No capítulo anterior:
Até então, entretido com a trepada, eu não reparei no que estava rolando ao lado. Quando metia no cu da minha parceira, reparei que Ruth estava sendo fodida em um papai/mamãe e me olhava. Gozamos os quatro praticamente juntos. Ruth se desvencilhou do seu comedor e veio se deitar ao meu lado, empurrando minha parceira. Se aconchegou no meu peito e falou:
- Eu preferia que você tivesse me comido.
Sem pensar eu respondi:
- Gatinha, eu trocaria qualquer uma das minhas fodas por um beijo seu.
Ela me abraçou forte e começou a chorar.
Capítulo 4
Não fazia mais sentido ficar na casa de swing. Nos despedimos dos novos amigos e fomos para meu apartamento.
Considero esta noite um divisor de águas em nosso relacionamento. Foi durante seu transcorrer que percebi a impossibilidade de viver distante de Ruth; ela não era apenas uma boa trepada e uma parceira agradável, era o amor da minha vida.
Para completar minha felicidade, ela me disse, com gestos e palavras, que o sentimento era mútuo.
Foi uma noite deliciosa. Pela primeira vez, preparamos nossa comida como casal, ritual que se perpetuaria durante todo nosso tempo juntos. Tomamos banho, namoramos, conversamos bastante e dormimos agarradinhos. Não sei explicar, não foi premeditado, mas só transamos na manhã do dia seguinte, ou melhor, fizemos amor com uma rara leveza.
Durante o jantar, combinamos nossos próximos passos; eu não queria participar das mentiras que ela contava aos pais, e nosso namoro seria comunicado.
Sim, depois dessa noite, começamos a namorar.
Entretanto, demorou para seus pais serem informados do nosso relacionamento; Ruth me enrolou bastante. Finalmente, após muita cobrança, fui convidado para o almoço de apresentação.
Nunca vi Ruth tão nervosa quanto naquele dia. Durante todo o trajeto, ela foi me alertando sobre os assuntos que não deveriam ser abordados. Eu já imaginava, mas as recomendações deixaram claro que a família dela não suspeitava da vida mundana de sua filha na universidade.
Seu pai era um homem objetivo e de poucas palavras. Pautava sua vida por uma inabalável convicção religiosa; cada comentário era acompanhado de uma reflexão moral ou uma citação bíblica. Deixou claro que não gostava da ideia de a filha frequentar a universidade, muito menos de namorar um homem que não tinha entregado sua vida a Jesus.
Afirmou que respeitaria a decisão da filha, se eu me comprometesse a frequentar a igreja para entender o que a comunidade esperava do futuro marido de Ruth.
Mais do que depressa, concordei com sua exigência, fui mais longe e disse estar aberto a conhecer a fé que tanto iluminava o rosto da minha amada.
Foi o único momento em que vi algo próximo de um sorriso em seu rosto.
Já sua mãe acendeu todos os meus sinais de alerta. Ela me tratou bem, com muito mais simpatia que o marido; entretanto, para um observador atento, era visível sua dissimulação. Diferente do marido: franco e objetivo, ela fingia não se importar com o namoro, mas procurava brechas no que eu falava para me desestabilizar. Ela não gostou de mim, e eu também não gostei dela.
Ruth parecia não perceber suas hilárias tentativas de me constranger. Uma das melhores foi contar que um antigo pretendente “muito rico”, tinha vários postos de gasolina, ainda era apaixonado por Ruth...
Minha sorte foi a oportuna intervenção de Débora, que tinha chegado alguns minutos antes, debochando do comentário da mãe.
- O Matheus? Rico? Mãe, o negócio que o Rodolfo fechou quinta passada deu mais lucro que todos os postos do Matheus em dez anos! Perto do Rodolfo, Matheus é classe média baixa.
Mas a megera não desistia.
- A família do Matheus é honrada, seus negócios são sólidos, mas ninguém conhece os negócios desse jovem. Se ele ganha tanto dinheiro, pode haver alguma ilegalidade; nós não sabemos...
- Mãe, você está ofendendo o namorado da Ruth e a mim. Você esqueceu que ele é meu patrão? Eu conheço bem seus negócios e não há nada de ilegal. É uma área nova; os aplicativos que ele desenvolveu permitem que celulares sejam utilizados para controlar a produção de toda uma fábrica. É revolucionário!
A velha se calou. Já o velho se interessou pelo meu aplicativo, e passei um bom tempo explicando como funcionava. Inteligente, ele percebeu rapidamente o potencial e, curiosamente, foi o primeiro a ventilar que era algo grande demais para uma pequena empresa brasileira, a venda para uma grande corporação seria inevitavel, como realmente aconteceu.
Mas não me iludi. Eles não gostaram de mim. Eu representava um risco que não estavam dispostos a correr: perder sua primogênita para o “mundo”. Exatamente o que imaginei antes de conhecê-los. Débora e Ruth já estavam me preparando.
O que mais me incomodou naquela tarde foi a passividade de Ruth, especialmente diante dos comentários de sua mãe. Depois, pensando melhor, percebi que não tinha como ser diferente; ela não podia sair do papel que interpretava na frente dos pais: o de filha submissa.
Sim, eu sei: fui ingênuo. Se ela vestia a personagem para os pais com tanta desenvoltura, o que a impediria de vestir outra para mim? Anos se passaram antes que eu conseguisse uma resposta.
Na época, desprezei todo sinal que poderia colocar em risco a felicidade de estar com Ruth. Um homem apaixonado e que se sente amado não quer brigas, não tem dúvidas e desconsidera qualquer dificuldade.
Se os pais dela fossem contra o nosso relacionamento, eu administraria meu contato com eles de uma maneira que não pudesse atrapalhar.
Passei a frequentar regularmente a igreja com Ruth e sua família. No início, os “irmãos” me trataram com frieza, mas, minhas polpudas ofertas inevitavelmente fizeram a comunidade me ver com outros olhos; passaram a elogiar minha generosidade e a iniciativa dos meus sogros, responsáveis por minha “quase” conversão.
Não era fácil. Doar dinheiro não me incomodava; eles tinham uma rede de suporte a famílias carentes impressionante, mas assistir aos cultos era phöda com ph e trema! Nunca ouvi tanta besteira; ideias retrógradas e preconceituosas eram a regra.
Mas me mantive firme. Não podia permitir que eles atrapalhassem mais do que já atrapalhavam.
Desconfiados, proibiram a filha de dormir na casa da amiga e estipularam horário para voltar para casa. Nossos encontros passaram a ocorrer durante as tardes para driblar a vigilância.
Com o tempo, desenvolvi um método para suportar os cultos: selecionava uma das ideias que tinha para melhorar o aplicativo ou para resolver um problema e passava o ofício religioso matutando sobre como torná-la viável. Aparentemente, eu estava conectado ao pregador, mas, na realidade, meus pensamentos vagavam por linhas de programação.
Graças a esse truque, acompanhei Ruth e meus sogros ao culto por meses, às vezes três domingos no mês, sem maiores sobressaltos.
Quando parei de ir, não foi por minha iniciativa, mas por atender a um pedido de meu sogro após um incidente na igreja.
Era comum, após o culto, um café comunitário. Nada sofisticado; era servido café com bolo. Claro que a socialização acontecia entre os iguais, em um salão os homens e em outro as mulheres. No início, eu só conversava com meu sogro; conforme fui me tornando popular, minha companhia passou a ser solicitada.
Na última vez que fui, aconteceu algo estranho. Um jovem questionou se minha intenção era noivar e casar com Ruth. Mesmo achando a pergunta estranha, confirmei. Ele me olhou com uma expressão de incredulidade, abaixou a voz e me perguntou se eu conhecia o passado dela. Um dos anciãos ouviu, olhou feio para o jovem, veio até mim e disse:
- O passado não existe; Jesus perdoa todos os nossos pecados, Ruth teve seus pecados lavados pelo sangue do cordeiro.
Meu sogro ficou pálido como papel sulfite, me pegou pelo braço e me tirou do salão. Chamou minha sogra e Ruth, cochichou algumas palavras que não ouvi e nos chamou para ir embora. Diferentemente das outras vezes, não nos despedimos de ninguém.
Naquela noite, o percurso para casa dos meus sogros foi feito em silêncio, diferente das outras vezes, quando uma animada conversa marcava o fim do culto. Também me causou estranheza não ter sido convidado para entrar.
Voltei para meu apartamento, certo de que a vida dupla de Ruth era de conhecimento de seu pai e de parte da comunidade. O que não entendia eram os motivos para ela continuar sustentando aquela farsa; afinal, seu argumento para mantê-la era poupar seus pais da dor da verdade sobre a filha.
Demorou dois dias para obter uma resposta. Na terça-feira, Ruth foi até meu apartamento e me explicou o que aconteceu. O jovem que me interpelou também estudava na USP. Dois anos atrás, quando era calouro, foi arrastado pelos veteranos de seu curso para uma festa da calourada. Apesar de argumentar que sua religião proibia frequentar esse tipo de evento, não teve opção. Na festa, pegou um copo de refrigerante e ficou em um canto fingindo beber, esperando a desatenção dos veteranos para ir embora.
Foi desse canto discreto que ele viu Ruth. Ele sabia que ela já estudava na universidade, mas nunca a tinha encontrado e não estava preparado para o que viu.
Sua irmã de fé estava vestida com roupas mundanas, o que não o surpreendeu; ele sabia, por experiência própria, que manter o dress code da igreja no mundo atraía atenção indesejada, dificultando a vida do crente. Mas, as roupas que Ruth vestia chocaram; eram parecidas com as das prostitutas que faziam ponto na avenida que dava acesso à universidade. Saltos altos, uma minissaia de couro preta e uma blusinha de seda branca que deixava sua barriga exposta e seus mamilos entumecidos marcados pela falta do sutiã. Para piorar o quadro, ela dançava funk, com as mãos nos joelhos e rebolando a bunda na virilha de um rapaz.
Pegou o celular e tirou três fotos: uma dela dançando, outra dela bebendo a cerveja do rapaz, no qual se esfregava, e a última de um tórrido beijo, com sua bunda sendo apertada.
O jovem, filho de um ancião da igreja, contou ao pai e mostrou as fotos. O pai de Ruth foi informado e também viu as fotos. Pelas regras da igreja, ela deveria ser expulsa; contudo, por consideração ao seu pai, o escândalo foi abafado, as fotos apagadas e Ruth precisou passar por um “curso” na igreja direcionado a jovens rebeldes.
Seu pai restringiu sua liberdade e quase abandonou a universidade. A normalidade só voltou quando sua ginecologista, alertada por Ruth que teria que abandonar os estudos se a mãe descobrisse que tinha uma vida sexual, mentiu, afirmando que ela ainda era virgem.
Muita gente desconfiou que ela tinha aprontado algo para estar participando do curso, mas ninguém tinha provas. Os que sabiam manteram a boca fechada até aquela noite.
Eu estava com o estômago embrulhado. Entendia seus motivos para mentir, como entendi os de minha mãe, mas viver uma vida de mentiras era algo que ia contra meus princípios, contra a promessa que fiz a mim mesmo ao descobrir o amante de minha mãe.
Expliquei para Ruth que não seria mais seu cúmplice, me afastaria de seus pais e da igreja, e que, por mais que a amasse, não esperaria muito tempo até ela decidir o que queria da vida.
Ela chorou. Disse que também não aguentava mais aquela situação e que não ia demorar para acabar com aquelas mentiras. Ela me contou que a conversa com os pais no domingo foi tensa. Seu pai tinha receio que minha situação econômica gerasse ressentimentos entre aqueles que sabiam do seu “desvio”. Ele exigiu que ela me contasse o que aconteceu e que me ligaria pedindo para deixar de ir à igreja, a fim de evitar maiores problemas.
O que ela não me disse, e nem precisava, era que seu pai tinha esperanças de que, ao saber do passado da filha, eu desistisse do namoro. Ele não tinha ideia do tipo de relacionamento que Ruth e eu desejávamos.
Ele ligou, aceitei seus argumentos e me afastei deles e da igreja. Conhecer seus pais, que não gostaram de mim, foi uma experiência interessante, mas não guardei saudades.
Cada dia Ruth passava mais tempo na minha casa. O sexo era quase diário; entretanto, independentemente disso, mantivemos nosso relacionamento aberto. Éramos discretos, evitávamos chamar atenção, mas nunca fomos monogâmicos.
Um ano depois de reatarmos, quando já tínhamos certeza do nosso amor, em um jantar, pedi sua mão em casamento.
Apesar da oposição da quase totalidade da sua família — só sua irmã apoiou nossa decisão —, casamos e construímos uma vida diferente do padrão, mas feliz.
Agora, após dez anos compartilhando nosso dia a dia, teríamos que ficar separados. Chorei muito durante o voo para Nova York.
Continua.
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