de madrugada?

- Madrugada? Olha no relógio, maluco! São dez horas da manhã.

- Puta que pariu, estou desorientado. Deve ser o fuso horário ou o álcool!

- Provavelmente, o álcool. Bom, estou te ligando da padaria perto da sua casa. Desça aqui, que precisamos trocar uma ideia.

- Tudo bem. Preciso de um café... Assunto sério?

- Não sei, mas acho que tá rolando umas paradas estranhas. Estou te esperando.

- Ok. Já desço.

Meia hora depois, com um café expresso duplo à minha frente, Chicão me contou uma história sem pé nem cabeça.

- Ontem, Bruna não te contou tudo que sabemos; ela ficou sem graça ao perceber que você não faz ideia das mudanças pelas quais Ruth passou enquanto você esteve fora.

Fiquei mudo por alguns instantes. Imaginei que ele, Bruna ou os dois viram Ruth com algum dos seus amantes. Buscando preservar nossas amizades, mantínhamos em segredo as particularidades do nosso relacionamento. Hipocrisia? Não. Durante o namoro, contamos nosso segredo a um casal, nossos melhores amigos na época, e eles se afastaram. Aprendemos a lição. Mantínhamos tudo em segredo, não tínhamos redes sociais e não compartilhávamos esse segredo nem com quem trocávamos carícias.

Eu vi tudo desmoronar. Respirei fundo e falei:

- Mudanças? Que papo é esse, Chicão? Não estou entendendo nada. Fale logo!

- O que você sabe sobre o trabalho da Ruth?

- Não estou entendendo. O que isso tem a ver?

- Você vai entender, mas primeiro responda.

- Tudo bem. Ela trabalha há quatro ou cinco anos em uma editora, elaborando campanhas de marketing para os novos lançamentos.

- Isso mesmo. Para ser exato, ela trabalhou quatro anos e três meses na editora.

- Trabalhou? O que você está dizendo, Chicão? Ela foi demitida?

- Calma, vou te explicar. Depois de tentar falar com Ruth inúmeras vezes, Bruna ficou preocupada e resolveu ir até a editora saber o que estava acontecendo. Foi surpreendida com a notícia que Ruth pediu demissão.

— O quê? Ruth se demitiu? Não é possível; ela não me falou nada. Talvez foi por causa do AVC do seu pai; eu sei que ela passou as últimas duas semanas cuidando dele.

- Meu amigo, ela está afastada da editora há três meses.

- Não entendo. Por que ela não me contou?

- Não tenho a menor ideia, mas ela não ficou sem trabalhar. Deixou a editora na sexta e, na segunda, já estava trabalhando em uma gravadora de música gospel, realizando o mesmo trabalho, campanhas de marketing dos novos lançamentos.

- Chicão, você tem certeza disso? Por questões religiosas, a família de Ruth foi contra o nosso casamento. Ela, apesar de respeitar a fé dos pais, desenvolveu uma aversão a fanáticos religiosos; não consigo imaginá-la trabalhando com música gospel.

- Bruna falou a mesma coisa; ela não engoliu a informação que recebeu na editora. Ela me pediu para verificar; como meu escritório fica perto da gravadora, eu fui. Confirmei a informação. Ela estava em reunião; esperei e a vi sair com uma famosa cantora gospel.

- Inacreditável! Nós sempre conversamos sobre nossas carreiras e nunca tomamos uma decisão profissional sem ouvir o outro desde que éramos namorados. Não sei o que dizer!

- Sei que a pancada é dura, mas há mais. Para falar a verdade, a troca de emprego é café pequeno perto do que eu ainda tenho que te contar.

- Puta que pariu, você quer me matar do coração? O que mais?

- Rodolfo, acho que ela não está bem psicologicamente; ouvi ela falar um monte de merda no meio da praça.

- Como assim? Não entendi.

- Há dois meses, precisei ficar no escritório para finalizar um recurso. Quando terminei, estava morrendo de fome, resolvi ir até o McDonald's da República. O caminho mais rápido é atravessar a praça; foi o que fiz. Enquanto andava, reparei em um grupo de evangélicos cantando e orando. Passei por eles sem dar muita importância, ouvi um pastor anunciar o testemunho de uma pecadora que encontrou a salvação em Jesus, segurei o riso, lembrei dos traficantes que se convertem e continuam a comandar suas facções de dentro dos presídios. Mas, quando a nova fiel começou a falar, reconheci a voz, parei e voltei. Era a Ruth.

- Você tomou um ácido? Ruth, minha Ruth, dando testemunho de conversão? Você está tirando onda comigo?

- Rodolfo, eu gravei. Envio para você.

Em segundos, eu estava assistindo ao testemunho de minha esposa. Em seis minutos e quinze segundos, ela destruiu nossa vida em comum. Minha pressão caiu, e eu desmaiei. Acordei no hospital com Carlão e Bruna ao meu lado.

Gradualmente, comecei a me lembrar do vídeo. Não foi um pesadelo: Ruth realmente afirmou a um grupo de religiosos que seu casamento foi maculado pelo diabo, que ela e seu marido tinham amantes, praticavam sodomia, sexo oral e outras perversidades. Mas, graças às orações de sua mãe e dos irmãos da igreja, ela conseguiu enxergar a luz e abandonar a vida de pecado em que vivia.

Chorei bastante. Meus amigos me levaram para casa. Tomei um calmante e dormi. Acordei no dia seguinte, pouco antes do nascer do sol. No meu celular, várias mensagens de Ruth perguntando sobre meu paradeiro. Achei engraçado, ela sabia que eu estava em nossa casa, mas não veio ao meu encontro. Respondi que tomei um remédio para enxaqueca e apaguei. Pedi desculpas por não ter ido ao almoço com a sogra e disse que estava com saudades, para ela dar um jeito de vir em casa na hora do almoço.

Passei a manhã tentando entender. Sou racional e não acredito que uma mulher culta, sofisticada, inteligente e sexualmente plena tenha se voltado, de uma hora para outra, para a religião em que foi criada e que passou a desprezar. Algo aconteceu.

Meus pensamentos foram interrompidos por um novo telefonema. Corri para atender, imaginando que fosse de Ruth, mas não; era, novamente, Chicão. Preocupado, queria saber como eu estava.

- Fala, garoto. Melhorou?

- Para alguém que descobriu que a mulher é uma fanática, eu até que estou bem, mas estou decepcionado e não entendo o que ela pretendia com o “testemunho”.

- Eu te entendo. Mulher é foda. Minha primeira me deu um baita trabalho, mas eu aprendi. Com Bruna, eu mostro quem manda. Não é fácil, mas, aos poucos, ela aprendeu quem é o chefe da casa. Lembra que, quando a conheci, ela só usava vestido hippie? Hoje, apenas roupas sóbrias; nada de vestidinho de puta. Outra coisa que eu bati o pé: sem amizades com vagabundas. Imagine, a mulher ouve as putarias das amigas e fica curiosa. Rapidinho, o chifre nasce na sua testa.

Chicão era um amigo de infância, um bom amigo, mas um conservador. Machista, sexista e politicamente um babaca, do tipo que acredita que bandido bom é bandido morto e que não existe racismo no Brasil... Percebi que toda aquela conversa sobre controlar a esposa era um preâmbulo para perguntar sobre meu relacionamento. Eu estava certo:

- Falando em chifre, a história que sua mulher contou é real? Vocês têm um relacionamento aberto?

Obviamente, eu não iria confirmar; ele nunca entenderia.

- Claro que não! Ela viajou na maionese.

- Eu imaginei, mas tinha que te perguntar. A Bruna me disse que quer falar com ela para ajudar, mas eu pedi que ela esperasse eu falar contigo. Não me oponho a ela ajudar uma amiga com problemas, mas, se a amiga for uma biscate casada com um corno manso, aí não.

- Puta que pariu, Chicão! Estou na maior merda, e você preocupado com a moral das amigas da sua mulher.

Rodolfo, desculpe-me, mas se você tivesse se preocupado mais com as amizades da sua mulher, não estaria nessa merda. Ir para os EUA e deixar a vagabunda sozinha? O que você tinha na cabeça? No mínimo, ia levar chifre! Mas não é hora de pensar no que você deveria ter feito; resolva a parada com a Ruth, depois conversamos.

- Tudo bem, entendo seu ponto, mas agora não adianta chorar pelo leite derramado. Pede para Bruna não ligar; não quero que ela saiba que já sei de tudo. Vamos ver até onde vai o cinismo dela.

- Está certo, fique tranquilo. Qualquer coisa, ligue.

Eu ia me despedir, mas desliguei porque minha campainha estava tocando.

Achei estranho; normalmente, a portaria me avisa quando chega alguém. Olhei pelo olho mágico; não era o Tim Maia, mas era o síndico.

- Bom dia Sr. Rafael, em que posso ajudá-lo?

- Bom dia Sr. Rodolfo, ao saber que o senhor voltou ao Brasil, resolvi entregar esta notificação. Já entreguei três para sua esposa, mas como o problema não foi resolvido...

- Notificação. Sobre o que é?

- O senhor não sabe? Seu condomínio está com quatro meses de atraso.

- O quê! Não pode ser; eu que pago o condomínio. Quando fui para os EUA coloquei no débito automático. Deve haver algum engano.

- Acho que não; sua esposa confirmou que não foi pago. Achei estranho; o senhor nunca atrasou. Bom, veja o que pode ser feito. Até logo.

Eu não acreditava. Corri até o laptop e acessei minha conta conjunta com Ruth. Não consegui devido a erro na senha. Lembrei das correspondências bancárias. Ao abri-las, descobri que Ruth trocou as senhas de nossa conta e abriu uma nova conta em um banco onde não éramos correntistas.

O que estava acontecendo?

Se há algo que aprendi no mundo corporativo, é que a máxima do FBI, "siga o dinheiro", ajuda a entender a maioria das ações humanas.

Segui o dinheiro!

Não foi difícil; convivi com Ruth por dez anos e tinha ciência que ela guardava bilhetes e presentes de seus amantes em uma caixa de sapatos no closet. Sempre respeitei, nunca mexi, até agora. Dito e feito, encontrei uma folha com as senhas e logins de todas as contas.

Ao acessar nossa conta antiga, confirmei que não tinha quase nada. Todos os investimentos zerados.

Mas o dinheiro não sumiu; estava disponível na nova conta.

Pensei em como recuperar o dinheiro. Fui até a agência do banco e abri uma conta de investimento. Informei ao gerente que minha esposa queria transferir valores da conta corrente, que não estava rendendo nada, para a conta de investimento. Não houve problemas; ele liberou a transferência, contudo explicou que somente minha esposa poderia realizar a operação, mesmo que pela internet. Santa ignorância...

Voltei para casa e recuperei meu dinheiro.

Mais calmo, desisti de confrontar Ruth; ia esperar ela falar. Eu tinha mais três dias antes de voltar; não conseguia acreditar que ela não me contaria o que estava acontecendo antes do meu embarque.

Por volta das 13 horas, ela chegou. Meu coração batia forte. Ao olhar para seu rosto por um momento, eu duvidei das evidências. Não podia ser verdade: o amor da minha vida me apunhalando pelas costas.

Contudo, ao observar com cuidado, percebi que ela estava diferente. Vestia uma saia e uma blusa que não valorizavam suas curvas, sapatilhas que não combinavam, cabelos presos com elástico e sem maquiagem. Ruth sempre foi vaidosa; o look não combinava com sua personalidade. No entanto, o que mais me chateou foi ela não olhar nos meus olhos e me beijar no rosto. Nós sempre nos beijávamos na boca.

Me segurei para não explodir. Educadamente, eu a convidei para almoçar em um restaurante.

Ela até tentou conversar, perguntou sobre o trabalho nos EUA e sobre meus planos. Porém, sempre distante, nossa intimidade deixou de existir. Perguntei sobre o seu trabalho, e ela desconversou. Ela olhava para o celular o tempo todo. O clima não estava bom.

Voltando para o apartamento, perguntei como estavam suas aventuras. Ela corou, abaixou os olhos e respondeu:

- Não sei como te contar, tenho medo da sua reação, mas você precisa saber.

Ficamos em silêncio por alguns momentos. Ela pensava em como me contar as novidades, e eu dividia-me entre a necessidade de saber o que estava acontecendo e o medo das consequências dessa confissão. Ruth respirou fundo e continuou:

- Nas primeiras semanas após a sua viagem, não tive tempo para ficar triste ou melancólica. Além do trabalho, eu acompanhava minha mãe aos médicos, laboratórios e hospitais. À noite, quando chegava em casa, estava exausta, comia algo e dormia. Nos finais de semana, eu treinava mais forte para compensar a irregularidade durante a semana, fazia mercado e outras pendências. Ficava com minha mãe no tempo que sobrava. Fiquei nesta vida por, mais ou menos, um mês. Sem ir ao salão de beleza, sair ou fazer sexo.

Eu não aguentei e interrompi seu relato:

- Não deve ter sido fácil; você abriu mão de tudo. O surpreendente é que isso não tenha afetado a sua saúde.

- Pois é, isso acabou sendo acontecendo. Passei a ter insônia; meu humor alternava entre a apatia e a agressividade. Eu estava insuportável!

- Você precisava de uma bela trepada para relaxar. Todos esses problemas e sem sexo; não tem como aguentar.

- Cheguei à mesma conclusão. Marquei várias vezes com meus amigos, mas minha mãe, que fazia quimioterapia, passava mal quase toda noite, e eu desmarcava. Estava subindo pelas paredes.

Imaginei que a merda veio dessa longa abstinência. Lembrei do seu mau humor quando, por conta de um exame médico, teve que ficar três dias sem sexo. Ela continuou.

- Minha mãe estava piorando e não conseguia subir ou descer as escadas. Ficou confinada ao seu quarto. Tentando melhorar sua qualidade de vida, eu e meu pai esvaziamos seu antigo escritório, que fica no térreo, e improvisamos um quarto. Ela adorou a ideia, mas reclamou que as paredes estavam muito sujas. Comprei tintas e meu pai contratou um pintor.

Minha mãe demandava tantos cuidados que eu, apesar de continuar mal-humorada, sublimei meu tesão. Evitava pensar nisso.

Em uma quinta-feira de muita chuva, a energia acabou um pouco antes do almoço. Fomos informados que só voltaria no final da tarde; sem condições de trabalhar, fomos dispensados.

Liguei para a portaria do nosso prédio e fui informada que também não havia energia. Liguei para meu pai; ele estava acompanhando minha mãe no hospital. Perguntei se eles também foram afetados pela falta de energia. Como não sabia, desligou, ligou para alguém no bairro e depois me retornou, informando que não foram afetados. Suspirei aliviada e disse que iria lá tomar banho.

Cheguei à casa dos meus pais, tomei um banho e, relaxada, resolvi me masturbar. Quando estava quase gozando, a campainha da porta tocou. Irritada, muito puta e com a boceta latejando, vesti o enorme roupão do meu pai e fui ver quem era.

Era o pintor. Ele foi almoçar e, apesar de ter a chave, como ouviu barulho, achou melhor tocar a campainha.

Fiquei imaginando o barulho que ele ouviu, meus gemidos durante a siririca incompleta. Aliás, não era necessário imaginar; o volume entre suas pernas denunciava. O pintor era um preto de meia-idade, mais ou menos alto, muito musculoso, mas cujos músculos não eram fruto de repetições na academia, e sim de trabalho braçal. Vestia uma camiseta e bermuda, sem cueca. Sua rola estava dura e era enorme.

Rodolfo, eu estava sem transar há quase dois meses, com a boceta molhada pela siririca interrompida, eu precisava dar. Arranquei o roupão, me coloquei de quatro no meio da sala e pedi para ele me foder. Ele tirou a roupa e veio. Tentou chupar minha boceta, eu não deixei. Não queria preliminar, queria sentir aquela rola enorme dentro de mim. Ele me pegou com violência e, com uma estocada, colocou tudo dentro. Gozei imediatamente! Ele me comeu por meia hora; eu gozei quatro vezes antes dele despejar litros de porra.

- Sem camisinha? Você deixou que ele gozasse sem camisinha?

- Não seja burro. Você acha que, com o tesão que eu estava, eu ia lembrar de pedir camisinha? Eu queria dar, não pensei em mais nada. Calma, ainda não acabou. A primeira foda me acalmou, mas eu continuava com tesão. Depois de descansar por alguns minutos, mergulhei de boca naquela rola imensa. O velho não negou fogo; não demorou nada para ficar duro. Chupei bastante; achei que ele ia gozar, mas não. Ele tinha um controle excepcional. Partimos para um 69; o pintor não gozava, eu parei de chupar e só curti sua língua e seus dedos. Gozei e, ele continuou chupando, gozei novamente. Ele me colocou deitada no chão e passou a me comer em um interminável papai-mamãe. Alternava movimentos lentos e profundos com rápidos e superficiais. Pela primeira vez na vida, tive orgasmos múltiplos. Tive que pedir para ele parar; minha boceta estava inchada, vermelha e sensível. Ele me atendeu, mas reclamou. Ele ainda não tinha gozado. Saciada, trocando beijos com meu novo amante, aceitei seu pedido: ele queria me enrabar! Foi aí que meu mundo desabou. Eu estava de quatro, gozando forte com a rola do pintor dentro do meu cu, com a bunda vermelha de tapas, quando olhei de lado e vi a porta aberta e meu pai e minha mãe assistindo eu gozar ao ser sodomizada. O pior, se é que pode ser pior, é que não parei, continuei gozando e pedindo rola. Minha mãe desmaiou.

- Puta que pariu, Ruth! Que vacilo. Seus pais são religiosos fervorosos; não consigo imaginar o que passou pela cabeça deles.

- Pois é, fica pior. O pintor, concentrado em comer meu cu, só percebeu a presença dos meus pais pelo barulho que minha mãe fez ao desmaiar. Assustado, desatolou sua rola da minha bunda bem na hora que ia gozar, me deu um banho de porra, meu pai perdeu a cabeça, pegou uma cadeira e quebrou na cabeça do comedor. Resultado: eu, pelada, suja de porra; minha mãe e o pintor desmaiados; e meu pai sentado no chão, chorando.

- Tudo é muito triste, mas você vai me desculpar; não entendo o porquê de você ter me ocultado essa história por meses. Você tinha que me ligar; eu viria ao Brasil para te ajudar a resolver essa encrenca. Sempre fomos parceiros em tudo.

- Talvez. Mas, eu acho que foi melhor te manter longe dessa confusão. A mulher que eu sou hoje é fruto de reflexões iniciadas naquela fatídica tarde.

- Não estou entendendo.

- Calma, tudo ao seu tempo. Deixe-me terminar. Meu pai parou de chorar e foi cuidar da minha mãe. Antes de subir com ela no seu colo me mandou colocar uma roupa. Subo, me visto, com o corpo ainda sujo de porra, e volto para a sala. O pintor não estava; acordou e caiu fora. Limpei a sala, arrumei do jeito que pude, abri as janelas para amenizar o cheiro de sexo e sentei no sofá para esperar meu pai. Minha vontade era ir embora, mas não podia sair sem saber como minha mãe estava.

Ele desceu rapidamente, sem demora. Me tranquilizou ao dizer que minha mãe estava bem.

Com os olhos incos de tanto chorar, perguntou onde ele e minha mãe tinham errado para que sua filha desrespeitasse o marido, fazendo coisas que muitas prostitutas não aceitavam. Comecei a chorar e, desesperada, contei ao meu pai como funciona nosso casamento. Ele ficou mais assustado que quando me viu empanando a rola do pintor. Chamou um Uber para me levar e disse para eu não voltar antes de ser convidada.

- Você contou que nosso casamento é aberto. Você ficou louca? Seus pais acham que televisão é coisa do diabo, acreditam nas regras de conduta do Velho Testamento, e você diz que tem liberdade para gozar com quem quiser? Tenho até medo do que aconteceu depois disso. Aliás, tenho uma certeza: sobrou para mim. Seus pais nunca gostaram da "princesa" ter casado com alguém de fora da igreja; obviamente, isso acabou sobrando para mim.

- Você tem razão, meus pais nunca gostaram do nosso casamento; eles não queriam que meu marido fosse um homem do "mundo", que me apresentasse condutas pecaminosas. Quando eles descobriram que nosso casamento permitia o adultério, o que você acha que eles pensaram? Não foi em casa, muito menos na igreja, que eu aprendi a gostar de pecar; foi com você.

- Como é que é? Você aprendeu a gostar de pecar comigo? Por acaso, você contou aos seus pais que foi um ministro da igreja quem tirou seu cabaço? Que foi um missionário que te ensinou a gostar de tomar no cu? Que por anos você pagou boquete para seu tio, irmão da sua mãe, em toda festa de família? Quando eu te conheci, você já era uma bela de uma putinha. Seus pais sabem do seu passado pecador antes de mim?

- Rodolfo, desculpe-me. Você tem razão: eu já era biscate antes de te conhecer, mas eu estava abalada, você longe, minha mãe e meu pai me desprezando. Acabei aceitando as explicações que eles apresentaram; foi o caminho mais fácil para minha paz de espírito.

- Não passou pela sua cabeça dividir comigo sua dor? Não é isso que faz o casal que se ama?

Ruth começou a chorar, se levantou e foi à cozinha buscar um copo d'água. Bebeu, enxugou os olhos e seguiu em frente.

- Não adianta você questionar o que eu fiz; não há como voltar no tempo. Deixe-me terminar de contar, quem sabe você entenda.

- Tudo bem, não vou interromper. Termine sua história, e depois eu darei minha opinião.

- Obrigada. Por três dias, não consegui falar com meus pais. Na noite do terceiro dia, recebi uma ligação da minha mãe; ela queria marcar um encontro no nosso apartamento para conversar sobre o que aconteceu.

Marcamos para sábado à tarde. Eu estava ansiosa e quase liguei para você, mas queria tentar resolver por mim mesma.

O encontro foi uma surpresa completa. Eu, que esperava apenas meus pais, recebi mais quatro visitas. Dois anciões e suas esposas.

- Uma intervenção evangélica...

- Mais ou menos. Eles foram muito carinhosos e prometeram me ajudar. Entenda, Rodolfo: eu estava muito vulnerável, com muita vergonha. Fiz o que me pediram.

- E o que te pediram?

- Para contar tudo sobre nossa vida, desde que nos conhecemos.

- Meu Deus do céu, você abriu nossa intimidade para estranhos, quebrou um acordo nosso de anos; eu não acredito!

- Não use o nome de Deus em vão; eu sei que você não tem fé, mas respeite quem tem. Sim, eu quebrei nosso combinado, mas me fez bem. Quando terminei de falar, senti-me mais leve. Você não entende, mas foi bom para mim.

- Tudo bem, não vou questionar. Só quero saber se você contou sobre sua vida sexual antes de mim.

- Eu ia falar, mas achei melhor deixar isso no passado. Eles não acreditariam que pessoas importantes da igreja pecaram comigo ou, pior, eu seria acusada de seduzir homens de Deus.

- Claro, seu marido pode ser acusado de desencaminhar uma filha da igreja, mas os homens santos são intocáveis. Bela merda de religião.

- Respeite minha igreja; eles não são perfeitos, todos são pecadores, mas você não tem o direito de reclamar. Meus irmãos e irmãs estavam aqui, você não.

- Como é que é? Você é minha esposa e não foi comigo, conforme planejado, para cuidar da sua mãe. Ficar foi sua escolha, contrariando nosso projeto de vida. Se os "irmãos" estavam aqui para ajudar, você deveria ter ido para os EUA comigo, e eles cuidariam de sua mãe.

Desculpe-me, Rodolfo, mas tente entender: eu mudei e não sou mais a puta que você deixou há sete meses.

- É uma pena; eu era muito feliz, amava profundamente aquela puta, minha companheira, amiga e amante. Não estou te reconhecendo, Ruth.

- Eu acho que também era feliz, mas mudei. Quero continuar sendo feliz com você, mas, para isso, algumas coisas devem mudar.

- Você acha que era feliz? Estou sem palavras! Continue sua história; você só contou dois meses, faltam cinco.

- Depois que eu contei tudo, eles me mostraram na Bíblia quais foram os nossos pecados. Explicaram que Deus perdoa, mas que o arrependimento precisa ser sincero.

Pediram para eu me afastar de tudo do "mundo", passei a ler a Bíblia diariamente e livros de edificação espiritual. Ia à igreja duas vezes por semana e tinha uma reunião de aconselhamento espiritual. Depois de um mês, pedi perdão a Deus pelos meus pecados e fui rebatizada. A comunidade me acolheu; passei a treinar em uma academia exclusiva para mulheres cristãs, bloqueei antigas amigas que tentavam me atrair para o "mundo" e todos os homens com quem forniquei.

- Uau, agora eu entendo o que você quer dizer ao afirmar que é outra mulher. Há mais alguma novidade ou já podemos conversar?

- Só mais uma. Mudei de emprego e atualmente trabalho em uma gravadora gospel. Ganho um pouco menos, mas evito más influências.

- Muitas mudanças em um curto período. Mas, como sempre, eu respeito suas escolhas, pois acredito que elas te fazem feliz. Me explique uma coisa: quando seus orientadores espirituais disseram para você não me contar a transformação pela qual estava passando?

- Rodolfo, eu até queria contar, mas eles me mostraram que tal conversa não poderia ser por telefone; eu ia te contar na sua volta, o falecimento do meu pai antecipou nossa conversa. Eu sabia que você respeitaria minha decisão, mas, você sabe, minha comunidade é muito fechada e não confia em você.

- E você, Ruth, realmente confia em mim?

- Claro, meu amor, você é meu marido.

- Não sei; a maioria das coisas que você me contou eu não sabia, mas algumas coisas eu já tinha conhecimento. Sabia que você mudou de emprego, que você se converteu a ponto de contar nossa intimidade em praça pública como testemunho.

Ruth arregalou os olhos e perguntou:

- Eu não entendo, como você sabia?

- Não importa. O que realmente importa é que você não está sendo totalmente sincera. Ontem, me cobraram quatro meses de condomínio, que tinha colocado em débito automático. Fui verificar as contas e, para minha surpresa, as senhas haviam sido alteradas. O que aconteceu?

- Não faço ideia; uso meu dinheiro e o cartão de crédito que você me deu. Nunca acessei as contas bancárias. Mas não se preocupe, semana que vem eu vou ao banco e resolvo.

- Tudo bem. Deve ter sido um erro ou uma necessidade de atualizar o cadastro. Eu ia ao banco amanhã, mas só tenho mais dois dias no Brasil e não quero perder tempo com isso.

- Vai voltar já? Fique um pouco mais.

- Não há como, o trabalho está a mil. Só vim por respeito ao seu pai e para te acalentar.

- Eu tinha certeza que você ia dar um jeito de vir; eu sempre pude contar com você.

- Eu te amo, Ruth. Por mim, você iria para os Estados Unidos comigo. Ficar longe é muito difícil.

- Eu sei, eu também sinto a sua falta, mas não posso ir. Não tenho como deixar minha mãe doente sozinha.

- Eu sei. A vida nem sempre é como gostaríamos. Me fale uma coisa: você vai morar com sua mãe?

- Vou. Não faz sentido eu ficar indo e vindo. Pensei em alugar nosso apartamento.

- Não. Eu vou vendê-lo. Quando sua mãe melhorar, você vai para os EUA se encontrar comigo; vamos seguir o plano original.

- Vender? Eu preferiria mantê-lo, é nosso único patrimônio.

- Ruth, desculpe-me falar assim, mas o apartamento não é nosso patrimônio; é meu, pois o comprei antes do nosso casamento. A decisão é minha, como foram suas as decisões dos últimos meses.

- Você não está sendo justo.

- Claro, é justo você transferir o dinheiro da nossa conta conjunta para uma conta particular, não pagar o condomínio e mentir descaradamente. Trepar é pecado, mas mentir não é problema. Que bela religião!

Ela acusou o golpe. Até esse momento, acreditava que estava me enrolando. Ele me olhou de uma forma que nunca tinha visto: com ódio. Eu continuei.

- Apesar de tudo, eu te amo, Ruth, mas se você não for honesta, nós não teremos um futuro juntos.

Apesar de tudo, ainda acreditava na possibilidade de um recomeço, e a amava profundamente. Mas o que ela despejou destruiu qualquer esperança.

- Nós não teremos um futuro juntos, seu corno manso. Nunca mais vou me deitar com um homem que aceita me dividir, que não respeita a santidade do casamento. Você é um enviado de Satanás para tentar me levar ao inferno.

Eu não acreditei no que ouvi. Minha esposa, minha Ruth, a mulher que mais amei e desejei na vida, não existia mais. Não reconhecia a mulher à minha frente. No minuto que fiquei calado, olhando seu rosto com espanto, decidi meu futuro:

- Ruth, volte para casa da sua mãe. Meu advogado entrará em contato com você para tratar do divórcio.

Ela saiu batendo a porta. Chorei muito e não me conformava com tudo que ouvi. Não conseguia entender como minha esposa amorosa tinha se transformado em um poço de rancor e ódio.

Estendi minha estadia no Brasil, ficando por quase um mês. Esvazie o apartamento e vendi-o rapidamente. Transferi todo dinheiro que tinha no Brasil para um paraíso fiscal e, por fim, depois de uma negociação com o advogado de minha futura “ex”, assinei o divórcio. Fui generoso, mas sem exageros.

Mais uma vez, minha viagem aérea para América foi marcada por lágrimas, não de tristeza pela separação física, como na primeira vez, mas de raiva pela separação emocional.

Eu voltei ao Brasil casado e feliz por reencontrar minha mulher, estava retornando aos Estados Unidos divorciado e muito triste.

Continua.

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Comentários

Foto de perfil de Contos do Lukinha

Não tá fácil pra ninguém... A religião atrapalhando a cornitude do rapaz. Aí complica.

Brincadeiras a parte, ótima série, cara. Estrelado.

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